Anatomia de um amor imortal escrita por Eduardo Marais
Três meses são deixados para trás e as investigações sobre o paradeiro da velhinha desconhecida são delegadas a um segundo plano, diante do cotidiano agitado daquela cidade.
— Kane e eu temos uma reunião com a Corregedoria. Não terei hora certa para retornar. – Regina se inclina na direção da janela do carro do marido e os dois trocam um beijo apaixonado. – Fique bem quentinho e bem gostoso, porque quero me alimentar quando retornar da noite fria.
Momentos depois de sair da Central de Polícia, Vladimir enche seus braços com o corpinho do filho. Ambos abraçam-se e dirigem-se caminhando para uma sorveteria que ficava na mesma calçada na escola do garoto.
— A minha professora falou que a lagarta vira borboleta, papai! Nós vimos os ovinhos da borboleta!
— É mesmo? E como eles são? – o policial olha em volta e depois acomoda o menino na mesa.
— Pequenininhos e amarelinhos! Ficam colados nas folhas das árvores! – o menino bate palmas e sorri, acentuando suas covinhas nas bochechas. – O tio Henry virá ao parque andar de bicicleta, comigo? Podemos andar na sua bicicleta, papai!
— Sabe que sim, amor. – mais uma vez, ele vasculha o ambiente em vigilância. Uma brisa leve estava provocando mais arrepios que o normal.
Passava das seis da tarde, quando Vladimir termina o banho do filho e o protege com roupas quentes. Depois o jantar, acompanha o menino em um momento de brincadeira com blocos coloridos. Estavam distraídos, brincando sentados no carpete da sala, quando algo grita pela atenção olfativa do policial: um forte odor de terra molhada invade toda a casa, despertando desconfiança e receio. Era como se o cômodo estivesse invadido pelo desabamento de um barraco úmido.
O som da campainha da casa soa naquele mesmo momento e Vladimir quase salta da própria pele. Levanta-se, vai observar a câmera de segurança que filmava o lado externo da casa e vê uma mulher de longos cabelos amarelos em um elegante tallieur ao estilo Chanel, parada diante da porta.
— Em que posso ajudá-la?
— Boa noite! – ela olha na direção da câmera e sorri. - Meu nome é Reyninna Florescu e estou aqui para encontrar uma senhora de nome Regina Mills!
— Sou o marido dela. O que quer com minha esposa?
— Eu sou a parenta da Romênia. Ela esteve em minha casa, há alguns meses.
Vladimir fecha os botões da camisa e vai abrir a porta. Diante da mulher, encanta-se de súbito com a beleza daqueles olhos castanhos bem clarinhos e poderosos. Ele sorri e reconhece de imediato, traços dos lindos olhos de sua esposa, naquele olhar. As duas mulheres eram muito parecidas.
A visitante estende a mão enluvada. Sorri ainda mais.
— Peço desculpas pela minha grosseria em vir sem ser anunciada previamente. Mas eu tinha ansiedade em rever minha menina. Enviei vários recados e mensageiros para falar com Cora Mills, mas ela se recusou a conversar comigo e então, decidi visitar Regina.
— Entre!
O coração morto da mulher renasce e ela sente seu corpo aquecer-se imediatamente, depois de tantas e tantas luas vivendo na frialdade da solidão. Desta vez, faria tudo corretamente.
Já dentro da casa, a visitante é convidada e sentar-se. Ela sorri ao ver os olhos atentos de Johnathon, fixos em sua direção. O menino aponta para a mulher.
— Ela é igual a mamãe! Mas é loira e cabeluda!
Os adultos riem emocionados com a observação.
— Agradeço por receber-me e por convidar-me para entrar no santuário de seu lar.
— A senhora veio sozinha? – ele indica na direção da saída da casa.
— Minha motorista ficou no carro. – Reyninna sorri para o menino. – Qual é o seu nome, rapazinho?
— Johnathon Mills Tepes. Tenho quatro anos e já sei ler.
— Oh! Isso é maravilhoso! – ela se vira para Vladimir e inala profundamente o aroma delicioso que ele emanava. – Qual é a sua graça?
O homem estende a mão e sorri, acentuando o tamanho de sua bocarra.
— Amr Vladimir Tepes, ao seu dispor! Quer beber algo?
— Não. Quero apenas saber se poderia conversar com minha jovem parenta.
Sentando-se noutro sofá diante da mulher, Vladimir recebe o filho nos braços e o acomoda sentadinho em suas coxas. Era uma tela viva, pintada com perfeição pelas mãos da natureza!
— Minha esposa está em uma reunião e virá bem tarde para casa. Sane a minha curiosidade e conte-me por que Cora não quis conversar com a senhora.
— Minha assessora fez a busca por anos e depois redescobrimos o paradeiro de Regina Mills. Eu perdi o contato com ela, quando ingressou na universidade e não sabia nada sobre ela, desde então. Regina veio ao meu encontro em Bucareste e agora eu quis devolver a delicadeza da visita.
O homem não se move e nem se expressa.
— Não sei porque Cora não quis me receber, mas deve ser alguma rusga do nosso passado. Hoje, no final da tarde, estive na Central de Polícia e fui informada de que ela estaria em casa. Não quero que pense que sou atrevida!
Novamente, o homem permanece inerte.
— Estou sendo inconveniente?
— Estou apenas admirando a sua semelhança com minha esposa. Gigia me disse sobre a senhora, porém, não imaginei que fossem tão parecidas fisicamente. A senhora é linda como minha esposa! – ele aponta para os retratos expostos sobre um móvel.
Reyninna sorri e levanta-se. É acompanhada por Vladimir que carrega o filho nos braços. O menino luta e desce, adiantando-se para exibir as fotografias.
— Essa é minha mamãe! Eu estava aqui dentro, sabia?
— Mesmo??
— Meu papai e minha mamãe. – ele aponta outra foto. – Eu ainda estava aqui na barriga dela. Olhe esta foto aqui! Sou eu quando era pequeno!
— Agora você é um homezinho?
O menino sorri e duas covinhas surgem em suas bochechas. Era tão radiante e consegue emocionar Reyninna, que controla suas sensações loucas, embora tudo o que desejava era agarrar aqueles dois e fugir para longe e muito longe dali.
— Eu vou ser policial quando crescer! E vou pular de paraquedas! – outra fotografia é exibida. – Este é meu tio Killian e meu avô Kane. Meu avô é bem gordo e grande e eu pulo na barrigona dele! Meu tio Killian diz que meu avô é um colchão!
Os olhos de Reyninna ficam fixos nos traços belíssimos do homem chamado de “tio”. Ela jamais se esqueceria daqueles olhos perversos em um azul intenso. O lindo pirata general de Vlades. Ele também havia retornado e para proteger seu eterno amigo. Juntos outra vez, lutando e defendendo-se como em tempos passados. Radu estava ali!
Quando ela retorna para a realidade atual, percebe que o menino ainda explicava a história das fotografias e agora apontava para uma imagem de Vladimir dentro do mar, carregando o filho nos braços.
— São casados há muito...t-tempo, Regina e você?
— Estamos juntos há oito anos. Eu a conheci no trabalho e profetizei que ela seria a minha esposa. Deu certo e ela me aceitou! – ele sorri.
Ah, aquele sorriso! Por que ele insistia em fazer aquilo? Por que conseguia ser cruel a tal ponto? Os sorrisos de Vlades tinham o poder de desmoronar suas defesas e depois de tantas luas, continuavam poderosos!
— Sua família é linda demais!
— Obrigado! Mas seja bem vinda a ela. Espero que Cora e a senhora venham a entender-se.
Horas mais tarde, Regina está estática parada diante da visitante. Olha a mulher como se estivesse vendo um espelho refletindo sua imagem loira e com olhos claros.
— Sei que é muito tarde da noite, mas eu tinha de rever você e conhecer a sua família,
Reynina percebe que Regina estava associando sua imagem a uma imagem vista recentemente e envelhecida, então, gesticula discretamente e toca os cabelos escuros de Regina.
“Não me reconheça!” é a ordem que a alma dela dá para a alma da policial.
— Por que não fica esta noite aqui em casa? Ligue para sua motorista e peça que somente retorna amanhã. Temos um quarto de hóspedes que pode não ser cinco estrelas, mas é aconchegante e familiar.
— Eu tenho assuntos para conversar com meus advogados na Romênia e eles estão aguardando uma ligação. Quero apenas olhar para você e deixar meu endereço para que venham jantar comigo amanhã.
Naquela noite, Regina se aconchega sobre o peito do marido e é abraçada, inalada e beijada.
— A mulher é linda, Vlad!
— Serpentes do deserto também são. Sua mãe não quis contato com ela. Sabe por quê?
Regina acha graça e ri.
— Eu nem sabia que esta mulher existia, até pouco tempo. Minha mãe e ela devem ter rusgas no passado. Deve ser isso...aliás, quem não tem rusga com minha mãe?
— Mas sua mãe sabia e sua irmã também. Sugiro que converse com as duas, antes de confiar numa desconhecida. Deve haver algum motivo sério que impeça a aproximação.
Regina se senta no colchão.
— Ela veio da Romênia para conhecer nossa família, Vlad. Que mal ela pode nos fazer?
— Não sei, Gigia. Antes de vir para conhecer nossa família, ela investigou sobre você. E eu estou farto de pessoas investigando sobre nossas vidas. Fomos espionados por aquelas lunáticas e agora temos nossa vida vasculhada pela sua parenta desconhecida. Não acha um pouco demais?
— Aquelas mulheres não eram elegantes como Reyninna. Acha que podemos comparar uma dama romena que usa Chanel e motorista particular, com duas lunáticas desconhecidas que se escondiam no porão de uma casa abandonada? – Regina parecia histérica, como se fosse uma menininha que havia acabado de ganhar a maior e melhor casa de bonecas, já vista em uma loja. – Vamos jantar com ela, amanhã? Vamos, hein?
— Caso você não fale com sua mãe, vou ligar para Cora e saber a opinião dela sobre esse acontecimento.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!