Anatomia de um amor imortal escrita por Eduardo Marais


Capítulo 26
Conhecimento é poder




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Quando Vladimir desperta, sente seu braço doer. Mas não era a dor de quebradura, porque consegue movimentá-lo. Uma das duas vampiras o tinha regenerado ao usar seu sangue maldito. Olhando ao redor, identifica um quarto luxuoso dentro de paredes em pedras, polidas e envernizadas, tudo iluminado por lampiões a gás. Era um quarto de hotel de luxo, dentro de alguma caverna. Excentricidade dos vampiros ricos.

Cansado, faminto e dolorido, ele se mantém deitado sobre a cama, até perceber a proximidade de Reyninna, mesmo sem olhar para ela. Tristemente, ele reconhece que vivia uma conexão com ela, mesmo sem ter contatos íntimos. Apenas as pequenas trocas de sangue entre os dois, havia criado aquela desgraça que somente terminaria com a morte de um deles.

Ela surge silenciosa e lenta. Com sua imensa força física, Reyninna começa a despi-lo com se fosse uma menina despojando sua boneca de suas roupas. Trata-o com cuidado e zelo, para evitar mágoa em seu corpo já tão vilipendiado. Carregando-o nos braços, leva-o para uma grande tina de madeira, cheia com água quente e perfumada para ser mergulhado ali.

Com amor nas pontas dos dedos, Reyninna lava o corpo do homem amado, aproveitando-se para conhecer detalhes ainda não explorados. Ele era seu agora, sem competições, sem medo e sem pudores. Não estava mais refutando os seus toques e isso significava que ele aceitaria o seu ducentésimo pedido de casamento.

Ambos silenciosos. Ela o carrega para a cama e o deposita ali com cuidado e amor. Enxuga aquele corpo tão desejado e o perfuma delicadamente para não provocar enjoo ou qualquer reação negativa. Percebe que ele emite um gemido gutural e poderia ser prazer, porém não era pelos seus toques, mas pelo aroma convidativo do ensopado de carne trazido por Mérida para alimentá-lo.

Reyninna permite que ele se mova e busque saciar sua fome. Saciaria sua sede com o vinho gelado daquela garrafa suada e sedutora. Ver aquele homem grande, vulnerável e totalmente seu, despido sobre a cama e saciando as necessidades mais básicas dos seres vivos, enchia os olhos cada vez mais apaixonados da criatura. Como havia conseguido ficar tantos séculos longe do seu Conde? Por que não o havia buscado antes? E se Mérida estivesse certa e aquele homem não fosse Vlades? Mesmo sendo apenas um sósia, ele seria seu quando fosse totalmente convertido.

Saciado a fome extrema e bebido quase todo o vinho gelado para matar sua sede desesperadora, Vladimir se larga sobre o colchão. Havia exagerado na ingestão daquela bebida doce e saborosa. Agora, queria relaxar.

Sorrindo, Reyninna se inclina sobre o corpo do homem e sem pudores inicia sua sonhada exploração, sem preocupar-se com a possibilidade de ser interrompida. E usa seus lábios, sua língua e suas mãos para reconhecer ou conhecer o corpo do seu Conde amado.

E mesmo alterado pelo excesso de vinho, Vladimir trava uma luta feroz dentro de sua alma, para evitar que seu corpo reagisse mecanicamente àquela exploração sexual. Não poderia permitir que sua defesa ficasse baixa e que retribuísse a invasão com prazer. Estende com dificuldade uma das mãos para empurrar Reyninna e tudo o que consegue é sentir os cabelos longos dela, espalhados sobre sua barriga. Ela estava imitando os carinhos atrevidos de Regina, num espaço que somente pertencia à sua esposa em seus momentos de possessividade e controle.

Reyninna se divertia e regozijava-se com dedicando-se àquela felação invasora. E sorri ao perceber que seu amado Conde começava a reagir positivamente ao contato tão poderoso. E quando ele atingisse seu clímax, não poderia mais refutar o amor que ela tanto oferecia. Ela sorri ao sentir-se vitoriosa e por saborear o gosto do seu Conde.

Era quase manhã, quando Reyninna protege o corpo adormecido de seu amado, usando um cobertor felpudo. Beija-lhe a orelha e o vê vira-se sobre a cama e deitar-se sobre um dos lados do corpo, relaxado ou embriagado demais para preocupar-se com sua situação atual.

— Hoje não vou trabalhar, Gigia. Quero dormir. – algum ser sonolento fala de dentro dele e machuca o coração de Reyninna.

— Ela sempre estará em sua alma, não é? Por mais que eu me esforce e mesmo que eu o faça atingir orgasmos, a sua alma sempre lutará contra a possibilidade de você me amar de novo, um dia.

Reyninna ergue o cobertor e deita-se atrás do homem, abraçando-o com propriedade.

— Senhora, o dia está nascendo. Precisamos nos preservar.

— Quero dormir com ele, Mérida.

— Não pode, Senhora. Estamos desprotegidas agora. A Senhora não sentiu? – Mérida exalava tristeza.

Os olhos amarelados da Condessa se fixam na mulher sardenta e consegue ver a dor que ela emanava.

— Estamos sozinhas, Senhora. Os ventos contaram sobre a morte de Lenine. Ele se foi para que pudéssemos continuar. Ele enfrentou a bruxa e o policial...eles o destruíram.

— Eu senti isso, Mérida. Mas se Lenine se foi...é porque Vlades finalmente está de volta.

— O Conde não nos protegerá contra os adversários, Senhora. Temos de ficar fortes para que não sejamos as próximas vítimas. – ela estende a mão e pede para que a Condessa a acompanhe. – Somos nós duas, agora.

Era começo de noite novamente, quando Vladimir desperta e encontra uma bandeja com alimentos, esperando pelo seu despertar. Numa cadeira, peças de roupas estavam expostas para que viessem a ser vestidas mais tarde.

Alimentado e decentemente vestido, o policial começa a vasculhar o quarto buscando uma maneira de destravar a porta para sua próxima fuga. Mas teria de descobrir um modo de livrar-se dos três espectros.

O som da porta sendo destrava o faz afastar-se em busca de um espaço maior de distância de quem iria entrar. As figuras de Reyninna e Mérida surgem pálidas e assustadoras com seus rostos que refletiam a luz emanada dos lampiões. Porém, ele não iria demonstrar medo.

— Onde estamos? Que lugar é esse?

— A prisão para onde fui enviada, depois de ser condenada pelo complô de traição. Um julgamento feito às pressas e que me condenou à morte. Eu contei isso para você.

— E você transformou isso num hotel de luxo? – ele acha graça.

— É um dos meus nichos. Por que tenho de dormir sob a terra suja?

— Porque você é uma vampira. E vocês dormem embaixo da terra. Ou isso é lenda? – ele caminha para a cama e senta-se ali. Não estava totalmente recuperado fisicamente. – Por que não estamos no castelo? Estamos escondidos?

Aproximando-se da cama como se flutuasse, Reyninna se acomoda ao lado do amado e segura sua mão. Sorri porque ele não refuta o toque.

— Vamos ficar protegidos aqui, porque nosso castelo foi invadido. Meus ciganos foram atacados, alguns fantasmas foram libertados e Lenine foi morto.

— Lenine já estava morto. – ele sorri ao sentir seu coração bater dentro de sua cabeça e retira a mão do toque de Reyninna. – E quem o matou de novo?

— Alguém que sabia como fazer e sem piedade. Isso enfraqueceu a mim e Mérida, por isso precisamos buscar forças aqui dentro. Em breve todos nós iremos para Campina, a cidade onde eu nasci e recomeçaremos nossas vidas ali.

Estamos somente nós três? Alguém matou Lenine e elas estão mais fracas? Por que não provocar a morte de mais um?

Vladimir protege a mão de Reyninna com a sua. Sente a criatura sobressaltar-se pela felicidade e excitação.

— Lamento pela perda do único ser que a amava de verdade e que era fiel a você, Condessa. Ele era seu criador, a amava e zelava pelo seu bem estar, além de nunca ter mentido ou ocultado informação alguma de você. – ele leva seus olhos claros para o rosto de Mérida, provocando a mesma reação de Reyninna.

— O que quer dizer com isso, Vlades? - ela também olha a serva.

— Diga a ela a informação que você omitiu durante séculos, Mérida.

A ruiva se empertiga e estreita as sobrancelhas, desconhecendo a intenção do homem. Ela nega com um movimento de cabeça.

— Conte a ela o que realmente houve na noite da morte do con...da minha morte.

Os olhos de Reyninna ficam arregalados e tornam-se dourados. Algo não estava correto ali.

— O que houve naquela noite? Do que ele está falando?

— Você foi condenada injustamente e pagou por um crime que não cometeu. Eu não cometi e minha morte. – ele aponta para Mérida. – Foi ela quem me matou!

A imediata transformação do rosto de Reyninna, mostra o estado de seu espírito.

— Ele está tentando criar uma rusga entre nós, Condessa.

— Você mesma me disse na biblioteca, enquanto acariciava, elogiava meus cabelos e tentava me seduzir. Disse-me que fomos amantes e que sonhava em casar-se comigo, mas eu escolhi a jovem virgem filha dos comerciantes.

— Não é verdade!

— Disse-me que aquecia a minha cama quando eu era solteiro e que sonhava ser minha esposa. Quando houve a invasão de Boris, eu cravei a adaga em meu peito mais não atingi meu coração. Entãi, você retirou a adaga e a enfiou pela omoplata, cravando em meu coração.

— Isso é mentira, Condessa! Quando recolhemos o corpo, o Conde já estava morto!!

— Eu não estava morto ainda!! – Vladimir grita e esmurra a mesa. – Eu estava agonizando!! Você arrancou a adaga de meu peito e providenciou a minha morte!! Fez como os Inquisidores que usavam as Misericórdias!

Reyninna cobre a boca com ambas as mãos. Olha Mérida e depois seu Conde e não consegue acreditar no que estava ouvindo. De fato, Mérida era a amante de seu Conde e muitos empregados diziam que ela o amava e o desejava mesmo depois do casamento. Por que havia confiado em sua rival, durante tanto tempo? E de fato, naquela tarde na biblioteca havia encontrado os dois em atitude suspeita e pela reação violenta de Vlades, algo ruim deveria ter sido dito!

— Prove que estou mentindo, Mérida! Negue que Reyninna foi condenada à morte em seu lugar! Ela foi usada por Boris, enquanto você se aproveitou da oportunidade para vingar-se de minha rejeição e da escolha de Reyninna para minha esposa!! – ele avança e segura o braço da vampira loira e a obriga a encará-lo. – Ela é a responsável pelos seus anos de sofrimentos e pela nossa separação!! Ela me tirou de você, senhora minha esposa!!

Urrando e assumindo a fera interior, Reyninna salta da cama e prende a cabeça entre as mãos, andando de um lado a outro no quarto. Sua confidente, companheira e irmã de criador era a sua verdadeira inimiga. Certamente gargalhava quando as lágrimas caíam pela dor da ausência do único amor de Reyninna. Por que Mérida havia feito aquilo? Por que permitira que ela pagasse sozinha por uma morte que não causara??

— Você me escondeu esse segredo durante todos esses séculos?? Eu sempre me culpei pela morte do meu Conde e ele ainda estava vivo quando me prenderam!!

— Ela e os ciganos ainda desmembraram o meu corpo e você chorou sobre uma lápide vazia. – Vladimir aponta para Mérida. – Por isso sempre fez questão de chamar-me de sósia! Queria que você desistisse de mim para que ela se apossasse de mim!  

Outro urro poderoso eclode da garganta de Reyninna e ela surta arrancando mechas de seus cabelos desbotados. Encara Mérida.

— Eu chorei sangue pela dor e você apenas ria de minha desgraça!! Por que me acompanhou durante séculos se conhecia a verdade da morte de meu Conde??

— É tudo mentira, Senhora. Não está vendo que ele quer acabar com o que resta das nossas forças?

Reyninna avança para Mérida e as duas se atracam numa luta feroz e animalesca. Eram duas feras usando suas garras afiadas para conseguir a superioridade e o comando do grupo.

Sem titubear, Vladimir corre a apanha um dos lampiões, tirando a tampa e expondo a chama. Carrega o objeto e o deita sobre o colchão, provocando o começo da queima dos tecidos. Deixando o fogo começar, ele foge pela porta aberta e vai procurar sua sorte, deixando os barulhos assustadores para trás.

Sem conhecer os corredores, Vladimir entra e sai de qualquer espaço que encontra. Alguma hora iria conseguir descobrir a porta daquele presídio.


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