Orgulho e Preconceito - A Continuação escrita por Clarinesinha


Capítulo 23
22 - A Decissão e Segredos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/700593/chapter/23

Depois de algum tempo a assimilar a notícia, Mr. Bennett em conjunto com os outros cavalheiros, decidiram não adiar mais a revelação a Mrs. Bennett. Não a podiam evitar, se seria difícil? Sim. E nenhum dos quatro queria ser aquele a destruir o coração de uma mãe.

Ao entrarem na salinha onde estavam as quatro mulheres, Mr. Bennett trocou um olhar de dor com Jane. Esta percebeu que chegara o momento de contar à mãe a triste e trágica notícia que os tinha levado até Longbourn.

Mrs. Bennett, continuava animadamente a contar a Jane sobre o namoro e possível noivado de Kitty com Mr. Bell. Porém, sentia-se triste pois mais uma filha iria ficar longe dela, uma vez que Kitty depois do casamento moraria em Londres, onde Bell iria trabalhar, uma instituição bancária que a família tinha comprado à pouco tempo.

Kitty estava feliz, já que poderia ficar perto dos Tio Gardinner, por quem tinha ganho um enorme carinho ao longo destes últimos anos. Claro que a possibilidade de ver Lydia também a alegrava, pois estaria mais próxima dela.

— Minha cara Mrs. Bennett, precisamos de falar...

— Agora...deixa-me disfrutar da visita de Jane, de Mr. Bingley e do meu irmão. Depois...depois falaremos...

— Fanny...sinto muito mas temos algo que temos que te contar. E minha querida tens que ser forte...- diz Mr. Gardinner.

— O que estás para aí a dizer? Aconteceu algo com Lydia? Não foi com Lizzy, claro por isso Mr. Darcy está aqui...o que lhe aconteceu...perdeu o bebé? Foi isso...não se preocupe, logo terá outro...

— Não Mrs. Bennett. Lizzy está bem, e o bebé também...nós temos que falar sobre Lydia.

— Lydia!? Aquela menina deu notícias...mas porque não me escreveu. Há mais de um mês que não sei nada dela.

Jane aproximou-se da mãe, depois de perceber que o pai não iria conseguir dizer nada. Ela explicou que tinham recebido notícias de Lydia e que não eram boas. Que infelizmente houvera um acidente e que Lydia tinha falecido. Mrs. Bennett, em choque acabou por perder os sentidos, Mary não expressou qualquer sentimento e Kitty agarrou-se ao pai chorando como uma criança.

Enquanto isso, Mr. Darcy levou a mãe da sua amada para o quarto, onde Hill ficou com a sua senhora. Darcy desceu de novo, onde junto de Mr. Bennett pudessem resolver todas as diligências em relação ao funeral, e principalmente à pequena Júlia.

— Sei que Mrs. Bennett gostaria de ficar com a criança, mas deixá-la ser criada da mesma forma como Lydia foi...não o posso permitir...

— Compreendo-o bem John, mas com quem ficará a pequena?

— Papá, sei que tem receio que a pequena Julia se torne tão despreocupada e mimada, mas desta vez sei que vai estar mais atento, sei que não vai consentir que a mamã...

— Não Jane, estou velho demais para tratar de uma criança tão pequena. Desculpem mas não me sinto com forças para isso. E a tua mãe...sabes o que acontecerá...

— Mr. Bennett compreendo os seus receios, contudo, penso também que não se pode culpar por tudo o que aconteceu com Lydia. Eu próprio podia ter desmascarado Wickham assim que ele pisou Hertfordshire...

— Mr. Darcy, sei o que vai dizer...sim é verdade poderia. Mas sei que essa não é a sua indole, jamais humilharia alguém. e já para não falar do que gastou para que a minha filha não perdesse a honra.

— Bom John, se tu não podes ficar com a pequena, temos que decidir entre os restantes...- diz Mr. Gardinner.

— Eu gostaria muito de ficar com a minha sobrinha, mas...- Jane começa, olha para Bingley e com um breve aceno da parte do esposo...- Charlotte ainda é pequena, para além disso...bem a família vai aumentar daqui a um tempo...

— Jane!? Parabéns filha...sei que esse bebé vai trazer ainda mais alegria à vossa vida.

— Soubemos à pouco tempo. E eu ainda estava a tentar assimilar a notícia. Não me levem a mal, mas Charlotte ainda é pequena e...

— Percebo-te Jane. A tua Tia e eu passámos pelo mesmo, mas te garanto que o trabalho compensa ao olhar para os teus filhos cada vez que eles sorriem...

Depois de todos de darem os parabens Mr. e Mrs. Bingley, a questão de Miss Wickham ainda estava por resolver. Mr. Gardinner que seria a outra solução afirmou que tinha ainda quatro filhos pequenos...e que não tinha como ficar com Julia. Todos começaram a discutir, dando opções para que um ou outro ficassem com a pequena, até que...

— Nós ficamos com Julia.

— Mas Darcy...ela é filha de...- diz Mr. Bingley olhando para o seu amigo. Ele conhecia a história entre Darcy e Wickham, sabia como o amigo ficara quebrado pela quebra de confiança "do irmão", pois era assim que Darcy via o outro,até tudo acontecer.

— Sei o que estás a pensar, porém apesar de ser filha de quem é, é apenas uma criança. Sim o pai, me traiu da pior forma possível. Eu cresci com ele, vivemos como irmãos desde pequenos...e ele foi capaz das piores traições que poderia cometer...Mas Júlia para além de ser minha sobrinha não tem culpa de nada. E sei que Lizzy ficará feliz...

— Mas, Lizzy está grávida. Será que não é muito para ela?- pergunta Mr. Bennett.

— Não se preocupe Mr. Bennett. A pequena está neste momento com uma senhora que pelo que informaram o meu primo ficava com ela, quando os pais...bom faziam o que lhes apetecia. Vou mantê-la connosco em Pemberley, não só para ajudar Lizzy, mas também porque é o único elo de carinho e amor que Júlia tem.

— Sim, isso parece-me bem. Ela vai-se sentir perdida com esta mudança, e ter uma cara familiar vai tornar mais fácil a sua adaptação.

— Não sei nem o que dizer...- Mr. Bennett está sem conseguir dizer nada...

— Não precisa de dizer nada, Mr. Bennett. Claro que não quero que a vossa neta seja uma estranha para o avós...então são mais que convidados em Pemberley para a verem.

— Obrigado. A minha Lizzy não poderia ter arranjado homem melhor: generoso, apaixonado...

— Não sou nada disso sem ela...pode ter a certeza, sou o que sou porque a tenho na minha vida.

Assim que acabaram a conversa sobre com quem a menina ficava. Foram-se despedir de Mrs. Bennett, que agora estava já mais calma. E que logo lhes perguntou pela neta, que ela tinha que ficar com os avós. Quando Mr. Gardinner lhe disse que a pequena ficaria a morar com Mr. e Mrs. Darcy, a senhora logo começou a insultar o genro de: orgulhoso, petulante, entre outros nomes não muito educados para uma senhora. Mrs. Bennett queria porque queria a sua neta consigo, seria um pouco da sua filha junto de si.

Porém, como Mr. Darcy dissera a sua esposa apenas iria mimar e prejudicar a pequena. E mesmo que o mesmo pudesse estar mais atento, sentia-se cansado para tal tarefa. Mr. Bennett, estava naquela altura da vida que apenas queria aproveitar os netos. Mas Mrs. Bennett continuava a teimar, Jane tentou também fazer a mãe ver que cuidar de Julia não seria fácil, que ela já não teria a mesma energia.

"- MRS. BENNETT. CHEGA. A nossa neta estará bem melhor com Lizzy. Eu errei com Lydia, não vou errar com Júlia. A decisão está tomada e a senhora só tem que aceitar."

E assim com este pequeno grito de Mr. Bennett, mais ninguém conseguiu dizer nada. Mr. Darcy ainda falou com Mr. Bennett em relação a todos os procedimentos em relação a Júlia e ao que fazer com as celebrações fúnebres de Lydia. Assim os três homens e e Jane voltaram para Netherfield, onde Darcy escreveu a seu primo.

"Caro Fitzwilliam,

Como está Lizzy? Espero que a ida de Mrs. Gardinner e de Mr. Philipps para Pemberley tenha, de alguma forma, a animado um pouco. Já falámos com Mr. e Mrs. Bennett. Como deves calcular foi difícil, perder uma mãe ou um pai é duro, contudo se pensarmos bem é o ciclo normal da vida: os pais vão antes dos filhos, certo?

Mas perder um filho, não é normal. Estes nunca devem partir antes de nós. Sei que Lydia nunca foi uma jovem fácil, que tanto Mr. e Mrs. Bennett erraram e muito na sua educação. E até Mrs. Bingley já se condenou por não ter travado mais os mimos da mãe para com a irmã mais nova. Contudo, a morte talvez tenha sido um preço demasiado alto a pagar por erros que a mesma não tinha tanta culpa como poderemos pensar.

De qualquer forma já temos tudo tratado e discutido, ainda amanhã vou para Londres com Mr. Bennett e Mr. Gardinner, de forma a tratar tanto de toda as burocracias em relação a Miss Wickham. Iremos também tratar das celebrações fúnebres de Mrs. Wickham.

Peço que digas a Lizzy que dentro de três dias estarei de volta. Dá o meu afecto a Georgiana, e à tua pequena Alice.

Do Teu Primo, Darcy..."

Em Pemberley, todos ficaram um pouco mais aliviados por saber que tudo estava a ser tratado e que Mr. e Mrs. Bennett já tinham sido informados. Mrs. Darcy, embora já saísse do quarto, estava ainda um pouco abalada. Mantinha-se no seu pequeno canto, pensando na mãe, no pai...e em Lydia.

Talvez se ela tivesse contrariado mais a mãe em relação a Lydia, ou alertado o pai mais cedo para as atitudes da mesma...talvez Lydia ainda estivesse a salvo em casa. Ou, se quando soube sobre o carácter de Mr. Wickham o tivesse exposto para todos, sim de certeza que todos estariam mais atentos, ate mesmo Mr. Foster. Sim, Lizzy sentia-se culpada, se ela tivesse agido no passado, Lydia ainda estaria com eles.

— Lizzybee...- Mark chega perto da prima, a quem considerava irmã...- de novo a chorar?

— Nem sei com ainda tenho lágrimas para derramar, mas não as consigo fazer parar.- Mark abraça a sua prima, que sempre foi mais como uma irmã...- Porque é que eu nunca fiz nada antes? Talvez se eu tivesse impedido a minha mãe? Ou talvez se tivesse falado com o meu pai mais cedo, o tivesse alertado para...

— Lizzy, sabes bem que nada do que tivesses feito, iria resultar. A tia nunca ouviria o tio, e este para não se incomodar com os "chiliques" da tua mãe nunca iria dizer nada. Desculpa dizer isto assim, mas é...

— A verdade.- E Lizzy olhou para o imenso jardim...e suspirou...- Eu sei, o papá nunca conseguiu impedir os desmandos da mamã. E no fundo sei que para ele Kitty e Lydia foram apenas duas tentativas frustradas para ter o tão esperado rapaz...

— Ei, não penses assim. O Tio ama e sempre vos amou às cinco...

— Eu não quis dizer que ele não nos ama, contudo, sempre senti que ele deixou de se preocupar. Jane sempre foi meiga e comportada, eu sempre fui vista como a rebelde, Kitty e Lydia foram as mimadas e Mary...foi a esquecida.

Mark não soube mais o que dizer, por isso decidiu simplesmente abraçar a sua Lizzybee. No fundo ele sabia que tudo o que ouvira era verdade. Os tios tentaram ter o tão desejado filho homem, mas infelizmente o único que nasceu, não sobreviveu muito tempo. O pequeno Jonas faleceu ainda bebé. Ninguém falava dele, era um assunto proibido.

Jonas seria mais velho que Lizzy e da mesma idade de Mark. Por isso Mrs. Bennett nunca conseguira ter uma ligação com a filha. Depois de Jonas morrer, Mrs. Bennett ficou como que num estado letárgico. Não saia do quarto, a não ser para ir até ao quarto do filho. Comer apenas porque Mrs. Phillips a obrigava.

Mark lembra-se dessa altura, ia todos os dias para casa da Tia Bennett. Ficava com Jane e Hill que naquele momento era quem tratava deles. E por vezes com o Tio Bennett que brincava com os dois. Ao fim de dois anos Mrs. Bennett engravidou de novo, e a ansiedade de receber o seu menino era enorme, e embora todos lhe dissessem que poderia ser uma menina, Mrs. Bennett dizia que ia ser um rapaz.

Quando a pequena Elizabeth nasceu, parecia um anjinho de cabelos escuros. Jane com os seus três anos ficou radiante, e ele com dois anos amou ali a sua prima bebé. Mrs. Bennett ao ver que era uma menina, simplesmente a afastou de si, ela queria o seu rapaz, o seu Jonas. Lizzy foi basicamente criada pelo pai, e desprezada pela mãe. Ao fim de quatro anos, nasceu Mary que mais uma vez foi colocada de parte por Mrs. Bennett.

Mr. Bennett, estava também ele cansado, e ao ver as duas filhas mais novas colocadas de parte pela própria mãe. Resolveu ter uma conversa com a sua esposa, foi quando Mrs. Bennett foi morar com a irmã durante uns tempos, e Mr. Bennet ficou com as três filhas em Longbourn. a separação não durou muito tempo, já que apesar de todos os defeitos de um e de outro eles se amavam. Assim a vida seguiu o seu curso, e vieram Kitty e logo a seguir Lydia, e apesar de quererem o rapaz, por causa da saúde da tia, decidiram ficar por ali.

— Lizzy.- Mark sabia que este era um assunto que nunca se falou, mas ele ouvira a mãe falar do sobrinho tantas vezes com o pai, que para ele sempre fora um assunto mais que normal.- Vou-te contar algo que talvez percebas o porquê da tua mãe ser assim...- Mark contou toda a história sobre Jonas Bennett.

— Eu tive um irmão!? Mas porque é que o papá nunca me contou? E Jane, ela nunca mencionou que...

— Jane provavelmente já nem se lembra, ela tinha um ano mais ou menos. Eu era um bebé, tenho apenas dois meses mais que o Jonas. E o teu pai, bem talvez porque era difícil falar de Jonas.

— Agora tudo faz sentido Mark.- Lizzy coloca a mão por cima do seu ventre, como se pudesse defender o seu bebé de tudo. Ela não iria suportar perder o seu bebé.

Agora tudo fazia sentido, agora percebia a mãe. Ela não a desprezou por falta de amor, ela simplesmente estava sem capacidade de amar alguém, ela estava a sofrer. E ao fim de anos e anos sem o amor da mãe, Lizzy apenas se habituou e a julgou por não a conseguir amar. Lydia apesar de ser menina, fora a ultima oportunidade, e disso Lizzy sabia.

A mãe teve várias complicações durante toda a gravidez, e depois de Lydia nascer ficaram a saber que Mrs. Bennett não poderia engravidar mais. Lydia tornara-se assim o seu eterno bebé, tudo o que ela queria Mrs. Bennett lhe dava, se a pequena queria um brinquedo que era de Mary ou de Kitty, Mrs. Bennett tirava das outras filhas e dava a Lydia. Era a sua menina, a sua ultima oportunidade de ser mãe.

E naquele momento Elizabeth chorou, não apenas pela sua irmã, como também pela mãe. Nenhuma mãe deveria sentir a perda de um filho, e  Mrs. Bennett pelos vistos tinha vivido isso antes. Ela perdera dois filhos...e nada seria pior que essa dor. É como desvendar a maior dor do mundo, é como se algo fosse arrancado de si mesmo e que nunca irá voltar para o seu lugar. É uma dor gigante, um sofrimento terrível e uma lágrima que nunca desaparece.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Orgulho e Preconceito - A Continuação" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.