A Teia de Sangue escrita por Artur


Capítulo 5
A Teia de Sangue: Capítulo 05 — Contra o Tempo


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos, como vão? Sei que demorei bastante para atualizar aqui. E dessa vez não existem desculpas. A fic já está totalmente finalizada, mas eu ainda não me senti totalmente confortável em publicar o restante da história. Por isso, decidi fazer algumas alterações dos capítulos que ainda não foram postados, melhorando em alguns aspectos, como desenvolvimento de personagens e da trama em si. Espero que gostem do resultado! Beijos!

Capítulo muito importante depois das duas mortes do capítulo anterior. É bastante pesado emocionalmente e veremos também algumas camadas de personagens até então estereotipados.



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A Teia de Sangue

Capítulo 05: Contra o Tempo

Um ruído contínuo no outro lado da linha fora tudo que Celina conseguia ouvir.  O professor de história do Instituto Lancaster havia, repentinamente, parado de responder as perguntas da ruiva que acaba desligando a chamada. A expressão de Celina demonstrava que algo de errado acabara de acontecer com o professor de história.

— Celina... — Amélia balbuciou, estranhando a reação da colega de turma — Algo de errado?

A ruiva colocou o próprio telefone em cima da mesa do restaurante, fitando de relance todos que estavam envolta da mesa. Abby estava ao lado de Amélia, com seus olhos pretos arregalados, curiosa acerca do acontecido.

— Alguma coisa aconteceu — Celina engole em seco, olhando diretamente para Josh — Foi estranho, ele simplesmente parou de falar, mas a chamada continuou... e ainda ouvi alguns barulhos estranhos.

Joshua levanta-se de súbito, assustando as meninas que o acompanhavam. O adolescente de olhos verdes claros olhava para o vazio como se algo que temesse estivesse prestes a acontecer o que, de fato, estava acontecendo.

— É isso, Celina — Josh responde, ainda com o olhar distante — Precisamos ir até a casa do professor George, agora!

— O que? — Abby questiona a atitude repentina de Josh, acompanhando a saída do colega de classe com o olhar — Como assim, Josh?

— Está acontecendo, se o que o agente funerário me disse for verdade, George pode estar correndo perigo nesse exato momento! — Herdman corre para o exterior do restaurante Cipriani, esbarrando acidentalmente na gerente do local e mãe de Emma Morris. O garoto nem sequer pede desculpas, correndo desesperadamente pela calçada do restaurante, mas parando assim que viu que não sabia como chegar até ele.

— Josh! — Celina exclama o nome do companheiro, estando ao lado de Amélia e Abby — Você precisa se acalmar! Nós vamos até a casa dele, mas primeiro precisamos arranjar um táxi, não acha?

O filho de Anne permanece estagnado, observando com seu olhar assustado a astuta Celina esticar o braço para conseguir um táxi que estava estacionado na rua mais à frente. A ruiva parecia pensar com calma em momentos extremos, ao contrário de Joshua, que estava visivelmente consternado com as sequelas que tivera após a premonição da explosão de dias atrás.

O grupo de adolescentes logo estava no caminho da casa de George. O silêncio das companheiras de classe parecia sufocar Josh. Suas mãos e pernas estavam inquietas, queria que todo aquele pesadelo acabasse o quanto antes. Seu melhor amigo, Tommy, não havia acreditado na teoria acerca da premonição que tivera, o que o deixava completamente revoltado, afinal, Tommy preferiu ignorar a situação do próprio amigo e o fato de que poderia morrer a qualquer momento.

Um engarrafamento estranho para o fluxo de veículos de uma cidade pequena como Pretty Lake fez o taxista parrudo resmungar palavras quase inaudíveis. Eis que, na primeira curva, um acidente envolvendo o trem que passa constantemente pela cidade se revelou ser o responsável pela lentidão do tráfego.

O táxi passa lentamente ao lado do acidente. Um arrepio gélido tomou conta do corpo de Josh, que mantinha seus olhos claros fixos na imagem de um corpo coberto por um saco preto. Um sentimento estranho e fúnebre alastrou-se por todos que estavam naquele táxi; aquele poderia ser o destino final de todos envolvidos na premonição de Josh.

— Vai ficar tudo bem, Josh — Amélia sussurrou com sua voz delicada e assustada ao mesmo tempo. A garota de cabelos castanhos claros acaricia a mão direita do companheiro de classe como um gesto de otimismo. Ela, definitivamente, era totalmente o oposto de sua irmã gêmea e da postura de seus pais, os Wheeler.

Josh assente a cabeça, ele, mais do que todos, queria passar a confiança de que tudo poderia acabar bem caso todos colaborassem. No entanto, Joshua parecia temer cada vez mais que todos seus amigos poderiam encontrar o mesmo fim em questão de segundos. A visão de todos morrendo na explosão do Instituto Lancaster ainda estava presente em seus pensamentos, principalmente quando fechava os próprios olhos, aquilo iria lhe perseguir pelo resto de sua vida, isso se conseguisse sobreviver ao final de tudo.

Pouco tempo depois, o taxi finalmente alcança a rua que dava acesso à casa de George. De súbito, notou-se uma movimentação estranha pelas calçadas da rua; as pessoas possuíam um semblante assombrado, como se algo terrível acontecesse nas redondezas do bairro.

— Acho que não poderemos avançar mais que isto. — A foz grossa do taxista ecoou pelo automóvel, desacelerando-o lentamente.

— Mas o que é isso? — Celina pensou em voz alta, estando no banco do passageiro. Amélia, Josh e Abby, que estavam no banco traseiro, inclinam-se para entender o que havia acontecido mais à frente.

A luz vermelha e giratória de uma ambulância logo reflete no vidro dianteiro do táxi, deixando todos incomodados. Ao lado do veículo de primeiros socorros, havia um carro da polícia local juntamente à van funerária.

— Isso não é bom — Os olhos de Abby estavam fixos no fluxo de pessoas que estavam ao redor do local, curiosas com o ocorrido — Definitivamente não é nada bom.

A adolescente de cabelos escuros fitou os demais companheiros de turma lentamente. Eles estavam tão assustados quanto ela, alquilo não era um bom sinal. Após pagar o transporte, os quatro adolescentes vão em direção ao volume razoavelmente grande de pessoas que ali estavam.

— Parece que estão bloqueando a passagem... — Celina sussurrou. A ruiva estava ao lado de Joshua, enquanto as outras duas caminhavam mais atrás, receosas com o que poderiam encontrar logo à frente.

— Algo aconteceu na casa de George — Josh respondeu, ríspido e seco. Sua voz soou com um tom melancólico e aflito — Chegamos tarde demais, Celina. — Os olhos do garoto ficam marejados em questão de segundos; ele estava prestes a desmoronar.

— Josh. — Celina abraça o amigo, olhando de relance para um dos paramédicos que surgia na frente da porta da casa de George, trazendo algo consigo que fez Celina soltar Josh lentamente.

As pernas de Celina ficaram bambas em um piscar de olhos. O que era apenas uma especulação veio a se tornar um fato escancarado na cara de todos. Ao passo que se retirava da casa do professor de história, o paramédico arrastava uma maca consigo que logo estava totalmente visível a todos.

Outro manto escuro, igual ao utilizado no corpo do acidente envolvendo o trem de Pretty Lake, recobria o corpo estirado sob a maca. Mas, dessa vez todos tinham a certeza de que se tratava de George.

A brava e destemida Celina murchou em uma angustia profunda. Sua pele clara deu lugar a um tom avermelhado de cor, como se a jovem estivesse prestes a explodir e se imergir em lágrimas de pavor. Josh, por outro lado, já tinha em mente que poderia ter sido tarde demais, como, de fato, fora.

A imagem do corpo de George sendo escoltado e levado até a van foi como um baque para o jovem Herdman. Aquilo remetia e confirmava o que Willian dissera na agência funerária, a morte buscaria todos os envolvidos na premonição, e Joshua presenciaria a morte de todos os seus amigos, um por um.

— Ah meu Deus! — A voz assustada e apavorada de Amélia fez com que Josh e Celina desviassem o olhar daquela cena angustiante por alguns segundos. A filha dos Wheeler tinha suas duas mãos tampando a própria boca.

Amélia estava virada para a vitrine de uma loja de eletrodomésticos que estampava diversas televisões em sua vitrine com o slogan Ofertas de Matar. E, em um desses televisores, o noticiário local anunciava um grave acidente envolvendo uma adolescente de Pretty Lake.

— Essa... — Abigail aproximou-se da garota, notando o espanto repentino com o noticiário — Essa garota da foto não é a Emma? Emma Morris?

Josh e Celina, estranhando o choro repentino de Amélia, aproximam-se da vitrine da loja, percebendo que o noticiário acabava de exibir uma reportagem acerca da morte de uma de suas colegas de classe, vítima de um incidente na linha férrea da cidade.

— Emma também morreu? É isso? — Abby questionou, com um tom de voz urgente — Isso só pode ser brincadeira! George e Emma em um único dia?

— Cristo... — Celina balbuciou lentamente, pondo-se a chorar cada vez mais. Josh permaneceu parado, observando a foto de Emma sorridente e alegre ao lado das cenas que registram a retirada do seu corpo já sem vida.

A morte parecia ter começado seu plano doentio de buscar todas as vítimas que deveriam ter morrido na explosão do Instituto Lancaster. E Josh podia senti-la ali, observando os quatro adolescentes, esperando para o momento perfeito de acabar com suas vidas. A morte estava cada vez mais onipresente, e Joshua não poderia ver mais alguém próximo morrer.

— Não é brincadeira, Abby — Cochichou, ainda olhando para a vitrine da loja — Nosso pesadelo começou. Agora estamos correndo contra o tempo.

                                                            [...]

‘’ Vamos treinar hoje às 16:00 no Cloverfield Park, ficaremos até 18:00, onde será decidido o pré-time do jogo de Domingo. Por favor, tente comparecer ou se livrar da sua advertência. ‘’

A mensagem do treinador do time de basebol do Instituto Lancaster logo fora recebida e lida por Scott Summerfield. O loiro largou o celular na mochila, caminhando lentamente pelas ruas vazias de Pretty Lake. Não fazia sentido a pré-temporada começar depois do incidente envolvendo o Instituto, não depois de tantas perdas. A escola estava em reforma, e era humilhante para o time ter que treinar ao ar livre no parque mais visitado da cidade.

Apesar disso, Scott fazia de tudo para se destacar positivamente. Dos jogos que participou, sempre fora um dos alicerces do time, dando força e boas vibrações para toda a equipe. Para Summerfield, estar no time de basebol significava muito mais do que simplesmente ser popular no Instituto Lancaster.

O loiro adentrava na área mais vazia e deserta da cidade; o subúrbio de Pretty Lake. Passou ao lado de dois homens de azul que ajeitavam um outdoor logo na entrada do bairro onde Scott morava. Um vento gélido e feroz percorre pela região, fazendo um dos homens que estava no último degrau de uma escada se desequilibrar, deixando cair uma furadeira no chão. 

Com as mãos agasalhadas no bolso da jaqueta que representa o time de basebol dos Falcões de Pretty Lake, Scott continua com o percurso até sua casa. Aquele era o momento mais difícil do seu dia; o retorno para casa. Em parte, o loiro sentia que era seu dever e obrigação assegurar que seu irmão mais novo, Sam, não tenha sido espancado até ficar inconsciente por sua própria mãe ou pelo seu padrasto.

Vivia com aquela que um dia chamou de mãe por simples necessidade. Já tentou fugir inúmeras vezes, mas o pequeno Sam sempre o fez retornar, temendo que o pior fosse descontado no irmão mais novo. E, dessa forma, Scott sempre carregava o peso de suas decisões nos próprios ombros.

De certa forma, estar no time de basebol do Instituto — o qual estudava devido a uma bolsa dada pelo Diretor Nathan — significava uma perspectiva de vida maior para Scott. Aquilo lhe lembrava todos os dias que o futuro poderia ser muito maior para si e para seu irmão. Summerfield poderia mergulhar no mundo do vício e das drogas como sua mãe, mas optou por tentar mudar seu próprio rumo.

Seu jeito extrovertido, palhaço e muitas vezes visto como irritante por alguns alunos, refletia o semblante que o jovem Scott adotou para disfarçar a outra versão da sua vida, o inferno que sempre vive quando chega em casa. Por um momento, cogitou que talvez fosse melhor ter realmente morrido na explosão do Instituto, mas, novamente, o fato de deixar Sam sozinho com uma mulher desequilibrada o fizera voltar à realidade e aceitar que seu destino era, de fato, ganhar destaque pelo time de basebol, conseguir dinheiro e fugir com o irmão para outro lugar.

— Desgraçado. — Scott resmungou para si. Assim que chegou ao conjunto de casas, uma do lado da outra, notou a presença de um carro velho e acabado estacionado à esmos no jardim de uma casa acinzentada.

Aquilo confirmava que seu padrasto estava em casa naquele momento. Summerfield cerrou os punhos lentamente, inspirando com uma intensidade jamais vista antes. Estava farto de ver alguém como Patrick, seu padrasto, morar na mesma casa que seu irmão mais novo. Mesmo assim, alguns surtos repentinos faziam com que Patrick e a mãe de Soctt e Sam sumissem por dias ou até mesmo semanas, deixando os dois garotos sozinhos, tendo que se virar com pouca comida ou dinheiro.

Scott abre a porta velha vagarosamente. Um cheiro podre logo tomou conta do seu nariz. O loiro respira fundo antes de adentrar de vez no local, avistando sua mãe e seu padrasto largados no sofá rasgado da casa minúscula.

— Voltou mais cedo hoje, han? — A voz desengonçada e extenuante da mãe de Scott ecoou pelo local assim que notara a presença do loiro — Não vai nos cumprimentar? — A mulher insistiu em falar com Scott, sorrindo ironicamente com Patrick ao seu lado.

Scott joga a mochila no canto da cozinha, caminhando em silêncio pelo piso desgastado da casa velha em que vivia. Olhou de relance para a pia suja e repleta de restos e sobras de comida, voltando-se para um dos quartos da casa, estranhando a ausência de seu irmão.

— Cadê o Sam? — Indagou em um tom alto e potente de voz, mas sem obter resposta. Sua mãe ria enlouquecidamente ao lado de Patrick — Onde está o Sam? Cadê o meu irmão?

Summerfield estava prestes a gritar e berrar contra a mãe. Ele sabia que se fizesse isso, Patrick provavelmente tentaria alguma coisa, mas Scott, nos auge dos seus dezessete anos, já sabia se defender da maneira correta, ao contrário de anos atrás, quando era simplesmente espancando, chegando, inclusive, a desmaiar.

— Aquela pestezinha não quis me obedecer — A mãe de Soctt respondeu, separando-se dos braços largados de Patrick — Tive que dar um jeito nele.

Scott sentiu uma raiva incontestável tomar conta de si. Não poderia aceitar ou sequer imaginar o que haviam feito contra seu irmão mais novo, alguém tão indefeso e inocente como Scott era no passado.

— O que você fez com ele? — O loiro corre em direção à sala, ficando de frente ao casal de viciados — Onde está o meu irmão??

Patrick ameaçou levantar-se, sendo impedido por Sabine, que revira os olhos ao ouvir os gritos do próprio filho mais velho.

— Relaxa, não fizemos nada demais. Deixei ele preso no banheiro por um tempinho, ele precisa aprender a não ser malcriado.

— Mas que porra... — Scott deixa escapar sua consternação com tudo aquilo, correndo rapidamente em direção ao banheiro, abrindo a porta por fora, percebendo a presença de seu irmão pequenino sentando de frente à privada, com seus braços em volta de suas pernas, assustado e cansado de chorar — Sam!

Scott adentra no banheiro, pegando o irmão pelo abdômen, abraçando-o na sequência. Sam faz o mesmo, agarrando o irmão mais velho como se esperasse a vinda de Scott há muito tempo. O atleta do time de basebol de Pretty Lake deixou escorrer algumas lágrimas revoltosas, mas procurou acalmar o pobre Sam naquele momento.

 Nem o amigo mais próximo e confidente sabia daquele lado sentimental de Scott, mas o loiro não se orgulhava nenhum pouco de contar sua vida para seus companheiros de time, por exemplo. Tudo isso contribuía para o lado cético e descrente de Scott prevalecer diante das outras pessoas; ele não confiava em ninguém, apenas em si mesmo. Talvez esse seja, de fato, o pior erro de Summerfield.

Enquanto isso, na região sul de Pretty Lake, Aurora Wheeler vivencia uma realidade totalmente diferente da encarada por Scott. Repleta de luxos, mordomia e com todas suas vontades previamente realizadas, Aurora detinha o título de uma das alunas mais esnobes do Instituto Lancaster.

A jovem loira nunca foi de exalar cumplicidade, humildade e compaixão para com os outros. E, diferente de sua irmã gêmea, possuía pouquíssimas amizades que eram, na verdade, baseadas em puro interesse.

No entanto, ao contrário do que todos imaginam, Aurora tem noção de sua fama em Pretty Lake. Ela sabe que aqueles que estão a sua volta usam uma máscara cada vez que se aproximam, ninguém é totalmente verdadeiro com a jovem Wheeler. Mas Aurora não se incomodava com isso, muito menos questionava tais pessoas; ela apenas os aceitava como se fosse a única chance de ter seus trejeitos irritantes aceitos por alguém.

Aurora estava repousando em sua casa grandiosa desde o incidente na piscina do clube, onde quase morrera afogada se não fosse por Celina, alguém que certamente repudia Aurora. Depois desse incidente e também da explosão do Instituto, a loira passava a se comportar de forma estranha, como se algo estivesse deixando-a sufocada. Havia algo de errado com Aurora.

— Você irá para a reunião de amanhã? — A voz majestosa e elegante de Amara ecoou pelo âmbito espaçoso da mansão dos Wheeler — Parece ser bem importante...

O silêncio de Elliot, acompanhado de um olhar cerrado e fuzilante, tornava o clima estranho entre um dos casais mais ricos da pequena Pretty Lake. O patriarca da família simplesmente assente a cabeça, repassando mais uma página do jornal que lia.

— Toda quinta-feira um magnata marca outra reunião que ocupa todo o seu dia — Amara continua, dessa vez com um tom de voz irônico e sarcástico. Algo facilmente identificado por Elliot, que suspira, revirando outra página. — Espero que não perca o aniversário do nosso casamento este ano.

Elliot solta um sorriso lateral, o que era o suficiente para deixá-la furiosa.

— O que isso significa?

— Não ouvi você reclamando quando fechei o contrato com os Hart. — Elliot sibilou calmamente, fechando o jornal em que lia enquanto dirigia-se para seu escritório casual.

Amara parecia que estava prestes a explodir. E, após ouvir toda conversa dos pais, Aurora não se atreveria a contar o que estava passando nos últimos dias para a mãe. Pelo menos fora o que pensou, deixando-se levar pela angustia que estava prestes a sucumbi-la.

— Mãe... — A loira surge de um cômodo, fingindo ter acabado de chegar à sala de estar. Aurora não conseguia esconder sua hesitação, jamais havia desabafado sobre o que sentia diariamente com alguém, muito menos com a própria mãe — Posso conversar com a senhora um pouco?  

— Claro, sente-se. — Amara respondeu, tentando disfarçar a discussão embaraçosa que tivera a pouco com Elliot — Mas seja breve, eu irei sair em instantes.

— É que... depois da explosão — Aurora engoliu em seco, relembrando-se da agonia que enfrentou enquanto esteve embaixo da piscina — Depois de tudo que aconteceu. De quase ter morrido... eu decidi ir para o clube do Instituto e...

— Aurora, você sempre vai direto ao ponto — A matriarca dos Wheeler a interrompeu, erguendo a sobrancelha direita — Pode ir dessa vez também?

— Eu quase morri afogada no clube e desde então eu fico apreensiva com tudo. Não sei o que está havendo comigo, sinto medo de sair de casa, de falar com alguém, até mesmo de respirar profundo — Aurora puxou folego, tocando levemente nas suas madeixas douradas cortadas por Celina — Estou ficando com muito medo, mãe.

— Querida... — Amara toca de leve no ombro esquerdo da filha — Você está morta?

O tom de voz da indagação de Amara fez Aurora tomar um choque de realidade. Amara não demonstrava um pingo sequer de preocupação com a aflição da própria filha. Estava mais preocupada no que o marido andava fazendo toda quinta-feira, assim como a fama que teria caso algo fosse divulgado. Aurora arregala os olhos, sem responder a pergunta da mãe.

— Foi o que pensei, vá fazer algumas compras, talvez melhore seu ânimo. — A mulher de cabelos presos em um coque retira-se da sala de estar sem ao menos olhar nos olhos claros de Aurora, quer permanece sentada no sofá, incrédula com a falta de empatia da própria mãe.

Aurora Wheeler não precisava de compras ou de uma boa noite de sono. Tudo que a jovem queria era um pouco de preocupação vinda de qualquer pessoa, um desabafo poderia deixa-la melhor e menos amedrontada, mas, para isso, Aurora precisava de alguém em quem realmente confiava. Infelizmente, ninguém sequer visitou a loira após o incidente no clube, nem mesmo uma mensagem ou ligação, todos pareciam desprezar Aurora Wheeler. E o desprezo torna qualquer pessoa, independente de seu modo de agir, profundamente desolada.

                                                  [...]

Sua respiração estava pesada e extenuante. Muito do que viu e presenciou mais cedo contribuía para tal estado. As mãos inquietas demonstravam a preocupação de Joshua naquele exato momento. O jovem garoto andejava às pressas por uma calçada nas ruas do centro de Pretty Lake. Estava mias nervoso que o normal, mais consternado e, definitivamente, angustiante.

Sentiu uma forte brisa soprar sua nuca gradativamente, deixando-o arrepiado. Herdaman praticamente corria em algum rumo em mente, havia deixado Celina e as outras digerirem as péssimas notícias que descobriram mais cedo, partindo  em direção à casa do companheiro de infância, Tommy Langerak.

Josh não poderia deixar que seus amigos morressem um atrás do outro, mesmo aqueles que não eram próximos a si. Josh se sentia de certa forma culpado por alertá-los sobre a explosão do Instituto e colocá-los em toda essa situação.

Não demorou muito alcançar a casa do amigo, tocando na campainha diversas vezes. Estava apressado, todo tempo era precioso agora em diante, principalmente após duas mortes  em um único dia.

— Vamos Tommy... — Sussurrou em um tom de voz inaudível. Tocando mais uma vez na campainha da casa. Eis que a porta é aberta por Catarina, mãe de Tommy, que estranha a fisionomia de Joshua.

— Josh... algum problema?

— Tommy! — Herdman exclamou, adentrando na residência antes mesmo de Caterina o convidar — Onde está o seu filho? — O tom de voz do garoto soou urgente e apressado. Estava visível a preocupação de Josh.

— Joshua? — A voz rouca de Tommy soou mais ao interior da casa. O jovem estudante descia a escada lentamente, estranhando a visita repentina de Josh, com quem acabara de se encontrar no restaurante Cipriani mais cedo.

— Precisamos nos apressar, estamos ficando sem tempo.


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