Violetta - O Recomeço escrita por Clarinesinha


Capítulo 7
Capítulo 4 - A Verdade da Mentira


Notas iniciais do capítulo

O que irá fazer José?

(Nota - Comentem, Favoritem...partilhem... se estão a gostar...)



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Enquanto José e Gérmen falavam no escritório, entre acusações de um e repreensões do outro, entre uma conversa que tanto era num tom elevado por momentos como mais calmo noutros, enquanto eles falavam, discutiam, argumentavam, se acusavam mutuamente; Angie começava a despertar, e instintivamente virou-se para o berço para ver se Clara dormia, como não a viu pensou imediatamente que Gérmen estivesse com ela na sala.

Quando ia a sair do quarto ouviu Vilu a cantar e foi ter com ela, quando chegou a porta viu que ela cantava com Clara ao colo, esta estava a adorar toda aquela atenção e mimo.

 “Por tu amor yo renací Y eres todo para mi

Hace frío y no te tengo Y el cielo se a vuelto gris

Puedo pasar mil años Soñando que vienes a mi

Por que esta vida no es vida sin ti

Te esperare por que a vivir tu me enseñaste

Te seguire por que mi mundo quiero darte”

 Violetta cantava cada vez melhor, e fechando os olhos era como se ouvisse Maria a cantar, era impressionante como as suas vozes eram tão parecidas. Vilu apercebe-se da sua presença e para, Angie entra e dá-lhes um abraço.

— Acordei-te, desculpa…mas cantar acalma-me. E parece-me que Clara gosta que e cante para ela...

— Não, não me acordaste...e eu adoro-te ouvir cantar. Fazes-me lembrar a tua mãe; é incrível como cada vez mais te pareces com ela: eu fecho os olhos e é como se ela estivesse á minha frente a cantar.

— Achas mesmo que canto tão bem como ela, e que temos as vozes assim tão parecidas?

— Sim, muito. Às vezes ao ouvir-te cantar, ou apenas olhar-te nos olhos, não sei parece que a vejo...mas estás nervosa? Passa-se alguma coisa?

— Não..quer dizer sim…é o avô está lá em baixo a falar com o papá.

— O teu avô está cá outra vez? A tua avó deve-lhe ter contado tudo.

— Sim, e ele estava tão chateado com o papá, e comigo…e...

— Contigo? Por causa da música?

— Sim, não percebo Angie; porque é que ele continua com toda esta mágoa, com todo este rancor…que culpa tem a Avo Angélica, não se escolhe por quem nos apaixonamos.

— Mas tu também sabias? Acho que a única que não sabia de nada era eu.

— O papá contou-me à pouco, e é incrível não é: dois amigos a gostarem da mesma rapariga e mais tarde os filhos apaixonam-se.

— Sim...mas não estejas assim, tudo se vai resolver. Vou descer ver se consigo acalmar os dois, ficas com Clara?

— Angie, não vás por favor deixa o papá falar com ele...não vás Angie...

— Eu não tenho nada que temer, nem tenho que me esconder...ficas com Clara?

— Sim, eu fico; mas não devias descer. O avô está mesmo chateado, o papá não se devia ter esquecido de lhe falar para lhe contar tudo o que se tem passado.

— Vilu, o teu pai tentou. Esqueceu-se depois, mas não me parece assim tão grave para o teu avô ter uma atitude destas. Todos nós podemos errar e esquecermo-nos de alguma coisa...

— Tu não conheces o Avô José…com ele não há erros...

— É verdade, eu não o conheço; mas vou tentar que eles não digam nada que não queiram, tentar acalmar os dois é uma boa forma de começar a conhecer, e também para ele perceber que não quero guerras.

Angie dá um beijo a cada uma delas, Violetta não está assim tão certa em relação ao avô, mas Angie estava decidida a enfrentar o problema de frente ela não tinha feito nada de errado e Gérmen, não tinha feito nada assim de tão grave, esquecera-se de lhe falar...mas esquecer era apenas humano. Ela desce as escadas decidida e encaminha-se para o escritório e...lá de dentro ouvem-se gritos, insultos, ofensas e mais gritos, mas logo a seguir ouve-se o que parecia apenas uma conversa um pouco mais acesa, mas sem gritos; para segundos depois se ouvir mais gritos e insultos. Aproximou-se da porta que estava fechada e conseguiu ouvir bem as duas vozes: a de Gérmen num tom mais baixo embora exaltada e uma outra muito mais elevada e ofensiva. Ela estava disposta a acabar com toda aquela discussão, e nem pensou se estaria a interromper alguma coisa, se Gérmen aprovaria ou não.

Contudo algo a fez parar naquele último segundo, o que ouviu fez-lhe lembrar uma conversa que tivera com o pai e que ela nunca mais se lembrara, pensou que estaria a sonhar, não podia crer no que ouvia, mais um segredo. Não queria acreditar que depois de tudo o que tinham prometido um ao outro, Gérmen pudesse continuar o mesmo: mistérios, segredos e enganos, eles comprometeram-se um com o outro não havia mais nada a esconder; mas pelos vistos havia e desta vez ela não sabia se conseguia perdoar-lhe. Ela amava-o sim, mas seria esse amor suficientemente grande para superar aquilo que ela acabara de ouvir? Será que iriam conseguir superar tudo aquilo? E seria verdade tudo aquilo que acabara de escutar? Sim, era verdade, ninguém iria falar de algo tão desmedido e monstruoso ao mesmo tempo apenas porque sim, sentiu-se a perder as forças, já nem sabia se queria entrar e acabar com tudo aquilo. Apesar do coração lhe dizer para sair dali, que já tinha ouvido o suficiente a sua cabeça dizia-lhe que tinha que continuar a ouvir, tinha que saber mais, tinha que perceber porquê de se ter lembrado naquele momento daquela conversa que tivera com o pai, quem era afinal aquela Luzia, a mesma que o pai tanto lhe falara? Seria verdade o que ouvia? E se fosse verdade, se fosse a mesma Luzia, isso queria dizer o quê exactamente...

— Papá, tu não podes fazer isso…nem me podes pedir o que estás a pedir.

—Tu conheces-me, e sabes que eu o faço. Chega de mentiras, de segredos. Se queres manter este casamento então que todos saibam a verdade sobre "Luzia".

— E vais magoar Angélica, Angie…vais magoar Vilu e de certa forma Clara, apenas porque não gostas de alguém que já morreu.

— Do que e que estás a falar?

— Do teu ódio pelo pai de Maria e de Angie…é disso que estou a falar. Não achas que chega para quê guardares rancor de alguém que já morreu...a sério eu não te percebo.

— Chega Gérmen…só não quero que cometas o mesmo erro…e voltes...

— Mas que erro papá? E o que tem a ver Luzia com o meu casamento?

— Tu ainda perguntas Gérmen? Preciso de te ensinar os parentescos que existem entre vocês os três: tu, Angie e Luzia...preciso de te lembrar o que sofreste com a morte de Maria?

— A morte de Maria foi…horrível para todos, foi triste e custou-me muito a aceitar sim. Mas eu sou feliz com Angie, temos uma filha linda e depois tu não podes simplesmente chegar e contares que…

— Porque não, tu também simplesmente te casastes com a irmã da tua mulher, tu simplesmente te esqueceste do que fizemos para que Violetta não sofresse…

— Eu sei o que fiz...e hoje arrependo-me nunca devia ter escondido da Violetta a vida de Maria: a família e a música. Mas o que tu queres fazer...esse segredo não é teu e muito menos meu. Se alguém um dia o deverá contar é a mamã, ela nunca te irá perdoar.

— Eu nunca a perdoei, ela traiu-me com…e ele teve tudo o que mereceu: a morte da filha, a sua solidão, a própria morte foi merecida…morreu sozinho sem ninguém ao pé dele e sem saber que tinha outra filha...- Angie estremeceu, filha? Luzia era filha do seu pai com...- Se queres que te diga sofreu pouco, sim sofreu muito pouco para o que me fez sofrer...ele arruinou a minha vida…

Quando José começou a falar do pai daquela forma Angie não aguentou mais: era verdade o pai sofrera com a morte de Maria, com o afastamento de Vilu, mas ao contrário do que José dissera Miguel não estava sozinho quando morreu, e pensando bem nesse dia, em que o pai morreu, no que ele lhe disse, tudo fazia mais sentido agora. Sem aguentar mais as lágrimas subiu as escadas tão depressa quanto pôde, lá em cima depara-se com Violetta que com Clara ao colo lhe diz com um brilho nos olhos que ia á cozinha pois estava com fome, Angie esboça um leve sorriso e sem querer dar muitas explicações foi para o quarto. Vilu ficou surpreendida e até algo preocupada mas sem saber o que teria acontecido, mas tinha a certeza de uma coisa tinha a ver com o avô; continua a descer as escadas em direção á cozinha, de repente ouve a voz do pai e do avô.

— Papá, por favor…não me podes pedir isto...

— Tens 24 horas para tomares a tua decisão.

— Não me podes obrigar a escolher…até porque não há escolha possível.

— Gérmen, pensa bem...tens 24 horas, nem mais um minuto. Pensa bem no que vais fazer. – E tido isto sai.

— Papá...por favor…papá - mas José já nem ouvira.

Gérmen fica sem saber o que fazer, sabe que ir atrás do pai não vai adiantar, mas fazer o que ele pede, não. Acabar com o seu casamento? Ele ama Angie, e depois existem Clara e Vilu, eles os quatro eram uma família. Não, ele não podia nem queria acabar com tudo o que tinha, mas depois pensava no que o pai estava disposto a fazer. Como é que Angie reagiria se soubesse, ou Vilu, ou Angélica? Como reagiria a sua mãe ao perceber que o seu segredo estava prestes a ser descoberto? Fora um segredo guardado durante tantos anos, e Gérmen prometera à sua mãe nunca contar, e se alguém tinha que o fazer era Rosário, não o pai, ele não podia fazer isso, não tinha esse direito.

Estava tão concentrado nos seus pensamentos que nem reparou que não está sozinho, devagar Violetta com Clara ao colo aproxima-se do pai, este dá-lhe um beijo a ela e outro a Clara e pergunta-lhe onde ela ia, ela responde que ia á cozinha, no entanto conta-lhe que se tinha passado algo estranho, ao cruzar-se com Angie, estava nervosa e tinha ido para o quarto, sem sequer olhar para Clara.

— Papá, o que é que se passou entre Angie e o Avô? Eles discutiram? O Avô disse-lhe alguma coisa? O que foi que ele lhe disse?

— Não se passou nada Vilu, a Angie nem viu o teu avô. Aliás nem eu a vida, estivemos os dois no escritório até agora.

— Algo se passou papá. Angie estava…bem eu acho que ela estava chorar.

— A chorar? – Depois sem se dar conta, começou a falar em voz alta - Talvez ela tenha ouvido alguma coisa…será? Não, ela não pode ter ouvido nada… Eu vou ver da Angie...Obrigado Vilu.

E dirigindo-se para o quarto só pensava que ela não podia ter ouvido tudo, não era assim que ela devia saber, não daquela forma, numa discussão entre ele e o pai; só porque o pai tinha decidido usar aquele segredo numa chantagem para os separar. Não, Angie não podia ter ouvido nada, ele sabia que ela jamais o perdoaria. Já estava a meio das escadas quando ouviu Vilu.

— Papá, papá. Ouviu o quê? O que e que a Angie ouviu? Que é que o Avô quis dizer com “tens de escolher”? Que é que tens de escolher?

— Hã! Coisas do teu avô, não te preocupes Vilu…vou subir e ver da Angie.

— Papá…papá…

Mas Gérmen já nem a ouvia, ele pensava em Angie, e se ela tivesse ouvido tudo? Não, não podia ser, não podia ser verdade. Ele sabia que Angie nunca o perdoaria, mais uma mentira. Mas não era propriamente uma mentira, ele apenas tinha omitido algo tão importante…não ele tinha-lhe mentido, se bem que era algo que não dependia dele contar; Gérmen já nem sabia bem o que pensar...o principal era que Angie soubera da pior forma possível, e isso era a realidade. Quando entrou no quarto viu-a a andar de um lado para o outro, ele conhecia-a suficientemente bem, para perceber imediatamente que ela sabia de tudo, ela ouvira. Ele nem queria acreditar, não era assim que ele pensava ou queria que Angie se inteirasse, ele conhecia-a bem demais sabia que jamais o iria perdoar por lhe ter omitido toda aquela história. E quantas oportunidades ela lhe dera, mas este segredo, esta “mentira” se assim se pudesse chamar não lhe cabia a ele contar, e depois se o pai não tivesse aparecido, nada teria que ser revelado, mas esta desculpa não iria abonar a seu favor. Quando ela se virou viu as lágrimas que lhe corriam pela face, Gérmen não sabia bem o que fazer, se por um lado lhe apetecia ir ter com ela e abraçá-la, pedir-lhe perdão, beijá-la…por outro sabia que era tudo o que ela não queria nesse momento; e de certa forma ele sabia que ela tinha razão para estar furiosa com ele, naquela altura tudo o que Angie não iria querer era estar perto dele. Mas ele precisava de tentar explicar-lhe, fazê-la ver que não o podia ter contado, que se escondeu aquele segredo foi também a pensar nela, em Angelica, em Maria e em Violetta. Nunca pensara que ao esconder estaria a magoar alguém, pelo contrário ele tentara protegê-las.

— Angie…eu…tu ouviste tudo, não foi? – Aproximando-se dela muito lentamente

— Porquê? Porquê Gérmen? - Afastando-se de Gérmen, que entretanto já a tentara abraçar...- É mentira não é?

— Angie perdoa-me, eu…

— Diz-me que é mentira, por favor. Não… eu sei que não é, eu sei…

— Angie, eu não queria...juro que não queria…

— Não querias! Não querias! É a única coisa que sabes dizer? Não querias o quê? Que eu ouvisse ou mentir-me de novo?

— Bem, as duas na verdade...

Apesar de parecer estranho ele estava a ser sincero, por um lado a verdade é que nunca lhe contaria aquele segredo, para quê? Nunca o contara a Maria, não para proteger a mãe, mas para proteger Maria. Nunca quis mentir, mas a sua intenção foi a melhor, para quê contar algo que Gérmen sabia que iria fazer Angie sofrer, e depois aquele era um segredo que se dependesse dele iria estar para sempre bem guardado, bem enterrado no passado; não fosse agora José vir dessenterrá-lo. Contudo ao dar uma resposta como esta sabia que provavelmente a iria irritar ainda mais, mas era o que sentia, era a verdade: ele não contara nada pois não queria magoar ninguém.

— Estou cansada Gérmen, estou cansada de tantas mentiras, de tantos segredos, estou cansada. Todos me mentem: tu, a minha mãe, até o meu pai…ele mentiu-me, ele mentiu á minha mãe…

— Angie, por favor, não me podes culpar por algo que foram os nossos pais a fazer. Pelo menos deixa-me…deixa-me pelo menos tentar explicar-te porquê é que nunca te disse nada…

— Não Gérmen chega de explicações, estou farta que me mintam.

— Então não tenho uma hipótese de me tentar explicar? Não tenho uma chance para te explicar o porquê de nunca te ter contado?

— Não, não tens Gérmen, para mim chega, e nem vais precisar das 24 horas que o teu pai te deu... – e começando a mexer em malas e nas roupas dela e de Clara – Eu decido por ti...eu vou-me embora.

— Por favor Angie, vamos falar com calma. Por favor, pela Clara…

— Nem te atrevas a colocar Clara no meio disto, nem te atrevas.

— Eu não estou a meter Clara no meio de nada; Angie por favor…eu só te quero explicar para que percebas…a minha mãe…

— Eu não quero ouvir mais nada, já ouvi o suficiente. – E continua a fazer a mala, andando de um lado para o outro retirando ora roupas dela ora roupas de Clara; ela já tinha decidido: ia sair daquela casa. Estava cansada de todas as mentiras e segredos que havia entre as duas famílias, todo aquele rancor, toda aquela mágoa que existia entre os pais…ela não queria viver naquele ambiente e muito menos ver Clara a crescer no meio de todas aquelas confusões e discussões.

— Angie, e a Clara já pensaste? Se te vais embora…- E quando ele acaba de dizer isto, ela parou o que estava a fazer por um instante e olha para Gérmen…

— Tu achas mesmo que eu me vou embora sem a minha filha? Eu vou-me embora e levo a Clara comigo.

— Angie por favor não me deixes, não me leves Clara. E Violetta já pensaste nela?

— Acho que não estás em condições para me pedir seja o que for…vocês mentiram-nos a todos, durante anos, deve passar de mãe para filho…

— Angie não sejas injusta…eu…

— Não te preocupes porque eu depois falo com Vilu.

— Angie…não te vás embora, não me leves Clara…por favor vamos conversar pelo menos tentar resolver as coisas...

— Eu… - Angie tenta acalmar-se, ela não quer afasta-lo da filha, nunca isso lhe passara pela cabeça – Eu não te quero separar de Clara, mas se eu me vou embora ela vai comigo.

— Angie por favor, nunca te quis esconder nada, mas a minha mãe fez-me prometer nunca comentar nada com ninguém.

— E tu como bom filho não contaste, tudo bem estavas a proteger a tua mãe. E agora quem é que vai proteger a minha? Quem é que vai parar o teu pai de contar uma coisa destas?

— Tens razão…tens razão, eu próprio só soube de tudo porque o meu pai queria magoar a minha mãe, e quis colocar-me contra ela, nunca conseguiu faze-lo mas…

— Não te conseguiu afastar da tua mãe, mas conseguiu acabar com o nosso casamento…e esta é a verdade pura e dura.

— Talvez tenhas razão, eu devia ter contado a verdade à tua mãe, a Maria e até a ti. Mas para quê, para vos ver sofrer às três?

— Sim, talvez devesses ter contado, talvez fossemos sofrer, mas terias feito o que estava certo, porque seria a verdade…porque talvez…talvez as coisas tivessem sido diferentes…

— Diferentes? Como assim? O que e que teria sido diferente?

— Nada…- Mas Angie pensava, talvez se soubessem de tudo, Maria ainda estivesse viva…talvez ela não tivesse sofrido tanto pelo pai...- tu escolheste mentir, não achas que tínhamos o direito de saber?

— Sim, mas na altura eu pensei apenas em evitar que vocês sofressem…

— E o meu pai… não acredito que ele tenha sido capaz. Mas pensando bem agora tudo faz mais sentido: o que me pediu, o que me disse...

— O que foi que ele te disse? Ele falou-te alguma coisa sobre…

— Esquece…não tem importância, e depois isso não apaga o facto de tu me teres escondido algo tão grave.

— Angie…por favor. – E aproxima-se de Angie, ele não a podia perder, não podia perder Clara…

— Gérmen…para. Eu não posso…eu não...

Ele estava desesperado, sabia que a iria perder se não fizesse nada, sabia que ela se iria embora e com ela iria Clara. Tinha que tentar algo, não suportaria perdê-la não depois de tudo o que eles sofreram para estarem juntos, ele não podia permitir que o pai os separasse por um capricho, por uma raiva que não tinha sentido. Assim aproximou-se dela e abraçou-a, beijou-a sem se importar no que ela queria ou pensaria...a única certeza que tinha e que a amava mais do que tudo e faria o que fosse preciso para que ela não se fosse embora.

— Por favor...não te vás. Eu amo-te…- e enquanto lhe dizia que a amava, e que nada os poderia separar ia acariciando-lhe o rosto, beijando-lhe a testa, o pescoço, o rosto...

— Gérmen…

— Por favor Angie eu sei que me amas...- continuando com os mimos - e tu sabes que se nunca te contei é porque nunca quis que sofresses...

— Gérmen... Eu não posso, eu não…

Mas ao mesmo tempo que dizia que não e pensava que não podia continuar com toda aquela mentira, Angie sabia, sentia que na verdade não podia estar sem Gérmen, não conseguia evitar em pensar no amor que sentia por ele, no que os unia...e deixou-se levar por tudo aquilo que sentia naquele momento, pensou em tudo o que passaram, em todos os bons momentos que lhe enchiam o coração. O amor deles era mais forte que tudo, e nem ela naquele momento o podia negar mais, e assim acabaram por se deixar levar esquecendo tudo o que lhes causava dor, sofrimento e angústia. Naquele momento tudo em que pensavam era no amor que sentiam um pelo outro, e nada mas mesmo nada iria alterar o que sentiam naquele momento, naquele quarto. Tudo se resumia àquela palavra, AMOR. Tudo o resto: as mentiras, os segredos, as razoes, as certezas, as duvidas...tudo ficara reduzido a nada, simplesmente porque o Amor e sem duvida o maior e mais poderoso sentimento de todos.

No seu quarto Vilu falava com Leon ao telefone; enquanto sentada na sua cama olhava para Clara que dormia como um anjo, mal sabendo ela da tempestade que se avizinhava. Violetta tinha a certeza que algo de terrível iria acontecer entre Gérmen e Angie, ela sabia que o Avô iria conseguir o que queria: separar os dois. Leon tentou em vão sossega-la, ela olhava para Clara e pensava apenas que tinha que a proteger. Ela não iria deixar que esta sofresse, que passasse pelo que ela passou, Leon percebe o que ela sente, e principalmente do que ela tem medo; mas a única coisa que ela pode fazer naquele momento e estar com Clara, Angie e Germen, tentar dar-lhes o que ela tem de melhor: o seu amor. E como sempre Vilu sente que com Leon já não precisa de lhe dizer muito, pois ele sabe exactamente o que ela sente, dizendo-lhe o que ela precisa de ouvir.

Nisto entra Gérmen que vinha buscar Clarita para a deitar na sua cama, Vilu desliga de imediato a chamada com Leon dizendo-lhe que o pai acabara de entrar e que se falavam na manhã seguinte.

— Papá, como está Angie?

—Não é muito tarde para telefonemas…- Vilu faz-lhe um cara de quem naquele momento não quer saber de sermões…- Desculpa, desculpa…Está bem.

— Papá não me estás a mentir?

— Não Vilu, não te estou a mentir, E agora dorme já é tarde…- e aproximando-se de Violetta dá-lhe um beijo de boa-noite… - Adoro-te.

— Também te adoro Papá.- Gérmen sai com Clara e vai-se deitar.

Ainda mal o sol raiava quando Angie acorda; olha para Gérmen e depois para Clara, que este tinha ido buscar a meio da noite ao quarto de Vilu. Ela olhou de novo para Gérmen, que dormia profundamente, ela amava-o com todo o seu coração, com todo o seu ser e no seu íntimo sabia que ele tinha razão no que disse no dia anterior: o segredo não era dele, e ele fizera uma promessa á mãe.

Mas ela pensava na sua mãe: como é que ela reagiria ao saber de tudo? Conseguiria ela suportar saber que o seu marido a tinha traído? Com Rosário? Que havia uma filha dessa relação? Não, ela não podia permitir que tudo fosse descoberto, ela tinha que proteger a sua Angélica, e de certa forma a memória do pai. Afinal já o tinha feito uma vez, nessa altura fizera-o à custa da sua felicidade, porque é que não o podia fazer de novo? Mas conseguiria ela sacrificar o seu amor por Gérmen? Desta vez não eram apenas os seus sentimentos que estavam em jogo, eram os de Gérmen, os de Vilu e até os de Clara, que embora tão pequena já começava a sofrer com todas estas histórias de amores e ódios. Mas ela tinha que o conseguir, tinha que o fazer, afinal era a sua mãe e tinha que a proteger.

Levantou-se, vestiu-se, pegou na mala que começara a fazer na noite anterior, colocou mais algumas coisas e fechou-a. No fim da mala feita, começou a escrever as cartas que deixaria: uma para Angélica, uma para Gérmen e outra para Vilu; assim que acabou de escrever as três cartas, pegou na mala e depois em Clara e saiu do quarto.

Era cedo, ninguém acordara ainda, dirigiu-se ao escritório e deixou na secretária de Gérmen duas das cartas que escrevera: a dele e a de Violetta; depois depara-se com uma foto recente deles os quatro, que estava numa estante, ao olhar para aquela fotografia as lágrimas escorrem-lhe pela cara, pega nela e sai.

Ao chegar ao caro coloca Clara no banco da frente junto dela e a mala no assento de trás; ela não sabia bem para onde ir, a única coisa que sabia é que tinha de sair dali e que não podia ir para sua casa pois estava lá agora a mãe que iria fazer perguntas às quais ela não podia nem queria responder; teria que passar por lá para lhe deixar a carta, mas depois tinha que decidir para onde ir.

Era cedo, Angie sabia que a mãe acordava cedo, por isso teve o cuidado de observar, quando parou o carro, se as janelas estariam fechadas isso significava que Angélica estava ainda a dormir; saiu do carro a correr, colocou a carta no correio e...arrancou sem rumo. Conduziu tentando controlar-se para não se deixar ir com as emoções, com o que sentia: raiva, tristeza, angústia, dúvidas, um misto de sentimentos que pareciam uma bomba relógio e que a qualquer momento podia rebentar; e apesar de ser difícil tinha que se manter tranquila por Clara.

Quando deu por si estava junto da casa onde morava Pablo: o seu amigo mais antigo, seu irmão adorado, seu conselheiro, seu companheiro. Sempre que precisava ele parecia que estava ao seu lado: fora assim quando Maria morrera; fora assim quando o seu pai morrera; fora assim quando Gérmen se foi embora com Violetta; fora assim quando estes voltaram a Buenos Aires e Angie se fez passar por preceptora para estar junto de Vilu; fora assim quando mesmo sofrendo, pois Pablo a amava, esteve a seu lado quando ela se apercebeu que amava Gérmen.

Se alguém a podia ajudar era ele, mas será que haveria alguma coisa que ele pudesse dizer que a ajudasse? Angie não sabia responder, mas de alguma forma e sem saber porquê ela fora ali ter.

Quando Gérmen acordou e não viu Angie não estranhou, principalmente porque ao ver que Clara também não estava no berço, pois muitas vezes para não o acordar, Angie levantava-se com Clara e descia. E aquele dia era como todos os outros, assim levantou-se, vestiu-se e desceu para, pensava ele, ir ter com as suas três mulheres, mas quando chega para tomar o pequeno-almoço, apenas encontra Vilu, Ramalho e Olga.

— Bom Dia! E Clara e Angie onde estão? – pergunta Gérmen, cumprimentando Vilu com um beijo de bons dias.

— Pensei que ainda estivessem a dormir. – Responde Vilu.

— Não, não estão. Onde será que se meteram as duas?

— Calma Papá, Angie deve ter ido só passear com Clara para o jardim.

— Não te preocupes Gérmen – diz Ramalho - tenho a certeza que foi isso, sabes como Clara gosta de adormecer a passear.

— Sim talvez…mas não é costume ela sair sem avisar ninguém...- Gérmen começa a ficar ansioso, se bem que na noite anterior no final eles tenham conseguido “resolver as coisas” entre eles, sabia também que havia outras coisas que talvez ainda não estivessem resolvidas. Ele começou a pensar que…não Angie não se teria ido embora, pelo menos sem falar com ele…ou será que sim?

— Papá…Angie já é grandinha e Clara está segura ainda é muito nova para arranjar problemas…

— Violetta, o teu pai não quis dizer isso tenho a certeza.- Diz Ramalho.

— Foi uma piada…desculpa Papá…não me correu muito bem, desculpa.

— Tudo bem Vilu…já vi que alguém acordou muito bem-disposta com umas novas piadas e tudo, não foi?

— Papá…- e riu-se para depois voltar a ficar com uma cara mais séria…- na verdade papá é que não dormi muito bem, esta visita do avô…e Angie está mesmo tudo bem entre vocês?

— Vilu, já te disse que está tudo bem comigo e com Angie. – pelo menos ele assim esperava…- E o teu avô sabes como ele é…mas tudo se vai resolver, por isso não preocupes essa cabecita com o que não deve.

— Não sei papá, ele estava mesmo zangado. Bom mas tenho que me despachar o Leon deve estar a chegar, temos montes de coisas para ensaiar para a apresentação no Estúdio.

— E como estão a correr os ensaios? Como se safam os novos alunos? São tão bons como vocês?

— Bem…acho eu. Alguns, até têm muito talento…

— Alguns!? Estás muito exigente…

— Papá tenho que me despachar. Ah, é verdade Ludmila e Frederico ligaram ontem, eles estão a pensar vir a Buenos Aires, eu disse-lhes que podiam ficar cá, sim?– Gérmen acenou que sim, e esta feliz levanta-se dá-lhe um beijo e sobe para logo a seguir descer com todas as suas coisas.

— Bom e eu vou fazer aquela chamada que te falei ontem.

— Certo, eu já lá vou ter…vou só acabar o café…e…tenho que ir buscar o telemóvel ao quarto que me esqueci.

E assim Ramalho deixa Gérmen sozinho a acabar o seu pequeno-almoço e dirige-se para o escritório. Vilu entretanto já tinha aberto a porta a Leon e com um até logo vai-se embora, ao mesmo tempo Ramalho sai do escritório com as duas cartas de Angie.

— Gérmen, acho que isto não são boas notícias…passou-se alguma coisa que eu não saiba? O que se passou?

— É a letra de Angie. Ela foi-se embora Ramalho…ela foi mesmo…eu pensei que…eu juro que pensei…

— Foi-se embora como? Gérmen o que se passou?

Gérmen nem queria acreditar que Angie se tinha ido embora, ele pensara que depois da noite anterior tudo estava resolvido e perdoado; ele tinha noção que tinham que resolver toda aquela situação que José esta a criar, evitar que Angélica ficasse a saber de tudo, mas ele esperava que juntos conseguissem arranjar uma solução, mas afinal Angie tinha-se ido embora, e o pior tinha levado Clara com ela. Ele apenas se perguntava porquê? Porque é que ela não esperou para falar com ele naquela manhã? Porque é que se tinha ido embora assim? Tremendo mas também ansioso abre a carta e começa a ler:...


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Notas finais do capítulo

O que estará escrito na Carta de Angie?
E será que Angie foi falar com o Pablo?

(Nota - Comentem por favor...digam se estão a gostar...e deem sugestões...como disse no inicio as historias não têm fim...)



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