20 anos depois - A salvação da Escola Mundial escrita por W P Kiria


Capítulo 8
Capítulo 6




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Enquanto isso, próximo à piscina, os rapazes conversavam sobre suas vidas. Ou melhor, se gabavam.

“Nova York é incrível, e Wall Street é um mundo fora da nossa realidade!” Contava Jorge, bebericando uma cerveja importada. “Vou sentir falta de lá.”

“Veio para ficar em terras tupiniquins?” Perguntou Daniel.

“Já estava pensando nisso há um tempo, sendo bem honesto. Meus pais estão aqui sozinhos, sem ninguém, e eu lá longe. Estava apenas esperando a oportunidade certa.”

“E a Margarida? Vem junto?”

“Vem sim, Mário, ela estava só me esperando. O contrato dela acabou já faz mais de um ano, e eu pedi para ela esperar enquanto eu terminava as coisas do meu escritório.” Jorge procurou a namorada com os olhos. “Por sorte eu já tenho vários bons clientes para o meu escritório.”

“De bons clientes que também não posso reclamar, tá ligado? Uma coisa que não muda é madame de high-society querendo ostentar na academia, e para isso elas querem um bom personal. E cá pra nós, né... Eu sou bom nisso.” Jaime ergueu sua cerveja como em um brinde, que foi completado por Davi.

“Mas imagina se elas souberem que o gostosão que treina elas, é na verdade um ex-gorducho.” Koki deu um tapa na barriga, causando risos até em Jaime.

“Cara, já fiz essa postagem na minha page faz tempo. O molequinho gorducho que virou um gostosão fez bastante sucesso, ligado?”

“E o futebol, cara? Abandonou de vez?” Perguntou Davi.

“Ah, eu ainda gosto de uma pelada nos finais de semana, sabe como é. Mas as contas não ligam para isso, né? E depois que meu pai adoeceu, caiu bastante a renda da família.” O professor explicou, meio sem graça.

“Mas seu pai tem algo sério, cara?” Perguntou Jorge, preocupado.

“Um problema neurológico, não sei explicar direito. Ele tem muita tremedeira nas mãos e nos pés, parece até Parkinson. Ele ainda consegue trabalhar como mecânico, Deus me livre tirar isso dele, acho que ele morre de desgosto. Mas a parte mais delicada desse serviço bruto, ele não consegue mais fazer.” Jaime riu, negando com a cabeça. “Por fim o Jonas teve que entrar para trabalhar com o meu pai. Ele perdeu o emprego na loja que trabalhava e meu pai obrigou ele a ir para a oficina, porque não ia sustentar vagabundo. Agora, ele até que gosta desse negócio de mecânica.”

“Foi mais ou menos o que aconteceu com você, não é Cirilo?” Perguntou Mário, encarando o amigo.

“Ah, mas no meu caso eu quis assumir a marcenaria. Eu fui estudar administração, e me esforcei muito para fazer o negócio crescer. Agora, nós já somos uma fábrica de móveis artesanais.” O rapaz se gabou, sorrindo convencido.

“Nunca achei que ia viver para ver Cirilo se gabar, esse mundo está perdido.” Paulo chegou naquele momento, pegando a conversa andando.

“Eu que nunca achei que ia viver para ver Paulo Guerra se tornar professor de matemática.” A afirmação de Jaime fez todos gargalharem alto.

“Ah, amigão, isso nem eu imaginava.” Paulo apanhou uma cerveja no cooler, soltando a tampa com a ajuda da camiseta. “Mas quando as contas vêm...”

“Nem precisa terminar, que disso eu entendo.” Suspirou o amigo, cansado.

“Eu gostava mais de quando erámos crianças.” Adriano comentou, a voz sonhadora. “Era bem mais fácil.”

“Até era, cara, mas eu não trocaria minha vida com a Marce e a Oli por nada nesse mundo, nem por todas as horas de videogame e futebol.” Admitiu Mário.

“Dois.” Concordou Daniel.

“Assino em baixo, caras.” Paulo suspirou. “Fazia tempo que não nos reuníamos, né?”

“Acho que a última vez foi no seu casamento. E o Jorge e a Margarida nem estavam aqui.” Lembrou Cirilo.

“E por falar em casamento, quando você e a Majo vão se amarrar?” Perguntou Jorge. Para quem já havia visto os dois brigando pelo coração da patricinha, presenciar aquele diálogo era no mínimo estranho.

“Para que a pressa, gente? A gente já mora junto, é feliz. Tem pressa nenhuma de se amarrar não.” Riu o rapaz, bebendo a cerveja.

“Tem caroço nesse angu.” Jaime sussurrou para Mário, que concordou.

“Vocês lembram das coisas que desenharam no terceiro ano? Na cápsula do tempo?” Perguntou Daniel, meio de supetão.

“Cara, até ver a foto que a Carmen mandou para a Alicia, eu nem lembrava da cápsula.” Admitiu Paulo, dando de ombros.

“Cápsula do tempo? Poxa, também tinha esquecido.” Comentou Davi, e Daniel pegou alguns papéis ali perto. “Caraca, vocês trouxeram?”

“Estava no cofre da diretora Olívia, a Carmen tirou todas as cápsulas de lá e enviou para as respectivas professoras, para que fizessem o que fosse preciso. No nosso caso, a Helena queria que tivéssemos nossos ‘sonhos’ de volta.” Explicou o rapaz, distribuindo os desenhos e textos.

“Olha, eu realizei o meu. Em partes, né.” Riu Mário, vendo o desenho. “Eu virei veterinário, mas não consegui abrir uma clínica minha, muito menos com cachorros como empregados.”

“Tá trabalhando na clínica daquele mala que nem um condenado para receber uma miséria, que eu to ligado.” O cunhado denunciou, recebendo uma careta. “O meu foi uma piada minha e da Marcelina, ser deputado e assessora.”

“Minha estação espacial na lua.” Adriano riu com a lembrança, observando o desenho bastante simplório. “E agora eu trabalho como vendedor em uma loja de brinquedos.”

“Ser goleiro do Corinthians.” Jaime sorriu triste, virando mais uma golada de cerveja.

“Samurai do imperador.” Koki gargalhou alto, negando com a cabeça. “Eu trabalho em um cubículo de 2x2 como técnico de informática.”

“Bom, eu consegui fundar a ONG, como queria. Não está do jeito que eu imaginava, mas um dia chegamos lá, se Deus quiser.” Daniel observava seu desenho. “O que se saiu melhor foi o Jorge, né?”

“Eu não desenhei isso. Eu me desenhei acompanhando a bolsa, mas não como um velho sozinho e abandonado.” Afirmou o rapaz, indignado.

“Desculpa, cara, eu e o Koki zoamos seu desenho no intervalo.” Avisou Paulo, fazendo um ‘toca-aqui’ com o parceiro de crime.

“E tu, Cirilo, o que tinha colocado?” Perguntou Jaime.

“Que eu era neurocirurgião e estava casado com a Maria Joaquina.” Ele mostrou o desenho, sorrindo. “Eu até passei em medicina, logo depois de formado. Mas preferi continuar com a marcenaria.”

“Não entendo o porquê.”

“Ah, Mário, eu queria ser médico para provar para a Maria Joaquina que eu podia ser que nem o pai dela, que eu podia ser digno dela. E então eu passei nas faculdades, mas decidi continuar com o trabalho do meu pai. Ela veio atrás de mim e perguntou o mesmo que você. E quando eu disse isso, algo aconteceu. Nós começamos a namorar e estamos juntos até hoje.” Contou o rapaz, sonhador.

“É, irmão, você se deu muito bem.” Concordou Jaime.

“E você, Davi? O que escreveu, cara?” Perguntou Jorge, vendo que o judeu estava em silêncio.

“Na minha ideia, eu e a Valéria estávamos casados e tínhamos filhas trigêmeas.” Ele suspirou, chateado. “Maria Clara, Maria Julia e Maria Carolina.”

“Davi, eu preciso dizer, eu não conseguiria estar no seu lugar. Me dá desespero só de pensar em ter que me afastar do Leo.” Confessou Daniel, vendo o filho passar correndo entre suas pernas. “Leonardo, cuidado para não cair.”

“E você acha que eu não fico desesperado? Cara, eu passo todos os meus dias, todas as minhas noites, pensando na Valéria e na Sara, em como elas estão. Se minha filha precisa de mim, se está bem.” Davi apertou o desenho contra o peito, angustiado. “Que bom que ela tem você, Cirilo. Você acaba sendo o pai para ela que eu não posso ser.”

“E ela acaba sendo a filha que eu não posso ter.” Suspirou o carpinteiro, recebendo olhares curiosos.

“Cirilo, você e a Majo não podem ter filhos?” Perguntou Jorge, espantado.

“Agora eu to me lembrando... Uma época a Bibi falou que a Maria Joaquina estava com um problema sério de saúde. Ela é estéril, cara?” Perguntou Kokimoto, e todos encararam aquele homem enorme, que agora estava encolhido como criança.

“Quer que eu conte?” Perguntou Davi, e Cirilo concordou. “A Maria Joaquina teve um cisto no ovário que se desenvolveu. Um dos ovários acabou ‘apodrecendo’, e mesmo com o tratamento, seria preciso tirar ele, para não comprometer o resto. Mas quando abriram na cirurgia já não tinha jeito, tinham várias complicações. E bom...”

“Tiveram que tirar o útero dela.” Concluiu Mário, que era o mais entendido dali. “Isso acontece com os animais também. Infelizmente, essa história de cistos que se desenvolvem causa grandes danos. Mas se deu tempo de tirar o da Majo, melhor. Isso podia se espalhar para outros órgãos.”

“O problema é que ela não quer se casar comigo por isso.” Todos ficaram surpresos. “A Maria Joaquina, vejam a ironia, acha que eu mereço alguém melhor do que ela. Porque ela não pode me dar filhos.”

“A patricinha achando que o pobre coitado merece mais do que ela? Koki, isso é alguma dimensão paralela?” Paulo sussurrou para o amigo, que também estava estarrecido.

“Desconfio disso também, cara.”

“E adoção, cara? Vocês já falaram sobre isso?” Perguntou Daniel.

“Já, e eu adoraria adotar, de verdade. Mas vocês conhecem a Maria Joaquina. Ela não poder fazer algo... Para ela é uma derrota, e ela acha que eu não mereço isso!” Suspirou Cirilo, escondendo o rosto nas mãos. “Desculpa desabafar.”

“Não, cara, relaxa. Nós somos amigos, não somos?” Sorriu Jaime. “Que tal fazermos uma coisa? Uma promessa, aqui.”

“Xi, olha lá, hein gorducho?”

“Cala a boca, Koki.” Ralhou Davi.

“Não vamos mais nos distanciar, e nem perder contato. Assim como fazíamos quando crianças, vamos estar juntos, para nos ajudar no que precisamos. Seja com apoio moral, ou uma carona.” Jaime ergueu a garrafa de cerveja.

“Falou pouco mas falou bonito, meu caro ex-gorducho.” Paulo ergueu sua garrafa também, sendo imitado pelos amigos.

“O clube dos meninos está de volta.” Cantarolou Mário, fazendo todos rirem.


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Notas finais do capítulo

Olá, olá, olá!
Bom, vocês pediram e aqui está um pouco da storyline de Ciriquina! E também um pouco dos nossos meninos, porque adoro eles!
E a ordem dos capítulos bônus será:
1 - Mário e Marcelina
2 - Cirilo e Majo
3 - Valéria e Davi
4 - Carmen e Daniel
5 - Jorge e Margarida
Lembrando que capítulo bônus é algo que virá de forma esporádica e sem programação, porque eu preciso ir andando com a fic enquanto isso!
Espero que tenham gostado do capítulo e nos vemos em breve!



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