Extraterrestre escrita por SobPoesia


Capítulo 17
Vermelho, preto.




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O sinal soou. Fechei meu notebook e segui para fora a sala, seguindo corredor adentro, buscando minha próxima classe. Caleb corria atrás de mim, apressado, e, ao notar que não me alcançaria, gritou:

—Você acha que isso é uma boa ideia, Sky?

Minha cabeça já estava presa naquele loop, não precisava que meu irmão me lembrasse dele. Tudo o que conseguia pensar naquele dia era em como gostava dela, mas aquele sentimento podia ser a maneira do universo de fazer com que a nossa conexão existisse.

—O que, exatamente, não é uma boa ideia? - Continuei a andar, com firmes passos, esperando que o assunto tomasse outros rumos.

—Você junto com a América. - Mas, infelizmente, o rumo continuou o mesmo. Caleb segurou o meu braço, me fazendo parar – Vocês duas acabaram de descobrir que tem essa espécie de ligação e decidem que esse é o melhor momento para começarem a namorar?

Um frio subiu a minha espinha.

Gostava de pensar que não havia tomado as decisões que haviam me levado aquele ponto, mas agora, também estava questionando essa ideia. Em minha cabeça, eu apenas seguia os rápidos movimentos não tão coordenados da ruiva, mas o asiático me fez pensar na direção que eu poderia estar a fornecendo.

Engoli a seco.

—Não estamos namorando. - Escolhi a resposta mais vaga.

—Então o que é essa bagunça? – Ele continuava a me pressionar, tentando arrancar a realidade de mim.

—Eu não sei. - Respirei fundo – Não sei se você anda me acompanhando, mas eu não entendo muito do que está acontecendo comigo.

Havia uma onda de coisas a serem ditas se formando em minha garganta, mas nem tudo poderia ser ouvido por qualquer um daqueles estudantes que andavam calmamente aos nossos lados, ingênuos a minha situação.

Comecei a olhar para os cantos, procurando um lugar próximo e privado para conversarmos. Encontrei um vão entre duas salas e corri com meu irmão até lá, continuando a falar, porém em um volume muito mais baixo:

—Eu acabei de descobrir que tenho superpoderes, ou algo do tipo, ok? Quero ter algum tipo de diversão com essa garota que realmente gosto. O que tem de errado nisso?

E isto era o máximo de honesta que poderia ser com ele, sem contar toda a minha confusão mental não resolvida.

—América não é só uma garota que você realmente gosta, Sky. Não haveria problema algum se esse fosse o caso. - Ele me interrompeu e segurou ambas as minhas mãos - Super-heróis salvam o mundo; como vocês duas vão fazer isso juntas se esse romance acabar mal? Sem ela você não tem superpoderes, você não é uma super-heroína, você é só a Sky, a filha negra da comandante branca de segurança e que tem um estranho fetiche por livros. Você não pode salvar nada com isso.

—Não usamos os nossos poderes para salvar a nave. - Em instinto, retruquei.

—Você tem razão, mas nós não conseguiríamos salvar a nave sem a ajuda da América. Precisamos dela, você precisa dela. - Ele soltou as minhas mãos.

Ele tinha razão; tal que, em uma martelada, fez a minha cabeça doer, tanto que me fez abaixá-la e segurá-la.

—Você está bem, Sky? – Ele continuou, notando que algo estava errado.

De repente, todo o peso do meu corpo, duplicou, e o da minha cabeça, triplicou. Meus pelos se arrepiaram. Tonteei.

—Não... Eu não... Caleb... - Erradica, não conseguia falar.

Não conseguia me manter em meus próprios pés, então me sentei, naquele apertado cubículo. Sentia que todo o meu entorno rodava. E, de forma ainda mais assustadora, minha visão começava a ficar embaçada.

Não sentia o desmaio vindo, sentia-me consciente e aquilo era ainda mais desesperador.

Tentei tatear o chão, o meu envolto, procurando algum apoio, mas tudo que vi foi a ruiva, em um canto distante, com os olhos raivosos e focados em mim.

Então, uma visão vívida transpôs a nave.

Cada vez mais nitidamente, a minha frente havia um rubro incêndio, grande, próximo e vívido. Podia sentir o calor das densas árvores altas em chamas a minha frente, o que me assustava.

Não sabia diferenciar a realidade da visão. Meu coração acelerava.

Pessoas ruivas fugiam do incêndio aos berros, desesperadas; porém, algo ali chamava o meu nome, me puxando com carinho para dentro do seu quente e flamejante abraço.

No fundo da minha mente, ouvi a voz de Caleb, chamando pelo meu nome. A paz que aquele som me trouxe, me devolveu de volta a nave em um baque potente.

A dor insuportável da minha cabeça me fazia rolar ao chão, puxando meus cabelos aos berros. Nunca havia sentido nada parecido.

Quando a minha visão voltou completamente, tudo a minha frente era vermelho, era sangue, era o cabelo de América; tudo então, era preto.

Tudo era nada.


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