Extraterrestre escrita por SobPoesia


Capítulo 13
Observados.




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Ao me chamar no corredor, ela me acompanhou para dentro da sala em silêncio. A quietude continuou até que ambas se sentassem.

Blue segurou suas mãos juntas e me olhou fundo com seus olhos verdes. Aquilo me intimidou.

Sentia uma profunda admiração por ela. Daquelas que me faziam seguir a linha de tudo que dizia, para não a decepcionar.

Porém, a noite anterior havia mudado tudo aquilo em um baque não esperado. Não tive tempo de pensar no que havia mudado até aquele momento.

Não respeitava aquela pessoa a minha frente. Minha mãe era hipócrita, e eu estive errada toda a minha vida.

Naquela situação, não sabia o que esperar. Estava assustada e desamparada.

—Você e o seu irmão estão tendo algum tipo de relacionamento? – sua voz era ríspida, dura.

—Eu e Caleb? – tentei segurar o riso, mas acabei por sorrir.

Era uma constatação mais do que absurda.

—Vocês dois se beijaram ontem à noite.

A ponta de raiva já presente em meu peito explodiu. Como ela sabia disso? O que aquilo a interessava? Quanto ela sabia?

—O que? – foi tudo que conseguia vocalizar.

—Sky, você pode me contar este tipo de coisa... – sua voz ficou terna, mas não seus olhos.

—Você teve de espionar a minha vida, me tirar de sala de aula para que conversássemos, e ainda acha que posso te contar alguma coisa? Isso é uma ideia mais do que incoerente, mãe.

As palavras não conseguiram se manter dentro de mim. Estava consumida, revoltada. Não conseguia acreditar na profundidade do que estava acontecendo.

—Eu não estava espionando você, Sky! A nave tem câmeras por todos os lados. É como mantemos a ordem... Se houver liberdade demais, poderíamos cair na Era Escura de novo. Os quartos e os banheiros são lugares privados, não há câmeras lá, mas as áreas públicas são controladas em todos os momentos. – Blue parecia falar a coisa mais racional de todo o sistema, mas nada daquilo fazia algum sentido para mim.

Quantas pessoas sabiam disso? Todas elas se sentiam tão invadidas quanto eu? Senti-me roubada da minha privacidade. Ela sabia de tudo que eu sonhava que escondia, enquanto escondia isso de mim.

Atrás da tela de um computador, ela assistiu meu primeiro beijo no fundo do parque principal. Minha mãe havia visto um garoto tocar em mim contra a parede do corredor do meu quarto e me olhou na mesa do jantar da mesma forma.

Mas não havia visto meu beijo com América.

—Meu trabalho é assistir essas filmagens e garantir que nada está fora de ordem. – ela continuou – Estava passando pelas filmagens para descobrir quem desligou o transformador de oxigênio. – ela respirou fundo – Queria discutir sobre essas duas coisas que vi.

—Que duas coisas? – fechei o cenho.

—Primeiro Caleb.

—Ele é meu irmão, mãe.

—Eu não beijo meu irmão. – ela se recostou no encosto da mesa.

—É claro que não somos a mesma pessoa. – bufei.

—Sky, isso é um assunto sério!

—O que você quer que eu diga? – avancei na mesa, ainda sentada na cadeira.

—Que me responda a respeito desse beijo, do que acontece com o seu coração ou algo do tipo. – ela voltou a cruzar as mãos sobre a mesa.

—Caleb é apaixonado por mim, mãe. Ele me pediu um beijo e eu não achei que fosse um absurdo. Ele é meu irmão e eu senti isso, e ele sentiu isso. – suspirei.

—E América? – ela continuou.

Aquilo me atingiu. Ela sabia do beijo? Sabia como ela me fazia sentir? Sabia mais do que eu a respeito de tudo aquilo que eu estava passando?

—O que tem América? – pulei para uma resposta que não entregasse nada.

—Vocês duas passam muito tempo juntas. Especialmente, considerando que você não queria gastar um segundo ao lado dela. – seus ataques continuaram.

—Ela precisa se ajustar. Gosto dela, como pessoa, é fácil ignorar que ela é uma rebelde. – recostei–me na cadeira, tentando parecer calma.

Por dentro, estava perdendo a cabeça.

—Ela está se ajustando corretamente?

—O que você quer dizer com isso?

Irritei–me com aquela pergunta.

—A câmera de segurança gravou uma garota ruiva indo em direção à sala do transformador. – Blue pareceu se esquivar e diminuir, sabendo do ataque que viria.

A raiva já havia se tomado todo o meu corpo, mas ali, algo mudou. Senti–me em controle daquela situação.

O ar entrou fundo e calmo em meu peito, trazendo uma sensação de poder para dentro de mim.

—Posso ver o vídeo? – respondi.

Os olhos de minha mãe estavam cheios de dúvidas, mas ela se virou para a grande peça de vidro em sua mesa, uma espécie de monitor. Digitou algo em sua mesa, a frente do mesmo, então tocou na tela algumas vezes.

Chamou-me com as mãos. Fui atrás da mesa com ela.

Uma garota com o cabelo ruivo em vermelho seguia até a sala do transformador.

Não era América.

O tom do cabelo não era o mesmo, as roupas não eram as mesmas, o andar não era o mesmo, mas havia algo muito mais gritante.

—Mãe, não seja idiota. O cabelo de América chega a tocar seus joelhos. Já está menina do vídeo tem cabelos muito curtos para ser ela. – sorri.

—Vou acreditar em você, vou não checar isso e trata–lá como apenas mais uma suspeita, ignorando que ela seja uma rebelde e deveria estar no topo da minha lista. Só quero que saiba que, se isso voltar a acontecer, não será o seu depoimento sobre o comprimento do cabelo dela que a livrará disso. – ela segurou a minha mão.

Sabia que ela estava se esforçando para confiar em mim, na ruiva. Mas, era um esforço insignificante, já que, no final das contas, eu não confiava nela.

Naquele momento, tudo que conseguia pensar era em que América havia sigo estrategicamente colocada em minhas mãos para ser facilmente controlada. Tática que estava indo em outra direção.

Queria fugir dali. Então, assenti e ela disse que eu poderia me retirar. Saí da sala quase que imediatamente.

Queria conforto em seus longos cabelos, mas acabei por esbarrar em meu irmão. Aguardando na porta, Caleb tinha o costume de se sentar ao chão e olhar para os lados.

Ao me ver, levantou–se rapidamente. Seguramos nossas mãos juntas e sussurramos em uníssono:

—Estamos sendo observados.


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