POV’s Stiles

A chuva caiu a poucos minutos e eu já estava encharcado dos pés à cabeça, por que aquela lata velha que eu chamo de carro resolveu me deixar na mão mais uma vez. Porém Scott não fazia nada para ajudar, pois enquanto ficávamos parados no meio do nada, ele preferia ficar com as pernas para cima, enquanto trocava a estação de rádio.

“Stiles, é pra hoje?” ele ainda tinha a cara de pau de me perguntar.

“Se você me ajudasse, quem sabe?!” respondi.

“Cara, a chuva tá aumentando!”

“Vai a merda, Scott!” disse irritado.

Já tinha tentado de todas as maneiras possíveis fazer aquela porcaria de jipe funcionar, mas ele não dava nenhum sinal de vida.

“Olha a agressividade!” falou com aquele sorriso cínico.

“Vai, desse logo daí e vem aqui me ajudar!” falei e finalmente ele me ouviu.

Ele saiu do carro, e em segundos também estava completamente encharcado, a chuva ficava cada vez mais forte. Depois de um bom tempo, com muita fita adesiva conseguimos fazer ele voltar a funcionar. A essa altura, o céu estava tão nublado, que mesmo sendo apenas 15:47hs parecia já ser noite.    

“Mas de quem foi essa ideia estupida de vir até aqui?” ele perguntou enquanto tentava se secar de alguma forma.

“Sua!” respondi “A ideia foi sua!”

“Então da próxima vez, nem pense em me escutar...” ele falava quando foi interrompido pelo toque do meu celular.

Como eu dirigia, pedi para o Scott atender.

“Quem é?” perguntei.

“Lydia”

“Atende, e coloca no viva voz” falei e ele atendeu.

“Alô?”

“Cadê o Stiles?” ouvi a sua voz aguda.

“Oi, pra você também...”

“Aqui, algum problema?” o interrompi.

“Não, nenhum. É que você não deu noticias o dia inteiro, e Allison me disse que você tinha saído com o Scott”

“Desculpa, é que, eu resolvi escutar o Scott e o jipe acabou quebrando no meio do caminho... Longa história, depois te conto!”

“Mas agora, você tá aonde?”

“A gente tá indo para casa, numa chuva dessas não vai dá mais para ver o jogo de Lacrosse.”

“Ah, tudo bem então. Quando chegar você me avisa, tá?”

“Certo. Tchau.”

“Tchau” desligou.

Quando a Lydia desligou, Scott ficou com um sorriso malicioso no canto da boca.

“O que foi?” perguntei.

“Eu achei um pouco estranho.”

“O que?”

“O jeito que a Lydia se preocupa com você... ela quis saber onde você estava, e o porquê de não ter mandado notícia”

“Eu ainda não entendi, o que é estranho.”

“Só duas pessoas se preocupam assim comigo: uma é a minha mãe”

“Mas você sabe como a Melissa é, né? Se você não falar aonde tá, ela vai te caçar!” falei rindo.

“Literalmente!” falou rindo também “Mas, voltando... e a outra pessoa: é a Allison.”

“E o que é que tem?” falei, fazendo com que ele revirasse os olhos.

“Cara, eu acho que a Lydia gosta de você.”

“Você tá sonhando... A Lydia não gosta de mim, pelo menos não desse jeito.”

“Se você diz...”

POV’s Lydia

Aquele dia não estava dos piores. Eu gostava de um dia de chuva, bem... é claro que sentir o sol quente sobre o meu rosto é muito melhor, mas um dia frio sempre é bom.

Acordei bem cedo, minha mãe não estava em casa – ela nunca está; preparei uma xicara bem grande de café e fiquei na frente da TV, assistindo a canais aleatórios, que falavam sobre coisas sem importância. Fiquei o dia todo sem fazer nada, a tarde já tinha se passado quase completamente e Stiles ainda não tinha me ligado, estava começando a ficar preocupada; o que é estupido da minha parte, afinal eu estou parecendo a sua mãe. Por fim eu acabei ligando e soube que ele estava com Scott, e tinha ido assistir um jogo de Lacrosse, e que estava voltando para casa.  

Ainda estava assistindo TV, mas não consegui prestar atenção em nada que o jornalista dizia, eu tinha em mente um nome que não me saia da cabeça: Malia.

Eu sei que não deveria me meter, ou ao menos pensar em quem era essa tal de Malia, mas era quase impossível eu não pensar. O Stiles ficou tão tenso quando escutou esse nome, ela poderia ser mais importante do que eu pensava, ela poderia ser o fantasma da vida dele, mas como eu iria saber? Ele nunca me conta nada, pelo menos não sobre ela.

O Stiles fica tão misterioso e sombrio às vezes; eu penso que pode ter sido um grande trauma, essas coisas começam quando algo com muito impacto emocional acontece – eu li em algum lugar. As pessoas entram em um estado de grande luto e não conseguem se livrar dele facilmente, mesmo sem ter acontecido morte alguma.

Eu comecei a pensar nas coisas que não sabia sobre o Stiles: Eu não sabia nada sobre os seus pais, apenas que tinham morrido em datas diferentes; não sabia o porquê de ele nunca ter sido adotado; eu sabia que ele tinha sido expulso de muitas escolas, mas os motivos eram vagos, ele me parecia ser muito comportado para ser expulso; também não sabia nada sobre o seu passado – como tinha sido a sua infância e adolescência, ou os seus amigos, suas namoradas, principalmente Malia.

Os segredos que eu sabia sobre o Stiles, eram apenas que os pais dele haviam morrido e que ele morava no orfanato desde os cinco anos, e que Melissa havia cuidado dele durante todo esse tempo; eu também sabia que algo de muito ruim tinha acontecido naquele monte onde ele me levará depois daquela noite terrível.

Nós nos conhecíamos a menos de dois meses, e a nossa relação mudou de ódio completo para eterna gratidão em menos de 24 horas. Ele tinha me intrigado desde a primeira palavra que falou, desde a nossa primeira troca de olhares. O que sei é que Stiles é uma enorme incógnita, a primeira que eu não consigo achar o resultado. 

POV’s Stiles

Depois daquela primeira crise, outras vieram, e mais outras. E em todas elas, eu estava ali, segurando sua mão, tentando trazê-la de volta, tentando fazê-la voltar ao normal.

A daquele dia foi uma das piores. Eu tinha 14 anos, estávamos no meu quarto, era noite, tínhamos acabado de voltar do nosso lugar, e olhávamos as estrelas pelo buraco no teto. Ela me contava histórias malucas e sonhos do mesmo gênero. Nós riamos e falávamos bobagens que crianças de 14 anos falam normalmente.

Mas em apenas poucos segundos, ela ficou calada, e começou a chorar.

“Malia?” disse me aproximando devagar, mas ela não olhou para mim. “Malia, tudo bem?”

“Eu não sei...” falou olhando para o nada. “Eu não sei” repetiu enquanto chorava desesperadamente.  

Eu me levantei rápido e fui até ela.

“Malia, vem!” falei rápido “você precisa tomar seus remédios.”

“EU NÃO QUERO!” ela começou a gritar “Eu não quero, por favor, eu não... não quero... EU NÃO QUERO” ela chorava e gritava ao mesmo tempo, e parecia falar com qualquer coisa, menos comigo.

“Malia!” disse puxando os seus pulsos, tentando fazê-la levantar.

“ME SOLTA” gritava enquanto tentava se soltar dando socos no meu peito. “EU NÃO VOU COM VOCÊ, EU NÃO VOU! EU NÃO VOU COM VOCÊ!

“Malia, por favor...”

“A culpa é minha...” disse abaixando o tom de voz “a culpa é minha, fui eu! Eles me abandonaram por que eu não fui boa... eu não sou uma boa menina... você sabe disso, não sabe, Stiles?”

A essa altura eu também já chorava.

“É tudo culpa minha...” ela começou a se estapear.

“Para Malia!” falei tentando segurar os seus braços “Para de fazer isso com você mesma, PARA!”

“ME LARGA! ME DEIXA EM PAZ! EU TE ODEIO, EU ODEIO ESSE ORFANATO INÚTIL, EU ODEIO TUDO ISSO!” ela gritava o mais alto que conseguia “VOCÊ NÃO VÊ, STILES? NÓS NÃO SOMOS NINGUÉM! EU NÃO SOU NINGUÉM, STILES! QUEM IA ME QUERER?”

Ela conseguiu se soltar dos meus braços, foi até a cômoda onde estava um copo de vidro e jogou na parede atrás de mim, fazendo o copo de estilhaçar em milhares de pedaços. Eu fiquei paralisado e acabei cortando a bochecha com os cacos que voaram em minha direção. Malia correu até o copo quebrado e pegou o maior caco de vidro, ela ia cortar os pulsos quando os enfermeiros chegaram.

“Não...” ela sussurrou enquanto eles se aproximavam “não! Me soltem! ME SOLTEM! NÃO! SAIAM DAQUI, ME DEIXEM EM PAZ! É TUDO CULPA SUA STILES! FOI VOCÊ! ME SOLTEM! SOCORRO! EU NÃO QUERO IR COM VOCÊS! ME DEIXEM EM PAZ! STILES, SOCORRO! ME SOLTEM! STILES!” Ela gritava enquanto eles a sedavam e a colocavam na maca. “me deixem me paz...”