Alvo Potter e a Sala de Espelhos escrita por Tiago Pereira


Capítulo 14
Capítulo 14 — A Confissão de Hagrid


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente. Tudo bem? Espero que sim.
Desculpem a demora para postar o capítulo, estive ocupado com vestibular e reescrevendo o capítulo, porém eu NÃO ABANDONEI a fic e espero que vocês não abandonem também. :)
Só para lembrar que: ANIMAIS FANTÁSTICOS E ONDE HABITAM ESTREOU!!!!!
Boa leitura.



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— ENTÃO VOCÊ QUER DIZER QUE Boxe está mancomunado com... ela? — sussurrou Wayne.

— Os monitores podem sair depois do Toque de Recolher? — Rose alteou a voz, indignada.

Tudo que acontecera na noite passada, Alvo correu para contar a Rose e Wayne, na manhã seguinte. Foi um alívio imenso saber que o Feitiço Desilusório de Boxe já havia cessado quando ele acordou. Para sua sorte, ninguém havia suspeitado de nada — a não ser Pirraça, que protagonizou grande parte da confusão —, mas, quando viu a Profa. Sable, com o rosto murcho, tomar seu café da manhã com rancor, ele teve a esquisita impressão de que tudo poderia ir por água abaixo num piscar de olhos. Até lá, Alvo só precisaria agir normalmente que nada de errado aconteceria com ele, Tiago ou Chloe.

— Não, não acho que Boxe... Quer dizer, ele é apenas um elfo... — Alvo tentou justificar, ignorando a pergunta de Rose.

— E? — Wayne deu de ombros. — Alvo, suspeitar nunca é demais. Vai saber o dia que ele envenenará o seu cereal!

Para provocar o amigo, Alvo levou uma colher cheia de flocos de milho à boca.

— Viu? — O garoto abriu os braços ironicamente. — Vivíssimo.

Wayne fez uma careta.

— Que engraçado — disse em escárnio.

— Vocês vão ficar discutindo até quando? — Rose se intrometeu. — Esqueceram que temos aula dupla de Poções?

Alvo bufou, acabrunhado. Não porque ele era ruim na matéria, pelo contrário, o menino era um dos melhores, senão talvez, o melhor aluno da classe. A grande questão era ter de aturar os alunos da Sonserina fazendo piadas com os da Grifinória. A rivalidade entre as duas Casas sempre foi grande, mas, às vésperas do quadribol, os alunos estavam insuportáveis. Para completar a tortura, Alícia e Anguis Crawford viviam recitando a notícia da Garota dos Segredos para Alvo. O jeito era ficar entoando a si para não se importar.

Junto a Louis, Ravi e Fergus, os três amigos chegaram à porta das masmorras, os sonserinos já estavam esperando no corredor subterrâneo mal iluminado, mirando-os, como sempre, com uma carranca de nojo. Conforme o horário da aula foi se aproximando, o resto da turma começou a se agrupar, exceto Scorpius Malfoy, o que aguçou a curiosidade de Alvo.

— O que vocês acham que aconteceu com Malfoy? — perguntou aos colegas próximos.

— Está com Merle Copperfield — murmurou Mariam Langdon, escorada na parede. — Ouvi dizer que ele teria uma sessão para estimular a memória, depois de tudo o que houve.

Havia um tom de acusação impiedosa na voz de Mariam, um tom que ninguém jamais ouvira sair da boca da menina. Alvo queria se explicar, mas sabia que, independente do que dissesse, ela não acreditaria. Assim como metade da escola, Mariam estava sob influência da revista A Garota dos Segredos.

A sineta tocou e a Profa. Monet veio caminhando com o rosto vermelho, resmungando baixinho. Os alunos fizeram um corredor para que ela passasse.

— Ah, ele que ouse entrar de novo na minha sala sem autorização... juro por Deus que trocarei aquela bebida nojenta por uma Poção da Incoerência... — A Profa. Monet, porém, parou de chofre ao ver Alvo e abriu um sorriso. — Sr. Potter, a Profa. McGonagall quer vê-lo em seu escritório.

Todos os alunos se calaram e se entreolharam, Richard Zabini e Nolan Goyle rindo baixinho. A Profa. Monet ordenou que todos fossem para a sala, Rose e Wayne perpassando os olhos pelo amigo em busca de algum tipo de explicação; Alvo apenas ergueu as sobrancelhas e encolheu os ombros.

— Vá ao segundo andar, procure uma gárgula de pedra. Flor do cardo é a senha — sibilou a mulher de maçãs rosas. — Não demore, iremos misturar a poção para fazer o cabelo crescer!

Alvo caminhou quieto, os pensamentos a milhão. Não poderia ser expulso... simplesmente não poderia...

Galgou lentamente os degraus do saguão de entrada, passou pelas portas de carvalho e subiu lentamente a escadaria de mármore em direção do segundo andar, os membros pesados, uma pontada fria no peito. Não demorou muito para o menino virar em um canto e deparar-se com o corredor que continha a feíssima gárgula que a professora havia mencionado. Evidentemente não havia nenhum escritório, tampouco uma passagem para um.  Pensou em pedir ajuda, mas não havia ninguém por perto. Ninguém suspeitava que ali poderia existir os aposentos de um professor. Mesmo assim, Alvo experimentou:

Flor do cardo!

Funcionou — as palavras fizeram com que a gárgula ganhasse vida e se afastasse para o lado. Concomitantemente, as paredes atrás começaram a bipartir, revelando uma escada em espiral. Encantado com a cena, Alvo se precipitou e subiu no primeiro degrau, um barulho seco denunciando que a parede se fechara em seguida. As escadas tinham um formato tênue e circular, terminando com uma porta fúlgida de carvalho com uma aldrava em forma de grifo. Foi quase impossível Alvo não se lembrar do Sr. Olivaras contando a história de sua varinha.

O garoto saltou da escada em movimento e bateu na porta, que se abriu instantaneamente.

A sala que Alvo encontrou era, sem dúvidas, a mais bonita do castelo. Arredondada e cheia de janelas, possuía uma tapeçaria escocesa e muitos quadros pendurados por toda a parede. Alvo conseguiu ler os nomes entalhados em plaquinhas de ouro: Fílida Spore... Vindicto Veridiano... Armando Dippet... Dexter Forterscue... Fineus Nigellus Black... e...

— Edessa Skandenberg! — exclamou o garoto.

O quadro sorriu triunfante para Alvo.

— Parece que conseguiu encontrar novos atalhos, não é mesmo, rapaz?

Alvo retribuiu o sorriso. Em cima de livros empilhados, um gato de listras amarelas que observava o menino deu um salto e, no instante seguinte, a Profa. McGonagall estava diante dele, o mesmo aspecto severo transparecendo pelos olhos emoldurados por óculos quadrados. Por alguma razão, a mulher tinha o condão de fazê-lo se sentir extremamente culpado.

— P-Professora... m-me desculpe, eu não... — disse Alvo admirado com a transformação.

— Vejo que já conhece Edessa, Potter — disse a Profa. McGonagall bruscamente. — Acredito que seria melhor preencher seu tempo fazendo o seu trabalho de História da Magia atrasado do que ficar aprendendo novas rotas.

Então, com seu jeito enérgico, a mulher andou até a sua escrivaninha, sentando-se. Atrás dela, em uma prateleira, o Chapéu Seletor velho e surrado que o colocara na Grifinória repousava com um ar inanimado — o mesmo da Cerimônia da Seleção.

— Sente-se — convidou a Profa. McGonagall.

Alvo foi até a cadeira de pés de garra e se acomodou, o medo fluindo pelo seu corpo.

— Então? — perguntou-lhe a professora, enrugando a testa. — Explique-se.

Explique-se, professora? — repetiu Alvo inocentemente.

A Profa. McGonagall enfiou a mão em uma gaveta sob a mesa e tirou uma lata de estampa escocesa.

— Use o bom senso, Potter — retorquiu, zangada. — Não é preciso mentir para mim, eu já sei de tudo, apenas quero saber o que leva o senhor a estar tomando essas atitudes depois do aviso que lhe dei.

Alvo se encolheu, pálido, os olhos úmidos e brilhantes.

A Profa. McGonagall suspirou e apontou para a lata que havia pego.

— Coma um biscoito, Potter.

Alvo hesitou, mas apanhou um biscoito de gengibre e mordeu um naco.

— Melhor? — indagou a Profa. Minerva, em um tom mais calmo. Alvo assentiu. — Agora me conte o que está acontecendo.

— Professora — disse Alvo com curiosidade —, me desculpe, mas quem foi que lhe deu essas informações?

A Profa. McGonagall torceu o nariz.

— Uma pessoa próxima dos seus pais — falou sucintamente.

Um leque de pessoas íntimas da família iluminou a cabeça de Alvo. Havia seus tios e suas tias, os primos, os avôs, Teddy e o seu padrinho. Este era o mais provável, afinal, os professores sabiam de tudo que acontecia em Hogwarts. Só que o Prof. Longbottom jamais faria algo que pudesse comprometer a sua permanência na escola.

A Profa. McGonagall o aguardava, os seus olhos castanho-escuros estudando as suas feições. Alvo não sabia o que dizer, apenas pensava no rosto decepcionado de Rose e Wayne, os três cumprindo detenções diárias por serem intrometidos demais. Não queria colocar ninguém em risco. Contudo, se a professora já sabia de tudo, que mais ela queria ouvir?

Então a resposta surgiu: a predição. Tremendo da cabeça aos pés, Alvo reuniu toda a coragem que existia nele e contou sobre a Profa. Trelawney, repetindo cada palavra do vaticínio, sem olhar diretamente para a Profa. McGonagall. Quando ele acabou, para a surpresa do menino, a professora sorriu.

— Entendo perfeitamente. O que mais me deixa intrigada é o fato de Sibila não ter predito ainda a sua morte.

De repente, Minerva McGonagall fechou a cara, as narinas brancas de cólera.

— Potter — disse ainda em um tom calmo —, não seja tão ingênuo. Confesso que não tenho muita paciência para tratar sobre assuntos do tipo. Se o senhor acha que as palavras da Profa. Trelawney são motivos para desrespeitar o regulamento da escola, está muito enganado. Saiba que ela prevê todo ano a morte de um aluno. Adivinhação é um ramo muito impreciso em todos os aspectos. E o senhor parece estar em um estado de excelentíssima saúde, por que não a utilizar nas aulas? Soube que vem obtendo notas altas em Poções, Potter.

Alvo deu um sorriso modesto.

— É, algumas — falou humildemente.

— Mas nada impede que o senhor descumpra as regras. — E olhou-o rudemente por cima dos óculos. — Espero não vê-lo mais cometendo tolices deste nível, principalmente por causa de uma bobagem dessas!

— Sim senhora — Alvo respondeu rapidamente enfiando o resto do biscoito na boca.

— Ótimo. — Os lábio da professora se crisparam em satisfação. — Pode voltar à sua rotina.

Alvo se levantou com o corpo muito mais leve do que entrara. Não tinha sido expulso! Mal podia esperar para ver a cara da Profa. Sable e dos alunos da Sonserina com esta notícia. O menino acenou apressadamente para a Profa. McGonagall, reparando no maior quadro atrás de sua cadeira. Um homem de cabelos prateados e barbas longas, com trajes roxos. Lembrava muito o Prof. Godunov se não fosse pelos olhos azuis orlados por óculos de meia-lua. Por um momento, devaneio ou não, Alvo jurou tê-lo visto piscar e sorrir para ele.

Alvo tinha voltado para a masmorra em que acontecia as aulas de Poções, ignorando completamente o frio que envolvia o local, a satisfação de estar na escola e não no trem de volta para Londres aquecia o seu corpo mais do que cem lareiras.

Quando o menino entrou na sala, os rostos de Wayne, Rose e Louis se irradiaram em alegria. Pediu licença à professora e ia caminhando até a bancada dos amigos, mas foi interrompido.

— Sr. Potter, por que não se junta ao Sr. Malfoy, já que os dois estão sem par? — sugeriu a Profa. Monet.

Alvo arregalou os olhos e, contrafeito, mirou Scorpius no fundo da sala. Tinha um ar deprimido margeando-o, além de uma palidez nem um pouco saudável. Alvo foi na direção da bancada de Scorpius, quase todos os alunos acompanhando a sua passagem.

— Oi — disse Alvo amigavelmente.

Scorpius não respondeu. Seu rosto pontudo estava mais magro que o normal e as olheiras fundas e escuras davam-lhe um aspecto assustador. Apertando as pupilas fortemente, Scorpius agarrou o frasco de miolo mole e depositou sobre a mesa, dizendo entre dentes a si mesmo:

— Controle... controle...

Sem dizer absolutamente nada, mas temendo a própria segurança, Alvo se encarregou de preparar a poção sozinho enquanto Scorpius falava frases soltas e sem sentido (“recuperar o que é nosso”, “encontrar e matar”). Somente quando um silvo alto encheu a masmorra, o garoto calou a boca — as irmãs Goshawk haviam derretido o caldeirão e agora estavam com os cabelos chegando ao tornozelo.

Depois do incidente, os alunos começaram a finalizar as poções, uns mexendo rápido demais para não se atrasarem, outros pulando etapas; Alvo, como de costume, estava conseguindo chegar à cor amarelo-vivo — como indicava o seu livro — depois de mexer no sentido horário. Rose estava suada e vermelha, Wayne debruçado em Mil ervas e fungos mágicos procurando um meio para consertar a sua poção. Alvo queria muito ajudá-los, porém estava distante e já não havia mais tempo, segundo a ampulheta da professora.

No fim da aula, Alvo e Scorpius, quieto como uma pedra, receberam a nota máxima depois de fazerem os cabelos da Profa. Monet chegarem à cintura.

— Ótimo trabalho, meninos — congratulou a professora, o rosto rechonchudo róseo. — Um resultado espetacular, tenho que admitir!

Assim que a sineta tocou indicando o final dos dois tempos, Alvo terminou de secar a bancada e correu para se juntar com os amigos, deixando o insano Scorpius Malfoy sozinho. Que tipo de terapia estava tendo com Copperfield?

— Eu não fui expulso! — comemorou Alvo, tomando caminho de volta ao subsolo.

— Percebemos — disse Rose secamente.

— Que foi? — contestou Alvo.

— Nada, Al — replicou Rose.

— Rose só está chateada porque não conseguiu ir bem na aula de Poções de novo — justificou Wayne.

— Não é, não! — protestou Rose. — E se vocês acham que eu estou indo realmente mal, espere para ver nos exames finais quem terá as melhores notas.

Os garotos ficaram quietos. Não queriam atiçar mais a raiva da amiga em um assunto tão delicado como este. Sabiam que Rose se dedicava muito aos estudos e não era à toa que era sempre a primeira da classe em quase todas as disciplinas.

— Ânimo, Rose — exortou Alvo. — Temos aula de Feitiços, lembra?

Rose deu um sorriso forçado.

— Verdade — disse. — Que tal darmos uma passada no Hagrid hoje à tarde?

— Boa ideia — concordou Wayne, tentando reconquistar a amiga. — Não tenho dúvidas de que ele vai ficar mais do que satisfeito em saber que descobrimos alguma coisa sobre a Legião Escarlate.

— Você só pode estar de gozação. — Alvo riu.

— É claro que estou — Wayne riu junto.

A aula de Feitiços era uma das favoritas da turma, orquestrada pelo Prof. Flitwick. Entretanto, desde que haviam entrado na parte de Encantamentos Úteis, metade da turma sentia dificuldades em executar os feitiços da maneira correta. Se não fosse pela insistência de Rose em prolongar a prática dos feitiços fora da aula, Alvo não teria salvado Chloe de uma concussão na Torre Oeste.

Encarapitado em uma montanha de livros, o Prof. Flitwick, segurando uma bola de cristal, contava em sua voz aguda a parte teórica do Feitiço de Conserto.

— Em 1265, durante uma das famosas reuniões do Conselho dos Bruxos, os anciões discutiam sobre vestígios de objetos mágicos quebrados que, por alguma razão, ainda manifestavam sua magia perto dos trouxas, fazendo uns enlouquecerem ou até mesmo morrerem de susto. — Doug Goldstein soltou uma exclamação de pavor. — Depois de muitas horas e muitas sugestões dos presentes, Merlim, chefe do conselho e o mais sábio dos bruxos, se levantou e derrubou uma bola de cristal que havia no centro de uma mesa, afirmando ser capaz de consertá-la sem utilizar nenhum meio trouxa.

“Espantados, um dos bruxos presente perguntou como ele faria isto e Merlim respondeu calmamente que tudo o que rodeava o espaço era feito de energia e a energia tende a se conservar, por isso ele poderia trazer a bola de cristal de volta a sua forma original reunindo sua energia de volta.

“Ao concluir seu raciocínio, Merlim caminhou até a bola e bateu seu cajado firmemente no chão, murmurando a fórmula Reparo. Então, um raio acertou a bola de cristal que começou a se auto consertar, para a maravilha de todos os presentes. E é isto que aprenderemos hoje”, o Prof. Flitwick deixou cair a sua bola de cristal no chão, espatifando-a em mil pedacinhos. Com um movimento ágil no pulso, os cacos começaram a se emendar em pleno ar, arrancando aplausos dos alunos da Corvinal e Grifinória.

— Obrigado — agradeceu o Prof. Flitwick, curvando-se para a turma. — Agora é a vez de vocês, apanhem as varinhas. — Os alunos agarraram com firmeza as varinhas. — Façam um risco para a direita... assim... Agora para baixo em diagonal, deste jeito... Mais rápido, Srta. Belby... Não tão rápido, Srta. Aingremont! Movimentem a varinha para cima e finalizem com um risco para a direita... Muito bom! Repitam comigo: Reparo! Bom, parece que os senhores já estão aptos para praticarem o feitiço.

O Prof. Flitwick dividiu os alunos em pares, Alvo e Wayne sentando perto de Rose, que se juntou a Chloe Bridwell — a pedido da mesma. Cada dupla recebeu uma caixa com fragmentos de um objeto — ursos de pelúcia, xícaras, capas —, mas os meninos não estavam totalmente focados em restaurá-los.

— Quer dizer então que a McGonagall te chamou para tomar chá com biscoitos? — ironizou Chloe, depois de Alvo contar o que aconteceu mais cedo.

— Não foi bem assim — disse Alvo. — Ela... hum... na verdade eu... contei sobre o vaticínio...

— Você o quê?! — exclamaram Wayne e Rose juntos.

— É, seu irmão também me contou — falou Chloe sem emoção. — Daqui a pouco a Coisinha dos Segredos também vai ficar sabendo. Eu já vi essa Profa. Trelawney antes, não me parece uma fonte muito confiável.

Francamente! — disse Rose. — E o que a Professora Minerva disse?

— Disse que Adivinhação é um ramo incerto e para eu não ficar burlando as regras — contou Alvo, sentindo-se a pior pessoa do mundo.

— É como dissemos, ninguém vai acreditar em nós — resmungou Wayne.

— E o que vocês descobriram até agora? — perguntou Chloe.

Wayne e Rose se entreolharam e depois olharam para Alvo, receosos.

— Podem confiar em Chloe — afirmou Alvo, sem ser muito convincente. — Não se esqueçam de que foi ela quem me falou sobre a Legião Escarlate e o Estigma da Morte.

— Bem... — Rose começou a falar, cautelosamente. — Achamos que descobrimos como Rodric Hotwan fugiu de Azkaban sem ser percebido.

— Jura? — sussurrou Chloe, excitada. — Como, então?

— Por um espelho — respondeu Rose. — Um daqueles da Sala de Espelho dava acesso à cela dele em Azkaban, possivelmente. Não temos como provar nada, mas é o único meio plausível.

— Mas em Azkaban não há espelhos — Chloe os contrariou.

— Sabemos disso — disse Rose. — Qualquer pedaço de vidro serve de passagem, desde que esteja enfeitiçado. Alvo pode falar melhor do que qualquer um.

O pomo-de-adão de Alvo subiu e desceu.

— Haviam espelhos de todos os tamanhos na sala — confirmou.

O processo com o Feitiço de Conserto não andava nem um pouco bem para os alunos. Nem mesmo Wayne, que havia praticado outras vezes, conseguia realizá-lo. Consertar objetos maiores era realmente difícil. Somente nos minutos finais de aula, Rose, com a manga das vestes enroladas, bateu a varinha na mesa e entoou com clareza:

Reparo!

Assim como a bola de cristal do Prof. Flitwick, as lascas de madeira se recompuseram diante dos olhos de toda a turma até voltar a ser uma colher de pau.

— Excelente! — exclamou a voz aguda do Prof. Flitwick. — Vejam, Rose Weasley conseguiu, esplêndido!

Na altura em que a aula terminou, Rose fora a única a conseguir reparar o objeto. O Prof. Flitwick incentivou todos a continuarem praticando, mas não conseguiu animar ninguém a fazer isso.  Já era quase hora do almoço quando os amigos deixaram a sala de Feitiços.

— Bom, vamos ver um amigo nosso — disse Alvo. — Nos vemos mais tarde, Chloe.

— Ah, esperem — pediu Chloe. — Vocês vão descer?

Alvo anuiu.

— Eu também vou, dorcas — disse Chloe. — Darei uma passadinha no Salão Comunal antes. Não saiam daqui.

E a menina saiu correndo pela escadaria de mármore na direção de onde quer que ficasse a sala comunal da Corvinal.

— Que menina intrometida! — murmurou Rose. — Ninguém a convidou para vir conosco.

— Não seja tão rude com ela, Rose — Wayne defendeu. — Ela parece ser boa pessoa e, além do mais, que é que tem ela querer vir junto?

Que é que tem? — repetiu Rose, indignada. — Vocês já pararam para pensar que ela pode ser a Garota dos Segredos? Quem sabe ela esteja querendo mais informações sobre a família do Alvo, sobre a minha família, sobre você, Wayne!

— Eu aposto o meu chapéu que ela não é a Garota dos Segredos — disse Wayne com veemência.

Suspeitar nunca é demais — disse Rose com voz de falsete, imitando Wayne.

— Isto não vem ao caso! — exclamou Wayne, embargado. — Chloe só está querendo nos ajudar.

— Ela quer se juntar a nós porque não tem amigos, isso sim! — rebateu Rose.

— E as informações que ela deu ao Alvo? — Wayne bateu o pé. — Não servem para nada?

— Informações? — Rose gargalhou. — Dizer que o Alvo é a próxima vítima de Rúbia Scarlet não me parece uma informação muito útil. E outra, ela anda bem informada para alguém que se mudou recentemente para o Reino Unido! Não duvido nada que ela vai aparecer aqui com pergaminho e pena em mãos, querem ver?

— Dá para vocês dois calarem a droga da boca só por um instante? — Alvo interveio, impaciente.

Os três não abriram a boca até Chloe tornar a descer com uma vassoura dourada e reluzente no ombro e acompanhada por um rapaz alto. Alvo o conhecia de algumas fotos no Profeta Diário ou até mesmo na coluna de Solteirões Cobiçados d’A Garota dos Segredos; era tão parecido com o pai quanto Alvo era parecido com o Sr. Potter. O rapaz era ninguém mais, ninguém menos que o filho do ministro da Magia.

— Estou pronta — disse Chloe, notando no silêncio constrangedor. — Ah, desculpem, este é Neil Shacklebolt.

— Olá — disseram os três amigos em coro, mas Neil parecia ter olhos apenas para Alvo.

— Alvo, o segundo filho de Harry Potter — comentou Neil. — Que honra... Soube que temos muitas coisas em comum. Eu o vi no Clube de Poções uma vez, mas é a primeira vez que tenho a oportunidade de falar com um filho do Potter pessoalmente. O seu irmão, Tiago, parece estar mais focado em pegar um número grande de detenções do que fazer novas amizades.

Alvo não disse nada. Definitivamente, ele odiava ser assediado ou comparado pelo seu sobrenome.

— Vamos logo ou nos atrasaremos para o treino — disse Chloe.

— Você está no time? — perguntou Wayne, estupefato.

— Estou — refutou Chloe rispidamente. — Algum problema?

— Nenhum, foi só uma pergunta — queixou-se Wayne.

Mal-humorados, os cinco estudantes atravessaram o saguão do castelo silenciosamente. O vento uivava muito, as serras que debruavam o castelo estavam da cor cinza-gelo, a grama deslizava e o lago parecia um enorme rinque de patinação. Encolhidos em torno de suas capas, Alvo, Rose, Wayne, Chloe e Neil caminharam pelos terrenos até trombarem com uma figura de silhueta enorme enrolada num casacão de pele de toupeira com uma meia-dúzia de vassouras nos brações.

— Alvo? Rose? Wayne? — chamou Hagrid. — O que estão fazendo aqui? Não está muito frio?

— Viemos falar com você — respondeu Alvo.

— Eu... é, está bem, está bem — disse Hagrid. — Venham, vou levar estas vassouras até a minha cabana.

Alvo, Rose e Wayne se despediram de Chloe e Neil e ajudaram Hagrid a carregar as vassouras, marchando lentamente enquanto o vento frio varria os seus cabelos. Noel estava deitado em um canto da cabana e correu para pular nos meninos quando Hagrid abriu a porta.

Para trás, Noel! — chiou Hagrid. — Podem deixar as vassouras ali perto daqueles livros?

Rose depositou sua vassoura junto às de Hagrid e começou a ler as capas dos livros amontoados, cheia de curiosidade.

Homens Aficionados por Dragões — leu. — Do Ovo ao Inferno: Guia do Cuidador de Dragões, Espécies de Dragões da Grã-Bretanha e Irlanda? Hagrid, sinceramente, você não está pensando em comprar um ovo de dragão, não é?

— Hoje, não — disse Hagrid, arrumando biscoitos em um prato. — Mas eu já tive um... — Fungou. — Norberta, um dragão norueguês, uma gracinha, se querem saber.

Rose cobriu a boca com a mão, perplexa.

— Hagrid! — exclamou. — Ovos de dragão são considerados Artigos Não Comerciáveis Classe A!

— Eu sei, eu sei — falou Hagrid. — É uma longa história... Ei, Alvo, se eu fosse você ficaria bem longe desse aí.

Alvo, que estava prestes a agarrar O Livro Monstruoso dos Monstros, se afastou sutilmente da pilha e se sentou à mesa, junto de Wayne. Da janela era possível ver borrões sobrevoando e cortando o ar como flechas, além do trino de um apito.

— E então? — Hagrid tornou a dizer enquanto despejava água fervente em um grande bule de chá. — O que queriam falar comigo?

Alvo mordeu um pedação de um biscoito, disposto a manter a boca cheia tempo suficiente para não falar. Rose respirou fundo, olhando para os amigos, as orelhas vermelhas.

— Hagrid, nós descobrimos o que é a Legião Escarlate — disse. Hagrid abriu a boca para questionar, mas Rose não lhe deu margem. — Agora que já sabemos, pode nos contar o que houve, de verdade, na vez que Rodric Hotwan invadiu o castelo?

Hagrid pousou o bule de chá com um estrondo na mesa e puxou uma cadeira para se sentar junto das crianças, a testa brilhando de suor.

— Bom, é melhor vocês saberem logo antes de cometerem alguma loucura — começou. — Mas já aviso que não posso contar tudo a vocês, é um grande mistério, algumas partes. Puxa, me impressiona muito que vocês não saibam nadica de nada sobre isso, já que ficaram tanto tempo...

Hagrid!

O meio gigante fitou Alvo nos olhos antes de retomar o raciocínio.

— Está bem, começa mais ou menos assim: desde que V... Volde-mor... t, desculpem, ainda é difícil para mim... Desde que Voldemort foi derrotado, temos vivido tempos de paz que não se via há décadas. É claro que houveram inúmeras tentativas de aterrorizarem a nossa comunidade, mas teve um grupo de bruxos maus que foram os piores: Rodric Hotwan, Rúbia Scarlet e Fúlvia Scarlet.

“Ninguém sabe de onde eles vieram, ninguém se lembra de ver eles e ainda assim, o poder foi tão impressionante que em pouco tempo eles já haviam um bom número de seguidores.”

— A Legião Escarlate — disse Wayne.

— Sim... — confirmou Hagrid, rouco. — A Legião Escarlate. Dias funestos, crianças, afinal, depois de oito anos tudo o que lutamos para construir parecia estar desmoronando diante de nossos olhos. Ninguém levava muito a sério os rumores de que eles estavam atrás de tesouros, até que um dia Hotwan assassinou um ex-auror. Foi aí que todos perceberam que Rodric Hotwan não era qualquer mercenário.

— Eu não entendo. — Alvo meneava a cabeça. — Hotwan estava atrás do quê?

— Ora, muitos boatos, Alvo — prosseguiu Hagrid. — Quando ele entrou em Hogwarts, ouvi dizer que estava atrás de um tal de ana-grifo, algo assim.

— Ana-grifo? — interpelou Rose. — E o que seria isso?

— Não faço ideia — Hagrid deu de ombros. — Mas, de um jeito ou de outro, ele acabou sendo preso ao tentar saquear um cofre em Gringotes. Braguilha, um dos duendes que trabalha por lá, me contou que ele estava mais fraco naquela vez. Deve ter sido ferido por uma criatura... De qualquer forma, poucos anos depois, Rúbia Scarlet, sua prima, assumiu o seu posto e tentou atacar o seu pai, Alvo.

Alvo soltou uma exclamação muda.

— Meu pai? — interpelou. — Por quê?

— Não sei dizer — respondeu Hagrid. — Só sei que ela e Kingsley Shacklebolt fizeram um duelo daqueles! E é claro que Quim venceu e Rúbia foi obrigada a sumir, a viver na clandestinidade. Agora, as coisas parecem estar se repetindo: Hotwan surgindo, a Legião invadindo Hogwarts, muito provavelmente porque algum professor o ajudou...

Hagrid perdeu a cor, horrorizado.

— Eu não devia ter dito nada a vocês! — bradou. — É melhor voltarem para o castelo...

Apressados e se olhando a toda hora, Alvo, Wayne e Rose se despediram de um Hagrid com cara de arrependido e fizeram carinho em Noel. Estavam excitados com as informações que receberam, mas não queriam que Hagrid ficasse magoado por causa da curiosidade deles. Voltaram correndo para o Saguão de Entrada, Rose muito calada desde que deixaram a orla da floresta.

— Preciso ir à biblioteca, agora — disse.

— Temos aula de Transfiguração daqui a dez minutos! — rebateu Wayne.

— Eu sei — Rose falou, apenas, antes de sumir de vista dos amigos.

Alvo e Wayne ficaram parados, as testas franzidas, sem saber o que dizer. Continuaram o trajeto até a Torre da Grifinória, uma vozinha martelando a cabeça de Alvo, repetindo para que ele parasse de ficar pensando no que Hagrid havia dito, que ele seria expulso se se metesse em mais uma confusão por causa do vaticínio. Mas as coisas estavam caminhando tão bem que ele achou que seria burrice abrir mão de suas investigações. Quando se aproximaram do retrato da Mulher Gorda, Wayne levantou um assunto:

— Quem você acha que ajudou a Legião Escarlate a se instalar em Hogwarts?

— Não sei — respondeu Alvo com franqueza. — Contudo, acho melhor você não ficar dizendo essas coisas muito alto. As paredes têm ouvido, sabia? — A Mulher Gorda pediu a senha. — Chifre de unicórnio.

Wayne pareceu confuso.


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Notas finais do capítulo

E aí, gente o que vocês acharam do capítulo? O que esperam da fanfic daqui para frente? E além do mais, o que vocês acharam de Animais Fantásticos e Onde Habitam? Deixem aqui nos comentários, mas SEM SPOILER, hein! Não vamos estragar a experiência de ninguém. ;)

Galera, me desculpem pela demora para postar. Sério, de coração. Prometo voltar a postar em quinze dias novamente, sem atrasos, talvez voltar a rotina de um capítulo por semana, o que vocês acham?

Curiosidade do capítulo: Na minha cabeça, Kingsley Shacklebolt é casado com Hadassa (do hebraico Hadassah, derivado da palavra hadas, que significa "murta". Seu nome significa "aquela que protege") e tem um filho: Neil (significa "aquele que vence").

Até o próximo capítulo,

Tiago



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