Página Avulsas: Madrugada escrita por The Bellie


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Realmente espero que gostem, embora esteja beeeeem dark, só um consolo para quem pensava que a Peregrina nunca mais voltaria :v
Eu realmente amo Human de paixão ♥
Beijocas ^^



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A cada 40 segundos, uma pessoa tira sua própria vida no mundo inteiro.
A cada 40 segundos, uma luz em potencial, mas que já estava prestes a se apagar, some, para nunca mais aparecer.
A cada 40 segundos, alguém se entrega para sua mais nova amiga, a Morte.
E a cada madrugada em claro que se passava, eu tentava compreender a dor tamanha que faz alguém entregar o jogo, sabendo que nunca teria motivos plausíveis para tal, mesmo que o desejasse. Eu não perdi algum parente querido, minha carreira profissional não tinha ido para o buraco, eu não estava entregue à solidão sem amigos, nem tive meu coração partido. Mas eu sentia o vazio. Tão plausível e doloroso que quase se tornava insuportável. A curiosidade para entender o que levava alguém a tirar a própria vida me consumia, eu queria ter a certeza de que uma decisão daquelas na minha era pura estupidez, e realmente o era. Sempre há uma luz, algum porto seguro, mesmo que tudo esteja desabando em nossas cabeças, mesmo que nos encontremos na companhia da solidão; se não há um porto seguro, seja a sua própria força.
Infelizmente, o mundo não irá parar para escutar e resolver seu problema, dificilmente encontrará ajuda vinda de alguém que não seja você mesmo e muitas vezes os desafios parecerão insuperáveis, mas sempre há uma maneira.
Muitos encontram a paz na solidão; eu só encontrava ressentimento, mágoa e dor.
Eu encontrava o vazio dentro de mim, o vazio mais doloroso que já enfrentara: a indecisão horrível de ir ou ficar, de lutar ou desistir, de sentir ou não sentir. Eu estava pendendo no meio termo, sem reação, sem forças para mudar, eu estava sozinha, novamente, enfrentando uma noite ruim.
Não vou alimentar esperanças de um fim próximo. A covardia se manifestava e confirmava presença em meu interior, me impedindo de tomar qualquer decisão boa ou ruim; eu estava perdida, cansada, maltratada e abandonada no meio da longa e tortuosa estrada que era a vida.
O vazio doía, a consciência dos meus atos me atormentava, a solidão me machucava profundamente, a falta de algum apoio real me tornava fraca e eu precisava ser forte. Precisava preservar a ilusão de que eu estava inteira e sorridente, de que meu coração não estava quebrado em pedaços. Dói. Dói. Dói. O vazio dói. E essa é a única coisa que consigo processar no momento: a dor. Esse peso no peito que incomoda, que dilacera, que paralisa, que suga o ânimo e semeia o medo. Eu juro que tentei. Juro que lutei pela esperança, pela minha felicidade, pelo meu amor, mas isso seria ir contra minha natureza, negar todos os meus grandes defeitos, todo o meu jeito sensível e louco de ser.
A dor era real. Era um alívio e uma condenação mais essa madrugada acordada, com os demônios dentro de mim gritando meus maiores medos; meu pavor de ficar sozinha, agora se tornando uma situação real, tomando cada pedacinho de mim com receio. Ninguém podia ouvir meu choro, ninguém estava lá para saber como eu realmente ando, eu estava por minha conta enfrentando algo mais forte que minhas forças permitiam, como isso dói!
Se a ideia de me juntar aos números de suicídio passou pela minha cabeça? Muitas e muitas vezes.
Eu tenho motivos para fazer parte desses números? Nenhum sequer, por isso continuo aqui.
Isso significa que essa dor não é tão grande assim? Infelizmente não.
Acredito que cada um supera seus problemas de maneira diferente, enfrenta seus demônios de outras formas, lida com a tristeza por diferentes meios. Cada um suporta o que aguenta suportar e aquela dor ultrapassava meus limites, sugava todas as minhas forças e me tornava alguém completamente indefeso. Eu precisava mudar, ignorar a covardia, assumir riscos, pular da corda bamba para o desconhecido, precisava reagir, mas eu não conseguia, como isso doía! A verdade é essa, eu precisava aprender com a dor, precisava tomar qualquer atitude, pequena ou grande, para começar a mudar, mas eu não conseguia. A dor me afetava de tal modo que me impedia de esboçar qualquer coisa, mas eu estava decidida de que eu daria tudo de mim para conviver com a dor. Eu não serei mais uma pessoa daquela estatística hoje, me dói saber que, infelizmente, enquanto escrevia isto muitas pessoas cederam e se renderam. Mas no final, meu coração se enchia de gratidão por estar viva, atribuía o fato de que sentia dor ao fato de ser capaz de sentir algo e isso era maravilhoso!
Quem sou eu? Alguns já me chamaram de Peregrina, mas deixei de ser a tal há muito tempo. Me chame do que quiser, mas que conste que um monstro como eu não precisa de nome. Eu sou só mais uma pessoa que ainda não sabe suportar os problemas fúteis do cotidiano.
Eu sou eu.
E ser quem eu sou dói.

"The weight of the world is pullin' me down
Every breathe feels like I'm gonna drown
I'm the only one left alone on this earth hold
Singin' this song
But can't find the words
Cus I could use a hand sometimes" (Human, Krewella)


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Notas finais do capítulo

Drama, drama, drama; já devem ter acostumado do Caderno da Peregrina xD
Eu amo comentários, que conste, até a próxima fic :3