As Vantagens de Ser Um Garoto escrita por Gynger


Capítulo 8
Pijama de Hospital


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do capítulo e desculpem a demora.
Beijos e boa leitura ♡



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Crayon, é você?! — a voz de alguém chegou até mim em meio ao barulho das sirenes. 

Quem quer que estivesse me chamando eu não conseguia responder, da minha garganta só saía tosse. 

Meus olhos abertos não faziam a menor diferença, pois ardiam e eu não conseguia enxergar nada. Tudo o que eu sabia é que a minha cabeça estava encostada na porta.

Juntei todas as minhas forças e dolorosamente me ergui e apoiei as costas na porta, dando pequenos socos atrás de mim. 

— Viu, ele está aqui! — era uma voz diferente. E então silêncio. Em pânicos dei mais socos na porta. 

— Crayon, afaste-se da porta! — gritou a primeira voz. 

O quê? Eles tinham ideia do esforço que foi me apoiar aqui? 

Uma batida violenta na porta me fez dar um solavanco para frente. Meus pulmões que antes estavam em brasas agora eu tinha a mais absoluta certeza que eu os havia perdido. 

No chão, tentei rolar para fora do caminho da porta. E, quase que imediatamente,  veio o estrondo da porta sendo arrombada. 

— Crayon! — mãos pesadas me ergueram. Arrisquei a abrir os olhos. Eu sabia que não eram os bombeiros porque aquelas vozes me eram desconfortavelmente familiares.  

— Twist... — foi o que tentei dizer mas saiu em forma de tosse.  

Twist me ergueu, mas para os braços de outra pessoa da qual me agarrei desesperadamente. Com uma blusa amarrada no rosto para filtrar a fumaça, levei um instante para reconhecê-lo. Wells. 

— Segura firme. — disse ele colocando um pano sobre meu rosto. 

No entanto, tive a sensação de cair e enfim tudo ficou preto novamente. 

Os bips me incomodavam tanto que quase me fazia desejar ter morrido naquele quarto. 

Encarei com uma carranca aquela gororoba, que o hospital chamava de comida, na minha frente e mexi a sopa com a colher. Sua aparencia era esverdeada e me dava ânsia de vomito. Irritada deixei a colher cair no prato, fazendo um barulho de metal contra metal. 

Afinal, por que Wells me salvaria? Wells e Twist?

— Larry. — meu tio se afastou da janela e sentou-se ao meu lado. — Você tem que comer. — disse em tom de súplica. 

— E você tem que acreditar em mim. — repliquei, rispida.  

— Nós não temos provas! 

— Têm à mim! O quarto estava trancado! FOI ELE! — gritei. 

— Shhiu! — pediu meu tio levantando-se desesperado. Sua veia saltando no alto da testa era o sinal de que ele estava prestes a ter um treco. — Eu estou no meu limite, Larry! — ele rodou pela sala respirando fundo para relaxar, então voltou para o meu lado. Sua voz saiu baixa como o ronronar de um gato. — Rowley vai passar uns tempos na escola militar. 

— O que? — o ar me faltou. Eu não podia estar ouvindo direito. 

— A mesma que O'Lakes, e você seria mandada também se nao fosse...  

— O senhor está dizendo que Rowley não vai ser punido, é isso? Depois de tentar matar Celina e me matar?! 

— Ele vai! 

— Não! Eu sei o que você quer dizer com "uns tempos". Ele vai sair impune! 

— Larry, não há provas! 

— E a droga do esperma, foi pro espaço?

— Você não entende. Mesmo que tenha o DNA de Rowley lá, ele era namorado dela. E de acordo com o depoimento dele houve relação sexual antes da festa então isso não prova que ele seja o culpado. Além do mais, essa merda dessa menina não acorda! 

— Merda? Essa merda poderia ser eu. Essa merda foi a sua irmã! 

— Larry, os problemas são maiores do que você consegue imaginar! Isso envolve dois grandes políticos e a sobrinha do vice-diretor da escola que está em proteção a testemunha! — eu quase não podia acreditar que ele estava falando aquilo. — Larry, você tem que ficar quieta! Pelo menos até encontrarmos o seu irmão. 

— Isso se ele não me encontrar primeiro né. — murmurei amargurada. 

Meu tio ficou em silêncio por um momento.  

— Não foi Rowley quem pôs fogo no seu dormitório.  

— Então quem foi? — indaguei. 

— Não sabemos. — assim que ele respondeu com seu tom de desculpa eu dei um tapa na bandeja, que voou para cima esparramando sopa para tudo quanto é lado. 

Meu tio estava tão acostumado com meus ataques de fúria que sequer se assustou. 

O dia passou exatamente como os outros três. 

Eu estava no mesmo hospital de Celina Johsnon mas eu não conseguia encontrá-la em lugar nenhum. Depois de explorar o hospital, com o único propósito de encontrar Celina, eu ia para o terraço onde deitava sob o sol. 

Respirar já era uma tarefa árdua ainda mais deitada e com as costas arrebentadas. Pelo menos, por aquele sol valia a pena. Ainda mais hoje que estava um tanto frio e aquele moletom do hospital, que parecia mais um pijama fino não ajudava em nada. 

— Se divertindo, Crayon? 

Uma surpresa era realmente a última coisa que eu precisava no momento. Eu até me ergueria do chão caso não fosse horrivelmente doloroso. 

— Veio checar suas vítimas, Rowley? — minha voz saiu tão azeda que até pude sentir o gosto. 

Rowley sentou-se ao meu lado e, com um suspiro, também apoiou as costas no concreto. 

Encarei ele e ele me encarou de volta. Ficamos assim até o silêncio ser quebrado.   

— Você está horrível. — murmurou Rowley referindo-se a todos os curativos no meu rosto. 

Deixei escapar uma risada. Os fios negros do cabelo dele estava todo desgrenhado e gritando por um corte, sem falar na barba que estava sem fazer há dias! 

— Olha quem fala, parece até que você teve uma... 

— Overdose. — interrompeu-me ele. 

Só então que reparei que ele vestia a mesma roupa horrivel que o hospital dava aos pacientes.

Assim, outra risada me escapou, tornando-se em um ataque de risos. 

O rosto de Rowley transformou-se em uma carranca e eu virei o rosto para cima ainda tendo dolorosos espasmos de risada. 

O céu estava peculiarmente lindo com as nuvens negras e pesadas tentando, em vão, cobrir o sol. 

— Me desculpe... mas é muito engraçado quando o próprio diabo tenta se matar. 

— Eu não tentei me matar! — defendeu-se.

Furioso, ele levantou-se e se afastou. 

Subitamente tive outro ataque de risos. 

— Como sabia que eu estava aqui? — indaguei quando ficou doloroso demais para continuar a rir. 

— Eu não sabia. — respondeu Rowley, seguido de um barulho de isqueiro. 

— Fala sério? — revoltei-me ao me contorcer para olhá-lo encostado em uma das caixas d'água. — Eu quase morri sufocada! Meus pulmões queimam só de respirar ar limpo!

Ele revirou os olhos e guardou o cigarro. Até que vê-lo de cabeça para baixo era engraçado, sua calça era um tanto curta, deixando exposto seu tornozelo. 

— Então você deveria me agradecer por ajudar a salvar a sua vida em vez de choramingar igual uma gazela. 

— O quê? — reagi, incrédula, meu pescoço doendo por conta da posição. — Gazelas não choramingam. 

Eu não sabia exatamente se elas realmente faziam isso mas não interessava. O que aconteceu com ele? Antes Rowley mal podoa olhar para mim que caía aos pedaços e agora ele parecia...  

Sua aproximação brusca interrompeu minha linha de pensamento.

Ele agachou-se quase em cima da minha cabeça, fazendo-me corar. 

Rolei de barriga para baixo, a fim de levantar-me. Porém Rowley me puxou, fanzendo-me parar entre suas pernas. De joelhos e com as mãos apoiadas no chão, senti cada célula do meu corpo arder. Pior do que quando eu sufocava com a fumaça. 

Com sua mão livre, ele ergueu meu queixo para que nossos olhos se encontrassem e aproximando mais nossos rostos. Sua respiração quente atingia minha face, trazendo consigo um cheiro sutil de cigarro. 

Por um instante minha mente deu branco e eu achei que ele fosse me beijar. 

— Você acha que eu pus fogo na escola não acha. — sussurrou. Não, não era uma pergunta. — Eu contei a Wells que havia trancado o quarto contigo dentro. Eu. — seus olhos azuis continham uma listra dourada que eu nunca havia notado, pareciam quase magnéticos e hipnotizantes. 

— Não acredito. Você se acha o todo poderoso não é? O rei da selva. O Leão! 

Rowley riu e sua mão deslizou para a minha nuca onde ele me segurou firme. 

Novamente achei que ia me beijar. 

Por algum motivo eu me mantinha paralisada. 

— Engraçado. — disse, sério. — Como você é tão frágil, tão menininha e mesmo assim se fez de forte e enganou todo mundo... 

Eu não estava nem ouvindo ele, mesmo com sua boca a poucos centimetros da minha. Em um impulso, cobri o espaço. 

Rowley caiu para trás como se eu tivesse batido nele. 

Aterrorizada, levantei-me e saí correndo. 

Passei o dia no quarto roendo minhas unhas e imaginando o quanto Rowley deveria estar rindo de mim. Alguém cuja namorada era ninguém menos que Celina Johnson... Não, alguém que havia tentado matar ela e me matar também! Como eu pude beijá-lo? Eu me sentia como se tivesse vendido minha alma ao diabo. 

Olhando a chuva cair do lado de fora da janela eu só conseguia pensar em Rowley. E pela primeira vez eu me perguntava se ele realmente falava a verdade. E não era porque ele estava sendo convincente o suficiente, era porque eu queria acreditar. E isso me enchia de ódio.

— Larry? — mal percebi meu tio entrar. — Trouxe sua comida. 

Pensativa, saí da janela e me enfiei na cama, pegando o apoiador com a bandeja.  

— Temos que conversar. — disse,  suavemente,  meu tio. 

Encarei ele desconfiada. Quando  começava a ronronar daquele jeito era porque tinha certeza de que eu não ia gostar da notícia. 

— O que é? — indaguei, curiosa, mergulhando a colher na sopa agora azulada. 

— Você sabe que a regra mais absoluta do colégio é que é apenas permitido para meninos, certo? — assim que assenti, ele continuou. — Portanto você não poderia estudar lá, certo? Então, depois de longas conversas com o diretor, várias reuniões com os investidores, chegamos em um consenso que beneficiará a todos. — meu tio deu um sorriso que parecia mais assustado do que animado. Na verdade, não tinha nada de animado naquele sorriso. — Então, minha querida, o colégio a partir desse semestre abrirá portas para o público feminino também. 

Larguei a colher e encarei ele, chocada. 

— Quer dizer que vai contar pro mundo que eu sou uma garota? — perguntei, eu podia sentir um ataque de fúria começando a me dominar. — Ta maluco?! Esses garotos vão acabar comigo! — gritei. 

— Calma, Larry, ninguem vai encostar em você! Rowley já foi para a escola militar no fim dessa tarde e O'Lakes ja está lá... 

— Ta, mas e Wells? Twist, Troy, Steph?! 

Agora quem me olhava pálido era meu tio. 

— E-e-eles sabem? — gaguejou. 

Piscando, engoli em seco. 

— O que te faz pensar que eles não saberiam? 

Fechei os olhos furiosa. 

 


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Notas finais do capítulo

:33
Spoiler: Hora de conhecer dona Kelly *-*'
Eai o que acharam do beijinho?



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