As Vantagens de Ser Um Garoto escrita por Gynger


Capítulo 6
1, 2, 3! Que tal mais uma vez?


Notas iniciais do capítulo

Oii, genten !
To muito feliz com os comentários, por isso até terminei o capítulo mais cedo que toodos os outros.
Muito obrigada pelo amorzinho, espero que gostem e boa leitura ♥



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Eu já estava criando pânico daquela delegacia. Os policiais me olhando de soslaio enquanto continuavam com seus afazeres me deixavam indignada, tão olhando o quê? Meu tio afagando de leve meu braço me deixava ainda mais irritada ainda. Minha vontade era de explodir ele, explodir aquele lugar, explodir todo o mundo.

— Vai ficar tudo bem. – tranquilizou-me a advogada com um sorriso incentivador.

Será que se eu lhe desse o dedo do meio ela poderia fazer a minha vida ainda mais difícil do que já estava?

Assenti desanimadamente. Claro que iria ficar tudo bem. Tudo sempre fica, não é mesmo? Agora só falta avisar ao meu sistema nervoso e à todos os hematomas que tenho pelo corpo.

O detetive me levou até uma salinha, onde me algemou à mesa e, sem cerimônia alguma saiu, deixando-me sozinha.

A sala era fria, cinza e sem graça. Lembrava o porão de Kelly. O bendito porão de Kelly...

— Larry Crayon? – uma mulher de jaleco branco e um bloquinho de notas adentrou a salinha. Seus saltos brancos fazendo um barulho irritante ao chocar-se com o piso enquanto ela se aproximava de mim. – Eu sou a dra. Cara. – dizia enquanto sentava-se de frente para mim. – Tudo bem com você?

Ficamos em silêncio por um momento até eu me tocar que aquela não era uma pergunta retórica.

— Estou sendo presa por estupro. – sacudi minhas algemas. – Melhor impossível, doutora.

Ela limpou a garganta e seus olhos verdes me analisaram atentamente. Cara era bonita, devia estar na casa dos trinta. Seu cabelo cor de mel estava preso em um coque bem apertado rente à nuca e seus lábios estavam pintados de vermelho. Sua aparência era impecável, nenhum fio solto em seu jaleco ou dobra indesejável. Ela parecia ser aquele tipo de mulher que vivia para trabalhar e trabalhava para trabalhar ainda mais.

— Entendi. – ela assentiu escrevendo alguma coisa no bloquinho e então endireitou-se. – Ok, Larry, por se tratar de uma menor, todos nós concordamos em deixar as coisas para você o menos traumatizante possível. – eu entendi o porquê de ela destacar o possível, aquilo já era traumatizante o suficiente para me fazer dormir à base de remédios pelo resto da vida.

Recostei-me na cadeira e assenti, em completo silêncio.

A doutora limpou a garganta e prosseguiu.

— Então, eu vou precisar que você retire as suas pecinhas... – antes de ela terminar, eu sacudi as algemas novamente. – Não, não, não agora. Eu vou te levar para a minha sala e lá eu, sozinha, vou te avaliar, ok?

Assenti, tentando não fazer careta.

Ela foi até a porta e a abriu, o detetive Evans entrou com a chave das algemas.

Enquanto atravessávamos o corredor até o consultório da dra. Cara, meu tio e a advogada nos acompanharam, seguidos de um homem desconhecido.

— O que vai acontecer? – perguntou meu tio, trêmulo. – Ela não vai passar outra noite aqui, não é?

— Quem é esse? – perguntei apontando o queixo para o desconhecido. – Mais platéia?

— É o advogado da escola. – respondeu meu tio quase em um murmúrio.

— Louis Parkson. – o advogado se apresentou.

— Larry Crayon. Até apertaria a sua mão, mas... – balancei as algemas dando um sorrisinho de desculpa. Aquele parecia ser meu movimento favorito do dia.

— Desculpem ela. – pediu meu tio sem graça. – É só uma adolescente. – e então ele sussurrou para mim. – Você tem que ser gentil, Larry. Para que possa sair daqui o mais rápido possível.

Revirei os olhos, eu já estava sendo incrivelmente gentil!

— Vocês não podem entrar. – disse a doutora me empurrando para dentro de uma salinha. – E nem o senhor, detetive. – o detetive Evans entregou-lhe a chave e ela fechou a porta.

O consultório era pequenino, parecia um armário. Havia uma maca branca encostada na parede ao lado da porta, e no canto uma mesa com uma cadeira cinza. Tudo era bem simples, até os quadros na parede com fotos do corpo humano e trocadilhos médicos. Como um quadro de Hipócrates bem em cima da maca: É mais importante conhecer a pessoa que tem a doença do que a doença que a pessoa tem.

A doutora apoiou-se na mesa e retirou seu bloquinho de notas do jaleco. Ajeitando a caneta sobre o papel, seus olhos novamente me analisaram com atenção enquanto eu me sentava na maca.

— Você não é de falar muito, não é? – o perfume feminino dela era leve e sutil, como o de uma mulher discreta. Coisa que me incomodou bastante enquanto ela me soltava. – Eu... costumava trabalhar com adolescentes em comunidades carentes, então... você pode confiar em mim.

Assenti levemente e, antes que ela solicitasse, levantei-me e comecei a desabotoar meu uniforme. Não me preocupei em retirar a gravata. Fui logo tirando a jaqueta e a camisa, desenrolei a atadura que pressionava meus seios e então retirei as calças. Segurar as lágrimas era consideravelmente mais difícil do que imaginei, aquilo era bem mais humilhante do que levar uma coça de Brody e Rowley na frente de toda a escola. No entanto eu queria colocar a culpa do choro no pano gelado da gravata que pousava sobre a pele entre meus seios. Assim que as pontas dos meus dedos tocaram a cueca boxers ela estendeu a mão para que eu parasse.

— É o suficiente. – Cara pousou o caderninho na mesa e se aproximou de mim com uma expressão indecifrável no rosto. – Esses... – ela limpou a garganta e eu a encarei, as lágrimas descendo continuamente. – Que feridas são essas, Larry, o que é isso? – perguntou por fim.

— Sãs as vantagens de ser um garoto. – dei de ombros. E, ao ver que ela não entendera, continuei. – A gente briga na escola, é o único jeito de se enturmar... uma questão... – dei o melhor sorriso que meu choro permitiu. – de status.

— Vocês brigam todos os dias? Eu vou ter que analisar isso melhor, Larry. Você... você por acaso entende a gravidade da situação?

Pior é que eu entendia. Eles poderiam colocar a escola inteira sob investigação. Manter uma menina disfarçada em uma escola só para garotos e dois suspeitos de estupro já era muito ruim. Agora a menina em questão tinha hematomas roxos, vermelhos, recentes e velhos literalmente do tornozelo até o pescoço. A escola poderia responder por cumplicidade em agressões, lesões corporais dentre outras coisas. A lista era grande e eu não conseguia pensar nela nessa situação.

A doutora me entregou a camisa e eu a vesti rapidamente, abraçando-me como se estivesse com frio. O que de fato eu estava.

Com cuidado, Cara acariciou meu ombro e sua mão deslizou para as marcas que Rowley deixara em meu pescoço.

— Meu Deus... – ela murmurou. – Vamos fazer uns curativos antes de sairmos, ok?  

Eu já estava preparada para ficar em um cela cheia de mulheres doentes prontas para me atacar e me machucar devido à minha aparência. Entretanto, fui liberada. Docemente liberada. O que quer que a minha advogada mais o advogado da escola fizeram, de uma coisa tenho certeza: eles poderiam casar porque formavam um time e tanto.

­­Dentro do carro, meu tio segurou afagou meu braço.

— Larry... – começou cautelosamente. – Quem...?

— Já disse que foi briga. – interrompi-o um tanto ríspida. – Eu só queria me enturmar. Eu que procurei.

Não era fácil mentir. O que, briga? Briga é quando ambas as partes tinha 50% de chance de ganhar. O que eu tinha com o bonde de Brody e Rowley não era briga. Ser jogada ao chão e ser chutada por um monte de garoto ao mesmo tempo definitivamente não cabia no termo “briga”.

Engoli em seco e retirei a mão do meu tio de cima do meu braço.

— Eu to bem e vou ficar bem. – assegurei-lhe e então limpei a garganta. – Isso significa que vou ter meu próprio quarto? – eu não queria criar esperanças mas como acionar o alarme de incêndio, pular a janela, pegar carona com um desconhecido e meter o pé seria possível com aquela confusão toda? Ao menos um quarto só para mim...

— Não, você vai continuar com Rowley. Escuta, Larry, eu sei. Ainda mais agora que ele sabe que você é uma garota... mas não se preocupa. Eu tenho certeza que ele não é o culpado e ele não vai te fazer mal.

— Ah, é, e como você sabe? – indaguei frustrada.

— Ele é um ótimo garoto e tem um álibi irrefutável.

— Que álibi? Dinheiro?

— Larry!

Revirei os olhos e fechei a cara. Aquilo era simplesmente absurdo e inimaginável. Será que eu devia contar a ele que a culpa de eu estar toda ferrada era do anjinho Rowley? E o que esse anjinho iria fazer comigo assim que eu entrasse no quarto? Ele iria me arrebentar! Ou pior, poderia me esperar dormir para me estuprar! E se bobeasse me estupraria ele e o bonde inteiro.

Passamos por um estabelecimento que parecia uma sorveteria. Uma sorveteria aberta àquela hora da noite? Talvez fosse 24h, mas foi aí que uma ideia louca me ocorreu.

— Eu quero sorvete. – murmurei comigo mesma. E se não desse certo?

— O quê? – meu tio virou-se para mim.

— Para o carro, eu quero sorvete. – falei mais alto. – Pelo menos isso eu posso?

Ele engoliu em seco e pediu para que parasse o carro.

Eu saí e, assim que o vi abrindo a porta para descer também, eu o impedi.

— Deixa eu ir sozinha. – pedi em tom de súplica. – Preciso de ar fresco e um pouco de tempo só. Pode ser, tio?

Ele pareceu pensativo mas logo cedeu e eu me vi entrando a sorveteria com o coração à mil. Era agora ou nunca.

 Estava completamente vazia, aparte pelo caixa. Um senhor de meia idade que contava distraidamente umas notas de dinheiro.

— Oi. – cumprimentei, cabisbaixa. O sentimento de culpa e medo pareciam querer rasgar meu peito. – Tem algum banheiro aqui? – mas eu não podia dar para trás agora. Não agora, não tão perto!

— Primeira esquerda, segunda direita. – disse ele apontando para um corredorzinho que eu não havia notado.

— Ok. – atravessei o corredor e encontrei o banheiro, a adrenalina já trabalhando em meu corpo.

Como eu suspeitara, havia uma janelinha estreita bem em cima do sanitário. Devido à minha altura, não foi difícil alcançá-la. O problema mesmo foi na parte dos seios, que estavam bem doloridos por causa das ataduras que ficaram no consultório da dra. Cara e meus hematomas de estimação.

O lado de fora estava um pouco mais frio e assustador do que eu esperava. Mas eu era um menino, não era? Seria bem mais fácil para chegar até Kelly e os riscos de ser estuprada eram menores.

Enquanto eu corria em direção contrária à sorveteria e, consequentemente ao carro, eu acabei me deparando com uma ruela escura. Nem pensei duas vezes, entrei mesmo. Se eu passasse por essa ruela, mais duas e eu chegava até a pista onde eu podia pedir carona.

Antes de terminar a segunda ruela eu já estava cansada e ofegante. Parei para recuperar o fôlego. Aquilo era uma boa ideia? Fugir? Eu não estava simplesmente fugindo da escola ou do meu tio, eu estava fugindo da policia também. Olhei em volta, desconfiada e nervosa. Decidi que era melhor eu continuar me movendo.

Um barulho me fez dar um salto e recomeçar a correr mesmo sem fôlego. No entanto, não fui rápida o suficiente. Algo me acertou e me jogou de peito no chão.

Gritei e me debati para tirar quem quer que estivesse em cima de mim, mas a pessoa era mais forte e simplesmente me virou de barriga pra cima. Gritei ao ver a silhueta do cara de capuz ainda em cima de mim, a rua era escura demais e não dava para ver o rosto dele.

Cobrindo a minha boca com uma das mãos, a outra foi direto à minha camisa rasgando-a e expondo meus seios. Mordi sua mão e gritei ainda mais alto.

Mais que droga de ideia estúpida foi essa de fugir?

— Porra, Crayon! Cala a boca! – reconhecer a voz do cara que estava prestes a me estuprar realmente me fez ficar em silêncio.


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Notas finais do capítulo

Madrugadinha, muita pouca gente vai ver e não vai ter muito alcance. Mas precisava postar.
Não esqueçam do comentáriozinho incentivador de vocês e muitooo obrigada por estarem acompanhando. Digam a opinião de vocês, quem vocês acham que está prestes a estuprar nossa Larry?
Beijos e até a próxima ♥