Ele nunca pensou que um dia teria a maturidade para conseguir fazer isso, mas ali estava, de frente ao Professor Elm, entregando-lhe a pokébola com seu Feraligatr. Após sua ultima luta contra Gold no Planalto Indigo, Silver finalmente foi capaz de enxergar o quão errado ele estava fazendo as coisas, tratando seus pokémons sempre com violência e desprezo. Ele finalmente conseguiu entender o verdadeiro significado de ser um treinador. Após esse dia, o garoto amadureceu bastante e mudou seu pensamento, disposto a consertar todos os erros que havia feito, começando pelo maior deles: o pokémon furtado.

A única coisa que o incomodava naquele local, por algum motivo, era a presença de Gold. Ele não imaginava que o treinador estaria no laboratório justo naquele momento.

O professor piscou os olhos atônito, sem acreditar no que via e ouvia. Após alguns segundos ele sorriu, ajeitando seus óculos e pondo uma das mãos sobre o cabelo laranja do garoto.

''Silver, fico muito contente ao ver que se arrependeu de seus atos. As pessoas mudam, por isso sempre devemos dar uma segunda chance a elas'' ele disse, pondo a pokébola nas mãos do garoto. ''Fique com ele e enxergue isso como um recomeço; tenho certeza que seu pokémon irá te apoiar nessa nova vida''

O ruivo não conseguiu reagir após ouvir aquelas palavras tão confortantes do Professor. Ele realmente merecia toda essa gentileza após tudo que fez? Olhando para o objeto em suas mãos, o garoto não conseguiu impedir que as lágrimas caíssem e banhassem seu rosto. Ele estava chorando, muito. Sentiu-se envergonhado, aliviado, mas principalmente feliz ao sentir o braço de Gold em volta do seu ombro, confortando-o. O menino nunca imaginou que os abraço daquele que denominava ''rival'' poderia ser tão acolhedor.

''Irei cuidar dos meus pokémons com todo o amor que eu puder dar... e-eu prometo!'' ele disse em meio aos soluços.

Após finalmente se acalmar, ele caminhou com pressa para fora do laboratório, ainda constrangido por ter se mostrado tão sentimental na frente do oponente.

Na verdade, o termo ex-oponente talvez se encaixasse melhor. Ele não via mais motivos para viver competindo com o outro.

''Silver, espera!'' o moreno gritou e o outro parou, esperando para ouvir o que o garoto tinha a dizer.

''O que é?'' ele perguntou, soando um tanto grosseiro.

Essa era a pergunta. O que ele queria? Gold o chamou sem motivo nenhum, apenas queria que ele permanecesse ali por mais tempo. Já faziam meses que os dois não se viam.

''É só... bom, muito legal sua atitude. Fico feliz sabendo que cuidará melhor de seus pokémons'' ele disse. Foi a primeira coisa que veio em sua cabeça, mas eram palavras sinceras. O ato do ex-rival fez com que seu coração se enchesse de alegria.

''Sim, eu prometo que irei'' o ruivo disse firme.

E então apenas silêncios. Passaram-se longos segundos naquele clima indesejável, ambos querendo falar mais, porém não encontrando as palavras certas.

''... tchau...'' o maior disse, um pouco sem graça ao ver que a única coisa que conseguiu dizer foi uma despedida.

''... tchau'' ele respondeu, caminhando com pressa até sair da vista de Gold, que retornou para casa com a promessa de que o garoto cuidaria de seus pokémons com amor ecoando em sua cabeça.

Um mês depois, o Golbat de Silver evoluiu para Crobat.

 

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Ele conseguiu. Após meses de treinamento, Gold finalmente havia conseguido derrotar o misterioso treinador no topo do Mt. Silver. Vários sentimentos invadiram seu corpo: felicidade, por ter conseguido derrotar o verdadeiro campeão; dúvida por não saber a identidade do mesmo e, também, saudades. Foram meses que ele passou longe de sua mãe, de seus amigos e dele, apenas treinando duro na perigosa montanha com seus pokémons como única companhia. Ele mal podia esperar para contar a todos sobre sua vitória, por isso imediatamente foi visitar sua mãe e o professor Elm, em New Bark. Agora, montado em seu Dragonite, voava para a cidade de Blackthorn, onde contaria a Lance suas novidades — ele certamente estaria no santuário dos dragões.

Quando chegou, acariciou seu pokémon dragão e o guardou em sua pokébola, indo finalmente até o santuário com a ajuda de Lapras. Ele andava animado, mas seus passos foram pausados ao ver uma certa figura ruiva em frente a entrada do templo, e não era Lance.

''Silver'' ele falou um pouco baixo, apenas alguns passos de distância.

Quando o menor se virou, Gold sentiu seu coração bater mais forte e ao mesmo tempo um frio na barriga. Havia sido assim nas últimas vezes que encontrou-se com ele antes de subir a montanha, porém agora estava mais intenso. Na verdade, ele sentia-se dessa forma apenas em pensar no garoto, mas nada comparado ao estar de frente ao próprio. Silver também parecia estranhamente surpreso ao ver o garoto.

''Olá, Silver. Já faz tanto tempo! O que faz aqui?'' perguntou o maior sorridente.

''Você sabe que eu treino aqui, idiota'' respondeu, com sua delicadeza de sempre. ''Onde raios você esteve?''

''Treinando também, e sabe o que mais? Eu venci o campeão! Sim, o campeão que ficava no topo do Monte Silver, eu venci!'' disse todo animado, orgulhoso de suas palavras.

''Huh, havia outro campeão? Aposto que era ridículo demais pra ficar na Liga'' comentou em tom de deboche.

Gold não pode negar que sentiu uma pequena pontada de decepção com o mais novo. Por algum motivo ele esperava ouvir ao menos um ''você não é tão ruim assim, parabéns!'', mas isso não aconteceu. Ele sabia que isso nunca aconteceria, era Silver afinal, por que ele diria algo assim? O moreno, porém, já estava acostumado com o menino, por isso logo ignorou isso e sorriu, observando o outro sentar-se na beira da ponte, olhando para o lago na sua frente. Ele fez o mesmo e sentou ao seu lado. Era uma ótima sensação, a água molhava a parte exposta de suas pernas enquanto uma agradava brisa tocava seus rostos, fazendo o cabelo laranja de Silver voar levemente sobre seus ombros. Silêncio novamente, mas dessa vez não parecia tão incomodo. Era um momento de paz entre os dois colegas que há meses não se viam.

''Como vão seus treinamentos e seus pokémons?'' o moreno perguntou, começando finalmente a falar os assuntos que queria.

''Lance tem me treinado, então acho que melhorei bastante'' ele disse, ainda olhando para a água. ''meu time está cada vez mais incrível''.

Apenas com essas palavras Gold pode perceber que Silver realmente havia mudado bastante. Antes ele diria a mesma frase, porém com tom esnobe e maldoso. Agora, entretanto, ele falava com um certo amor no tom de voz, era como se ele realmente apreciasse seus pokémons. Gold estava feliz com o visível amadurecimento.

Silêncio mais uma vez.

''bom..'' o ruivo começou a dizer. ''acho que você não é tão ruim assim afinal, pra derrotar o pseudo-campeão''

O moreno riu, sabendo que aquela era a forma que o colega falava 'parabéns!'.

''Você sentiu minha falta, não foi?'' ele brincou, rindo de sua própria piada para receber um soco no braço logo depois.

''Cala a boca, você que deve ter chorado por eu não estar lá te socando o tempo inteiro'' o ruivou brincou, também.

Agora os dois riam. Desde quando os dois haviam ficado tão parceiros? Mesmo que se conhecessem há mais de um ano, sempre pareciam distantes um do outro, e agora estavam tão próximos, como se os anos de rivalidade não tivessem existido. Na verdade, Gold nunca se considerou um rival de Silver, pois durante todo esse tempo a única coisa que ele desejava era que o rapaz enxergasse o quão ruim ele estava sendo aos seus pokémons, e que amor e confiança eram o segredo para ter um bom time. Por isso, o garoto estava realmente feliz ao ver a mentalidade de Silver mudando — prova disso era seu Crobat.

''Se você veio aqui pra procurar o Lance, ele está no ginásio com sua prima Clair'' o menor avisou.

''Oh, tudo bem, talvez eu fique aqui mais um pouco''.

Silver riu sarcástico. ''Como eu disse, morrendo de saudades de mim''

Dessa vez ele que recebeu o soco de Gold, que rindo, se levantou. Talvez fosse verdade.

O garoto caminhou em passos lentos até a saída. Ele não queria deixar o local, mas sabia que se ficasse ali poderia parecer estranho para ambos. Quando tirou o Lapras de sua pokébola para levá-lo até o outro lado, o ruivo chamou sua atenção, o fazendo virar imediatamente.

''Ei, temos que batalhar qualquer dia, vamos ver se eu ainda consigo chutar sua bunda!''

O moreno sorriu. ''Aposto que não''.

 

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Agora, os adolescentes mantinham suas respirações agitadas. Era a melhor luta que já tiveram em suas vidas. Era o último pokémon de Silver, seu Feraligatr, que agora usava todas as suas forças para vencer Typhlosion. Mesmo seu pokémon tendo uma enorme vantagem sobre o adversário, parecia quase impossível vencê-lo. Gold realmente havia treinado muito bem seu amigo. Minutos depois, Typhlosion partiu para cima do oponente com Thunderpunch, acabando de vez com aquela batalha.

Silver recolheu seu parceiro com uma expressão séria, e o moreno já esperava xingamentos, ou qualquer outra grosseria que o ex-rival fazia quando perdia uma batalha. Mas isso não aconteceu.

''Você ganhou'' o ruivo disse, em um tom amigável. ''Mas meus colegas ainda conseguiram dar uma surra nos seus''

''Com certeza! Foi uma ótima luta'' ele disse, caminhando até seu Typhlosion e o acariciando. ''Vamos para um centro pokémon, nossos amigos precisam descansar''.

O menor concordou, caminhando ao lado do colega até o centro da cidade de Goldenrod. Foi mera coincidência, Gold estava indo comprar alguns suplementos para seus pokémons quando encontrou o ruivo no grande Market, sentado ao lado de Sneasel. Ele não perdeu tempo para chamá-lo a prometida batalha.

Ambos deixaram seu time com a enfermeira. Enquanto eles eram curados, serviram-se de café e sentaram em uma das mesas do estabelecimento, que além de hospital também era como uma lanchonete.

''Posso te perguntar algo, Silver?''

''Já perguntou uma coisa, então por que não mais outra?'' disse bebendo o primeiro gole de sua bebida quente.

''Onde você mora? Quero dizer, você mora sozinho ou..?''

''Eu moro com Lance'' respondeu enquanto olhava o movimento do lado de fora da vidraça.

''... sério?'' o outro perguntou, ficando boquiaberto sem perceber.

''Algo errado com isso?!'' perguntou irritado, dirigindo seu olhar para o maior.

''N-não... é que tipo, cara, isso é demais! Eu imagino o quão legal deve ser morar na casa de um campeão, ainda mais você que-''

''Que o esnobou há um tempo atrás, o chamou de idiota e blahblahblah, eu sei disso..'' completou a fala do outro sem paciência, referindo-se a época em que detestava o campeão da liga. Hoje em dia, porém, ele era grato. ''Não tem nada de extraordinário se quer saber, digo, os Dragonites. As vezes eles enchem o saco, mas o ajudam bastante também''.

O moreno riu, imaginando como seria uma casa com três dragões gorduchos e fofos.

''E onde fica a casa do Lance?''

''Antes ele morava em uma mansão para a Liga Pokémon, mas ele decidiu voltar a viver em Blackthorn pra ficar mais próximo do santuário dos dragões e de sua prima. É a cidade natal dele, afinal''.

Gold bebeu um gole de seu café e algum tempo depois a doce enfermeira os avisou que seus pokémons já estavam curados. Eles se levantaram, recolheram seus parceiros e saíram. Cada um foi para um caminho diferente, mas o moreno fez questão de guardar as informações recém-contadas em sua cabeça.

 

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De fato, ele guardou aquela informação com carinho. Há quatro meses Gold fazia visitas quase diárias ao seus dois amigos na cidade de Blackthorn, mesmo que Lance dificilmente parasse em casa, sempre ocupado com assuntos da Liga e equipes do mau que tentavam acabar com a liberdade dos pokémons. Mas quando ele estava lá, sempre era divertido; esse era um dos dias.

Lance e Silver eram como pai e filho, e de fato os dois se pareciam, partilhavam do mesmo cabelo ruivo, mesmo que o do garoto fosse laranja e o do campeão mais vermelho. Gold já havia perguntado uma vez para seu amigo sobre a identidade de seus verdadeiros pais, e ele o respondeu com um ''você não vai querer saber, podemos mudar de assunto?'', então achou melhor não perguntar mais sobre isso. Tudo estava como deveria ser.

Agora, Silver estava folgadamente deitado no sofá enquanto Gold ajudava Lance com o ''almoço em família'', cortando alguns legumes para ajudar o campeão no preparo. Ele não levava muito jeito cozinhando, mas fez questão de ajudar mesmo sendo convidado. Do lado de fora, um dos Dragonites aproveitavam o sol do domingo, voando pelos arredores e vez ou outra deixando alguma criança da vila subir em suas costas. Todos estavam contentes, principalmente o treinador de dragões, que tirou o dia para relaxar ao lado dos dois garotos.

''Muito bem, Gold!'' ele disse, pegando a tábua na qual o rapaz havia acabado de picar os legumes. ''Sabia que você era um ótimo treinador mas não conhecia seus talentos como ajudante na cozinha''.

''É, eu tenho meus dotes'' ele disse orgulhoso, gabando-se de si mesmo. Entretanto, o momento de amor próprio durou pouco quando ele percebeu que a torta que ele havia colocado no forno estava queimando, correndo então para tirá-la. Quando abriu o compartimento, fumaça cobriu boa parte da cozinha, fazendo todos ali tossirem. O moreno coçou a cabeça sem graça, pondo a torta carbonizada no lixo.

''Bom.. acho que retiro o que disse'' o campeão falou enquanto olhava o estado da receita de Gold.

''Não tem problema, todo mundo sabe que o Silver vai ser a dona de casa quando nos casarm-'' ele brincou, sendo interrompido por uma almofada vinda da sala e rindo da cara de bravo que o amigo estava fazendo.

Lance sorriu, também rindo de toda a cena. No fundo, gostava da ideia dos dois garotos juntos.

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O parque nacional era ainda mais belo à noite. Sentados no banco da praça, os dois observavam a noite enquanto a gelada brisa noturna batia em seus rostos e no de Typhlosion, que permanecia ao lado de seu mestre. Um pouco distante deles, vários pequenos treinadores participavam do concurso de capturar insetos, e no canto do parque, um pouco próximo de onde estavam, um senhor tocava violino como uma forma de ganhar dinheiro. Era uma bela melodia, triste, porém bonita e de uma certa forma, romântica. Gold ficou preso naquela música, não demorando muito para chamar a atenção de Silver, que escondia ainda mais seu rosto no cachecol cinza por causa do frio. Os dois garotos e o pokémon então se levantaram, caminhando até o homem, que parecia distraído demais para perceber a aproximação, e deixaram algumas notas na caixa que servia para guardar o instrumento.

''Que música bonita'' o moreno disse, fazendo o homem abrir seus olhos e sorrir para os dois.

''Ver jovens como vocês apreciando meu violino só me enche de felicidade'' o senhor disse. ''irei tocar novamente, especialmente para o casal!''

Os dois coraram ao ouvir aquilo. ''Casal''. Silver pensou em corrigir, dizendo que eles eram apenas amigos, mas o violinista parecia tão feliz tocando para o ''casal'' que ele achou melhor não estragar o momento. Agora, ele só agradecia a si mesmo por estar com a metade do rosto escondido no cachecol, cobrindo o vermelho de suas bochechas. Gold apenas olhou para baixo, achando melhor encarar o seu pokémon do que o garoto ao seu lado. Typhlosion sorria divertido com a cena.

Depois daquela noite, sempre que os dois voltavam naquele local o violinista estava tocando a mesma melodia, com serenidade em seu rosto. A música não tinha nome, ficando conhecida apenas como ''música do parque nacional''.

Eles faziam questão de deixar um agrado para o homem todas as vezes. Gold não admitia, mas adorava saber que o homem tocava as doces notas especialmente para os dois.

 

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Naquele dia, Silver estava completando quinze anos. Ele não se importava, na verdade. Era apenas mais um número! Porém, Gold fazia questão de comemorar e tentar convencê-lo de que 'não eram só números, era mais um ano que ele estava vivo, por isso deveria ser grato'.

''Você é tão irritante, por que não desiste dessa história? Eu não quero e acabou!'' o ruivo disse, já irritado.

''Por que não está certo, temos que comemorar! Vamos sair, que tal? Tem tantos lugares legais por aqui, vaaaamos'' o moreno insistia, puxando o braço do amigo e tentando levá-lo para fora de casa. Ele foi em Blackthorn apenas para buscar o garoto para sair, mas não estava muito fácil.

''Eu não quero!''

Gold então soltou o braço dele, recuperando seu fôlego após o esforço que fez para tentar puxá-lo, parecendo aceitar a derrota.

''Tudo bem, já que você não quer... mas pelo menos aceite esse presente'' o maior tirou uma pequena embalagem prateada do bolso de sua jaqueta laranja, entregando-a um pouco sem jeito nas mãos do amigo. ''Eu não sei se você vai gostar, eu sou péssimo com presentes, mas... feliz aniversário!'' ele deu um largo sorriso.

Silver não pode impedir que suas bochechas ficassem com um tom avermelhado ao ter o pacote em mãos. Ele não imaginava que Gold se importaria tanto com uma data em que o próprio aniversariante não dava a mínima. Mais cedo ele também recebeu uma ligação de Lance, que não pode estar em casa naquele dia mas desejou parabéns ao aprendiz. Silver nunca havia se sentido tão especial e importante, era a primeira vez em sua vida que recebia um presente de aniversário, era a primeira vez em sua vida que alguém demonstrava se importar com ele.

''Bom... tchau, até amanhã'' o moreno falou, caminhando em direção do seu Dragonite.

O menor pensou em pará-lo para agradecer, mas palavras não saiam de sua boca. Apenas observou o garoto voar no céu noturno nas costas de seu dragão.

Ele entrou em casa, subindo até seu quarto e deitando na cama para só então abrir o presente. Um sorriso instantaneamente surgiu em seus lábios ao ver o que era: um retrato de Gold, Silver e seus pokémons, Typhlosion e Feraligatr. Antes que pudesse perceber, estava abraçando calorosamente a foto.

''Obrigada, Gold''.

 

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Naquela noite os dois estavam no teatro de dança. Estava havendo um grande festival na cidade de Ecruteak, e grande parte da população de Johto também estava lá para ver as dançarinas de Kimono, incluindo o líder de ginásio Morty e seu amigo — que na verdade era amante —, Eusine. Silver não queria ir, odiava multidões, mas Gold insistiu tanto para ele ir junto que acabou sedendo as vontades do amigo. Ele sabia que, secretamente, o maior tinha uma enorme paixão por dança, especialmente as tradicionais japonesas.

As mulheres estavam devidamente vestidas, cada uma com um kimono de cor diferente, porém todas com a mesma maquiagem. Elas dançavam lentamente, seguindo o ritmo calmo dos sons dos instrumentos, como Shamisen e o Komabue. Todos pareciam encantados com aquilo, mas o ruivo só sentia sono.

''Elas não são lindas, Silver?'' o moreno perguntou, não tirando os olhos do palco.

''Não, são chatas''

''Ah vamos lá, o único chato aqui é você'' brincou, dando um leve empurrão no amigo. ''São lindas sim, o jeito que elas dançam... tão gracioso. Eu casaria com uma delas só pra vê-la dançar todos os dias''.

Aquela frase, por algum motivo, incomodou Silver e o fez sentir uma pequena pontada no coração. Ele logo se irritou.

''Então vá e se case com ela, por que não faz isso agora?!'' ele disse, soando quase como um grito e chamando a atenção dos ali presentes.

Percebendo o que disse, se levantou e saiu do local com pressa, deixando Gold o observando confuso. Ele também estava confuso, por que se sentiu tão mal ao ouvir aquilo? Por que estava bravo? Seu amigo não tinha dito nada demais, afinal isso era normal. Casar com uma mulher, ter filhos. Todos os homens faziam isso, inclusive Gold faria isso um dia, então qual era o motivo da fúria? Ele não entendia e também não sentia vontade de entender, apenas queria ir para bem longe, mas uma mão segurando seu pulso o impediu. Ele reconheceu o toque.

''O que foi isso, Silver? Eu disse algo que te chateou?'' perguntou inocente, querendo compreender o amigo.

''Me solta!''

''Não até você contar o que foi!''

Silêncio.

''Foi sobre a história do casamento?'' o maior perguntou rindo. ''Você sabe que eu só falei aquilo brincando, certo? Eu não quero me casar com nenhuma delas, eu realmente não teria paciência para esperar que elas terminassem de se maquiar'' continuou, rindo de sua própria piada.

Novamente, apenas silêncio, e o menor permanecia sem olhar para o seu rosto.

''... Silver? Você... você está com ciúmes?'' perguntou sério e ao mesmo tempo curioso com a resposta.

''Cíumes? Pffft, por favor não me faça vomitar'' ele disse com um sorriso debochado e um tom extremamente grosseiro. Aquilo tudo era para esconder o pânico que sentiu ao ouvir a pergunta. ''Eu nunca teria ciúmes de alguém como você, por acaso você não se enxerga? Eu não jamais gostaria de você, se é isso que está insinuando''

Ele resolveu se virar para encarar o amigo, apenas para encontrar Gold perplexo, com os olhos molhados. O sorriso na cara do ruivo logo se desfez, ele nunca havia visto o moreno daquela forma, não sabia que suas palavras poderiam causar tanto impacto nele. O maior soltou o pulso de Silver com violência, tendo agora uma expressão de raiva estampada em seu rosto.

''Então nunca mais fale comigo!''

E Gold saiu, deixando dessa vez o menor sem saber o que fazer ou pensar. Algumas lágrimas involuntárias insistiam em escorrer sobre suas bochechas enquanto ele corria em direção a qualquer lugar. Só queria sair dali, desaparecer.

 

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O mar nunca pareceu tão depressivo quanto agora. Sentado na areia, o ruivo observava as ondas indo e vindo enquanto a brisa congelante tocava o seu rosto descoberto, mas ele não ligava. Aquele era um dos únicos lugares que ele poderia acalmar sua cabeça, por isso quase todas as noites ia para Olivine e sentava de frente ao mar, observando o ritmo tranquilo das águas.

Já fazia dois meses que ele não falava com Gold desde o dia em que brigaram pelo motivo mais idiota de todos. Por mais que detestasse admitir, sentia falta de suas piadas, suas idiotices, sentia falta dele. Diversas vezes pensou em desculpar-se, mas não tinha coragem suficiente para encará-lo depois de todo aquele momento constrangedor.

O que restava, então, era observar o mar sozinho.

Ou talvez não tanto.

Para sua total surpresa, uma figura se aproximou aos poucos e sentou-se ao seu lado — era ele, Gold. Por longos minutos houve apenas silêncio, o barulho do mar sendo o único som a preencher o local. Eles olhavam para a mesma direção, tantas coisas pra falar e nenhuma palavra dita. Eles simplesmente não sabiam como começar.

''Já faz um tempo'' o moreno disse no seu tom amigável de sempre.

''Sim'' respondeu frio, mas na verdade estava sem jeito.

Foi preciso mais alguns minutos de silêncio para Silver perceber que era hora de deixar o orgulho de lado e falar tudo que estava preso em sua garganta.

''Desculpe por aquele dia'' ele começou. ''Eu não queria ter dito aquelas coisas, não sei o que deu em mim''

''Tudo bem'' o maior respondeu, sorrindo.

Em um ato não pensado, Gold deitou sua cabeça no colo de Silver e passou a olhar diretamente nas orbes prateadas. Ele esperou um soco, um empurrão... mas isso não aconteceu. O maior apenas permaneceu daquele jeito, trocando olhares com o rapaz deitado em suas pernas. Era a primeira vez que Silver havia parado para admirar seu amigo com outros olhos. Seu cabelo, preto e rebelde, quase cobria seu olho esquerdo por inteiro, sim, seus olhos — a característica mais marcante de sua aparência. As iris possuíam um dourado diferente e único, cor de âmbar, cor de ouro. Ele estava perdido nelas, simplesmente não conseguia parar de encará-las. Estava encantado, tão encantado que seu corpo derreteu quando o maior acariciou seu rosto, passando a mão sobre suas sardas. Ele fechou os olhos para sentir mais ainda o toque daquela mão quente e acolhedora. Sentia-se de uma maneira que nunca havia se sentido antes.

Apaixonado.

Aproximando seu rosto, Silver separou a distância que havia entre os seus lábios e os de Gold em um beijo sereno. Suas bochechas queimaram e os corações batiam em sincronia, transformando os dois amantes em um só. O moreno continuou acariciando o rosto do menor enquanto provava o gosto de seus lábios macios, nunca tocados antes, assim como os seus próprios. Possuíam um gosto doce e exótico, o fazendo se viciar rápido por aquilo e, por isso, deixar que o outro aprofundasse ainda mais o beijo, explorando sua boca por completo. Silver não conseguia descrever o quão bom era tê-lo em seus braços. Ele demorou para compreender que Gold era a pessoa mais especial em sua vida, mas agora que finalmente entendeu, decidindo então despejar naquele ato todo o sentimento que estivera preso em seu peito durante esse tempo em um beijo inocente, onde tinha apenas amor.

Separaram-se para recuperar o folego, com as testas coladas, trocando olhares de paixão.

''Não se separe de mim... nunca mais!'' o ruivo falou, soando como uma ordem. O menor pode perceber o tom emocionado em sua voz, e sabendo que os dois partilhavam do mesmo sentimento, sorriu.

''Eu prometo''.

 

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Fazia cinco anos desde o dia em que Gold fez aquela promessa, e Silver sorriu ao ver que o namorado era um homem de palavra. Agora ele estava deitado em sua banheira junto ao amante, um em cada lado e com os olhares fixados no outro, enquanto o menor lembrava-se de todos os momentos que havia passado ao seu lado. Já fazia tanto tempo e o amor dos dois continuava o mesmo da época em que eles eram adolescentes, ainda intenso e verdadeiro, crescendo mais e mais a cada dia. O moreno pegou a perna do amante e levou a altura de seu rosto, beijando o pé do rapaz carinhosamente e arrancando mais um sorriso de seus lábios. Depois de todo esse tempo, ele ainda arrepiava-se com o toque do maior.

Minutos depois os dois saíram e ficaram envoltos apenas por uma toalhas em suas cinturas. Silver, sentado de frente ao espelho, observava a sua imagem e a do amado, que enxugava o cabelo ruivo com a ajuda de um secador. Ele sempre adorou o cabelo laranja do namorado, que de brinde, lhe deu também charmosas sardas que pintavam todas as suas bochechas. O dono delas sempre disse que isso o deixava idiota, mas ele discordava.

Nenhum dos dois falava nada, era um momento deles, palavras não precisavam ser ditas quando pequenos atos de amor como esse eram realizados. O sorriso no rosto de ambos já era o bastante.

Após terminarem e se vestirem, os dois agora estavam sentados na mesa, partilhando do café da manhã e falando coisas triviais. Eles estavam com vinte anos e agora moravam juntos num apartamento em Goldenrod, próximo ao trabalho de Gold — ele agora trabalhava com Mary e Professor Oak no programa de rádio. Silver ainda não havia arranjado um emprego bom, mas os dois conseguiam se sustentar sem grandes preocupações.

O relógio na parede avisava oito da manhã. O moreno logo se levantou e pegou sua jaqueta e boné, caminhando até a saída junto com o namorado. Ele deu um carinhoso beijo de despedida no ruivo e o olhou nos olhos, acariciando seu rosto.

''Eu te amo'' ele disse, com sinceridade na voz.

O menor sorriu, e mesmo não gostando de demonstrar seus sentimentos em palavras, respondeu:

''Eu te amo''

O moreno deu um beijo em sua testa antes de sair, deixando um apaixonado ruivo na porta de casa.

Gold era a pessoa mais importante na sua vida, e Silver teve certeza disso ao ver que depois de todo esse tempo, o rapaz de olhos dourados estava ao seu lado.