A Filha das Trevas - Marcados (LIVRO 2 - COMPLETO) escrita por Ally Faro


Capítulo 69
Capítulo Sessenta e Nove – Desespero Silencioso


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo antes de as provas darem início, porque só voltarei a postar depois que me livrar da faculdade, provavelmente.

Espero que gostem desse capítulo. De alguma forma é diferente do que vocês estão acostumados a ler na história, não por conta da situação, mas sim com o personagem a quem acontece.



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                Dorian não questionou muito depois da chegada de Belinda, somente perguntou se ela queria treinar, o que fora facilmente aceito, já que precisava descarregar toda a energia irritada que estava dentro de si. E foi assim que os dois dias seguintes ao jantar maldito se deram, treinos e corridas vorazes que levavam a menina ao esgotamento físico. Contudo Dorian parecia exausto de alguma forma também, mas foi só no terceiro dia que ele viera lhe informar que iriam passar o dia de folga e Belinda, apesar de toda a carga negativa que queria retirar de si, de toda as distrações que gostaria de propor a sua mente para não pensar no inevitável, aceitou assim que viu a maneira que ele parecia abatido.

                Há sempre uma época do ano onde as pessoas são mais frágeis, normalmente esse período vem recheado de memórias as quais se deseja esquecer por completo ou a dor lhe faz lembrar o motivo de continuar vivo, alguns raros casos são somente nostalgias, algumas passageiras e outras constantes. Todavia Belinda não esperava que aquela época do ano viesse tão repentinamente, não imagina que presenciaria algo como aquilo, não com o albino, não até entrar na cozinha e o ver olhando vagamente para o nada, com uma garrafa quase vazia de Whisky de Fogo, a expressão neutra, mas os olhos lilases trazendo um turbilhão de sentimentos, emoções que ele parecia não saber como sentir. Belinda não queria ser invasiva, foi o que a levou a ir até a despensa, pegar torradas com geleia de morango e um copo de suco e voltar para a sala.

                No início do dia Dorian lhe pediu para não treinarem, para somente cada um fazer o que melhor lhe fosse conveniente e Belinda atendeu, já que ele vinha agindo de modo diferente desde o começo da semana, o que não fazia o feitio do homem, e naquele dia parecia especialmente disperso e triste, uma tristeza profunda e dolorida. Uma ferida aberta e exposta.

                Belinda comeu em silêncio, ouviu, mesmo sem querer se meter, barulhos de gavetas sendo abertas, de portas do armário batendo e tilintar de garrafa e copos. Ela sabia que ele iria beber até não conseguir mais, não sabia explicar como, mas tinha essa clareza sobre ele. Talvez o melhor fosse ela sair da casa e passar o dia fora, contudo a chuva do lado externo a impedia de querer deixar o conforto da casa e o bom livro que a aguardava para ser finalizado.

                Lestrange se retirou na sala e decidiu passar o resto do dia em seu pequeno quarto, na companhia de seu livro e de sua mente barulhenta. Já era noite quando a fome falou mais alto e ela decidiu seguir para a cozinha, que estava escura e silenciosa, ele provavelmente decidira ir para o próprio quarto. Assim que acendeu a luz do ambiente, notou as várias garrafas de diferentes bebidas sobre a mesa e o balcão. Bell suspirou, nunca imaginou que viria o dia em que presenciaria Dorian mostrar suas rachaduras desse modo.

                Belinda limpou toda a cozinha, enquanto sua sopa estava no fogo, não usou magia, como qualquer Bruxo faria, decidiu fazer a mão, retirar cada garrafa e a arrumar no canto da cozinha. Os movimentos repetitivos para a tarefa parecia clarear sua mente e afastar seus próprios fantasmas. De algum modo ela sabia que aquele dia tinha ligação com sua mãe, talvez tenha sido o modo que seus olhos lilases estavam opacos enquanto ele dizia para tirarem o dia de folga, ou sua voz robótica proferindo as palavras, talvez até mesmo a forma rígida em que seus ombros estavam alinhados. De algum modo Bell se adaptara aos movimentos de Dorian e conseguia recolhê-los, até porque parecia um reflexo de si própria em grande parte do tempo, as dores poderiam ser diferentes, as feridas dispares, contudo havia semelhanças em seus modos de agir que faziam se verem refletidos um nos olhos do outro.

                Belinda passou a noite lendo livros de Poções e se dedicando a concluir a Veritaserum que vinha trabalhando desde que chegara ali, mas foi interrompida por um alto barulho, no meio da madrugada, de algo se quebrando, o que a sobressaltou e a fez correr, com a Varinha em punho, em direção ao banheiro, de onde vinha o barulho.

                Lestrange se surpreendeu com a visão.

                Dorian estava com a camisa preta de botões aberta, o braço direito apoiado no espelho quebrado, com a mão pingando sangue ainda segurando a garrafa vazia de cerveja. Ele encarava seu reflexo partido com olhos frios e irritados, todo ele passava uma aura de irritação, o que a fez cogitar o deixar sozinho, contudo entrou no banheiro, se agachou para puxar o kit de primeiros socorros e puxou o rapaz de seu lugar, agarrando sua mão que gotejava sangue e retirou a garrafa, suspirando em seguida, todavia Dorian nem mesmo se deu ao trabalho de falar ou se afastar, somente a deixou parar o sangramento com a Varinha e enrolar sua mão em gazes. Belinda conhecia o sentimento da perda e sabia o que Dorian estava buscando ao socar o espelho, foi isso que a fez decidir por não curar seu machucado.

                Lestrange o encarou, percebendo que ele a estudava meticulosamente.

 -Todos temos nossos dias ruins e sentimentos conflituosos, Dorian. –Ela assegurou, começando a prender o curativo simples em sua mão. –Eu não vou perguntar nada, prometo, mas caso queira falar, eu estou aqui. –Deu de ombros, erguendo os olhos para ele. –Você esteve comigo, querendo ou não, em momentos difíceis, se quiser, posso retribuir.

                Os olhos duros dele demonstraram surpresa por um momento, o que fez Bell observar realmente o rapaz e notar algo que não havia percebido no início, as mãos quentes dele. Dorian estava queimando em febre.

 -Estou tão cansado. –Ele falou por fim, as primeiras palavras proferidas desde o anúncio sobre o dia de folga.

 -O que me diz de descansar? –Ela convidou, soltando sua mão.

                Dorian deu um passo para frente e cambaleou, a fazendo segurá-lo pela cintura, ele era mais alto e mais pesado que ela. Além da febre, ele estava bêbado.

 -Desculpa. –Ele sussurrou e tombou a cabeça no ombro dela.

                Belinda se chocaria em qualquer outro momento, contudo ele estava bêbado e isso não a surpreendeu. Pessoas sob efeito de álcool tendem a fazer coisas que fogem à normalidade.

 -Está tudo bem, não se preocupe. –Ela confirmou, o mantendo firmemente em pé. –Vamos tentar quando você se sentir pronto e faremos com calma, tudo bem?

                Belinda se sentia desconfortável pelo calor do corpo dele, ninguém deveria ficar tão quente.

                Foi mais trabalhoso chegar ao quarto dele do que ela poderia imaginar, sendo que ficava no corredor, ao lado do banheiro. Contudo assim que o sentou em sua cama, saiu do quarto atrás da Poção de gosto e textura terrível para curar febre.

                Lestrange levou cerca de cinco minutos para encontrar a Poção e retornar, mas quando o fez se preocupou. Dorian parecia vulnerável e quebradiço. O rapaz estava com a cabeça baixa, os punhos cerrados apoiados nas pernas e o cabelo absurdamente despenteado. Todo ele gritava em desespero silencioso.

                Belinda se aproximou sem ser notada, colocou a Poção sobre a mesa de cabeceira e cobriu os ombros do rapaz com a manta que estava sobre a cama, o surpreendendo e fazendo-o erguer a cabeça para encará-la.

 -Desculpa. –Ela disse baixo e ele assentiu, mas sem desviar os olhos dela.

 -Tudo bem. –Ele respondeu após um momento.

                Belinda pegou a poção e ofereceu ao albino, que tomou tudo de uma vez, sem nem mesmo pestanejar ou fazer careta, em seguida se deitou na cama, respirando pesadamente e encarando o teto.

                Havia algo tão quebradiço em Dorian naquele momento que ela sentiu vontade de acariciar seu cabelo, como tinha vontade de fazer desde a primeira vez que vira as madeixas albinas, contudo se conteve e após se certificar que o rapaz bebera água e estava o mais confortável que a situação permitia, se retirou do quarto para lhe dar liberdade pelo tempo que ele precisasse ficar sozinho.

 

 

                Belinda acordou mais tarde que o normal naquela manhã ensolarada e convidativa. Mas o que a surpreendeu foi Dorian lhe aguardando do lado de fora da casa, após ela tomar café da manhã. O rapaz parecia que não havia passado pela noite anterior e se não fossem as garrafas de bebidas e o espelho quebrado no banheiro, a qual ela ajeitara durante o banho, não haveria vestígios de que fora real.

 -Eu te dei um dia inteiro para descanso, então é bom que você não me venha com lerdeza hoje. –Ele provocou como normalmente fazia e ela sorriu.

 -Farei você engolir suas palavras, babaca. –Ameaçou e fez o primeiro ataque, tirando um sorriso de canto dele.

                Ali estava o Dorian a qual ela conhecia, alguém que a lembrava constantemente quem era ela, como era seguir adiante  despejando deboche mesmo estando em cacos. Dorian era seu reflexo gritando silenciosamente.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.

Deixem seus comentários para conversarmos um pouco.

Beijos e até o próximo capítulo



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