"20/06/2016

Foi tudo em vão, escrevi tudo aquilo em vão. Minhas palavras foram desperdiçadas, jogadas ao vento. Antes que lhe entregasse a carta, você me parou, pedindo para conversar. Não que eu realmente fosse te entregar, mas nem tive tempo para pensar nisso. Você me disse que queria terminar porque não estava dando certo, realmente não estava. Eu também queria terminar, só não havia conseguido dizer isso. Você me abraçou e pediu para eu não ficar com raiva. Não fiquei, não naquele momento.

Eu não estava acreditando no fim, até você me dar um choque de realidade involuntariamente, quando estávamos de pé embaixo daquela árvore. Você perguntou se eu iria torcer para ti no jogo, respondi, brincando, que não. E então você disse, exatamente com essas palavras que insistem em ecoar em minha mente: “Nossa Bia, que amiga ruim você é.” Eu gargalhei, porém por dentro estava desmoronando, foi aí que minha ficha caiu, devia ter caído há muito tempo, mas foi só naquele momento, no pior momento, quando estávamos cercadas e juntas, que isso aconteceu. Doeu, mas como sempre não demonstrei, feriria meu orgulho.

Você disse que continuaríamos sendo amigas, ótimo, porque eu não tenho mais ninguém. Só que não é bem isso que está acontecendo. Você está me fazendo sentir péssima, sozinha, abandonada, por culpa da sua nova “amiga”. Isso não é ciúme porque já fomos namoradas, eu não me importo que você fique com ela, eu só me importo de você se fazer de boazinha pros outros, fingindo ser minha amiga e na verdade não ser nada disso, eu preferiria que você se afastasse de mim logo, de uma vez, o sofrimento seria menor, passaria mais rápido, não aos poucos como está sendo.

Talvez não tivesse sido tudo em vão se ao menos eu tivesse lhe entregado aquela carta, mas faria diferença? Nunca saberei, se quando estávamos juntas o orgulho me impediu, imagina agora. Você nunca lerá isso aqui também, mal está olhando para a minha cara, se lesse ficaria nervosa e desmentiria tudo o que escrevi, sendo que nós duas sabemos que as coisas não são como antes, que está tudo completamente diferente, e que o que estou dizendo é verdade.

Apesar de tudo isso, eu não me arrependo de ter namorado contigo. Foi uma experiência boa, foi bom enquanto durou, não foi? Apenas me arrependo de ter cedido a tudo o que você queria, de ter me afastado das pessoas pelo seu ciúme, ao menos elas me entendem e não me abandonaram por completo. Os nossos amigos pararam de falar comigo por “medo” de você, sabia? Por isso eles não insistiram em ficar por perto enquanto eu tentava me afastar, por mais que você não gostasse deles, eles respeitavam nosso namoro, está vendo como foi egoísta?!

Eu também me arrependo por ter namorado sozinha uma boa parte do tempo. Só eu correndo atrás, só eu dando carinho, só eu insistindo, só eu continuei tentando. Eu queria saber por que você continuou comigo e colocou a culpa em mim se não queria mais. Namorar sozinha me machucou, me faz mal e talvez fosse diferente se tivesse terminado mais cedo, contudo agora é tarde para tantos arrependimentos, não é? Já passou, devia ter pensado mais em mim antes. Mesmo sabendo que é tarde demais para pensar nisso tudo, precisava escrever para ver se me ajudaria a ficar melhor. Se isso ainda importar para você, sim, me ajudou.”

Apesar de todo o sofrimento que tinha agora, Beatriz não queria voltar, nem mesmo se sua amada quisesse, sua mãe dizia que erros só são cometidos uma vez, e aquele tinha sido o suficiente. Seu orgulho não a impedia de sentir, pelo contrário, só aumentava suas dores. E namorar aquela garota doeu demais. Ser obrigada a se afastar lentamente doía ainda mais e ela não conseguiria fazê-lo outra vez. Finalmente Beatriz percebeu que seria melhor ficar sozinha. Talvez doesse mais um pouco, mas ela aguentou aquela dor e aguentaria mais um pouco, podia se acostumar com isso e com o tempo ficaria bem.