Final alternativo Person of Interest. escrita por Rogue


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Esse é o final que adoraria ter visto na série.



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Não teve palavras, apenas o sinal negativo, pesando sob os olhos de John. Sabia que o pior tinha acontecido, seu corpo inundou-se em desespero, uma aflição percorria suas entranhas, rapidamente o Petrichor, do asfalto molhado pela garoa, transformou-se em algo insuportável, estava afundando naquele cheiro, sendo engolida. Sentia sufocar mesmo com ar a plenos pulmões, não respirava, não sentia nada além daquele incomodo cheiro a correr narinas e pulmões como ácido.  Estava enjoada, sentia-se doente, milhões de pensamentos atormentavam seu cérebro, era mais uma simulação. A pior de todas as simulações, pois não abriu espaço para terminar com sua vida e proteger Root. Finalmente eles acharam um espaço, um caminho para tortura-la ainda mais.

 Não, não era simulação, conseguia diferenciar, nunca a dor foi tão forte e tão apática. Lembrou-se de todas as mais de sete mil vezes que esteve com ela, em simulação, lembrou-se de todas as vezes que se matou por ela. Lembrou-se das poucas vezes que esteve com ela na realidade, todo o tempo que perdeu fugindo de suas invertidas e flertes. Todos os seus músculos doíam, e mesmo assim permanecia completamente imóvel. O não sentir conseguia ser ainda mais doloroso. Como explicar o quanto doía se não existiam palavras que conseguisse dizer, como colocar para fora a dor dilacerante se não existiam lagrimas, não era capaz disso. Estava destruída por dentro, como nunca esteve e teria que lidar com isso sozinha, canalizando em raiva, tudo que não podia compreender. Não conhecia outro jeito de lidar com sua dor. Root não estava mais ali e não conseguia acordar da realidade.

O que sentia era um grande ponto de interrogação, suas atitudes demonstravam amor incondicional, nunca pode machucar Root nas simulações, deu sua vida pela dela na vida real e depois mais de sete mil vezes em simulação e tinha consigo a certeza que se pudesse se colocaria na frente da bala que a matou. Amor? Que palavra estranha era essa, sua descrição não fazia jus a tudo que viveu com Root, a tudo que faria por ela. Almas gêmeas? Não acreditava nisso, aliás, nem sábia no que acreditava, na máquina, no que Root disse antes de partir? É difícil acreditar em algo quando ao menos consegue sentir o que está ao seu alcance. Palavras não seriam o suficiente para traduzir o quão intensa era Shaw. O quão intenso foi tudo que teve com Root. Não podia acreditar que ela tinha partido, justo quando estavam tão próximas, quando olhar nos olhos dela era tão reconfortante. Ela era o seu lugar seguro, os quatro alarmes de incêndio, ela era única. Ela morreu por Root diversas vezes, mas certamente viver sem ela foi a mais difícil das decisões.

Saiu em busca de vingança, as lágrimas inexistentes seriam substituídas pelo sangue de qualquer agente do Samaritano em que conseguisse por as mãos. Até encontrar aquele que puxou o gatilho e tirou a única pessoa que a fazia sentir. O rifle PSG-1 Reload, não dos melhores, mas o suficiente para fazer estrago na pequena reuniãozinha de agentes do Samaritano. Um telhado e Shaw posicionada para acabar com todos os lacaios. Primeiro tiro, um homem ao chão, todos se armaram, segundo tiro outro homem ao chão, não tinham a menor ideia de onde o atirador estava, eram presas fáceis sem os olhos de Samaritano para guia-los. Estavam desorientados sem a IA inimiga para defendê-los. Quinze tiros no total, a cada tiro, sentia-se um pouco melhor. Deixou apenas um dos soldados vivo, um tiro no joelho, apenas o suficiente para que não pudesse fugir enquanto ela andava as duas quadras até o local. Levou o agente até um lugar que pudessem ficar a sós.

— Você pode fazer do jeito fácil Carlos...

A expressão calma e fria assustava o homem, muito mais do que a faca em sua mão. Shaw observava a identificação do agente e continuava sua explanação.

— ...ou do jeito difícil, confesso que prefiro do jeito difícil.

Um sorriso tenso e sem graça denunciava a verdade contida nessas palavras. O homem, Carlos, agente do Samaritano há aproximadamente um ano, estava apavorado, apesar do treinamento militar, nunca foi feito refém e certamente a dor no joelho estourado pelo rifle estava o deixando febril. O suor escorria pelo seu rosto e parava na silvertape a cobrir sua boca. Não tinha certeza se o grito abafado pela fita seria de dor ou desespero, mas teve certeza que seria contido para evitar maiores danos. Certamente aquela mulher o mataria ao final, tinha plena convicção disso e sua certeza foi logo confirmada pelas palavras novamente sinceras de Shaw.

— Eu vou mata-lo, não existe outra saída desse buraco além de um saco preto.  Agora como isso vai acontecer depende somente de você Carlos. Posso ser rápida, acabar com sua dor e deixa-lo descansar em paz. Isso seria bom demais para alguém como você, certamente muito mais do que merece. Ou eu posso passar algumas horas me divertindo. Não existe grito ou sofrimento que possa me comover, posso fazer isso por dias sem culpa ou arrependimento.

Pressionou o joelho ferido do homem que urrou de dor, seu sofrimento era profundo e Shaw esboçou um sorriso.

— Tinha me esquecido como isso era divertido. Agora vou tirar a silvertape e você vai me dizer  onde encontro o atirador direcionado para o alvo placa 5KSKU.

O interrogatório terminou com um tiro de sua automática interrompendo as lágrimas desesperadas de Carlos. Aproximadamente vinte e três agentes mortos e finalmente tinha a localização do atirador. Não traçou um plano, apenas saiu em busca do homem que tirou Root dela. Tudo acabou tão rápido, sua vingança não trouxe a satisfação que acreditava encontrar. Root não voltaria, a máquina não estava mais ali, agora que tinha terminado com sua vingança, só lhe restava Bear.

Sempre usava a jaqueta de Root, pensava o que ela diria a respeito e um sorriso se formava, sutil e em baixo volume como todos os seus sentimentos, mas estava ali. Como sentia falta das suas cantadas fora de hora, do seu sorriso, do subtexto implícito em tudo que dizia. Estava perdida em pensamentos, quando o telefone público tocou. Todo seu corpo reagiu mesmo sem entender o motivo de imediato, atendeu com hesitação, a esperança de ouvir Root novamente, mesmo que pela Máquina, junto à incredulidade que isso pudesse acontecer novamente.  

—Hey Sweetie.

A voz de Root adentrou os ouvidos de Shaw como uma doce tortura, a dor que isso causava era exatamente oposta à satisfação de ouvi-la novamente. Saudade, era esse o sentimento que ela não conseguia compreender. Era a primeira vez que ouvia a Máquina depois do apocalipse IA. A voz de Root, o jeito de falar de Root, as palavras de Root, o jeito como Root flertava, isso a consolava. A conversa foi rápida, atualizando Shaw do que aconteceu com seus colegas, até se tornar intima, a Máquina estava preocupada com Shaw, depois de tudo que aconteceu.

— Eu não sinto nada lembra. Ninguém pode entender isso.

— Eu entendo Sameen, sua dor é tão legitima quanto a minha. Ninguém consegue entender como nos sentimos.

— Ótimo, agora eu sou comparada a um robô.

Shaw revirou os olhos, voltou a focar na câmera quando a Máquina falou algo que a fez ver Root em cada detalhe da frase.

— Eu não sou um robô sweetie, mas entendi a analogia.

Esboçou um leve sorriso, a Máquina continuou.

— Preciso de você Shaw.

— Temos um novo número?

— Não exatamente. Preciso que entenda que era o único jeito de protegê-la, e também o único jeito de fazer Harold tomar as atitudes necessárias.

— Do que está falando?

— Root , ela está no Hospital Presbyterian.

O rosto de Shaw ganhou vida, um sorriso largo brotou em seus lábios e olhos, abandonou o telefone e seguiu em direção ao Presbyterian. No caminho a Máquina comunicava-se pelo celular, Shaw estava inquieta, tantas perguntas e ao mesmo tempo nada importava, queria apenas ver Root.

Chegou ao hospital, aos pés da cama da mulher que definitivamente amava. Não possuía nenhuma expressão, mas os volumes estavam altos, ensurdecedores de uma forma tão boa. Root adormecida na cama do hospital, descabelada e pálida, era a visão mais linda que já teve. A Máquina falava em seu ouvido:

— Eu não sabia se ela conseguiria sobreviver, em todas as simulações eu nunca consegui salva-la, mas ainda sim ela conseguiu.

Os olhos de Root se abriram lentamente, ainda sonolenta devido aos remédios. E seu sorriso iluminou o quarto ao ver Shaw aos pés da cama.

— Hey Sweetie.

A voz saiu fraca e falha, Shaw apresou-se em ficar ao seu lado, segurou sua mão, dedos entrelaçados, apertados, como se nunca mais quisessem se soltar.

Os olhos expressivos da hacker a fitavam carinhosamente, sem acreditar no que via. Quanto tempo esteve em coma para Sameen Shaw agir dessa forma? A pergunta retórica em sua mente não tinha a menor importância.  Estava feliz em poder vê-la, toca-la, parecia uma eternidade desde a última vez que se viram.

Os olhos de Shaw estavam marejados, os volumes transbordavam dentro de si, levou a mão ao rosto de Root e a beijou sem pressa, sem aquela fome selvagem de sempre. Apenas amor.


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Notas finais do capítulo

Pq no fundo, por mais insensíveis que sejamos, por mais sociopatas ou outras nomenclaturas estranhas, todos buscamos algo que nos complete. Root era a melhor personagem do mundo, mais completa, complexa e linda. Apesar de desajustada e tudo que fez, era uma romântica. E lá no fundo, em alguns caso muito no fundo, todos somos um pouco assim. Pelo menos eu sei que sou. E eu queria muito um final feliz para elas.



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