Interativa - Survivors: Terceira Temporada escrita por Luan Hiusei


Capítulo 12
S02CAP06 - Would Become A Hell


Notas iniciais do capítulo

Bom, Olá pessoal, capítulo novo aqui, boa leitura.



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Amora estava tendo um ótimo dia, ótimo na nova escala de medida de dias. Havia aprendido sozinha que dias ótimos eram aqueles que podia comer e lavar o rosto.

Antes um dia ótimo era acordar, checar as mensagens e procurar alguma coisa pra fazer. Havia feito grafites maravilhosos, e ainda havia aberto a própria oficina depois da formatura com arte. Mas agora isso não significava nada, o que podia ser usado ainda daquele tem por eram as aulas de boxe.

Já fazia quase um mês que a situação estava daquele jeito. Um mês, pessoas esperando o governo. Na verdade, muitas poucas pessoas ainda esperavam pelo governo. Outra coisa que a mulher havia aprendido era isso. Não esperar pelos outros. Agora, enquanto socava um saco de areia esperava pelos outros. Havia tomado a decisão de entregar aquela pequena rebelião a Michael, era melhor garantir sua segurança. Mas essa escolha atormentava ela ainda, Júlio César e Cláudio ao seu lado conversavam, Yuri estava de guarda lá fora. Ela falaria com Cláudio sobre aquilo, precisava saber se ele estava metido nessa história também. Se não estivesse, então ela não hesitaria em escolher o melhor.

Quase morreu, e se não fosse por eles estaria morta. Era justo retribuir aquele favor.
— Cláudio, podemos conversar? – Ela perguntou limpando o suor da testa. Júlio entendeu rapidamente que deveria se retirar, e saiu, indo conversar com Yuri.
— O que aconteceu? – Ele não parecia preocupado, mas viu os olhos da mulher; olhos de quem tinha algo a falar, algo muito importante.
— Você... – Ela hesitou por um momento. Olhou ao redor, não havia ninguém. – Está planejando fugir com eles? – Amora deu um certo ênfase na palavra "eles".

Cláudio quase tremeu, os dentes cerraram automaticamente. Lembrava que a amiga não estava na reunião e Amélia e Clara não falaram sobre ela.

Antes de dizer que não ele parou. Sentiu as memórias voltarem, nunca havia feito nada útil nesse mundo. Não era corajoso como seu amigo Júlio César, não tinha a presença que alguém como Yuri tinha. Não podia ajudar, como qualquer um podia. Então não podia deixar essa oportunidade passar. Era hora de provar seu valor no mundo.
— Por favor, sou do grupo de fuga, mas não pretendo fugir. – Ele disse com cautela, se surpreendeu de como soou convincente a mentira. Amora suspirou.
— Obrigado... – Ela sussurrou. Tinha que ser justa, não podia deixar eles fugirem mas não podia deixar seu amigo morrer. – Então, o que pretende fazer?
— Eu preciso que você fique completamente fora disso. Eu vou entregar eles na hora certa. – Ele não conseguia acreditar na qualidade recém descoberta dele. Amora suspirou novamente, não deixaria ele fazer aquilo, mas ele parecia diferente. Mais forte do que estava acostumada. E não sabia se podia realmente entregar aquelas pessoas. Por mais que estivesse em dívida com eles.
— Por favor, toma cuidado. – Amora colocou os braços sobre os ombros de Cláudio. Ele era quase da mesma altura que a mulher.
— Não se preocupe. – Ele disse e tirou lentamente os braços de Amora dele, enquanto se virava para sair, assim que seus pés atravessaram a porta ele soltou todo ar do peito, seu corpo estava tenso. Estava nervoso ainda também, mas dividia o nervosismo com a felicidade de ter descoberto seu novo "poder". Yuri e Júlio César passaram por ele, mas ele nem percebeu.

— O que aconteceu? – Júlio César perguntou a Amora, percebeu que Cláudio estava estranho na hora em que saiu.
— Tive que falar com ele sobre um amigo nosso. Nada demais.

Yuri olhou diretamente para ela, mas esta desviou os olhos, era o sinal que ele precisava. Júlio César não percebeu nada, sua inteligência não incluía ler sinais corporais.

O silêncio foi o predominante no resto do dia foi o silêncio. Silêncio apreciado pelos quatro que estavam guardando aquele jardim. Amora precisava refletir, antes ainda duvidava da sua decisão. Justiça era pagar seu débito ou ajudar inocentes. Qualquer fosse sua escolha, as consequências viriam inevitavelmente. Mas agora que Cláudio havia decidido, ela resolveu decidir a mesma coisa que seu melhor amigo. Embora algo parecesse estranho sobre ele, estava diferente, mas não parecia estar fazendo uma escolha errada.

Yuri sentou na grama, escorou as costas sobre a parede da casa e Júlio César o acompanhou. Ele estava conhecendo melhor o garoto, este que admirava Yuri, que desde o começo se recusou a ceder para eles sua humanidade. Naquele dia em que ele levou um soco ao desafiar Michael, Júlio César começou a acreditar que ele era a pessoa que podia salva-los.

Júlio César para Yuri era um garoto corajoso, que ainda provaria seu lugar naquele mundo. Júlio parecia querer enfrentar o mundo, parte disso era o que Yuri chamava de "fúria adolescente", ele tinha coragem mas não podia fazer sozinho como gostaria de fazer.

☆ ☆ ☆ ☆

Sandra estava acompanhada de Rebecca, Mariana, Clara, Amélia e Ana. Outras mulheres ficavam na sala branca da antiga casa de Sandra. Por mais sexista que aquilo fosse, apenas mulheres eram assignadas as tarefas médicas. E elas agradeciam, era melhor que usar um vestido ofensivo e servir de objeto pra aquele monte de lixo humano. E o assunto era esse, elas falavam disso normalmente. Por algum motivo, todas que estavam a mais tempo ali mesmo sem aceitar o funcionamento daquilo, haviam se conformado com a situação infeliz. E o medo de fugir impedia elas de agirem segundo o que queriam realmente. Medo esse que não havia chegado nas mais novas adições ao grupo. E algumas, raras, que estavam há mais tempo com a ajuda das novas, começavam a acreditar que poderiam escapar.

Rebecca e Clara podiam não parecer as mais indicadas as tarefas de criar um plano de fuga. A aparência gentil das moças, a calma de Rebecca e a juventude de Clara não eram bons sinais para o grupo. Clara provou que era mais que capaz, disse algumas palavras pesadas demais logo após as discussões e disse que ninguém a impediria de ajudar. Já Rebecca argumentava passivamente sobre quais motivos faziam dela adequada a tarefa proposta. E as duas provaram seu valor.

E além de provarem seu valor, reforçaram ele. O plano feito no decorrer daquele mês todo, com todo cuidado sobre as pessoas ao redor, parecia livre de falhas. A inteligência delas era realmente notável. E eram uma forte combinação. Rebecca analisava todos os fatores, tinha todas as opções possíveis e Clara, sempre rápida com suas respostas, ajudava a escolher a melhor opção. Tudo correu extremamente rápido, e quando elas apresentaram o plano, teriam aplaudido se pudessem. E Clara fez questão de dar seu olhar feroz a todos que duvidaram das mulheres.

O plano cobria tudo que deveria cobrir, Rebecca havia ficado surpresa com o próprio trabalho. Agora, quase dois meses depois do dia em que Ana e a irmã chegaram aquele lugar. Mariana ainda contava os dias, 24 de janeiro. Ou era vinte e cinco? Vinte e seis? Era difícil ter certeza, mas havia parado de contar naquele dia. Simplesmente a ficha caiu. Sua irmã ainda chorava em um canto, solitária. Mariana parecia ter entendido que não adiantava mais esperar, havia esquecido sua vida antiga. E pelo jeito, Ana também estava passando por essa fase. Sabe, a negação antes da aceitação? Era isso que descrevia a mente de Ana.

Os sussurros de "não pode ser" e "não é verdade" haviam dado lugar ao choro silencioso da mulher. Tinha tantos arrependimentos de antes daquilo começar, achava sua vida medíocre demais para se viver. Teria se matado se algo mais não tivesse a impedido. Sua irmã. Eram tudo que tinham, e não podiam se abandonar. E Ana fingia muito bem que estava tudo bem, mas agora, ela rezaria por poder ter sua vidinha medíocre de volta. E isso, provava algo que ela não queria admitir. Que não poderia voltar para sua vida, que teria que lutar contra aqueles mortos vivos canibais por muito tempo, e talvez um dia, os humanos tomassem seu lugar de volta.

Agora, Ana limpou os olhos com a roupa branca e quando os virou para frente, Mariana e Yuri olharam diretamente para ela. Havia saído do meio das mulheres há algumas horas, e sentado na grama daquele lugar.
— Ana... Você está bem? – Yuri a olhava, aquele olhar de pena que ela conhecia bem dos dias de depressão há alguns poucos anos. Ela odiava aquilo, mas por alguma razão, não odiou quando Yuri o fez.
— Irmã... – Mariana pegou sua mão. Seus olhos estavam vermelhos, ardiam bastante.
— Eu... Eu não quero mais viver assim... – Ela disse, parecia desconexa aquele lugar. Seus olhos fitavam o céu levemente nublado do dia.
— Nós não podemos desistir. – A voz do homem a trouxe de volta a realidade, ela piscou várias vezes e as lágrimas voltaram a cair. – Sabe, eu sempre quis ser policial. Quando essa droga toda acabar, vou deixar de ser covarde e seguir meu sonho.

Ana não entendeu o que ele falou realmente, a irmã segurava sua mão com força.
— E você devia pensar em qual sonho do futuro você vai realizar. Policial não combina com você, é muito bonita pra esse tipo de coisa. E não é machismo.

Ana quase riu, não conseguia sorrir ainda, mas sentiu as lágrimas pararem, sua alma parecia mais leve agora.

— Nem professora. Ela é muito chata. – Mariana e Yuri riram juntos, e mais um impulso de riso surgiu em Ana. Dessa vez os lábios chegaram a se mover, formando um fraco sorriso.

— Vocês dois... Muito obrigado mesmo. – Ana limpou o rosto novamente, se levantou e sentiu as pernas dormentes. Não lembrava há quanto tempo estava ali. Mas fazia bastante tempo.

☆ ☆ ☆ ☆

A noite havia chegado, a lua cheia acompanhada das nuvens dava uma cor sombria a tudo daquele lugar.

Cláudio, sorria naquela noite em que o silêncio era tão forte quanto o clima fúnebre do local. Havia dito que faltavam seis dias para a fuga deles dali para Amora, e disse que ela contasse isso a Michael. Este homem podia ser muito inteligente, mas Cláudio, havia descoberto seu dom. Sabia que tipo de pessoa Michael era, e sabia que ele seria burro o suficiente pra tentar surpreender e pega-los na noite da fuga. O desespero seria maior, ele veria a esperança se desvair dos rostos de todos com mais intensidade. Sabia exatamente como aquela escória se comportava, e seu senso de superioridade ia acabar fazendo com que ele se ferrasse bonito.

Amélia, em plenos sessenta anos deveria estar com uma bengala, mas a AK-47 com mira em suas mãos dizia bem o contrário. Sua expressão era feroz e raivosa, poderia matar todo mundo se eles estivessem desarmados hoje.

E então, com um sinal de Clara, todos se preparavam. As pessoas pegaram fitas laranja neon de seus bolsos e colocaram em seus braços. Yuri segurava uma Chartbek-12, arma que provavelmente era do exército. Outras pessoas estavam ao seu lado armadas com metralhadoras e rifles de alta potência. Três atiradores posicionados lá em cima em prédios.

Sandra respirava pesado, eles iriam apenas sair temporariamente e ela não pretendia abandonar sua casa, como nenhum deles pretendia.

Os suprimentos que conseguiram pegar não durariam uma semana, então assim que aquele banho de sangue acabasse eles estariam de volta.
— Colocou a fita, filho? – Ela perguntou para Kauan, que estava em um local onde um adulto não conseguiria entrar. Rebecca e Clara lhe faziam companhia.
— Sim. – Ele respondeu ríspido. Não ouviu o suspiro de alívio da mãe.
— Pode cortar. – Rebecca e Clara se deram as mãos, e se preparam.

O gerador que havia ali, iluminava todo abrigo e toda casa de Sandra, teve seus fios arrebentados por seu um garoto de doze anos. A escuridão tomou conta do local.

Sandra tateou no escuro e pegou a mão de seu filho. Rebecca pegou a sua, não era possível ver nenhuma fita. Todos estavam com elas tapadas agora.
— Para frente. Sem medo. – O comando de Amélia foi absoluto, enquanto todos marchavam na escuridão da noite.

Grupos que não desejavam brigar já estavam na rua quando o primeiro tiro foi ouvido. Um, dez e depois não dava mais pra contar. Fora ou dentro, em muito pouco tempo, o que era o lar daquela mulher e seu sonho, se tornaria um inferno.


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Notas finais do capítulo

E então? O que estão achando?
Interajo pouco com vocês, que são minha motivação, então hoje vou deixar meu agradecimento sincero por todos os comentários e o apoio até agora, muito obrigada a todos, e também gostaria de pedir qual o personagem favorito de vocês e o mais odiado, e os motivos. Vai servir pra eu ter uma boa idéia se estão vendo eles como eu espero. Enfim, é isso gente. Vejo vocês nos comentários e até mais.



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