The Wicked escrita por Jules


Capítulo 7
Capítulo VII


Notas iniciais do capítulo

Leitor(es), boa noite!

Mudei a data de publicação para quinta de noite por causa da estréia dos EPs da nova temporada de AHS!

Espero que gostem.

Boa leitura.



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Um suspiro alto escapou dos meus lábios quando senti o hálito de Tate em meu pescoço. O seu peso me pressionava forte contra o colchão e o caminho percorrido por sua mão fazia com que todo o meu corpo vibrasse por eletricidade. Eu estava arrepiada e meu coração batia tão forte que pensei que fosse escapar.

Mesmo a noite não sendo uma das mais quentes do mês, eu estava com calor. Muito calor. Eu me sentia bêbada pelo aroma do perfume do loiro e a pele dele pressionada contra a minha fazia com que, assim como em suas roupas, seu cheiro ficasse em mim. E eu queria que aquilo nunca passasse. Seus lábios voltaram aos meus e eu o beijei intensamente, ambas as respirações ofegantes pela excitação.

Tate se encaixou entre minhas pernas e se pressionou contra mim, soltando um suspiro baixo pela simples sensação de ter o seu jeans em atrito com o meu. Fechei os olhos e suspirei de novo quando ele voltou a trilhar beijos pela extensão do meu pescoço e peito. Uma de suas mãos passou a acariciar o meu seio na medida em que senti-o puxar minha blusa para baixo, exibindo o meu sutiã nada atraente.

Ele parecia não ligar para a porra do sutiã.

Tate apenas puxou o tecido junto com o algodão da blusa e colou os lábios em seu seio, fazendo com que eu soltasse um gemido baixo. Sua outra mão ainda acariciava o meu corpo, e eu conseguia sentir conforme o volume crescia contra a minha pélvis. E ele ainda pressionava sua cintura contra a minha, me deixando tão desesperada por aquela sensação que comecei a retribuir o gesto também.

Eu estava prestes a entrar em combustão se não me livrasse daquelas roupas naquele segundo.

Ajudei-o a arrancar sua camisa e logo nos livramos das minhas partes de cima também. Tate me abraçou forte e mordiscou a pele do meu pescoço, movimentando sua cintura contra a minha, nos torturando como uma espécie de jogo angustiante. Ainda assim era muito bom.

Soltei um gemido baixo conforme o seu peso aumentava sobre o meu corpo e arfei ao senti-lo mordiscar o lóbulo da minha orelha. Todos os meus pelos arrepiados ainda não eram capazes de reter o calor que trocávamos.

— Eu quero te ouvir gritar, cereja...

Ouvi o sussurro que me fez querer gemer de novo por si só. Fechei os olhos quando os lábios do rapaz tomaram meu pescoço de novo e pressionei minha cintura contra a dele, me segurando para não trocar as posições e arrancar o resto das nossas roupas desesperadamente.

Quando tornei a abrir os olhos, fui completamente surpreendida pela imagem brilhante da lâmina de um facão que agora era firmemente empunhado por Tate. Meus olhos se arregalaram e tentei gritar, mas antes que qualquer voz saísse dos meus lábios, o rapaz escorregou a lâmina afiada por minha garganta, cortando-a como se fosse feita de sabão.

O sangue escarlate escorreu pelo ferimento e sujou o belíssimo rosto do meu assassino, que assistia a cena com um sorriso apavorante estampado em seu rosto. Seus olhos negros mais negros do que nunca.

Eu acordei com um grito alto e o corpo completamente banhado no suor. Me sentei sobre o colchão e apalpei meu coração que batia forte, apavorado pela cena que havia acabado de vivenciar. Fitei o espaço onde estava e soltei um suspiro de alívio ao perceber que se tratava do meu quarto. Tudo havia sido um sonho.

Passei as mãos por meu rosto e respirei fundo, olhando para a porta no momento em que ela se abriu e minha mãe disparou em minha direção.

Seus olhos estavam arregalados e seus cabelos atrapalhados, como se tivesse sido arrancada de um sono profundo para acudir o meu grito desesperado.

— Cherry! Querida! Está tudo bem?

— S-sim, mamãe. — Falei em voz ainda bêbada pelo sono, mas trêmula pelo susto que havia tomado. Meu corpo ainda tremia um pouco, afetado pela cena horrível que meu cérebro havia arquitetado. — Foi só um pesadelo. Me desculpe.

— Oh, querida! — Mamãe exclamou em tom aliviado, se sentando sobre meu colchão e me apertando em seus braços, mesmo que eu estivesse extremamente suada e nojenta. — Eu sinto muito. Está tudo bem?

— Sim, mamãe. Não precisa se preocupar. Me desculpe por ter gritado, eu-

— Pare com isso, pelo amor de Deus. — A mulher sorriu, depositando um breve beijo em minha testa. A abracei forte, apoiando o rosto em seu ombro. — Eu estou no quarto do lado, ok? Pode me chamar se precisar de alguma coisa. Ou pode dormir com a gente se achar que não vai conseguir pegar no sono.

— Eu tenho dezesseis anos. Não sou mais uma criança.

Resmunguei mesmo que aquela ideia soasse tentadora. Minha mãe soltou uma risada gostosa, afagando os meus cabelos.

— Tem razão. Mas não precisamos contar para ninguém.

Ela abriu um sorriso condescende para mim, fazendo com que eu soltasse uma risadinha baixa e a olhasse em tom pensativo. Fitei Sr. Boots e então a mulher que me observava em tom curioso. Não precisei pensar demais.

— Você pode fazer aquele cafuné que eu adoro?

— Mas é claro, meu amor.

Mamãe sorriu, me soltando do seu abraço. Assenti logo em seguida.

— Ok. Mas prometa que não vai contar para os meus amigos que ainda durmo com os meus pais.

Ela soltou uma gargalhada baixa com meu comentário e assentiu, marcando o seu peito com um X invisível, um sinal que fazíamos quando prometíamos algo que jamais poderia ser quebrado.

— Promessa de dedinho.

[...]

— Vocês já decidiram que música vão cantar para o festival?

Spooky Spooky.

— Incrível. Eu consigo te imaginar vestida de vampiro com uma capa e dançando Thriller de um lado para o outro do palco.

— Vá se foder.

Tate deu risada do meu xingamento conforme riscava distraidamente o tronco da árvore com seu canivete. Ele havia pedido para que eu ficasse virada para o outro lado e, por mais que isso me impedisse de observa-lo como eu gostava de fazer, não me importei nem um pouco. O sol estava brilhando alto, o céu não possuía uma única nuvem e minha pele precisava de um pouco de vitamina D.

Não sei quem foi que desenhou aquele sábado, mas foi um dos mais bonitos que já vi em toda a minha vida.

Avisei aos meus pais que ia me encontrar com Tate no parque e que estávamos pensando em seguir com todos os planos da noite anterior: um sorvete e depois cinema. No entanto, o dia estava tão lindo que havia convencido o garoto a ficar um pouco ao ar livre, mesmo que ele não fosse o maior fã daquele tipo de atividade. Os pássaros estavam cantando, haviam famílias correndo por todos os lados e as crianças gritavam, completamente submersas em suas brincadeiras e imaginações.

Tate e eu estávamos sentados sobre um dos galhos do alto sicômoro e eu me equilibrava da melhor maneira possível para não cair e quebrar o pescoço. Com o tempo fui perdendo o medo de despencar para a morte e comecei a apreciar a vista que a altura nos proporcionava. Era possível enxergar quase toda a extensão do vasto parque e ver todas as pessoas e atividades de uma visão periférica. Era como se eu assistisse à um filme sobre a vida de todas aquelas pessoas estranhas.

Um sorriso largo se formou em meu rosto quando vi um garotinho loiro tentar correr com suas perninhas tão curtas, seguido pelo pai que logo o alcançou e girou no ar, como se fosse um super-herói. Meus pais tinham costume de me levar em parques quando eu era mais nova também e, de certa forma, vislumbrei um pouco da minha infância com aquela cena. Um aperto gostoso de saudade envolveu o meu coração e senti — pela primeira vez — um pouco de falta da minha cidade natal.

LA tomava bastante tempo da vida dos meus pais, mas não era como se eu estivesse sofrendo tanto por isso. É claro que agora tínhamos menos tempo para assistir filmes, fazer longos almoços ou viajar aos finais de semana, mas eu havia encontrado um ótimo substituto para tais atividades, que agora cravava alguma coisa maluca no tronco da árvore com um canivete de bolso.

E não posso mentir, eu amava passar tempo com Tate. Além de, é claro, entender que meus pais teriam que passar por essa fase de dedicação ao trabalho hora ou outra.

— Nós estamos em fase de seleção de música ainda. — Contei, prendendo meus fios negros em um rabo de cavalo que caiu longo pelas minhas costas. — Mas acho que devemos cantar algo da Madonna. Georgia é apaixonada por aquela mulher.

— Então vai ser um show de Halloween sexy? Essa eu quero ver.

Ergui uma sobrancelha, abrindo um sorriso um pouco ofendido com o que escutei. Ameacei olhar por cima do ombro, mas Tate brigou comigo antes que eu pudesse vê-lo.

— O que você quer dizer com isso, Langdon?

— Absolutamente nada, cereja. Só não consigo imaginar um anjo como você sendo sexy.

Eu poderia ter caído do sicômoro com o chute no meio da cara que as palavras de Tate me deram. Pisquei algumas vezes, tentando ao máximo não me sentir ofendida, mas falhei miseravelmente. Eu não era sexy?! E por que ele ficava me chamando de anjo?! Senti um pequeno ódio queimar em meu peito, mas me limitei em revirar os olhos e suspirar.

Minha voz não saiu tão indiferente quanto eu gostaria.

— Eu já falei pela milionésima vez que não sou um anjo!

Eu sei que ele não estava fazendo para me irritar, mas quando ele riu fiquei ainda mais puta. Queria empurrar Tate de cima do galho para ver se ele ainda ia rir. Idiota.

— Eu só estou constatando fatos.

— Bem, os seus fatos são uma merda e não são fatos coisa nenhuma.

Ele riu de novo e eu cruzei os braços sobre o peito. Queria me virar e falar algumas coisas para ele, mas resisti ao impulso. Tate demorou um pouco até falar novamente.

— Ok, então me diga, cereja. Qual foi a pior coisa que você já fez?

Tentei cavar em minha mente todas as coisas erradas que havia feito durante a minha vida, mas não achei muitas. Me lembrei de quando eu tinha doze anos e tentei roubar uma bala de uma loja, mas minha mãe logo percebeu e me fez devolver e pedir desculpas para a atendente antes mesmo de eu conseguir furtá-la. E eu também tinha só dez anos de idade.

Me lembrei de uma vez que chamei uma amiga minha de gorda e ela começou a chorar. No entanto, eu me senti tão mal depois daquilo que pedi desculpas e gastei todo o meu troco do almoço para comprar um sorvete para dividirmos. E, de novo, eu devia ter uns seis anos de idade quando isso aconteceu.

Eu não havia vivido dezesseis anos de uma santa, mas todas as coisas que consegui resgatar fariam Tate rir da minha cara por ter sido a pior delas. Eu não costumava desobedecer aos meus pais e tudo o que eu fazia era confidenciado para eles, então não tinha nada muito ruim que eu já tivesse arquitetado.

E foi aí que me lembrei.

— Ok, tinha esse garoto que se chamava Andrew White.

— Eu vou querer ouvir isso?

Tate me interrompeu antes que eu pudesse continuar. Tive que segurar a minha risada e ele claramente percebeu porque pude ouvi-lo suspirar.

— Bom, você perguntou, agora vai ter que ouvir. — Sorri em tom vitorioso antes de continuar. — Enfim. Andrew era um dos garotos populares da escola e minha melhor amiga, Mia, tinha uma queda enorme por ele. Só que, por alguma razão, ele gostava de mim.

— Certo.

— ... Nós havíamos torcido para um jogo de homecoming e depois fomos para o baile. Mia era minha cocapitã do time e o Andrew era quarterback, então eu sempre defendi que eles fariam o casal mais lindo do mundo. Só que eu não tinha ideia de que Andrew gostava de mim e, no baile, ele confessou. Só que eu tinha dito para Mia que ela deveria confessar para ele naquela mesma noite antes de ele dizer que gostava de mim. — Fiz uma careta, soltando um suspiro culpado. — Ela ficou tão chateada. Lembro que mandei Andrew se foder e larguei o baile com Mia e Jossie para assistir uns filmes lá em casa e tomar sorvete.

Eu me lembrava daquela noite como se fosse antes. Eu me sentia tão culpada por ter apoiado minha amiga em um romance que jamais daria certo! E nunca serei capaz de me esquecer da forma com que ela ficou triste quando Andrew falou, na frente de todo mundo, que ele tinha sentimentos por mim. Eu sequer poderia imaginar.

— É isso?

Fiquei em choque quando senti o tom debochado na voz de Tate. Ele havia escutado a história?

— Bem... Sim.

— Então, deixa eu ver se entendi: a pior coisa que você já fez foi incentivar sua melhor amiga a ficar com um cara que gostava de você... Mas você não sabia disso. E quando descobriu simplesmente mandou ele se explodir e-... Bem, ficou do lado da sua amiga...?

Pisquei algumas vezes, indignada pela forma que a história soou ridícula quando dita daquela maneira. Mas ele não havia visto como Mia ficou decepcionada! Ele não estava lá para saber!

Cruzei os braços, sentindo certo rancor pela ridicularização.

— Sim, Tate. É exatamente isso.

Ele riu e eu soltei um grunhido. Eu odiava quando ele fazia isso, quando ria de mim como se eu fosse uma espécie de criança fofa. Eu não era! Eu era uma mulher e agora queria descobrir como eu poderia fazê-lo me enxergar daquela maneira, uma vez que havia descoberto que ele me via como uma espécie de bichinho fofinho.

— Você é um anjo.

— Eu sou completamente capaz de ser sexy, ok? — Disparei em tom irritado. — E eu não sou um anjo.

— Tudo bem. — Ele finalmente cedeu, fazendo com que eu suspirasse e me sentisse um pouco ridícula por ter ficado brava. — Mas essa não pode ter sido a pior coisa que você já fez. Vamos lá, vou te ajudar: você já roubou dinheiro da bolsa dos seus pais sem eles saberem?

— Não.

Franzi a testa um pouco confusa. Por que eu faria isso? Eles sempre me davam dinheiro quando eu precisava ir à algum lugar. Isso não fazia sentido algum.

— Certo. Já bateu em alguém porque estavam te irritando?

— ... Não.

— Você já experimentou algum tipo de droga?

— O que?! — Arregalei os olhos completamente assustada com a pergunta. Pensei em olhar para ele, mas Tate logo me repreendeu novamente por tentar virar. Bufei, ainda indignada. — É claro que não! Credo!

— Cereja, você sequer já bebeu?

Ele estava se divertindo com aquilo, eu podia sentir pelo seu tom de voz. Soltei um suspiro pesado e revirei os olhos.

— Não.

— Sério? — Agora ele pareceu surpreso quando riu. — Ok. Você já matou algum bicho? Insetos não contam.

— Por que não?! Insetos são animais também! E sim! Já matei! Aracnídeos.

— Nerd. Aracnídeos entram em insetos.

— Não entram não.

Cruzei os braços como uma criança mimada, fazendo com que ele desse risada novamente. Não consegui resistir ao impulso de sorrir ao escutar aquela gargalhada tão sincera.

— Você já transou?

Senti meu rosto corar completamente e perdi o chão com aquela pergunta. O sonho que havia tido na noite anterior voltou à minha memória e senti meu rosto arder, provavelmente corando na cor vermelha mais intensa possível. Questionei quanto tempo eu demoraria para cavar um buraco e me enterrar, porque Tate riria muito da minha cara se eu contasse a verdade e dissesse que eu era virgem.

— Já.

— Mentirosa.

Arregalei os olhos com a velocidade em que ele me desmentiu. Não entendi porque diabos ele tinha tanta certeza que eu era virgem e concluí que não queria saber a resposta para aquela pergunta. Então apenas cruzei os braços como uma criança e balancei a cabeça em negação.

— Não quero mais brincar disso. Quando esse desenho vai ficar pronto?

— Paciência, cereja.

Revirei os olhos ao seu tom bem-humorado e suspirei, voltando a observar a imagem do parque que me trazia paz. Voltei a sorrir quando encontrei a criança loirinha e o vi agora dividindo um sorvete com o seu pai e uma mulher que deveria ser a sua mãe. Os três pareciam tão felizes que esquentaram o meu coração emputecido com Tate Langdon.

— O que você está encarando?

— Aquela família. — Apontei na direção, sem saber se ele estava olhando ou não. — Às vezes eu sonho em ter filhos também. Depois que eu estiver em um bom nível da minha carreira de cantora, quero ter três.

— Três filhos?

— Sim. Quero uma família grande. Eu, por exemplo, odeio ser filha única. Quando temos mais irmãos, sinto que ninguém fica sozinho, sabe? Além disso, tem também a questão da atenção. Meus pais estão sempre 100% ligados e focados no que eu estou fazendo, como se cada passo fosse observado e como se eu fosse mais cobrada por ser a única expectativa que eles têm. Sou só eu, sabe? Então tenho que ter as melhores notas, ser uma pessoa exemplar, conseguir superar todos os seus sonhos...

Desabafei conforme me perdia pela paisagem. Como Tate se manteve em silêncio, continuei.

— Não que eu ache que meus pais deixariam de me amar se eu falhasse. Eles me amam mais do que tudo! Mas às vezes me sinto um pouco sobrecarregada e fantasio como seria só fugir. Largar tudo para trás e correr das minhas obrigações.

— Não fale isso, Cherry. Eu mataria para ter pais como os seus.

Interrompi meus devaneios quando ouvi o tom sério vindo de trás de mim. Senti meu corpo congelar levemente pela quantidade de mágoa em sua voz.

Lá estávamos nós, entrando no assunto de família mais uma vez.

— Você não se dá bem com os seus pais?

Tate soltou um suspiro pesado e me preparei para ele desviar o assunto como de costume, mas ele não fez isso.

— Meu pai saiu de casa quando eu tinha seis anos de idade. E foi simples assim: sumiu. Não deixou um adeus, um bilhete, nada. Só desapareceu. Depois disso a vadia da minha mãe só começou a enfiar homens dentro de casa, um atrás do outro, sequer ligando para os filhos dela. — Senti meu corpo me arrepiar conforme o tom de rancor se intensificava enquanto seguia com a sua fala. Me lembrei imediatamente das coisas que Georgia, Lela e Hannah haviam me contado sobre a mãe de Tate. — Eu só fico extremamente puto porque ele não me levou, sabe? Foda-se o fato de ele ter fugido, se eu pudesse eu fugiria também. Mas ele me deixou com a boqueteira.

Engasguei um pouco com minha própria saliva. Tate não precisou dizer que não tinha uma relação boa com a mãe porque isso ficou claro como cristal em sua fala. Pisquei algumas vezes, um pouco em choque ao tentar entender como alguém poderia falar assim da própria mãe. Ou pior: como odiar ou guardar tanto rancor da pessoa que te colocou no mundo?

E a parte mais bizarra de todo aquele discurso, foi que mesmo Tate dizendo que seu pai o abandonou quando criança, não era dele que ele tinha remorso. Mesmo sendo abandonado, toda a sua repulsa era direcionada à mulher que o criou sozinha.

É claro que não disse isso, mas achei um tanto injusto.

— Você disse “filhos”. São apenas você e Addy ou-

— Pronto. Pode virar.

Fiquei tão ansiosa para ver o que Tate fazia que nem insisti na minha pergunta. Virei meu corpo e me sentei, agora de frente para ele, fitando o tronco da árvore entalhada com um coração um tanto quanto torto. Dentro do coração havia um T + C, junto de uma pequena frase em caligrafia terrível, onde lia-se — com dificuldade — o simples dizer: “quer ser a minha namorada?”.

O sorriso que se formou em meu rosto foi tão grande que tomou todo o perímetro de uma orelha à outra. Senti meu coração disparar com aquele gesto tão simples e soltei uma risada divertida conforme o rapaz me observava um pouco sem jeito.

— Espere. Eu não consigo ler o que você escreveu aí. Quer ter-... minha... Sapatada? Cacetada? Macacada?

— Vá se foder, cereja.

Soltei uma gargalhada com a reação do rapaz e o puxei para um abraço, colando os meus lábios no seu e apertando-o forte contra mim. Tate retribuiu o gesto e me abraçou com vontade, fazendo com que eu pensasse que fôssemos cair, mas isso nunca aconteceu. Apenas dei uma risadinha gostosa contra os seus lábios e me indignei com o fato de eu estar tão feliz.

Eu poderia explodir em purpurina naquele momento.

— Sim, Tate. Eu quero ser a sua namorada.

— Você leu isso? Porque era definitivamente para ser “macacada”. Que constrangedor.

Gargalhei mais uma vez, beijando-o com vontade e saboreando aquele gosto viciante.

Naquele momento tudo se tornou oficial. E não me refiro apenas ao fato de eu poder, de uma vez por todas, chamar Tate de meu “namorado”. Naquele momento eu percebi, sem qualquer sombra de dúvida, que eu estava completamente apaixonada pelo garoto de cabelos dourados.

A tarde passou rápido e, mesmo que eu tivesse dito milhões de vezes que não precisava, Tate insistiu em me acompanhar até em casa. Quando alcançamos a calçada, percebi que o carro dos meus pais estava na garagem e que eles já haviam chegado do compromisso que haviam marcado naquela tarde.

Abri um sorriso largo quando Tate me surpreendeu com um beijo e retribui, abraçando o seu pescoço conforme me embebedava do meu mais novo esporte favorito em todo o mundo.

— Boa noite, cereja.

— Boa noite, Tate. Obrigada pelo dia.

O rapaz sorriu em resposta e segurou minha mão quando me afastei. Senti meu coração reclamar por estar o deixando, mesmo que fosse por algumas horas. Eu nunca havia sentido nada parecido com o que eu sentia por Tate e ainda estava aprendendo a administrar toda aquela intensidade. Era como se eu pudesse chorar só de pensar que teria que esperar segunda-feira para encontra-lo novamente.

Ele ia me dizer alguma coisa, mas foi interrompido quando a porta de casa se abriu. Meus pais nos receberam com um sorriso quando perceberam que eu havia chegado e logo hesitaram quando pareceram reparar que eu segurava a mão do loiro na minha. Por impulso, Tate me soltou.

— Tate, boa noite. É um prazer vê-lo de novo.

Mamãe sorriu em tom simpático, conforme o rapaz assentia em tom tímido. Ele acenou em um gesto acanhado, limpando a garganta.

— Sr. e Sra. Griffin. Boa noite.

— Obrigado por trazê-la de volta, Tate. — Papai falou em tom um pouco mais firme, mas ainda mantendo a simpatia. — Você quer entrar um pouco?

— Não, obrigado. Tenho que voltar para a casa antes que minha mãe se irrite por estar tarde. Huh- — Ele gaguejou um pouco ao se virar na minha direção. Como ele não sabia muito o que fazer, se inclinou e depositou um beijo em meu rosto. Não resisti em sorrir. — Boa noite, cereja. Te vejo na escola. Huh- Senhor e Senhora Griffin... Boa noite!

— Boa noite, Tate.

Mamãe acenou conforme ele me abria um último sorrisinho sem jeito e disparava na direção oposta. Meus olhos caíram em meus pais e meu sorriso morreu no momento em que ambos cruzaram os braços. Mamãe tinha um sorriso divertido no rosto e papai me observava com uma sobrancelha erguida.

Eu já soube que a noite seria longa porque eu teria muitas explicações a dar.


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Notas finais do capítulo

Tks



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