Amor na Língua dos Sinais escrita por Eponine


Capítulo 1
Capítulo Único




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Segundo seu pai, os Weasley eram uma família barulhenta.

Muitas pessoas em um único lugar, muitas conversas desconexas, muitas discussões acaloradas e muitas gargalhadas. Ela reparou nisso nos anos que passou o Natal com eles. Hugo e Alice viveram muito tempo na França, ele quis conciliar uma faculdade trouxa sobre tecnologia e um curso de execução de Artefatos Mágicos. Mas Alice passou aqueles três anos pós Hogwarts estudando História Bruxa.

Ela passou sua adolescência inteira pronta para ser jogadora de Quadribol, mas ela se apaixonou pelo glamour da História. O fato de você se tornar capaz de entender as pessoas por conta de seu contexto histórico, não só pessoas como o mundo ao seu redor. Ela ficava fascinada com cada detalhe, História era a explicação para absolutamente tudo.

“Está ansiosa?”, perguntou Hugo, sonolento demais para fazer sinais concretos. Alice assentiu lentamente, de olhos arregalados, fazendo seu noivo rir.

“Como vou falar com eles?”, perguntou ela.

“Eu vou traduzir tudo”, respondeu ele, dando as mãos para sua noiva enquanto caminhavam pelas ruas de Londres.

“O tempo inteiro? Vai ter uma hora que você vai precisar ir ao banheiro ou dormir”, Hugo beijou a testa de Alice, tentando sugar sua preocupação, mas a garota estava até mesmo andando dura. Os Natais que passara n’A Toca foram frustrantes assim como a vida diária de Alice é frustrante.

Almoçar no refeitório e querer saber o que as pessoas ao seu redor estão falando. Não se tocar que está rolando uma conversa bem ao seu lado e ela é incapaz de saber o porque das pessoas estarem gargalhando tanto. Ela era forçada a ser solitária, não é todos os dias que aparece um Hugo Weasley, determinado a aprender a língua dos sinais apenas para se comunicar com ela.

Hogwarts fora uma tortura, mas pelo menos ela tinha algum pingado de pessoas que se esforçavam para falar com ela, mas no mundo fora da escola, ninguém tinha tempo para isso.

Estar em casa era diferente, seus pais falavam, assim como Hugo, mas eles falavam e faziam sinais ao mesmo tempo, para garantir que ela não perdesse nem mesmo um segundo da conversa. Ela ficava triste ao ver que sua casa sempre seria o único lugar onde ela não se sentiria castigada pela solidão.

Ainda sentia palpitação de todas as vezes em que chegava em seu curso e notava algo diferente. As pessoas lhe olhavam torto, se questionando “Como ela não ficou sabendo?”, se esquecendo que ela não ouviu tal pessoa berrando que eles iriam visitar um museu ou era para trazer tal trabalho dois dias adiantado. Talvez ela devesse ter perguntado mais vezes, mas as regras sociais para Alice eram confusas, uma vez que ela não teve muitas interações sociais para exibir.

Quando finalmente aparataram n’A Toca após o almoço nos Longbottom, Alice estava com vontade de chorar de desespero. Seu noivo sorriu para ela docilmente e sua avó abriu a porta, de boca aberta.

Ela está gritando, pensou Alice, sorrindo, nervosa. Um batalhão de pessoas apertou-se porta afora para agarrar Hugo, com suas bocas mexendo sem parar, e Alice não entendendo nada que estava acontecendo. A Ministra da Magia, senhora Weasley, sorriu para ela, acenando e aproximando-se para abraça-la.

Alice acenou, também sorrindo enormemente. Hugo soltou-se da multidão e agarrou o ombro de Alice, apontando para ela. A mulher olhou todas aquelas pessoas falantes, frustrada, não entendendo o que as criancinhas falavam e o que os adultos tanto cutucavam Hugo, o usando como tradutor.

“Meus pais estão muito felizes por te ver!”, traduziu Hugo, rindo de algo que alguém disse. “Vovó perguntou se você passa fome... Muito magrinha...” ele parou de fazer os sinais para gargalhar de algo que alguém disse e Alice perguntou-se se eles pensavam que ela entendia algo olhando e falando na direção dela, ou falando todos juntos ao mesmo tempo, Hugo não seria capaz de traduzir tudo.

Hugo parecia tão eufórico em rever a família que não estava tendo tempo para fazer sinais em tudo que falava. Alice foi arrastada para dentro da casa por Ginny Potter. Ela tremeu um pouco com seu sorriso enorme ao apertar a mão de Harry Potter, dando pulinhos de felicidade. Ele pareceu riu e acenou diversas vezes, frustrado por não conseguir dizer mais. A mulher ruiva pegou um prato e apontou para ele, apontando para a boca, fingindo mastigar.

Alice negou com a cabeça, passando a mão na barriga como se ela fosse enorme.

Ginny deu um passo para trás, a olhando estranho. Agarrou Hugo e disse algo, fazendo o homem dar um pulo e arregalar os olhos.

“Por que ela está perguntando se você está grávida???”, indagou ele, visivelmente trêmulo. Alice abriu a boca, surpresa, negando a cabeça freneticamente.

“Eu quis dizer que estava de barriga cheia!”, disse ela, desesperada. Hugo soltou um sopro de alivio, sorrindo bobamente para a tia, falando para ela o que Alice disse. Ginny bateu a mão na testa, gargalhando.

Ela continuou sendo rodeada de pessoas falantes, que a olhavam como se fosse um boneco quebrado, em que elas tentavam concertar de todas as maneiras, desde mimicas ininteligíveis a falar bem próximo dos ouvidos dela, como se ela fosse ouvir pelo menos um sussurro, ou pior, falar bem devagar, mas Alice não conseguia ler lábios sempre, porque ela tem um vocabulário bem limitado com leitura de lábios, e fica pior com pessoas do interior da Inglaterra.

Nos Natais que passara lá, ela ensinou algumas coisinhas para eles, todos muito empolgados e curiosos, prontos para aprender, mas o problema é: Ninguém sobrevive após a empolgação, falar em língua dos sinais é aprender uma nova língua, e isso exige prática e comprometimento. A única pessoa que realmente pareceu decidida em aprender fora a Ministra Hermione, sua sogra, mas ainda assim ela só sabia pouco.

“Eu ainda estou fazendo meu curso”, disse ela, devagar, “Mas eu tive que parar por conta de uma...” ela coçou a cabeça, sem saber como falar a palavra. Sibilou ‘viagem’ bem devagar, imitando estar em uma vassoura, e Alice assentiu, aliviada por ter entendido.

Alice começou a ficar estressada com Hugo, como uma namorada possessa, por não saber do que ele estava rindo tanto. Queria cutucar seu peito até ele falar, já que não alcançava seus ombros, sentia que estava fora de uma grande piada e queria saber o que era, não se importava se perderia a graça ou não. Foi um castigo dos deuses terem feito Alice alguém tão comunicativa em vez de ser introspectiva, se fosse assim, pelo menos não se frustraria em ficar de fora de todas as conversas.

Teve brigas terríveis com Hugo tentando implantar coisas trouxas em sua cabeça, dizendo que ela poderia começar a escutar pelo menos ruídos, ou lhe dar um celular para ela ver como era fácil conversar pela tal da internet. Mas Alice não quer isso, ela é egoísta, quer que todos se adaptem a ela, não ela aos outros.

Fechou-se completamente o resto do dia, fingindo ter muito interesse pelos gnomos no jardim. Quis sair correndo para casa quando ninguém estava olhando, mas manteve-se firme, negando-se a chorar. Fez questão de manter a cabeça baixa durante o jantar, para que ninguém ficasse fazendo mimica como se ela fosse uma retardada.

Hugo já sabia que teria uma briga para enfrentar quando entrou no quarto após o banho e viu sua noiva sentada na cama, coberta pelos cobertos, de braços cruzados, parecendo uma criancinha magrela irritada.

“Alice, você ficar com raiva não vai resolver nada”, disse ele, cauteloso, ainda próximo da porta.

“Você quer que eu comece a gargalhar de felicidade sabendo que vou passar a vida toda sem conseguir me comunicar com eles?”, ela fez o sinais tão rápido e com tanta violência que o garoto deu uns passos para trás, procurando seus óculos. Ela sempre sentia culpa em brigar com Hugo, era estranho estressar-se com alguém dócil. Ele era muito atencioso e carinhoso, o perfeito estereótipo do nerd tímido, então estressar-se com ele parecia injusto.

Mas ela sentia tanta frustração o tempo inteiro!

“Você precisa entender que chegou literalmente hoje, eles não vivem com você. Acha mesmo que eles vão ficar na ignorância para sempre? Que não morrer sem saber como falar com você? Acha mesmo que isso vai acontecer?”, questionou Hugo, tranquilo. “Tenha um pouco mais de paciência, todos vão aprender, eu vou ensiná-los”.

A mulher girou os olhos, ainda irritada. Ele deitou-se ao lado da esposa, roubando-lhe um beijo na bochecha, também sentado, pronto para terminar de ler seu livro. Alice deitou-se, irritada, e ficou olhando a janela, com mais uma preocupação em sua cabeça.

Na manhã seguinte, era mais um dia de frustração na vida de Alice. Mais piadas perdidas, mais conversas perdidas. Conforme os dias se passavam, melhor Potter se tornava na arte da mimica, fazendo Alice rir algumas vezes com a criatividade da mulher. Gosta da forma direta da Vovó Weasley em apenas lhe empurrar comida, sem perguntar se ela queria ou não. Com a convivência e ajuda do filho, a Ministra Hermione também estava se tornando cada vez melhor em falar com Alice, e aos poucos, elas estavam conseguindo ter conversas concretas.

“Eu sinto alívio em ver que meu filho vai se casar com alguém tão inteligente”, disse Hermione, fazendo Alice chorar de felicidade. “Era isso que eu sempre quis te dizer”.

As crianças eram as que aprendiam mais rápido, e as pessoinhas com quem Alice mais gostava de se comunicar. Ela chorava de emoção sempre que Rose Malfoy a deixava segurar a recém-nascida Astoria. Ela assistia a pequena se contorcer em seu colo, agraciando o mundo, soltando seus lindos barulhinhos que Alice nunca escutaria. Ela nunca escutaria seu bebê chorar.

Tinha medo de seu filho ser surdo igual a ela. Não queria que quando crescesse, saísse com seus colegas e ficasse em silêncio absoluto por horas, apenas assistindo a conversa e riso alheio, sentindo o ser mais inútil e mal-amado do planeta.

Vovô Weasley, já muito velho, mas engenhoso, enfeitiçou a pena de repetição-rápida para que escrevesse tudo que ele fala, assim ficaria mais fácil. Ela ria do pequeno bloquinho o seguindo pela Toca e ficava encantada em como realmente, Hugo puxou tudo do avô. Passava tarde inteiras tomando chá e observando a conversa animada dos dois mexendo em um computador.

George Weasley apareceu animado na véspera do casamento, com um cachimbo. Ele fumou, fazendo a família brigar e olhá-lo com decepção, mas quando ele respondeu, a fumaça tornou-se o que ele disse:

Vamos fumar!, riu ele olhando as palavras acima dele. Alice bateu palmas, impressionada. Segundo ele, não era tabaco, não fazia mal a saúde, e todos poderiam falar com Alice. Começaram a discutir que o método do vovô Weasley era bem mais útil, mas a Ministra disse que todos deveriam aprender BSL em vez de arranjar desculpas, mas Ginny dizia que mimicam serve para todos.

 

Is this Happiness - Lana Del Rey

 

Alice sorriu enormemente para Hugo, dando-lhe um beijo amoroso.

O casamento fora no Chalé das Conchas e não tinham muitas pessoas, já que eles deixaram grande parte dos conhecidos na França, mas os amigos próximos viajaram para a cerimônia. O local estava cheio, mas o silêncio ainda se esgueirava nos ouvidos de Alice, a deixando longe de tudo. Ela aprendeu a cutucar as pessoas na casa e perguntar sim sobre o que estavam falando, eles não ficariam bravos, ela não precisava ter vergonha.

Parou de sentir raiva dos que ouviam.

Quando ela e Hugo estavam no altar, ela não conseguia nem piscar para as mãos do Oficial de Cerimônia, com medo de perder algo. Seu futuro marido tocou seu queixo e sorriu para ela, dando de ombros. Ela amava Hugo se seus óculos de desenho animado, a forma como ele era estranho e introspectivo.

Ele pareceu abrir a força a bolha de silêncio ao redor de Alice, entrando nela. A mulher chorou, emocionada, com o mais lindo sorriso que todos conheciam. Eles estavam protegidos do mundo inteiro naquele mundinho pequeno e particular, onde não são todos que querem conhecer ou veem.

Alice olhou os Weasley no minuto em que se tornou uma, assinando sua certidão.

Em vez de palmas, todos faziam sinais, dizendo coisas bonitas. George parecia enlouquecido, fumando seu cachimbo, soltando diversas frases de felicidade. Ela sorriu para a sua família, emocionada. Hugo beijou sua bochecha, sorrindo.

“Eu amo você”, disse ele, com as mãos trêmulas.

“Eu amo você”, disse Alice.


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Notas finais do capítulo

Sim, eu oficializei o shipp que vocês viram em O Ano Mais Silencioso.

Finalmente disse o futuro que eu gostaria de dar para ela, e não, os filhos dela não serão surdos.

Espero que gostem.


;)