21 de Setembro de 1933

Angeline PDV

Nunca imaginei que os planos de Charles para mim fossem estes. Ele quer se casar comigo! Ninguém sabe que ele é meu pai? Todos os vizinhos pensam que a filha de Esme foi levada com ela quando ela fugiu.

Será que eles não vêem que a menina sou eu? Será que não percebem que eu pareço com Esme?

Charles vai se casar comigo! Mal posso acreditar. Ele é 30 anos mais velho do que eu. Eu tenho apenas 12 anos! Na verdade, depois de amanhã é meu aniversário de 13 anos. O aniversário dele é dia 31 de março. 31 ao contrario 13, numero de azar. Meu azar. Oh pobre de mim, tenho pena de mim mesma.

Todos esses anos ele estava me preparando para ser a nova Sra. Evenson. Inclusive me chama pelo nome que tinha sua própria mãe – que eu não conheci, mas Charles diz que eu até lembro ela um pouco. Só agora eu percebo isso.

Foi tudo armado! Foi tudo muito bem articulado. É um plano diabólico. Ele é diabólico. Eu vou casar com meu próprio pai! Ele vai me obrigar. Ele vai me fazer pecar e ir para o inferno. Eu não quero ir para o inferno! Não quero arder para sempre no fogo eterno. Deus, não me deixe, SOCORRO!, grito em pensamento, e chorando em agonia.

Eu deveria estar feliz hoje, casar é algo por que as mulheres anseiam. Mas eu ainda sou uma menina, não sou uma mulher. Tento engolir as lágrimas não vai adiantar. Eu estou condenada. Posso correr e fugir. Mas depois que Charles me pegar vai ser pior ainda. Então é melhor nem tentar. Não quero apanhar. Estou cansada disso. Estou farta de apanhar sem motivo. Se puder evitar, prefiro evitar surras desnecessárias.

Agora até parece irônico que quando eu vim morar com meu pai há 5 anos aproximadamente eu tivesse medo que ele iria me matar. Eu tinha medo que ele fizesse o que ele queria fazer quando eu nasci. Agora isso seria preferível. Mas o tempo passou e ele mudou de ideia.

Seus planos para mim, por sorte ou azar, ainda não sei, eram outros. E agora estão prestes a se concretizar. Ele não dá ponto sem nó, vai me manter a seu lado, presa, para sempre. Bom, ao menos até a morte dele. Pelo menos nisso o tempo está a meu favor e ele vai morrer antes de mim, provavelmente. A não ser que ele me mate de pancada. O que é bem capaz.

Charles vai me fazer pior do que matar apenas. Ele vai me levar a pecar, para ir para o inferno com ele. Pois ele com certeza sabe que vai para o inferno por ter matado não sei quantas pessoas, inclusive durante a guerra, além de minha vovó querida, Caroline.

Mas eu não vou ser apenas Evenson, posso ser apenas Evenson no papel, mas em meu coração eu sou e sempre serei Platt, como minha mãe, minha avó e meu avô que eu nem conheci. Ele era um homem bom como a vovó me disse um dia quando eu perguntei, pois queria conhecer e saber sobre o pai de minha mãe, Esme.

O casamento vai ser apenas no cartório – é claro, na igreja seria muita ousadia de Charles. Seria capaz de que se ele fizesse uma cerimônia na igreja Deus o castigasse mandando um raio do céu que o fulminaria na hora.

Ah como eu queria que isso acontecesse para ele ver que tem limite" ele não pode fazer tudo o que quer.

Como eu não aprendi a escrever ainda vou apenas fazer uma rubrica com meu nome como a vizinha me ensinou.

A vizinha é uma senhora viúva muito boa, que se mudou há pouco tempo para a casa ao lado, que me ajuda com aulas de caligrafia, francês e piano. Ela se chama Elizabeth. Eu vou ao mercado com ela porque ela não pode carregar muito peso, nem andar muito.

De certa forma Elizabeth lembra muito a minha mãe. Minha avó me disse que Esme era professora antes de se casar com Charles. Minha vizinha continuava o que minha avó Caroline havia começado a me ensinar.

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Agora eu e Charles estamos oficialmente casados. Infelizmente para mim, ninguém apareceu, nem um fenômeno sobrenatural ocorreu para impedir que isso acontecesse.

Claro que eu casei forçada, pois se alguém me ouvisse a minha opinião não havia sido realizada a cerimônia. Mas como foi tudo à revelia, aquém da minha vontade, ninguém levou em consideração o meu desejo. Eu sou muito nova e Charles é o meu 'responsável', pode fazer o que quiser de mim, ao seu dispor, conforme sua vontade e se aproveita de mim conforme quiser.

Ele disse, inventou, que eu sou sua prima ou sobrinha, algo assim, não sei exatamente, e não tenho mais nenhum parente vivo para cuidar de mim então ele vai assumir a responsabilidade. Vai se casar comigo também para facilitar sua ‘nobre’ tarefa e ter uma mulher novamente, pois é viúvo, supostamente, há muito tempo e tem necessidades.

As necessidades dos homens são levadas em consideração e as mulheres não devem ter vontades, nem necessidades e permanecer caladas. Cumprir as vontades do marido. Estar sempre pronta para o que ele quiser.

A sociedade, é claro, não vê nenhum problema nisso. Não há nenhum problema no fato de um homem mais velho se casar com uma mulher mais jovem. Não sou considerada mais uma menina, embora ainda nem tenha me tornado uma moça ainda. O fato de ser mulher é diferente para a justiça e para a biologia. Para a justiça é só ter mais de 12 anos e ser do sexo feminino. Para a biologia é quando uma menina pode ser mãe, deixa de ser menina para ser mulher.

Charles já era meu tutor e responsável perante a lei e vai continuar cuidando de mim agora que estamos casados. Cuidar do jeito dele. O fato de termos nos casado não é para garantir o meu bem-estar, mas sim para o bem dele. Para me manter ainda mais presa a ele também pela lei.

Eu acho que sei o que ele quer... quer ter um filho homem para continuar a linhagem dos Evenson. Continuar uma linhagem maldita. Eu preferiria ser estéril, mas acho que não vai ser assim. A natureza não está sob nosso controle, ao contrario, nós estamos sob seu controle apesar de queremos não conseguimos fazer  chover ou ter sol quando queremos.

Essa noite depois do jantar, eu subi para o meu quarto e fui dormir. Confesso que eu estava tremendo com muito medo de que Charles entrasse no quarto a qualquer momento e quisesse me tomar à força.

Ajoelhei ao lado da cama e rezei pedindo para que Deus não deixasse que nada de mal me acontecesse. Amém.

Levantei-me e fiquei em pé. Ergui as cobertas e me deitei na cama. Logo adormeci.

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