Algum tempo se passou desde a chuva de meteoros. Tweek ficou levemente chateado com Francis quando soube que Kyle levou Kenny para o acampamento, mas Francis não se ofereceu para levá-lo, mesmo assim o loiro contou alegremente sobre a sua aventura assistindo a chuva de meteoros com Craig.

Nesse meio tempo, também ocorreu a festa de Halloween. Craig foi fantasiado de astronauta e Tweek de gnomo. Ambas as fantasias foram julgadas como ridículas.

Outra coisa foi a febre Chinpokomon. No início apenas algumas crianças assistiam esse desenho, mas em seguida a moda tomou proporções estratosféricas e repentinamente não era possível encontrar uma só criança que não conhecesse os personagens. Craig chegou ao ponto de parar de assistir Red Racer, sacrifício necessário pois ambos os programas eram transmitidos no mesmo horário na televisão. Tweek não era dos mais atentos, mas conhecia o desenho e sabia que a venda dos brinquedos tinha começado.

Numa bela tarde, Craig e Token chamaram o garoto loiro para comprarem os tais brinquedos juntos. Clyde também foi convidado, mas se desculpou dizendo que sairia com Bebe.

Quando os três chegaram na loja, descobriram que todos seus colegas estavam lá. Até mesmo Clyde, o mentiroso.

— O que você está fazendo aqui? — Inquiriu Token, quando se aproximaram do garoto.

— Ah... oi, caras. — Respondeu Clyde, envergonhado, com o braço atrás da cabeça. — tive que vir com a Bebe, sabem... hehe... Ela não faz nada sem mim!

— Mulherengo. —   Escarneceu Craig friamente, enquanto procurava seu Chinpokomon preferido, Donkeytron, nas prateleiras da loja.

Tanto Tweek, quanto Craig tinham um pouco de medo de se interessar por garotas e acabarem igual Clyde.

O garoto loiro se afastou um pouco de seus amigos para procurar seu Chinpokomon favorito, Furrycat, quando, para sua surpresa, encontrou Francis.

— Oi, Tweek! — Saudou Francis, acenando para ele.

— Argh! — Gritou Tweek, como se isso fosse uma resposta realmente válida. Francis já estava acostumado com essas respostas, então continuou normalmente.

— O que você veio fazer aqui, cara? — Perguntou Francis, alegremente.

— Vim... Argh! Comprar um Chinpokomon. — Explicou Tweek, voltando a olhar a prateleira. — E você?

— Eu também. Qual é o seu favorito? — Questionou Francis, enquanto olhava as prateleiras junto com Tweek.

— Argh! Furrycat! — Respondeu Tweek.

— Oh, o meu também! Mas acho que acabaram todos. — Disse Francis desanimado.

Tweek então pegou um Ferrasnarf e caminhou para a fila, ele pagou e em seguida Francis fez o mesmo, porém ele acabou escolhendo um Shoe. Os dois amigos se despediram e Tweek foi circular na loja procurando Craig e Token, que ainda estavam em busca de Chinpokomons nas prateleiras quase vazias.

Com a grande procura por Chinpokos, Craig também não estava conseguindo encontrar seu favorito, mas Token por sua vez, segurava Shoe (o escolhido por ele) alegremente. Tweek ajudou o garoto da touca azul a procurar, por fim Craig resolveu levar um Fatdactyl.

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Vários dias se passaram e a moda continuava, depois de se falar muito e jogar muito Chinpokomon, chegou a notícia que haveria o “Acampamento Chinpokomon”.

Tweek e Craig, assim como todas as outras crianças, ficaram animados com a notícia e começarem a pedir para seus pais permissão para participarem do evento. Os pais de Craig não se importaram muito e deixaram Craig ir, mas o Sr. E a Sra. Tweak não estavam interessados em tornar simples a vida de Tweek, então complicaram as coisas para o loiro e tudo ficou mais difícil, eles deram uma bronca falha sobre como se sujeitar a essas modinhas infantis poderia torná-lo um desabrigado no futuro e esse tipo de coisa. No entanto, eles acabaram percebendo que Tweek estava determinado e o deixaram ir. Porém, isso só aconteceria se o loiro ajudasse na cafeteria.

E foi assim que Tweek sucumbiu, e ele trabalhou por semanas a fio como um prisioneiro, em um campo de concentração.

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No tão esperado dia, Tweek, Craig, Token e Clyde estavam seguindo juntos para o famoso acampamento, que ficava nas montanhas entre South Park e Denver. Ao chegarem lá, viram que todos seus colegas do terceiro ano tinham ido também.

— Sai do meio, ô! — Mandou Eric Cartman, passando por todos.

Nesse movimento, Cartman acabou empurrando Craig para cima de Tweek, foi próximo o suficiente para que os dedos deles se tocassem e um calor já familiar se espalhou pelo braço de cada um. Ambos ficaram confusos com a sensação, mas antes que qualquer um dos dois falasse algo sobre isso, a música de abertura do Chinpokomon começou a tocar e todas as crianças presentes vibraram.

— Atenção, atenção! — Gritou um homem japonês que estava no meio do palco, todos ficaram quietos, aguardando. —  Esse é o Acampamento do Chinpokomon.

— Queremos ser mestres Chinpokomon de todo o coração! — Repetiram todas as crianças em uníssono. Essa era uma frase muito usada pelos personagens do desenho.

— ...coração. — Disse Kyle, atrasado.

A maioria já tinha percebido que Kyle só estava ali por causa de seus amigos.

Craig encarou o ruivo com desprezo e começou a achar Kyle um idiota por apenas acompanhar e reproduzir a ação de seus amigos, em uma imitação falha. Então de repente, graças a essa rápida reflexão, o garoto da touca azul se deu conta de que ele também estava sendo um idiota, e começou a se perguntar o que ele estava fazendo ali.

Tweek percebera o olhar de tédio consternado no rosto do garoto moreno e o encarou.

— Qual o principal objetivo? — Perguntou o fabricante para a multidão de crianças.

Nesse momento, Craig trocou um olhar com Tweek, deu as costas aos amigos e saiu andando. O loiro ficou curioso e foi atrás do garoto.

— Craig aonde você... Argh! Vai? — Quis saber Tweek assim que o alcançou.

— Você reparou que tudo isso aqui ta uma merda? — Rebateu Craig, com seu tom indiferente de sempre. — Não acredito que parei de assistir meu precioso Red Racer por causa dessa bosta.

Tweek percebeu que Craig tinha uma certa razão. Chinpokomon era legal para ele, mas Tweek deixou de brincar com seus legos, deixou de construir cidades inteiras apenas para jogar o jogo do Chinpokomon e brincar com os monstrinhos, isso sem contar o trabalho semiescravo que teve de desempenhar na cafeteria para conseguir permissão para estar ali no Acampamento, agora mesmo.

— Você tem razão. Argh! — Concordou Tweek depois de uma rápida consideração.

Craig continuou andando e, ainda de costas ergueu a mão acima da cabeça e mostrou o dedo do meio para o fabricante no processo. Tweek foi atrás dele, sem nem mesmo saber para onde o garoto da touca azul ia.

— Aonde estamos... Argh! Indo, Craig? — Chamou Tweek por trás dele.

— Sei lá, pra onde podemos ir? — Craig devolveu a pergunta, se virando para encarar Tweek.

— Quer ir na minha casa? Argh! — Convidou o loiro.

Ele não queria ficar sozinho e sabia que seus pais iriam lhe dar uma bronca assim que chegasse em casa, portanto não queria estar sozinho quando isso acontecesse.

— Pode ser.— Concordou Craig, dando de ombros indiferente.

Ele gostava da companhia de Tweek, mesmo que ele nunca fosse admitir isso em voz alta.

Os dois garotos voltaram atrás e tentaram chamar Token e Clyde para irem embora com eles, mas os dois pareciam hipnotizados. Um pelos Chinpokomons, e o outro por todas as garotas que estavam ali, principalmente Bebe. Tweek e Craig desistiram de tentar convencê-los, e rumaram para a casa de Tweek.

O caminho seria longo e tortuoso, com muita neve e vento chicotando nos seus rostos no alto das montanhas, então os dois resolveram pegar um ônibus. Durante a viagem, eles conversaram sobre coisas aleatórias, e em um momento, Tweek tocou em um ponto “importante”, algo que ele pensara muitas vezes até ali.

— Argh! E se esses Chinpokomons forem os gnomos disfarçados, tentando nos distrair para pegar nossas cuecas? — Perguntou ele, apresentando a Craig nervosamente a sua mais nova teoria da conspiração.

Craig achou aquela teoria boa e bastante aprimorada para os padrões de Tweek. Como um estalo em sua mente ele lembrou da chuva de meteoros que os dois assistiram juntos e quase sorriu, antes de responder para Tweek.

— Sei lá, nunca se sabe. Não é? — Respondeu Craig, encarando a janela do ônibus e a neve fraca que rodopiava lá fora, seu olhar era indiferente como sempre.

Encorajado, Tweek continuou acrescentando coisas a sua teoria maluca até o fim da viagem, Craig acenava indiferente para cada cenário sinistro criado pelo loiro, mas parecia interessado o bastante para fazer acréscimos aqui e ali, como se Tweek precisasse de mais ideias conspiratórias.

O trajeto não demorou tanto quanto eles esperavam para chegar em South Park, envolvidos que estavam na conversa. A casa de Tweek não ficava muito longe do ponto de ônibus, então eles chegaram rapidamente.

Ao chegarem lá, Craig sentiu um cheiro muito forte de café.

Tudo naquela casa tinha cheiro de café, desde os móveis até o chão. Na parede da sala, havia uma foto da família de Tweak. Na foto, Tweek estava piscando e parecia nervoso, como sempre. Craig achava aqueles tiques do garoto loiro um pouco... bonitos? Ele não sabia dizer, só sabia que gostava, era diferente. Ele observou um pouco mais o resto da casa e percebeu que ela era pintada apenas com as cores bege e marrom, e havia um silêncio acolhedor.

Uma casa quieta e chata, bem como Craig gostava.

O Sr. e a Sra. Tweak não estavam em casa e Tweek agradeceu por isso, já que ele não levaria a bronca tão temida por ele, por agora.

— Então, o que vamos fazer? — Solicitou Craig, enquanto olhava tudo de cima a baixo.

— Vamos... Argh! Brincar de lego. — Disse Tweek, enquanto pegava uma térmica e duas canecas e subia as escadas.

Craig sabia que Tweek adorava brincar com legos, então aceitou e subiu as escadas com ele e, seguindo o loiro, entrou em seu quarto.

O quarto de Tweek, assim como o resto da casa, cheirava a café e além disso, era uma bagunça completa. Havia construções inacabadas de lego, brinquedos espalhados e várias xícaras e copos descartáveis de café vazios, assim como alguns posters de heróis e programas de TV.

Craig ficou levemente impressionado, pois nunca tinha visto um quarto tão bagunçado em toda sua vida.

— Quer um pouco de café, cara? — Ofereceu Tweek, enquanto derramava café da térmica em uma xícara verde.

— Pode ser. — Craig não gostava muito de café, mas estava se sentindo gelado e não tinha mais nada quente para tomar de qualquer forma.

Ele observou Tweek servindo café em uma xícara azul. Era fascinante o quanto a tremedeira do garoto loiro parecia não atrapalhar nesse momento, já que o conteúdo da térmica caiu com perfeição na xícara, sem derramar nenhuma gota.

— Argh! Por que ta me olhando assim, Craig? — Questionou Tweek, ao perceber os olhos azuis do garoto moreno fixos nele.

— Nada. — Disparou Craig, encarando o chão. — Vamos montar uma réplica da pista do episódio 12 de Red Racer? — Sugeriu o moreno dando as costas para o amigo.

Tweek assentiu e os dois tentaram fazer algo parecido com a pista que conheciam do desenho favorito de Craig usando legos, tanto quanto eles lembravam. O moreno da touca azul começou unindo alguns legos e formando um protótipo de estrada, mas Tweek nunca estava satisfeito e mudava peças de lugar o tempo todo.

Em um breve momento, as mãos dos dois se tocaram e um calor já conhecido se espalhou pelo braço de cada um. Tweek e Craig não comentaram a respeito e, mesmo com as bochechas levemente coradas continuaram tentando montar a “réplica” da pista.

Nesse mesmo momento, em uma árvore em frente à janela de Tweek, uma pessoa misteriosa os observava vendo a cena através de um binóculo, a pessoa sorriu e escorregou pelo tronco da árvore, correndo para algum lugar tão rápido quanto possível sobre a neve fofa.