O presente de Peeta para Prim escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 4
De pai para filhos




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Por Peeta

Ainda estou em frente ao armário onde guardamos os remédios, com as portas abertas, mas sem realmente prestar atenção ao que está guardado em seu interior.

Meu pensamento viaja e perpassa diversas imagens, das mais lindas às mais sombrias: o sorriso de Katniss para Prim na vitrine da padaria, a colheita dos tributos mortos nos últimos anos, a escolta do Distrito 12, Effie Trinket, sorteando o meu nome na próxima quarta-feira…

Não estava pensando nisso enquanto conversava com o Michael, mas agora tenho o pressentimento de que essa Colheita, de alguma maneira, será um divisor de águas para mim.

Isso nunca aconteceu em nenhuma das quatro cerimônias das quais já participei. Sinto uma urgência em meu peito, como se esses fossem meus últimos dias e eu não tivesse outra chance de realizar meus desejos mais profundos.

Tudo o que sonho dar e receber de Katniss. Um sorriso, uma palavra, um toque, um beijo. 

Meu coração acelera só de pensar que eu preciso sair dessa inércia, pois não terei mais tempo e só me restará arrependimento.

Meu pai se aproxima de onde estou e eu desperto dos meus devaneios.

— O que está procurando nesse armário, Peeta?

— A pomada para queimaduras.

— Estamos sem ela realmente. Já encomendei ao boticário há alguns dias, mas parece que não ficou pronta ainda.

— A dor já está diminuindo, de qualquer forma – exagero, para não deixá-lo preocupado.

— Veja o lado positivo. Não é sempre que nós temos a pomada e as cicatrizes que ficam viram o nosso diferencial com as garotas – graceja meu pai, exibindo as marcas em suas mãos. — Mas, falando sério, o que aconteceu? Michael disse que você está preocupado com a Colheita e, por distração, acabou se queimando.

— De certa forma, sim – confirmo, sem revelar que Michael omitiu a parte do susto que ele me deu. — Estou com um pressentimento diferente dessa vez.

Meu pai me fita com o olhar pesaroso.

— Sinto muito, filho. Não posso livrar você ou o Brad da Colheita. O máximo que pude fazer foi garantir que não precisassem das Tésseras.

— O senhor tem razão – comento com tristeza. — Só posso ser grato a vocês por nunca ter faltado alimento em nossa mesa e não ter sido necessário me inscrever para as Tésseras.

Em vários Distritos, qualquer criança entre 12 e 18 anos pode se inscrever para receber a Téssera, um pequeno suprimento anual de grãos e óleo.

No entanto, isso não é nenhuma liberalidade da Capital. Em troca, a criança terá seu nome colocado mais uma vez no sorteio da Colheita. A inscrição pode ser feita para receber as Tésseras para cada membro da família e isso significa mais chances de ser um tributo nos Jogos Vorazes. Além disso, o número de entradas no sorteio é cumulativo.

Imagino que Katniss tenha recebido Tésseras para ela própria, sua irmã e sua mãe desde os seus 12 anos, o que faz com que seu nome esteja em 20 fichas na próxima Colheita, enquanto o meu estará em apenas cinco, uma para cada ano de participação no sorteio.

As Tésseras são uma grande injustiça com as pessoas menos favorecidas, especialmente nos Distritos mais pobres. São também um grande exemplo de como a Capital trabalha para manter o ressentimento entre as diferentes classes.

No Distrito 12, por exemplo, praticamente todas as crianças da Costura se inscrevem para as Tésseras, enquanto que nós, os filhos dos comerciantes, somos poupados dessa infelicidade, por não passarmos fome.

Se não é fácil nem para os meus pais nos manter bem alimentados, penso em como deve ser para os trabalhadores das minas de carvão e para a família de Katniss, que não pode mais contar com o salário de seu pai.

Por mais irônico que possa parecer, aqui em casa não podemos custear nem mesmo o consumo de pão fresco e, do que produzimos na padaria, praticamente só comemos pão dormido e as sobras de biscoitos e bolos, já fora da validade. Mas não posso reclamar. Sou um afortunado.

Envolvo meu pai num abraço e ele respira fundo para continuar:

— Precisamos mudar o tom melancólico dessa conversa, pois vim buscar você com outro objetivo. É hora de falar de trabalho. Vamos conversar lá em baixo.

Acompanho meu pai na escada de descida e penso no quanto admiro o homem de ombros largos e sorriso caloroso, com quem dizem que sou parecido fisicamente.

Ele herdou as habilidades e a ocupação de padeiro dos meus avós e as transmitiu também a mim e a meus irmãos.

Trabalhador, respeitoso, compreensivo e de bom coração, ele é o contraponto em relação à minha mãe, durona, agressiva, autoritária e inflexível. Talvez seja verdade o ditado segundo o qual os opostos se atraem.

Porém, devo reconhecer que, quando se trata da padaria, os dois trabalham em completa harmonia. Mesmo em uma semana conturbada como essa, eles fazem com que todas as atividades estejam perfeitamente orquestradas, com os materiais disponíveis para realizarmos tudo a tempo e com o menor custo.

Acho que houve alguma alteração no planejamento, para que meus pais convocassem essa reunião de última hora.

Minha mãe e meus irmãos já estão nos aguardando.

— Vamos começar logo com isso. – inicia minha mãe. — Estive com aquelas pessoas da Capital e suas maluquices esgotaram a minha paciência!

— Que novidade, mãe! Não sabia que você tinha paciência… – brinca Brad, arrancando um olhar fulminante dela.

— Vamos escutar sua mãe, meninos! – Meu pai diz, colocando a mão sobre o ombro dela, mas segurando o riso.

— Pois bem. Houve uma mudança de planos – comunica minha mãe. — E isso envolve principalmente você, Peeta.

— Sou todo ouvidos! – Tento parecer animado.

— Foi mantida a quantidade encomendada de pães e biscoitos. O que eles pediram de diferente foi mais um bolo para a festa de segunda-feira, para ficar na mesa principal. Então, serão dois bolos grandes.

— É só acrescentar um bolo confeitado na programação? Sem problemas… – digo.

— Eu ainda não terminei! – Minha mãe me corta. — Além disso, eles pediram vinte tortas…

— Vinte? – Eu e meus irmãos interrompemos minha mãe antes que ela completasse a frase e ela fecha os olhos, balançando a cabeça.

— Vinte tortas pequenas confeitadas, para enfeitar as mesas dos convidados. O prefeito pretendia usar flores, mas aparentemente elas não são tão apetitosas para o gosto da Capital, não é? Eles exigiram também que os bolos e tortas sejam inspirados em flores típicas da região.

— Então, Peeta, você dá conta? – pergunta meu pai.

— Vou ter que trabalhar hoje a tarde inteira e o domingo todo, talvez – respondo, já me sentindo cansado só de pensar.

— Seus irmãos já estarão bastante ocupados. Eu ajudo você.

— Vou precisar mesmo, pai.

— Vocês já almoçaram? – indaga meu pai.

Eu e minha mãe balançamos a cabeça negativamente.

— É isso o que vou fazer agora. – Minha mãe se encaminha para subir as escadas.

— Peeta, você pode ir almoçar também. Depois, gostaria que você fosse fazer as entregas de hoje na casa do Prefeito e, de lá, você pode dar uma volta na Campina, colher algumas flores, sabe? Vão servir de inspiração para fazer a decoração dos bolos. Nada mais justo um momento de descanso, já que seu fim de semana estará completamente tomado de trabalho.

Não é má ideia. Um breve passeio no último sábado antes da Colheita, talvez o meu último final de semana aqui no Distrito 12, caso eu seja sorteado.

Minhas visitas à Campina são raras. Ela é um descampado que fica entre a Costura e a floresta, onde há uma grande probabilidade de encontrar Katniss. Com o firme propósito de falar com ela ardendo em meu peito, penso que talvez essa seja uma boa oportunidade.

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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!

Quem será que Peeta vai encontrar na Campina? ;)

Beijos!

Isabela



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