Cosmos escrita por Sapphire


Capítulo 17
Capítulo 16 - Uma noite fria.


Notas iniciais do capítulo

Olá galerinha...
Quero agradecer pelos comentarios tchucos de voces ♥. Sempre bom receber esses incentivos.

Dessa vez não vou falar muito. Só quero dizer que por favor não abandonem a historia por mais dificil que ela pareça... O que vai contar é a ultima frase do ultimo capitulo dela( ou seja o fim da historia la na frente). E acho que a maioria, se não todas vao gostar muito do desfecho final qdo ele chegar.

tentei nao escrever muito e to me odiando. comecei com 5 mil e terminel com 10 mil palavras.. odio mortal kkkk.

É isso... :)
P.S: vem cap bonus após esse cap aqui. E por favor, não... não é hot. Não é meu perfil esse tipo de historia.
P.S2: Quando forem comentar, me respondem algo: Voces gostariam de ter o cap bonus no natal? Pois sei que boa parte num abrem nem o nyah e eu fico com cara de tacho depois rsrs.



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5 Anos - Primavera de 1996.

O céu dava indícios de que o verão se aproximava. O Sol tímido por trás das grandes nuvens tão brancas como um lençol de seda e brilhosas pelos raios que recebia da grande estrela começava a se desvencilhar se exibindo com a sua luz morna sobre os ingleses.

O dia seria perfeito se no final dele o tempo não despejasse sua chuva como fazia todos os anos.

Como de costume aos finais de semana, Richard tirava algumas horas para descansar do trabalho que sempre trazia para casa e aproveitar um tempo com seu único filho que estava com cinco anos de idade.

Rick com pouca idade demonstrava intensamente interesse no futebol e o talento destacava-se quando jogava. Era muito bom, mas claro que algumas habilidades precisavam ser melhoradas.

— Pode chutar com toda a sua força filho. Eu estou preparado para pegar. – Richard usava luvas de goleiro e se posicionava pronto para pegar e receber o impacto.

Rick ao contrário do pai que quase nunca tirava as roupas sociais do corpo, muito raramente usava uma camiseta. Vestia short e camisa do time favorito dele e de quase toda a Inglaterra, o Manchester United.

Com uma chuteira feita sob medida, Rick se preparou e chutou a bola que voou sobre a cabeça do Richard atravessando a vidraçaria da mansão. Por míseros centímetros a bola deixou de acertar a cabeça de sua mãe.

—Iiih – Ele segurou a cabeça trincando os dentes e olhou para o pai pela bagunça que fizera.

Paola que estava próximo a janela, se assustou correndo para ver o que era e não precisou pensar muito, pois os cacos de vidro no chão deixaram bem claro quem era o autor.

— O QUE É ISSO? – Ela olhou em direção do buraco que ficou.

Richard gargalhava com as obras que o filho costumava fazer. Dificilmente brigava com alguma arte do menino. Sabia que tudo o que ele fazia não era por maldade o porque simplesmente supria a sua carência em cuidar do Rick.

— Ele leva jeito. Tem talento. – Richard chegou acompanhado do Rick.

— Se você acha que quebrar janela é talento... – Paola falou vasculhando a bolsa, sem se importar muito na realidade.

Rick começou a rir também quando percebeu que nenhum dos dois brigaram com ele.

— Eu não estou vendo graça nenhuma, se chover vai molhar tudo! – Ela colocou a bolsa no ombro olhando eles prestando melhor atenção em olhar em seus rostos. – Vou sair.

Ela vestia uma saia lápis na cor preta e uma blusa frente única na cor vermelha. E para combinar um salto stiletto. Aquilo chamou a atenção do marido. O olhar de cobiça brilhava. Richard iria sugerir que ficasse com ele, mas foi cortado pelo filho.

— Mãe onde vai? Posso ir? – Ele abraçava a bola de encontro ao peito com bastante interesse na Paola.

— Não, não pode, estou indo na Oxford Street. O que significa que vai ser um tedio para você.

Oxford Street era o destino favorito tanto dos turistas quanto dos britânicos. Era a rua que abrigava marcas de luxo, de departamentos, designers exclusivos e com uma das maiores lojas de brinquedos do mundo.

Nada mais nada menos que uma Rodeo Drive na Europa.

— Mas eu queria ir. – Ele soltou um muxoxo desapontado – Eu fico quietinho, mamãe. Eu prometo.

— Você vai cansar e encher a paciência para vir embora, fica jogando bola com seu pai que é mais produtivo.

— Vamos nós três, querida. – Respondeu na frente do filho enquanto via as empregadas limparem o chão. – Eu carrego suas compras. Que tal?

— Você tem certeza? – Disse ajeitando o blazer que acabara de pôr por cima. – Se ouvir uma reclamação vocês voltam para casa e eu gasto o dobro.

— Fechado. – Richard sorriu.

— Mas.... Mas tem que ir na loja de brinquedos também. – Rick disparou segurando a mão do pai largando a bola no chão.

— Vocês vão na loja de brinquedos, enquanto eu vou olhar roupas. – Paola abriu a bolsa andando na frente o telefone celular.

— Está bem – Ele mostrou o dedo indicador para que esperassem – Eu já volto – Richard saiu em direção a cozinha.

Rick pulava feliz para o lado da mãe e segurou em sua mão lhe dando um beijo.

— Mas anda logo Richard. – Avisou saindo pela porta dos fundos, indo em direção a garagem abrindo a porta do carro para o filho. – Entra logo.

— Arruma para mim mamãe? – Ele se sentou na cadeirinha no banco de trás puxando o cinto totalmente desajeitado.

Paola o ajeitou fazendo um pouco de esforço ao pegar ele no colo para senta-lo na posição correta e o prendeu na cadeirinha. Ela deixou o carro na ignição para o ar condicionado ficar ligado e saiu em direção oposta para ter certeza que ninguém escutaria o que ela falaria com o amante. Deixando avisado que não iriam se encontrar e iria no dia seguinte.

Voltou a colocar o celular na bolsa e foi para o carro se sentar no banco de passageiro esperando o marido. Não haviam se passado um minuto quando Richard chegou.

— Vamos?

Paola checou sua aparência no espelho do carro limpando o canto da boca para o batom ficar impecável fechando a viseira do carro bruscamente.

— Até que enfim. – Resmungou passando o cinto em volta dela. – Vamos logo.

Até o fim da viagem, Rick não disse uma palavra se quer apenas observou a paisagem correr de Manchester a Londres. Era uma distância bastante considerável. Seus olhos estavam quase fechando.

Assim que se casaram, Richard se mudou de Londres com a esposa para Manchester comprando um prédio para instalar mais um ponto da empresa. Londres era tão agitada sempre cheio de prédios e pessoas apressadas como Nova Iorque e o que ele queria era uma mansão enorme em um enorme terreno para criar filhos e viver uma vida tranquila ao lado da mulher.

Ele olhou pelo retrovisor notando que o Rick adormecera.

— Rick já dormiu. – Sorriu colocando a mão sobre a coxa da esposa.

Paola olhou em direção a sua mão sentindo a quentura no local que ficou, discretamente fechou os olhos e os abriu lentamente. Ele não estava a olhando fazendo a se tranquilizar, do contrário veria que somente aquele toque a balançou.

Antes que os olhos a entregasse ela olhou para trás e checou o filho dormindo e deu um pequeno sorriso.

— Viagem de estrada sempre faz isso com ele. – Respondeu fingindo indiferença, mas por dentro derretida.

Por via das dúvidas ela retirou a mão dele de cima da perna e virou o rosto em direção a janela para a estrada. Como se sentisse que não era momento certo para conversar, Richard se calou ao ver a esposa de perfil com o olhar perdido em próprios pensamento.

Após algumas horas chegaram ao centro de Londres na Oxford Street.

— A gente já volta amor. Vamos naquela loja de brinquedo. – Richard apontou atrás deles para uma enorme loja vermelha movimentada de crianças.

Rick correu na frente empolgado entrando apressado começando pelas prateleiras com bonecos dos super-heróis que ele tanto amava.

— E eu vou estar ali, comprando. – Apontou a loja do outro lado da calçada na mesma direção.

— Ok... – Correu atrás do filho.

Os três estavam distraídos demais em suas atividades para notar que estavam sendo vigiados.

Lorenzo, amante oficial e preferido da Paola observavam de longe a família em suas atividades, seu olhar foi do Richard a Paola. Quando sentiu que não correria perigo do homem nota-lo, ele abordou a amante que por muito pouco quase não gritou de susto. Ele havia a abraçado por trás tampando sua boca.

— Foi por isso que me trocou hoje?

Ela virou rapidamente de frente para ele olhando na loja do outro lado da rua se certificando que o marido não tenha notado.

— O que está fazendo aqui? – Ela o empurrou com força com medo de que mais alguém pudesse ver a aproximação. – Ninguém pode nos ver, esqueceu? Eu te pago para isso.

— Eu estou com saudade e vim ver o que é tão mais importante do que eu. – Ele depositou o sorrisinho canalha na cara beijando o seu pescoço jogando o cabelo para o lado.

Aquilo deixou as pernas da Paola fraca e ao mesmo tempo um choque tomou conta do seu corpo pelo medo de ser flagrada.

Sua mão o empurrou pelo peito afastando os dois em mais uma tentativa.

— O que é? O que é mais importante que você? É meu marido não descobri sobre VOCÊ. – Ela ajeitou a roupa como se quisesse desamassar quase o trucidando com um olhar mortífero.

— Se não gosta deles eu já falei para larga-los e vim viver comigo. Pega a grana dele com a separação e o que ganhar de lucro vamos conseguir viver no luxo.

Lorenzo puxou a gola do casaco de couro em uma pose bad boy.

— A cada dia que passa a empresa está crescendo, e eu não vão cair fora do barco agora, e provavelmente nunca.... – Ela empurrou pela testa com o dedo indicador. – Portanto, tira essa ideia da sua cabeça. Porque assim eu dou estabilidade para nós dois.

— Ah é, gata? – Ele colocou o cabelo dela atrás da orelha. – Então não vai se importar de me dar alguma grana? Porque eu estou sem nada no momento.

— Vou te dar e você vai sumir. – Ela bateu em sua mão para desencostar dela e tirando duas mil libras da carteira ela o entregou. – Agora me deixa. Já te dei todo o dinheiro que carrego comigo.

Como precaução ele contou as notas e voltou a sorrir debochado.

— Já vou, mas não sem meu beijo.

Ela começara a se tornar uma figura de suma importância. Casada com um dos homens mais ricos e o empresário mais influente do mundo, seu rosto passara ser conhecido. Era quase uma primeira dama. Ela o agarrou no braço de Lorenzo com violência e puxou para um canto reservado da loja para lhe dar um beijo escondido, pois as vendedoras já observavam a conversa.

— Some. – Ela o empurrou com força saindo de perto.

O sino da loja tocou no exato momento que os amantes se separaram, Lorenzo e Richard cruzaram o caminho um do outro pelo portal. O último sem jamais saber que o homem que ele olhara e bateu em seu ombro em um esbarrão traria tanta desgraça para sua vida, principalmente para a vida do seu filho.

Rick aproximou-se da mãe segurando uma caixa de lego para montar.

— Quando a gente chegar em casa, você vai montar comigo mamãe. – Ele sentou no chão olhando para o brinquedo.

— Não estou nem começando minhas compras, portanto muito longe de voltar para casa. Não passei horas dentro do carro para ficar aqui trinta minutos apenas. – Sem nem ao menos se dar conta do peso como dirigiu ao seu filho, ela olhou diretamente ao marido, sem encarar em seus olhos. A vergonha a consumia. – Richard, preciso de dinheiro.

— Você não disse que ia vir aqui nessa loja comprar alguma coisa para você? O que houve com o seu dinheiro?

— Vi que estava sem nenhum dinheiro e sem cartão. Devo ter deixado na outra bolsa.

Richard levou a mão atrás do bolso da calça e com cabeça baixa vasculhou a carteira. Paola olhou por cima de seu ombro e Lorenzo antes de atravessar a rua lhe piscou. Seu estomago revirou e gelou. Um frio na espinha lhe percorreu todo o corpo.

Poderia ter desmaiado de nervoso se Richard não lhe tivesse chamado sua atenção para ele.

— Pode pegar esse cartão – Lhe entregou. – Mas sabe que nem toda loja pode aceitar cartão. Qualquer coisa eu tiro dinheiro do caixa eletrônica.

Paola concordou com a cabeça e sem dizer uma só palavra mais do avesso passou a tarde em compras com a família.

6 Anos - Dezembro de 1996.

— Meu lindo, vamos de novo. – Paola falou entre o folego e respiração cortada, estava deitada no apartamento de Lorenzo, sob lençóis brancos cobrindo sua nudez.

O quarto estava em completo caos, roupas jogadas sobre o chão, garrafas vazias virada sobre o criado mudo e janelas fechadas impedindo de a rajada de vento frio entrar por elas.

O lugar cheirava a sexo.

Estava ficando frequente sua convivência com Lorenzo, e sempre que podia estava com ele em uma cama. Mas nunca estava por satisfeita. Não importava quantas vezes transavam, jamais se satisfaria como quando fazia amor com seu marido.

— Espera, preciso fazer uma ligação rápida. – Lorenzo levantou da cama vestindo uma samba-canção, acendendo um cigarro caminhou até a sacada fechando a porta para falar com privacidade.

— Tudo pronto? Não vou tolerar um trabalho mal feito. – Ele virou de costas olhando a mulher deitada em sua cama.  – Não quero ninguém vivo.

A instrução havia sido clara e simples. Ele desligou o telefone terminando o cigarro.

Paola sorria para ele através do vidro. Ele lhe sorriu voltando para ela.

— Onde estávamos? – Jogou o telefone no criado mudo pulando em cima dela arrancando o tecido que lhe cobria o corpo. – Essa noite prometo ser o melhor dos seus amantes. Vai ser muito especial.

Com um olhar e um sorriso cafajeste Lorenzo fez seu melhor sexo com uma vitalidade como nunca antes. Aquela noite prometia ser a melhor de todas.

Rick estava aprendendo com seu pai a arte do xadrez. Na mansão dos Listing havia um quarto de tamanho médio adaptado para o lazer de pai e filho que adoravam brincar, assistir jogos de futebol juntos e claro brincar um pouco com alguns tabuleiros para raciocínio logico. Rick era muito novo, mas aprendeu a gostar de usar a cabeça para pensar. Prestava bem atenção as dicas e ensinamentos e era muito esperto para a idade.

Estavam no mês de dezembro faltando uma semana para o natal. A neve começara a cair na noite anterior deixando os cômodos da casa aconchegantes e quentes.

Próximo a lareira com um chocolate quente Richard sentou no chão jogando xadrez com Rick enquanto praticavam o alemão enquanto conversavam. É claro que para um garoto que tinha tripla cidadania era de suma importância saber os dois idiomas dos seus pais além do seu país de nascimento.

O único problema que Paola se recusava tirar alguns momentos para ensinar o filho o espanhol ou para fazer qualquer coisa os dois juntos.

— As peças brancas saem primeiro. Quando você for sair com o peão, na primeira jogada você pode andar duas casas se quiser, mas depois ele vai andar uma casa por vez. – Richard explicava as regras do jogo conforme cada um jogava na sua vez.

Passaram quase duas horas juntos jogando, até o Rick entender melhor como funcionava o esquema.

— Eu tô ganhando de você, pai? – Perguntou fazendo seu bispo andar na diagonal, tirando a torre do pai do caminho.

— Você entendeu bem a regra do jogo. Mas não posso dizer que está ganhando.

—Então eu tô perdendo? – Perguntou fazendo uma jogada deixando o rei dele vulnerável.

— Você tem muito que aprender, filhote. É um jogo de logica. Requer estratégia... – Explicou. – A propósito.... Xeque mate – Ele sorriu ganhando.

Rick fez um bico emburrado cruzando os braços. Richard se esforçou para não rir, pois o filho tinha muito da esposa quando não aceitava que algo não saíra da maneira dele. Ele podia ser sua cópia física, mas a personalidade era da mãe.

As coisas tinham que ser a sua maneira.

—Então me ensina? – Ele pediu.

A resposta não veio, porque no exato momento ouviram troca de tiros do lado de fora da casa e em seguida a porta se abriu com violência. Um homem corpulento com máscara e uma metralhadora entrou.

Richard por instinto de proteção passou Rick para trás protegendo-o do perigo, mas os olhos de um deles brilharam com malicia. Mas o menino sabia do perigo eminente ao ver aqueles cinco mascarados.

— Papai. – Rick choramingou – Cadê a mamãe?

Lorenzo acordou com o barulho da tv ligada. Estava exausto e com dor de cabeça. Passara a noite com muito sexo e bebida, indo dormir muito tarde. Estava de muito bom humor no dia anterior que comemorou da melhor forma possível. Mas acordar cedo estava fora de cogitação.

Um costume que influenciou na Paola também. Ser vagabundo estava em seu dicionário. Jamais levantava cedo para nada. Sua amante o sustentava em tudo.

Com um grunhido e tomando coragem ele resmungou:

— Qual é, Paola? Desliga a tv que eu estou tentando dormir.

— Cala a boca! – Quase gritou.

Seus olhos não desgrudavam da tela prestando atenção na notícia preocupada enquanto recolhia a roupa pelo chão se vestindo. Seu corpo inteiro tremia de nervoso e medo. Não sabia como não estava chorando.

Desespero era o que ela sentia naquele momento. E se tivesse perdido o filho e o marido? Onde eles estavam naquele momento? Vivos ou mortos?

— MAS QUE DROGA! – Gritou dando um pulo da cama, pronto para desligar no exato momento que via a notícia.

“Por volta das cinco horas da tarde a mansão do empresário Richard Listing foi invadida por cinco homens armados. Ele estava acompanhado do seu filho de seis anos quando a quadrilha invadiu a casa os ameaçando. O empresário com seu filho pequeno foram sequestrados e levados até o banco forçados a fazer a retirada do dinheiro em alta quantia para uma conta anônima no exterior. O gerente estranhou a atitude do empresário por aparecer no momento em que o banco fechava que tratou de chamar logo a polícia, mas antes disso um dos homens encapuzados atirou contra a criança. Os cinco bandidos foram presos no ato. O chefe da quadrilha ainda está foragido.”

 Lorenzo ficara estático.

— Eu estou indo. – Paola pegou o celular da bolsa, dando um beijo rápido no amante sem ao menos se dar conta de como ele ficou diante da notícia.

Uma atitude suspeita que não teria passado despercebido por um policial ou juiz.

— MAS QUE INFERNO! – Lorenzo gritou assim que ela saiu de lá, chutando tudo o que via pela frente quase quebrando a tv pela fúria.

Richard ainda estava acordado depois de tudo que acontecera. Nada conseguiria naquele momento faze-lo pregar os olhos. Rick dormia sereno com a cabeça em seu colo no sofá do quarto do hospital recebendo os carinhos do pai. Ele sorriu aliviado que o seu menino estava bem.

Com o coração tão diminuído, Paola ligava desesperadamente para o celular do marido praguejando pelo caminho inteiro e o medo tomando conta do seu corpo. As pupilas dilatadas pela adrenalina e as mãos apertando em volta do volante.

Os olhos vermelhos quase chorando.

— Senhor, a sua esposa ao telefone. – Um dos seguranças de confiança aproximou entregando o celular.

Seu olhar ficara vago e distante pensando em todo susto da noite passada. Sem nenhuma emoção estendeu a mão para que o entregasse o celular.

— Alô? – A voz saiu morta.

— Richard....Vocês estão bem? Onde estão? – Perguntou exasperada pisando um pouco mais fundo no acelerador.

Pouco se importava se seria multada, se fosse bater o carro. Só lhe importava uma única coisa.

Correr para os braços do seu marido e abraçar seu filho. Saber se realmente estavam bem.

— Estamos.... Estamos bem... Estamos no hospital agora. – Respondeu de forma automática.

— Em qual hospital? – Quase gritara de desespero.

— No St. Mary. – Ele fechou os olhos pela ardência e dor no local do abdômen.

— Mas o que aconteceu?

— Nada grave. – Ele olhou para o filho dormir tão sereno lembrando da marca roxa no bracinho dele, passando a mão no local por cima da blusa de frio. Rick estava completamente bem. – Só uma bala que passou de raspão em mim.

O peito da loira apertou e diminuiu ainda mais.

— Está doendo? – Perguntou acelerando ainda mais o carro. – Eu estou perto do hospital, já estou chegando.

Paola ao dirigir sabia do perigo em acelerar naquele tempo e ainda assim arriscou tudo. No inverno e com neve o chão era muito mais liso e propenso a acidentes. Mas o desespero falou mais alto.

— Ardendo um pouco.

— Vai passar eu prometo.

— Não estou ligando para isso. – Ele respondeu apertando o telefone.

Seu olhar estava focando em um único ponto na parede branca do quarto do hospital. O médico já lhe tinha dado alta, mas ele estava sem coragem para prosseguir para outro lugar. Nunca havia passado por uma situação daquela, e o pior em tudo nisso era o medo de quase ter perdido seu único filho e não ter o apoio da sua mulher quando precisava.

Richard saiu do transe quando Paola voltou a fazer mil perguntas novamente.

— Ele está bem, não está? Me promete que ele tá. – Ela praticamente implorava para ouvir uma notícia boa.

— Está dormindo no meu colo.

— Machucaram ele?

— Mais ou menos, só uma marca no braço. – Seu olhar recaiu novamente ao filho.

— Eu devia estar com vocês, porque não me ligou?

— Seu celular não chamava e depois não quis te preocupar.

Estacionando bruscamente em frente ao hospital, Paola saiu apressada entrando na recepção com o documento em mão e pronta para perguntar a recepcionista atrás do balcão. Seus olhos saltavam para fora das orbitas. As mãos tremiam sem parar. Quase derrubando seus documentos dentro da carteira no chão.

—Já estou subindo, qual é o quarto?

— Quatrocentos e doze.

Pegando o crachá na recepção subiu correndo até o quarto e entrou sem bater. Diante da cena ela largou a bolsa no chão e se jogou no sofá abraçando os dois agradecendo interiormente que eles estavam vivos e bem. Seus olhos estavam brilhando indicando que queria chorar.

— Tem quanto tempo que estão aqui? – Olhou o Richard e para o filho checando os dois e depois começando a beija-los que nem louca. – O que aconteceu? Como aconteceu?

Richard escondeu a cara surpreso, pois Paola jamais os beijava por vontade própria.

— Entraram em casa armados em cinco caras, ameaçando, falando que iam nos matar, para eu dar todo o dinheiro no cofre, só que eu disse que ficava no banco. Nisso o Rick entrou em desespero e começou a chorar. Eu os levei até o banco enquanto apontavam uma arma no rosto dele. Não tive escolha. E aconteceu tudo tão rápido e quando menos esperava a polícia estava lá.

— Eles apontaram uma arma para o Rick? – Quem em sã consciência apontaria para um menino de seis anos totalmente inofensivo? Paola se distraiu com seus pensamentos horrorizada. – Onde a bala pegou em você?

— No abdômen. – Richard estava tanto em choque que mal respondia sua esposa direito. Não tinha vontade alguma mais.

— Porque eles atiraram em você? – Ela o afagava na nuca subindo para o cabelo, em choque. – Na tv falaram que atiraram no Rick.

— Quando a polícia chegou, pegaram eles de surpresa. Richard estava o mais próximo de um deles, e eu vi aquele desgraçado apontando aquela arma, eu não sei, quando eu vi já estava no chão. A única coisa que eu pensei foi se pôr a frente dele. Foi puro reflexo e instinto.

Richard escondeu que reagira ao assalto também.

— Eu estou orgulhosa de você. – Paola se aproximou lhe dando um beijo doce e demorado. Em seguida olhou seu filho dormindo. – E ao mesmo tempo preocupada, você poderia não estar aqui.... Dios, não vamos voltar para aquela casa. Nunca mais!

— Ainda estou pensando sobre isso.

— Richard, eu não vou deixar vocês tão vulneráveis assim, não quero essa casa para que lembrem desses momentos. Por enquanto vamos para o hotel, com aquele seu amigo Connor. Pelo menos até conseguirmos uma casa nova e segura.

— Temos mais de 50 seguranças em casa e isso não impediu de eles entrarem.

— Então colocaremos mil. Eu não posso arriscar vocês. – Subitamente ela levantou do sofá e aproximou-se da janela olhando as ruas com os olhos marejados, querendo esconder os sentimentos. – Por favor...

Richard encarava o vazio, pouco deu a importância. O momento havia sido angustiante e o pior de tudo por não saber onde a sua esposa estava. Era frustrante toda vez em não saber onde a Paola dormia, onde estava ou porque ela fazia aquilo. O ódio o consumiu tanto depois quando deram entrada no hospital, que agora não lhe importava mais se ela estava ali ou não.

— E você andou por onde?

—Havia ido ao salão e depois fui as compras no final da tarde em Londres, sabe que fico cansada de dirigir para Manchester e resolvi no caminho ficar hospedada em um hotel... Desculpa por não estar lá Richard.

As vezes ele duvidava se ela tinha alguma sensibilidade. Sempre ouviu falar que os latinos eram amorosos e sua esposa era o oposto do que as outras pessoas vendiam.

— Tudo bem. Não queria que estivesse correndo perigo também. – Respondeu sem olhar uma vez só para a esposa.

— E eu queria estar com vocês... – Deslocou-se até eles.

Richard puxou a manta para cima do filho vigiando seu sono. Por dentro estava fervilhando de raiva e magoado por sempre ela estar fora de casa.

— Ele chamou por você.

Aquela informação atravessou o coração da Paola com imensa tristeza. Seus olhos se fecharam deixando uma lagrima escorrer, a qual ela limpou rapidamente controlando as emoções.

— Desculpa. Eu queria ter descoberto assim que aconteceu. Eu devia estar lá e não olhando para tv. – Sua mão deslizou suavemente pelas madeixas do filho e lhe deu um beijo na testa.

— Já passou, só estou preocupado com o trauma que isso poderá ficar marcado nele.

— Virgem de Guadalupe não vai deixar nenhum trauma pegar nele. E se ainda assim ele ficar com medo podemos levar ele ao psicólogo.

Ela se aconchegou neles puxando o filho para apoiar a cabeça na perna dela.

— Fácil falar. – Richard se levantou do sofá e tirou o filho dela com eles nos braços e saiu do quarto.

Mal lhe deu tempo para que ela pudesse ter um pouco dos dois juntos.

A dor da bala ainda ardia feito pimenta. Era totalmente desconfortável segurar o filho no colo. Mas não queria se afastar dele ainda. Sabia que o menino precisava dele mais do que tudo naquele momento.

— Aonde vai? Porque está me deixando falar sozinha? – Paola recolheu a bolsa no chão seguindo os dois.

— Eu já recebi alta. – Ele caminhou pelo corredor com os seguranças atrás. – Vou embora.

— Mas onde pensa que vai?

— Para um hotel. – Respondeu se arrastando pelo hospital se afastando dela com os seguranças no encalço.

— Eu vou com você.... Porque não está me esperando? Richard, me dá ele. Você não pode carregar peso.  – Ela estendeu os braços esperando o entregar o filho.

Sentia um imenso desconforto, mas manteve o filho colado sem demonstrar qualquer gesto que iria passar o menino para os braços dela. As feições dele estavam duras e as sobrancelhas grossas e baixas formavam uma carranca.

— Richard me dá nosso filho. – Paola subiu o tom de voz.

O Moreno andou sem demonstrar qualquer reação de que daria deixando-a falar só.

— RICHARD!

— Eu vou leva-lo. – Respondeu descendo as escadas de emergência sem paciência para esperar o elevador vir busca-los.

— Para de fazer esforço. – Havia urgência na voz. – Você vai piorar ainda mais.

Estava sentindo uma dor insuportável, mas por nada ele se afastaria do Rick. Ele descia as escadas devagar. Pois cada degrau era uma fisgada em seu abdômen. Paola podia notar que aquele orgulho todo era dor.

— Deixa de ser teimoso Richard! Por favor. Porque está agindo assim?

— Só quero leva-lo comigo.

Rick estava com a cabeça deitada no ombro do seu pai com o rosto quase de frente para a mãe. Lentamente os olhos dele foram se abrindo, despertando de um sono pesado.

Mesmo que baixo e embolado, falou o suficientemente bem para que a Paola entendesse.

— Papai, você é meu herói. – Seus braços apertaram em volta do pescoço do moreno.

A loira sorriu com a declaração do filho e aliviada que apesar de tudo ambos estavam bem. Ela fechou os olhos agradecendo e os seguiu.

— Papai é um herói filho e eu estou orgulhosa dele.

Rick levantou a cabeça em direção da voz e a carinha totalmente surpresa.

— Você está bem, Richard? – Ela perguntou com a voz afetuosa. Algo que nem mesmo Rick era acostumado a ouvir.

— Eu tô mamãe. Onde você estava?

— Mamãe estava fora da cidade, hijo. Depois ela ficou em um hotel e quando ela acordou viu a notícia. Fiquei tão preocupa – Ela ficou na ponta dos pés e beijou docemente na sua bochecha. – Desculpa por não estar lá...

— Você nunca fica em casa. Sempre vai fazer compras. – Reclamou de cara emburrada.

— A mamãe gosta de comprar, ela se sente mais relaxada. – Ela sorriu para não se sentir tão culpada.

— Mamãe, o papai tá machucado. – Rick avisou todo preocupado.

— Eu estou bem filhote. – Richard o tranquilizou.

— Seu pai está ficando teimoso amor. A mamãe vai cuidar dele e de você. Vem cá – Ela estendendo os braços para ele.

— Quero ficar com o papai – Ele se agarrou mais ao Richard renegando os braços dela.

Durante todos os anos a presença mais forte familiar para Rick foi seu pai. Aquela figura paterna sempre foi o porto seguro e ele sabia quem podia contar com seu pai em tudo. Sua mãe não passava confiança ou segurança, muito pelo contrário, ela o amedrontava sempre que podia com palavras do avesso.

— Seu pai está dodói filho. Ele não pode fazer força, mas a mamãe não vai sair de perto do papai nós vamos para um hotel, juntos.

Rick suspirou voltando a deitar a cabeça no ombro do Richard, aquela frase não surtiu o efeito esperado.

— Papai. – O chamou baixinho. – Eu te amo.

Paola suspirou forte por ouvir tal declaração da boca do filho. Ela deu um beijo no rosto dos dois deixando sua tão famosa marca de batom vermelho.

— Amor, vem para o colo da mamãe, porque se não o dodói do papai vai ficar pior, mi angéle. Eu não vou te separar dele, vou ficar bem pertinho e ele vai ficar segurando a sua mão, eu quero ficar com você e o papai está machucado, príncipe. Eu ainda estou assustada com o que aconteceu com vocês dois.

Ela tentou puxar delicadamente o filho para si, mas o marido segurou firme falando de forma firme soando grosseiro.

— Eu já disse que estou bem e posso carregar ele.

— Prefiro ficar no colo do papai. O colo do papai é bom.

— Tudo bem... – Ela olhou para baixo, magoada. – Vocês querem assim, tudo bem. – Em silencio ela caminhou ao lado dos dois até o estacionamento do hospital.

Rick desceu do colo do pai para entrar no carro que já lhe esperavam e assim que viu a babá a sua reação foi abrir um largo sorriso e correr para os braços dela que já esperava com eles abertos.

Por instinto natural Jessica o abraçou apertando no colo. Aquilo fez Paola remoer de ciúmes e ter um desejo profundo de causar um ferimento muito grave a babá.

Era a típica mulher egoísta onde queria tudo só para si mesma. Como uma criança que já enjoou de o brinquedo porem fica com ciúmes se dar ele a outra criança.

— Está tudo bem, lindo? – Jéssica perguntou com um sorriso tímido.

A babá sempre ficava sem jeito com a patroa por perto. Pois a mesma não era uma pessoa fácil.

— Agora eu estou. – Ele respondeu com um sorriso gigante.

Paola se perguntou porque nunca recebeu um sorriso daquele.

A verdade que ela pouco prestava atenção nele quando se dirigia a palavra a ela.

— O que foi isso no seu braço? – Com cuidado Jéssica puxou o pulso dele avaliando o hematoma. Havia marcas de dedo em volta.

Todo momento que Richard olhava aquilo seu sangue fervia. Poucas coisas na vida lhe tiravam do sério. Ele não se importaria se o machucassem e o batessem quase a morte. Mas jamais aceitaria que alguém tocasse em um fio de cabelo do seu filho.

Mesmo após o tiro ter lhe acertado, Richard partiria para cima do bandido. Mas a policia chegou no exato momento rendendo a todos no banco.

— Eles apertaram meu braço, quando o papai tava no banco.

— E você ficou com medo, lindo? – Ela acariciava o cabelo dele arrumando a franja no lugar.

— Eu fiquei no começo, mas o papai tava lá comigo. – Ele se recostou no peito da babá descansando

— E então você ficou tranquilo porque o papai ia te proteger, não é lindo? – Ela acariciou as costinhas dele.

— É... – Confessou descansando a cabeça no ombro dela. – O papai está sempre lá, para mim.

Jessica era uma jovem moça de vinte anos e a sexta babá que passava na vida do Rick. Quando Paola notava que seu filho se afeiçoava em alguém, ela tratava de mandar embora essa pessoa, o que causava um dano e sofrimento para o menino. Isso não lhe importava nenhum pouco, contato que ela fosse a única mulher na vida dele.

E claro, jamais ela contaria isso a alguém.

Alguns passos de distância dali, Paola olhava com certa ira nos olhos de punhos cerrados com um ciúme que não podia conter dentro dela.

Richard colocou a mão direita sobre o abdômen no lado esquerdo e caminhou com dor.

— Eu vou estar sempre aqui, garotão. – Bagunçou o cabelo do filho com a outra mão livre.

Paola andou até eles nervosa deixando o rosto parcial.

— Vamos para o hotel e você pode ir para casa, Jéssica. – Sua voz saiu com desdém, com o nariz enrugado como se a garota fosse algo nojento.

Todos os empregados para a Paola eram lixos. Depois de melhorar de vida, passou a humilhar as pessoas que não estivesse no mesmo patamar.

— Ela vai junto, Paola. – Richard olhou sério.

— Mas Richard, não sabemos o que aconteceu, é melhor nos afastar de todos. Você não pode confiar nela depois que conseguiram invadir nossa casa que pensávamos ser segura.

— NÃO! – Rick agarrou o pescoço da babá – Ela tem que ir...

— Filho, vem cá... – Paola pegou em seu pulso quase arrastando ele para longe dela, mas Rick jogou o corpo para trás se desvencilhando dela.

— Não... – Sua voz saiu chorosa.

Com um sinal de cabeça, Richard olhou para a babá indicando para entrar com o Rick. Ele se virou para a Paola, mas verificando antes se ele iria sentar na cadeirinha de segurança.

— Richard a adora e foi eu que pedi que ela viesse. E depois de tudo o que ele passou eu pensei que você teria um pouco de sensibilidade.

Os dois se olharam e Paola não teve mais força para discutir.

— Não acho seguro isso, vem cá. – Ela o puxou para um canto afastando de todos. – Eu quero trocar todos os funcionários. E se foi ela que deu todas as instruções?

Richard revirou os olhos.

— Você achando ou não achando ela vai com a gente, Paola e não vou discutir isso! Ela é quem passa a maior parte do tempo com ele. Ponto final. – E dizendo isso ele entrou no carro para se sentar ao lado do filho.

Paola ficou de braços cruzados incrédula que não tenha vencido um capricho seu. Richard estava bravo com ela como se a culpasse por tudo o que havia acontecido. Totalmente atordoada ela entrou no carro na frente entregando a chave do carro dela estacionado para um dos seguranças mais chegado do marido, pois ela iria com eles.

Rick inclinou em sua cadeirinha e abraçou o pai.

— Eu quero falar com você depois.

Paola olhou para o Richard, mas vendo que o marido não respondeu, seu olhar voltou a janela em silencio para não se sentir tão só.

A família Listing entrou no quarto presidencial do hotel Landmark. O mesmo quarto em que Paola se hospedou quando se conheceram pela primeira vez.

Richard se instalou no sofá de couro marrom da suíte deles levando a cabeça para trás fechando os olhos para descansar. Seu corpo estava dolorido e não havia dormido a noite inteira preocupado.

Rick sentou com a babá na sala para tomar o café da manha.

Paola olhou para o quarto ao redor e sua mente viajou. Parecia que o passado viera à tona e uma saudade tomou conta do seu coração. Os anos haviam passado tão depressa como um abrir e fechar de olhos. Em poucos anos e aquele lugar já não era mais o mesmo.  Com moveis novos dera ao lugar um ar levemente moderno e aconchegante.

Jamais imaginou que do momento que pisou naquele hotel anos atrás um dia estaria ali novamente casada com a sua família, quando nunca almejou isso em vida.

Ela teria ficado mais alguns momentos pensando nisso, se o gemido de dor do Richard não tivesse lhe tirado a atenção.

Seus olhos repousaram em sua camiseta onde levemente uma mancha de sangue no lugar do tiro apareceu.

— Você não devia fazer força. – Ela fechou a porta do quarto passando a chave indo se sentar na cama para tirar os brincos.

Ambos estavam de costas um para o outro. Paola andou até o espelho e visualizou o marido pelo reflexo.

Richard se manteve em silencio sem lhe responder nem mesmo com um gesto.

— Porque está agindo assim comigo? – Ela estava indignada e ao mesmo tempo surpresa.

Seu marido era europeu, mas não era nenhum pouco frio. A perda dos pais e ter sido criado no interior fizera ser um homem bom e sensível como algo bom. Pois ele sabia ter empatia pelas pessoas.

Mas como ele estava a tratando há 40 minutos fazia o parecer um péssimo marido

— Não sei do que você está falando. – Ele se virou de costas.

— Você está frio, sendo grosso...

— Eu só estou cansado e com a cabeça longe. – Ele repousou os pés no sofá se encolhendo.

Paola sentou-se na frente dele puxando a camisa para cima constatando que o local havia ferido ainda mais. Ela mordeu o lábio aflita.

— Você está sangrando.

— Não mexe. – Ele puxou a camisa para baixo de novo. A dor fizera ele tremer.

— Eu só quero ver.

Richard abriu os olhos gradativamente se ajustando no sofá. Seus olhos focaram no teto.

— Por favor, hoje não...

— Eu não quero isso. – Ela fez carinho nele. – Eu só estou preocupada com vocês os dois. Principalmente para sua ferida.

— O não foi para conversa.... Achou que era para fazer sexo? Isso é a última coisa que pensaria nesse momento.

Paola fingiu que aquelas apalavras não lhe ofenderam. Sabia que o marido estava bravo com toda situação e por ela não estar ao lado deles num momento difícil. Mas era difícil não sentir aquilo. Richard nunca foi seco durante os seis anos de casamento. E ele estava agora totalmente indiferente a ela.

— Deita na cama, vem, eu te ajudo.

— Está bem... -  Com muito esforço para se levantar, e sem fazer cara feia para mostrar o quanto estava doendo, ele cambaleou até a cama se jogando nela com todo seu peso.

Ela se sentou ao seu lado e com muito carinho o beijou no braço.

— Estou orgulhosa. – Ela confessou.

— É o meu filho, você queria que o deixasse morrer?... – Com muito rudez ele a respondeu enxergando as cenas da noite passada na cabeça.

Era como se algo na cabeça dele falasse que era tudo culpa dela. Mas Richard sabia que não era. A raiva só existia porque mais uma vez Paola não estava lá com eles dois.

— É o nosso filho.  – Disse lhe dando um selinho. – E eu estou orgulhosa dos dois por terem sido fortes...

— Obrigado. – E com as imagens do filho chorando invadiu sua mente. "Papai, onde tá a mamãe? Papai... Eu quero a mamãe, ela tá bem?” – Richard foi muito forte sim.

— Obrigada por proteger ele... – Seu olhar abaixou. A culpa a consumia, mas não diria aquilo em voz alta.

Richard deteve as lagrimas que ameaçavam rolar e tentou tirar a cena na cabeça.

Paola sentou-se a cama e se encostou na madeira da mesma fazendo carinho no Richard até o cansaço tomar conta do corpo deles e caírem no sono.

A tarde Richard levantou da cama suado e com a temperatura elevada. Ele se dirigiu ao banheiro cambaleando com a cabeça dando voltas fechando a porta por dentro. Com a mão tremendo ele abriu o curativo e viu que a bala onde pegou estava em carne viva e ainda pior do que a noite anterior.

Suas mãos tremulas ao trocar a gaze e desinfetar a ferida, bateu nos produtos médicos em cima da pia derrubando absolutamente tudo no chão acordando a Paola assustada com o barulho. Sua primeira reação foi olhar seu lado na cama que estava vazia e a porta do banheiro fechada. Rapidamente ela levantou da cama.

— RICHARD? Você está bem? – Ela levou a mão a maçaneta, mas estava trancada.

Seus olhos fecharam assim que a oxigenada tocou na ferida, a ardência do local fizera trincar os dentes para não gritar de dor. Com muito custo ele voltou a fechar o ferimento com uma gaze. Sua respiração estava cortada, os olhos mal enxergavam direito fazendo sua visão embaçar.

— Abre a porta, amor. Por favor. – Paola implorou quase chorando de medo que ele estivesse estirado no chão.

— Eu.... Eu.... Já vou sair daqui.... – Sua voz saiu com muita dificuldade. Ele precisou se apoiar a pia para não cair.

— Richard, abre para mim. o que você está sentindo? Quer que chame o médico? – Sua voz já continha notas de desespero.

— Não.... Eu.... Estou.... Bem.... – Mal conseguia completar uma frase sem um intervalo entre as palavras.

Ele não era um homem orgulhoso, mas aquela situação fez uma raiva subir pelo seu corpo como nunca antes.

— Amor, o que está acontecendo? Abre a porta, por favor.... Me deixa te ver.

— Eu estou bem – Falou mais firme para não passar mais desespero a ela. – Só vim trocar o curativo.

— Deixa eu te ajudar. – Ela pediu.

— Eu já estou quase terminando. – Ele se olhou no espelho, e sua aparência estava péssima.

Os olhos estavam fundos e com olheira dava a aparência a alguém que havia enchido a cara um dia antes no bar ou apanhado feio.

— Você não vai conseguir passar a faixa direito amor. Eu te ajudo... – Ela forçou a porta mais uma vez. – Richard abre isso aqui. Se não eu vou chamar os seguranças para por essa porta abaixo.

Cambaleante e desorientado pela febre ele abriu a porta e olhou para a esposa que elevou a mão aos lábios ao ver a aparência abatida e horrível do marido.

— Viu? Eu estou bem. – Quase tropeçando, ele chegou a cama e deitou.

Os olhos de Paola desceram em direção ao curativo e estava nítido que alguma coisa estava errada.

— Não, não está. Não deveria falar que está bem quando não está. Queria que fosse honesto em relação ao que está sentindo. Você desinfetou? – Ela pegou os curativos para prender em volta do tórax dele.

— Já desinfetei, já fiz tudo certo. – Ele puxou a coberta para cima dele com calafrios.

— Você está suado, queimando de febre. – Ela colou a bochecha na testa dele. – Olha o seu estado, eu vou chamar um médico agora. – Ela esticou a mão para pegar o telefone discando para o hospital, enquanto sua mão passava pelos cabelos molhados e negros. – Você está mais quente que o normal.

Ela contatou o médico o chamando, com resposta de que estaria no hotel dentro de trinta minutos.

O Relógio marcava cinco horas da tarde. O céu estava escuro do lado da fora da janela. A neve não cessara desde o dia anterior e quase não se via movimentos na rua de carros ou pessoas.

Era a pior estação do ano para qualquer europeu. Pessoas chegavam a ficar com depressão no inverno. Ruas quase desertas e toque de recolher muito cedo.

Talvez fosse por isso que os bandidos escolheram aquela data para assaltar a casa dos Listings e achar que tudo ocorreria bem no banco e ninguém fosse desconfiar de nada ou prende-los.

Esse era o pensamento na cabeça do Richard.

Ele tirou a mão dela de cima que continuava a acaricia-lo insistentemente.

— Eu vou ficar bem, eu quero ver o Rick.

— Ele está descansando meu amor. – Ela respondeu o ajudando por uma camisa.

Os dois chegaram a sala principal e viram Rick sentado no chão com as perninhas esticada por baixo da mesa de centro vendo desenhos da Disney.

Eram os especiais de natal que todo final de ano passava na tv voltado as crianças. Algo que em muitos países parecia ter semelhança

— Você vai preocupar ele assim, querido. Melhor voltar para o quarto. – Paola sugeriu, mas não o impediu.

— Não vou voltar lá para dentro, quero que que ele veja que eu estou aqui com ele.

Não havia sinal de dúvidas que a indireta foi direcionada a ela. E dessa vez Paola não ficaria calada.

— Você precisa entender que eu não sabia que isso ia acontecer e que estou com medo por vocês dois. Eu fiquei com medo de perder vocês. Você acreditando ou não. Quando o médico chegar me avisa. – E desabafando, deu meia volta correndo para o quarto se largando na cama para chorar entre os travesseiros.

Com um suspiro Richard se largou no sofá, mas isso não tirou a concentração do Rick no desenho, o que foi um alivio, porque não queria deixar seu filho o ver chorar e nem o deixar presenciar uma discussão.

O clima havia ficado estranho entre o casal. Paola se sentia culpada, sabendo que ainda assim que não era algo que pudesse ter impedido se estivesse no momento.

Os dois não conversaram até a chegada do médico que o examinou minuciosamente.

— É uma infecção. – O médico prescreveu os antibióticos. – Se não se cuidar e tomar nos horários e os dias certo pode vir se agravar. Por isso a febre veio tão depressa.

Nesse momento Richard estava deitado no sofá descansando igual uma criança.

— E como eu posso fazer o curativo? – Paola perguntou.

— Ferimentos devem ser cobertos por uma compressa que seria um curativo universal preparada com um pedaço de pano bem limpo ou gaze esterilizada. Esta compressa dever ser posicionada sobre a ferida e fixada firmemente com uma atadura ou bandagem. Mas também deixe sempre as extremidades descobertas para observar a circulação e evite o uso de bandagens muito apertadas que dificultam a circulação sanguínea, ou ainda, as muito frouxas, pois soltam.

Enquanto o médico ditava Paola escrevia em sua agenda. E como prova de que estava prestando atenção, ela mesmo fez o curativo no marido sob o olhar médico.

Quando a noite enfim chegara, a febre havia cessado um pouco tranquilizando o coração aflito dela.

Os dois ficaram observando Rick assistindo os desenhos do Mickey com especial do Pateta.

— Come alguma coisa, meu príncipe. – Paola chamou pelo filho e depois olhou para o Richard – Você também deveria comer.

— A Jéssica já fez comida, mamãe. – O pequeno respondeu olhando ainda a tv.

— E posso saber o que você comeu? – Ela perguntou com as mãos na cintura.

— Pão com geleia e um copão de leite quente. – Explicou exagerando com os braços.

— Hum.... E estava gostoso, filho? – Rick apenas sinalizou com a cabeça. – Você já comeu Richard?

O marido negou e se sentou melhor apoiando as costas no encosto do sofá.

— O lanche foi só para ele, afinal ela é a babá dele e não minha.

A frase pareceu simples, mas havia saído com um pouco de rudez.

— Me acompanha então, porque eu pedi uma sopa quente como serviço de quarto. Você precisa comer....

Os olhos dela foi do marido ao filho. A atenção da loira foi interrompida com uma explosão de gargalhadas que o Rick dera. Totalmente à vontade e deitado no chão em cima do tapete macio, com uma bermuda vermelha e meia com uma perna em cima da outra, cena idêntica de quando as pessoas tomam sol na praia.

Era impossível evitar um sorriso.

— Quem é esse? Explica para mim! – Ela pediu com uma voz calma e carinhosa.

— É o pateta. Ele está com medo dele mesmo que é um fantasma. – Rick explicou sem despregar a atenção a tv.

A loira riu. Amava ver em como o filho era a criança mais linda do mundo na forma de sorrir, de ver as coisas como eram e como era a perfeição do seu pai.

— E você ficaria com medo? – Perguntou curiosa sabendo a resposta.

— É lógico que não.

— A mamãe sabe que não, e sabe porquê?

Agora Rick virou para prestar melhor atenção em sua mãe.

— Porque?

— Porque você é o menino mais corajoso que eu conheço. - Os olhos de ambos se cruzaram e ela sorriu. – E eu tenho orgulho da sua coragem.

Rick abriu um sorriso gigante e o coração dela inflou de alegria, pois horas atrás pensou que nunca receberia um sorriso como aquele, já que seu ciúme pela babá a cegava. Logo o desenho voltou a chamar a atenção do filho.

— O que vai querer? – Paola voltou a cabeça ao marido.

A resposta não veio, porque no exato momento um dos seguranças entrara no ambiente que a família se encontrava. E com muita educação e cortesia ele interrompeu os dois de forma educada.

— Senhor Listing, o senhor e a senhora Listing estão aqui no hotel.

Como se pudesse dar um pulo no sofá, Richard olhou para o brutamontes surpreso.

— Meus tios? Podem liberar na recepção.

Em menos de três minutos a porta se abriu e por ela uma jovem senhora com o rosto aflita entrou seguida por um senhor com indícios de cabelos grisalhos com uma barriga levemente saliente.

— RICHARD! – Esther gritou jogando a bolsa na cadeira mais próxima indo abraçar o sobrinho que ela tinha mais como um filho.

Ela o agarrou com tanta força que se possível poderia ter o engasgado.

Rick com o susto da voz explodindo no ambiente, virou a cabeça para trás.

Esther viu ele com o peito nu e o curativo em volta na barriga e seu rosto se transfigurou em horror.

— O que aconteceu com você? – Perguntou.

— Esther, vai com calma... – Albert tranquilizou a situação com seu bom senso.

— Titia – Rick correu na direção deles dando um aperto forte nas pernas de Esther.

A tia era babada em Rick por ser a única criança da casa e por ter uma forte imagem do seu pai.

— Ah meu lindo. – Ela o acolheu em seus braços e recebeu um beijo doce. – O que fizeram com vocês? Está queimando em febre.

— Eu estou bem, a bala passou de raspão. – Richard olhou para a tia. – Uma infecção, mas o médico já disse que tudo bem.... Comecei a tomar os remédios hoje.

A mulher o fuzilou como se dissesse que o sobrinho era um irresponsável. E como tinha o coração de mãe, puxada de orelhas não iria faltar.

— Tia.... – Rick a chamou – O papai me protegeu.

— Ele te protegeu lindo? Conta para a titia.

Albert bagunçou o cabelo do Rick e sentou ao lado do sobrinho mais velho pedindo paciência a ele.

— Ele é um herói né filho? – Paola sorriu abraçando de lado o Rick que ainda estava sob poder de Esther. – E ele também está orgulhoso pelo que fez.

— Viemos no primeiro avião assim que a notícia chegou na Alemanha. – Albert falou. – Helga nos avisou.

— Eu queria abafar a história e não queria preocupa-los. – Ele olhou a esposa - Só fiz o que era necessário e o certo a fazer

— E virou um herói para nós dois – Ela levantou quando a bateram na porta e voltou segundos depois trazendo sopa quente numa bandeja.

— Seu porque mamãe? Você não estava lá. – Rick juntou as sobrancelhas descendo do colo da tia se juntando ao tio e ao pai.

— Mas não precisava estar para que fique orgulhosa, hijo. Quando seu pai falou eu fiquei orgulhosa do mesmo jeito que fiquei preocupada quando vi na tv.

Paola sentou-se ao lado do marido e com muito cuidado ajudou a comer.

— Você não estava com eles? – Albert elevou a voz surpreso virando a cabeça tão rápido que parecia que podia move-la do lugar.

— A mamãe tava fazendo compras e foi pro hotel depois. – Rick respondeu com tanta inocência que não poderia imaginar o perigo de dizer aquelas palavras.

— Eu tinha saído de manhã cedo e fui ao shopping e fazer compras na Oxford Street estava tão cansada que fui para um hotel.

Esther soltou uma risada tão debochada que foi estranho até mesmo para Rick que só tinha seis anos de idade.

A loira ficou com uma carranca e logo depois mudou quando lembrou que aquilo poderia lhe dar rugas e que a sua “sogra” não valia a pena a sua raiva.

— Nossa, que coincidência, nesse mesmo dia sair e ficar em um hotel enquanto seu marido e seu filho estão em casa sozinhos e correndo perigo de vida!

— Tia, por favor. – Richard implorou.

Estava sem condições de parar uma briga e odiava quando as duas mulheres que ele mais amava nessa vida brigavam. Esther estava constantemente acusando Paola de interesseira e que deveria ter tantos homens e seu sobrinho era tão ingênuo que se ela levasse um homem para transar no quarto do casal na frente do Richard que ainda assim ele não acreditaria.

— Foi uma dura coincidência Esther. – Paola respondeu malcriada querendo se alterar.

— Senhora Listing para você. – Disse consertando a Paola – Pois para mim não pareceu e você não me engana. Latina, país de terceiro mundo, onde viu a chance de um porto seguro no dinheiro. Você me dá nojo.

— ESTHER! – Albert gritou. Chega de discussão, Richard não quer uma briga, eu não quero. Ainda por cima se esquecem que tem uma criança aqui.

Paola havia sido ofendida e discriminada, jamais ficaria calada. Esther podia ser a rainha da Inglaterra e ainda assim não deixaria de lhe dizer as suas verdades.

Esther era uma jovem senhora de cabelos escuros de bochechas rosadas. Típica alemã de campo que com um pouco de sol e virava um camarão ambulante em pessoa. Mas era muito bonita e isso Paola nunca pôde descordar. Mas era dura de briga e nunca se enganou a respeito da “sobrinha-nora”.

Parecia que ela podia ler através da Paola como se essa fosse um livro aberto.

E mesmo com uma bela aparência, aquilo nunca intimidou a loira, nem mesmo por ter vindo da pobreza. Paola só não falava mais coisas para não entrar em conflito com o marido. Mas se pudesse esbofetearia a mulher.

— Tudo bem para senhora não parecer coincidência, mas sabe muito bem como me importo com isso não é? Exatamente eu não me importo com o que você acha! – Com muita paciência ela deu a sopa do marido na boca.

Richard rejeitou avisando que não queria brigas.

— Evitarei apenas porque eu te amo, e não quero que fique mal, já passou um dia terrível e continua passando todos os dias estando casado com ela. – Esther enrugou o nariz sentando em uma poltrona, esticando as pernas.

— Não vou brigar com ela, não vale a pena me importar – Paola mordeu uma torrada fechando a cara.

— Eu estava pensando com o seu tio, já faz tanto tempo que não vai nos visitar e só trabalha que poderia ir passar as férias conosco.

Os olhos do Rick brilharam.

Todo o ano Esther e Albert chamavam os sobrinhos para irem para casa de campo da família. Sendo mais uma fazenda. Richard sempre dizia que havia muito para trabalhar na empresa e na época Rick muito pequeno para ir.

O máximo que faziam era viajar para se hospedar no apartamento da família em Munique.

— AH QUE LEGAL. – Rick gritou.

— Seria ótimo tia. Não é filhão?

Paola revirou os olhos. A vontade foi de enfiar a cara da Esther em uma água borbulhante era grande. Além de lhe encher a paciência, sempre tentava tirar os dois dela.

— É, posso falar alemão lá, papai.

Aquilo fizera Paola engasgar. Ao contrário da loira, Esther amou a ideia de que o sobrinho tenha amado em ir com eles para Alemanha.

— O papai está te ensinando a falar alemão? Então você já fala fluente? – Albert perguntou sorrindo de orgulho.

Rick concordou com a cabeça.

— Mostra paro o titio o que sabe falar. – O Jovem senhor cruzou os braços esperando.

— Ich heiBe Richard und Ich bin sechs jahre alt. (Eu me chamo Richard e eu tenho seis anos).

Freut mich, Richard. Ich bin Albert. Wo wohnen du? (Muito prazer, Richard. Eu sou o Albert. Onde você mora?).

— Eu moro em Manchester

— E você gosta de morar em Manchester?

— Gosto, mas não queria voltar de novo. E se aqueles moços voltarem?

Naquele momento Richard entrou no meio da conversa respondendo em alemão também.

— Eles não vão voltar filho. Fica tranquilo. Papai não vai deixar isso acontecer de novo.

— O que vocês estão falando? – Aquilo tinha atiçado a curiosidade da Paola.

Durante os anos de casamento nunca havia se interessado em aprender alemão, além de difícil e não parecer com o espanhol como era com o português ou italiano, não havia atiçado a curiosidade. Pois já possuía fluência no inglês que era um idioma universal e isso lhe bastava.

— Mas e se... – Rick olhou o pai com medo.

Paola tinha razão em querer mudar de imóvel. Mas trabalharia o possível para que seu filho não tivesse trauma daquela situação.

— O papai vai ver uma casa legal, está bem? E não vamos precisar voltar para outra – Ele respondeu em alemão também e voltando a falar inglês em seguida com a mulher. – Nós vamos nos mudar.

Paola arregalou os olhos como só ela conseguia, destacando a cor deles. A expressão era de óbvio.

Na cabeça dela, nada lhe tiraria  ideia de que o culpado vivia sob o mesmo teto que eles.

— Já não era sem tempo. Eu disse que não vamos voltar para lá, e quero trocar todos os empregados.

— Quem não garante que não tenha sido ela? Essa história está suspeita.

Para Esther, todos os problemas que envolvia daqui para frente os Listing, desde a chegada da Paola a família era culpa dela. E ninguém tiraria isso da sua mente.

A tia foi censurada pelo marido e o sobrinho que chamaram sua atenção.

— O que ela disse? – Perguntou Paola.

— Bobagens. – O moreno respondeu.

— Não são bobagens Richard. Abre os olhos para essa mulher.— Esther continuava a reclamar.

O ódio que ela nutria pela “nora” não era disfarçado nem mesmo na frente do Rick que era tão pequeno. As vezes aquilo constrangia quem estivesse presente na discussão.

— O que ela falou? – Paola apertava os punhos com raiva.

— Ela só desconfia de você. Mas eu já falei que não quero essa conversa. Chega tia. – Ele olhou serio para todos na sala.

E o silencio reinou como concordância.

— E você Richard? Desconfia de mim? – Paola segurou na mão do marido.

Sempre usava a manipulação e o vitimismo para mostrar inocência sendo que era culpada por todos os lados.

— É claro que não. – Ele respondeu, o que fez Esther revirar os olhos.

— Para mim isso já basta! – Ela se aconchegou nele tomando cuidado para não machucar o marido lhe dando um selinho. – Eu não estou casada com sua tia.

Os quatro adultos fizeram silencio até ele ser quebrado por uma pergunta infantil.

— Quando a gente vai pra Alemanha? – Rick perguntou olhando a todos.

— Quando o papai sair de férias.  – Albert respondeu sorrindo bondosamente – Agora vem cá dá o abraço no tio, porque você não me deu.

 O mais velho abriu os braços para o acolher calorosamente. Rick cheirou o terno o terno dele e depois o pescoço.

— Cheirinho de hortelã – Ele sorriu o que foi devolvido o sorriso também – Eu queria ir para Alemanha agora.

— Porque não esperamos as férias da sua escola, lindo? Vai estar no verão e você vai aproveitar para brincar os meses inteiros.

Paola mordeu a língua tentando não xingar e sair batendo as portas com raiva. Parecia que quanto mais afastava o filho dos tios, mais o menino gostava dos dois.

Os ciúmes a cegava e cada dia mais isso afastava o relacionamento sadio com Rick até um dia aniquilar a zero e esse sentimento ser reduzido a zero.

A noite terminou com Richard dormindo após o antibiótico lhe causar efeito de sono e Paola o acompanhou porque não suportava mais nenhum minuto com os tios do marido e Rick terminou dormindo nos braços de Esther vendo desenhos e filmes especiais de natais.

Eles precisavam descansar para o que lhes aguardavam anos mais tarde. Eles podiam aproveitar aquela noite de paz e tranquilidade. O assalto à casa dos Listing era apenas a ponta do iceberg dos problemas, como se Paola assinasse um contrato vitalício com o diabo chamado Lorenzo.


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Notas finais do capítulo

Comentários? Indicação?
Adoraria ganhar, mas odeio mendigar isso se não foi algo feito por vontade propria... rsrs
Enfim...



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