A Redenção do Tordo escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 54
A esperança no olhar


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!

Estou numa rotina de vida bem diferente desde o fim de junho e tem sido MUITO difícil escrever. Por isso, fiquei tanto tempo sem postar. Mil desculpas!

Agradeço a todos os que me enviaram mensagens, pedindo atualização. Isso muitas vezes me fez ficar algum tempo a mais no computador, driblando o cansaço e o sono, pra poder terminar logo o capítulo...

Mas não foi só essa a razão do atraso. Houve um outro (bom) motivo: mais uma vez, parei um pouco para me dedicar à minha segunda one-shot da coletânea "Encontros, Acasos e Amores" que está sendo publicada aqui no Nyah!, e levei dois meses para escrevê-la. Dois meses!

É outra comédia romântica em Universo Alternativo e se chama "Antes que você se case". Ficarei muito feliz se puderem conferir! Link no meu perfil!

E as novidades não param por aí: já comecei a publicar a short-fic "Blind date".
Será uma alegria sem tamanho encontrar vocês por lá também!

Voltando à ARDT, a demora em postar até combina com a passagem do tempo que vai acontecer, com as crianças já um pouco crescidas.

E, só para constar, não sei escrever "diálogos de criança", gente!
Nem quando meu filho estava aprendendo a falar eu conseguia transcrever as palavrinhas novas do jeitinho que ele usava. Era algo "intraduzível"!
Por isso, meus pequenos de Panem são muito articulados e não costumam trocar letras! Só às vezes. Vou precisar aprender isso pra quando Willow e Rye nascerem!

Pra terminar: como acontece quando fico um tempo sem postar, o capítulo tem de tudo um pouco. Então, preparem-se para lidar com drama, comédia, romance e...
Peeta ligeiramente bêbado, ousado e sexy!
(traduzindo: classificação etária – 18 anos).

Conversa em dia, ao capítulo!



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Por Katniss

ALGUNS ANOS DEPOIS...

As portas do trem deslizam e Effie e Haymitch entram no vagão com as crianças ainda dormindo. Escolhemos o primeiro trem de partida para o Distrito 7, a fim de chegarmos a tempo para o jantar de ensaio que os pais do Max fizeram questão de organizar antes do casamento dele com Johanna.

Aguardo Peeta, já bastante preocupada, pois se aproxima a hora da partida e nem sinal dele. Depois de alguns minutos, Haymitch aparece novamente no vão aberto à minha frente.

— O garoto ainda não voltou da padaria, docinho?

— Não. – Olho para meus pés, rodeados por nossas malas, e aperto os braços em volta do meu tronco, sem esconder meu nervosismo. — Deve ter acontecido alguma coisa.

Quando ergo minha cabeça, Peeta sobe os degraus da plataforma, sozinho, abatido e com os olhos vermelhos.

— O que foi, Peeta? Onde estão Delly e Thom? – pergunto.

— Delly perdeu o bebê – explica ele, com a voz embargada.

— Oh, não! – lamento, em choque. — Pela segunda vez... Não pode ser.

— Foi nessa madrugada.

— Você quer ficar? Podemos ver se há passagens para amanhã – sugiro.

— Acho que Delly ficaria ainda mais triste se vocês mudassem os planos – opina Haymitch.

— Ela nem queria que soubéssemos antes de viajar. Foi Violet quem me contou. Então, fui até o hospital, mas Delly estava dormindo.

— E o Thom? – Haymitch indaga.

— Está arrasado.

Haymitch e Peeta se abaixam para pegar nossa bagagem, quando ouvimos a última chamada para a viagem.

Peeta se dirige ao compartimento que reservamos e Haymitch me entrega a mala que está carregando.

— Cuida bem do garoto, lindinha – sussurra ele. — Peeta já ficou mal quando aconteceu pela primeira vez. Agora, então...

Fecho a porta atrás de mim e observo Peeta deixar as malas no chão, tirar os calçados e se jogar de costas na cama, com as mãos sobre os olhos.

— Isso foi acontecer logo essa noite – murmura ele, sentido.

— Por que está dizendo isso? – Eu me acomodo ao seu lado e me inclino para acariciar sua testa franzida.

Ele descobre a face e seus olhos avermelhados ficam ainda mais tristes.

— Eu sonhei com uma menininha. Ela estava no segundo andar da nossa casa e me chamou. Corri escada acima, mas ela já havia adormecido quando cheguei no quarto. Os cabelos dela eram da mesma cor dos seus, a pele era morena também, só que um pouco mais clara, e ela tinha os seus traços, mas com bochechas rechonchudas. – Peeta desliza as pontas dos dedos pelo meu rosto lentamente e deixa as lágrimas escorrerem pelos cantos dos olhos até que ele os fecha.

Apoio minha cabeça no travesseiro ao lado dele e assim ficamos por muito tempo, até que Peeta, num rompante, senta-se na beira do colchão.

— Vou ver onde as crianças estão. Eu prometi aos dois que o passeio de trem seria divertido.

— Eles me contaram sobre seus planos. Se eles forem fazer tudo o que estão planejando, essa viagem tem que durar uns três dias, pelo menos – comento e ele sorri levemente, enquanto calça os sapatos.

No caminho até a porta, Peeta enxuga os olhos. Depois de girar a maçaneta, ele vira a cabeça de lado.

— Katniss, sabe a menina com quem sonhei? Eu queria ter visto os olhos dela – balbucia ele, sem olhar pra mim.

Meu peito se aperta e, apenas quando ele sai, deixo os soluços escaparem, pensando em Delly e Thom e nas tantas vezes em que vi semelhante fatalidade acontecer com outras famílias, de modo devastador, tornando ainda mais difícil a vida miserável no Distrito 12. E percebo que, mesmo longe da miséria de antes, a experiência de um aborto espontâneo continua sendo um sofrimento atroz. Uma dor que eu não suportaria uma única vez, quem dirá duas.

Vou até o banheiro lavar meu rosto e saio em busca de Peeta e das crianças. Ouço as vozes infantis vindo do último vagão. Quando coloco a cabeça no vão de entrada, vejo Peeta sentado de pernas cruzadas no tapete com os gêmeos no colo, virando as páginas de um livro cheio de figuras, completamente absorvido, rindo para si mesmo dos comentários curiosos e inocentes dos dois.

É um momento encantador. É algo que o realiza de uma maneira que nada mais consegue. É mais um aperto no peito, que me faz voltar ao corredor, esperando não ter sido vista.

— Tia Katniss... Tia Katniiiss, tá brincando de se esconder?

Não sou rápida o suficiente para fugir do olhar atento de Maysilee. Respiro fundo e, dessa vez, atravesso a porta.

— Como descobriu, May? – Sento-me ao lado de Peeta e acomodo a menina em meus joelhos, beijando seus cachos dourados e aspirando a fragrância suave deles.

— Eu também vi! Você espiou a gente e andou pra trás, tia – revela Elliot.

Peeta lança pra mim um olhar de compreensão e passa seu braço por meus ombros, num gesto reconfortante.

— Eu tenho quatro anos e sou uma pequena detetive. – Maysilee ergue quatro dedos gordinhos diante do meu rosto. — Meu papai que falou.

— Ah, está explicado – comento, com a entonação de concordância que costumo usar com os pequenos.

— Eu também tenho quatro anos e sou... E sou...

— Um grande devorador do lanche que a mamãe está colocando no prato! – Haymitch surge para levar os filhos ao vagão-restaurante.

— Ah, não, papai! Estamos lendo com o tio Peeta – reclama o menino.

— É, papai. Não quero ir! – A irmã engrossa o coro.

— Vocês sabem quem já tem cinco anos e está nos esperando no Distrito 7? – Peeta estende a mão aberta para os pequenos. — E ele é o maior devorador de lanches que eu conheço...

— O Finn! – Ambos recordam com alegria e pulam de pé, correndo para agarrar as mãos de Haymitch e puxá-lo porta afora.

Os três desaparecem no corredor comprido e Peeta indaga cautelosamente:

— A notícia sobre Delly abalou você também, não foi?

— Bastante.

— Pelo menos, Thom disse que identificaram o problema e, na próxima gravidez...

— Eles vão tentar mais uma vez? – interrompo Peeta com essa pergunta retórica e logo me arrependo do impulso de fazer esse questionamento, pois revela muito do que penso a respeito de como seria a minha reação em situação idêntica. — Delly é tão corajosa.

Peeta nada fala por alguns segundos e o silêncio é mais pesado que qualquer palavra.

— Sim, Delly é muito corajosa... E, com certeza, ela quer que estejamos bem, festejando o casamento dos nossos amigos. – Ele me estende a mão depois de se levantar. — Vamos almoçar também?

E não toca mais no assunto.

¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸

Depois de alguns anos morando no Distrito 4, Johanna e Max resolveram oficializar a união, casando-se numa cerimônia em um hotel gigantesco e luxuoso, construído distante dos olhos da população do Distrito 7 ainda na época do governo de Snow, e que agora funciona como ponto turístico e fonte de renda para a cidade.

A princípio, a escolha do lugar me causou estranheza, mas basta olhar ao redor para saber o motivo. O hotel está incrustado na densa floresta do Distrito 7 e é um exemplo de perfeita integração da arquitetura com a natureza.

Já instalados em nosso quarto, eu e Peeta corremos para a varanda, de onde temos uma visão privilegiada para o ambiente externo, repleto de verde e de vida.

Ainda estamos admirando a paisagem, quando a campainha soa. Peeta abre a porta e Johanna e Max se alternam para cumprimentá-lo. Ainda que evite demonstrar, sei que Johanna tem muito carinho por Peeta. Assim como nós somos os únicos que entendemos os pesadelos um do outro, apenas ele e Johanna conhecem completamente o que vivenciaram em poder da Capital.

— Bom ver vocês! – Max comemora comigo, num abraço tão forte que faz sair todo o ar dos meus pulmões.

— A cozinha já está abastecida para você confeitar o bolo amanhã, padeiro – Johanna comunica.

— Meu amigo, fiz questão de vir agradecer pessoalmente, pelo bolo e, principalmente, por ter me apresentado à Johanna e me dado todas aquelas dicas lá no hospital – agradece Max.

— Quer dizer que a culpa foi do Peeta? – Johanna ironiza.

— Eu assumo que aconselhei o Max – Peeta ergue as mãos, rendendo-se.

— Mas o restante do estrago foram vocês que fizeram, tenho certeza – brinco.

— O estrago ainda está sendo feito. E continuará por muito tempo, desmiolada!

— Viemos apenas dar as boas-vindas. Vemos vocês no jantar! – Max convida.

— Estaremos lá – promete Peeta, que começa a se arrumar tão logo se despede deles. — Mal posso esperar para ver o Finn!

— Eu também – acrescento, já me preparando para ver o afilhado de Peeta e ser assolada com as lembranças do pai dele.

¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸

Eu e Peeta saímos do elevador à procura do restaurante e, na extremidade oposta do saguão, avisto Annie caminhando de mãos dadas com Finn.

Independentemente de qualquer fama por ser uma vitoriosa, ela e o filho chamariam a atenção de qualquer pessoa, com seus cabelos ruivos e suas fisionomias que beiram a perfeição.

No entanto, ela é, de fato, uma vitoriosa e o menino é também filho de Finnick Odair, o que desperta ainda mais a curiosidade das pessoas. Observando atentamente a reação delas, vejo admiração, mas também vejo pena refletida em seus olhares.

Eu fui capaz de sobreviver aos Jogos e à rebelião, mas sempre me pergunto como isso pode afetar uma criança. Felizmente, a resposta à minha indagação, ao menos neste momento, está nos passos contentes do menino em nossa direção, indiferente ao comportamento dos outros hóspedes.

As covinhas das bochechas de Finn afundam quando ele sorri. A ansiedade de Peeta em encontrá-lo é claramente espelhada no menino, que corre para abraçá-lo e passa todo o jantar ao lado do padrinho.

— É tão bom vê-los juntos. Finnick estava impaciente para encontrar vocês – comenta Annie ao nos sentarmos à mesa.

— Nós também. Ele está cada dia mais lindo.

— E cada vez mais parecido com o pai – reconhece Annie, sem alterar o tom doce da sua voz.

Tento dizer algo, mas minha garganta está apertada em um nó. Por sorte, nesse instante, Effie deixa Elliot e Maysilee conosco e a chegada deles nos distrai do assunto anterior.

Eles se sentam em lugares próximos, trazendo blocos de papel e giz de cera, e passam a disputar a atenção de Peeta, que se divide entre os pequenos com uma paciência surpreendente.

Johanna se senta conosco por alguns minutos, com o claro objetivo de interagir com as crianças, à sua maneira:

— Adivinha quem vai entrar comigo amanhã no casamento? – pergunta ela aos gêmeos, olhando de lado para Finn, que dá um sorriso acanhado.

— É o tio Max, ora! – Maysilee responde, pondo as mãos na cintura.

— Não! O tio Max vai ficar me esperando no altar. Quem vai entrar comigo é o Finn – explica Johanna e a menina leva a mão aos lábios, admirada.

— A dinda Jo falou que sou o homem mais sensato que ela conhece – diz Finnick timidamente. — Mas nem sei o que é isso.

— É uma coisa que meu papai não é – Elliot se apressa em se manifestar. — A mamãe sempre diz: "Não é nada, nada, nada sensato, Haymitch".

— Bem observado, Elli – Johanna concorda.

— Tia Katniss, eu sou sensato igual ao Finn? – indaga o menino.

— Apesar de vocês serem quase sempre muito ajuizados, quando a tia Johanna diz isso, ela está brincando, porque o Finn é apenas uma criança. Como você, Elli.

— Nada disso, desmiolada. Eu estou falando sério! – Johanna me desmente. — Estão vendo o primo do Max, de gravata vermelha? Ele é a prova viva de que a natureza nem sempre acerta. E aquele cara ali de roupa preta? É o meu chefe na Guarda Distrital. Se ele fosse duas vezes mais esperto, continuaria sendo um estúpido.

As crianças arregalam os olhos, mas Johanna não pretende amenizar a sua opinião sobre os dois homens. Ao contrário disso, ela prossegue:

— A esposa dele deu uma desculpa para não ficar para a despedida de solteira, dizendo que precisava do seu sono da beleza. Mas o que ela precisa mesmo é de hibernação da beleza.

— Berna o quê? – Maysilee questiona.

— Acho que a tia Johanna tirou o dia para ensinar palavras novas a vocês – pontua Annie.

Peeta, então, esclarece para eles o que é hibernação. A explicação precisa se estender para que eles compreendam que a senhora de olhar severo não precisa hibernar.

— Assim fica complicado conversar com vocês, miúdos! – Johanna se levanta, acariciando os cabelos dos três.

— Annie e Katniss, aguardo vocês lá fora daqui a pouco. Acho que a Effie já encontrou o lugar perfeito para o que ela inventou de fazer na despedida de solteira. Os rapazes vão ficar sob os cuidados do Haymitch.

— Cuidados? – Peeta duvida.

— Você entendeu, padeiro. – Johanna empurra o ombro dele e, depois, indica a porta. — Olhem lá. Estão chegando reforços.

Sigo o olhar dela e vejo Gale e Cressida adentrando o restaurante. Johanna busca Max para recebê-los.

Peeta finalmente consegue jantar com calma, quando Annie leva as crianças para brincar na área externa. Gale a ajuda, carregando os dois meninos, um em cada braço. Enquanto ele não retorna, Cressida junta-se a nós para preparar seus equipamentos de filmagem.

— Quem diria? A Johanna se casando! – espanta-se ela.

— E você e Gale? Não pensam nisso?– Peeta pergunta.

— Esse não é muito o meu perfil, mas quem sabe?

Penso na manhã do dia da colheita, em que Gale me disse que teria filhos, se a vida fosse diferente. Gale sempre foi tão devotado à sua família. Será que ele mudou a forma de pensar depois que tudo ficou realmente diferente?

Seja como for, ele e Cressida formam um belo casal. Alguns minutos depois, Gale vem até nossa mesa, trazendo dois pratos em suas mãos.

Ele acena para nós com a cabeça e põe uma das peças de louça à frente de Cressida.

— Coloquei tudo o que você gosta!– Gale se senta a seu lado e ela agradece com um afago no rosto dele.

— Quem sabe, hein, Cressida?– Peeta insinua e ela dá risada, enquanto Gale faz uma expressão de curiosidade.

— O que foi? – pergunta ele.

— Acho que o Peeta está sugerindo que o fim de semana pode ter algumas surpresas. – A resposta enigmática dela o deixa ainda mais confuso.

— Só espero que sejam boas... Falando em surpresas, pelo que percebi, os planos de Effie e Haymitch para as despedidas de solteiros parecem bem maléficos. Há até uma boneca vestida de noiva sendo pendurada lá fora e, salvo engano, ela tem um machado na mão. Você sabe o que significa isso, Catnip?

Informo a eles que Effie pretendia fazer algo tradicional do Distrito 7 e, em suas pesquisas, descobriu sobre o costume de confeccionar figuras feitas de papel machê e papel crepom, chamadas piñatas, recheadas de doces, que devem ser suspensas no ar para que alguém vendado tente quebrá-las com um bastão, liberando as guloseimas.

Para a Johanna, ela preparou uma boneca em formato de noiva, segurando um machado, lotada de chocolates.

— Ah, eu quero ver isso! – Peeta se anima.

— Mas essa brincadeira é só para as meninas! Os chocolates também – aviso. — Vocês e os outros rapazes vão ter que lidar com o Haymitch.

Quando Peeta termina de comer, nós pedimos licença ao casal e circulamos pelo lugar. Trocamos algumas palavras com a Dra. Ceres, o Dr. Augustus, que agora é seu marido, e com Lucila e Cassius, os pais dela e de Max. Todos estão muito felizes com o casamento e com a gravidez recém-descoberta da médica.

Pouco depois, Cassius clica um talher numa taça, chamando a atenção dos noivos e dos convidados para fazer um pequeno pronunciamento.

— Boa noite a todos. Sejam bem-vindos. Para quem não me conhece, eu sou Cassius, o pai do noivo e, ao contrário do que muitos podem pensar e do que a própria Johanna me confessou uma vez que temia, eu nunca estive preocupado com a união de Maximus, meu amado filho, com uma pessoa, no mínimo, polêmica como é minha querida nora. – Ele pisca para a Johanna, que está com Max do outro lado do salão. Ela já começa a gargalhar com os dedos encostados nos lábios, com uma expressão incrédula. — E as razões são simples. Eu também estive de certa forma envolvido em alguns Jogos Vorazes. Fui obrigado a isso, como ela. Perdi muitas coisas, mas nada comparado ao que ela perdeu. Somos vítimas, como tantos aqui. Temos o direito a uma nova chance e precisamos de apoio para que possamos nos reconstruir. No entanto, o principal motivo mesmo é ver como meu filho é feliz ao lado dela, desde o princípio. Eu sabia que ela tinha lá seus defeitos, mas quem não os tem? No fundo, o que prevalece é a certeza de que, mesmo com suas imperfeições, ela é perfeita. Perfeita pra você, Max! Felicidades, meus filhos!

No mesmo instante em que seu pai diz essas palavras, Max aperta Johanna ainda mais em seus braços, e Cassius passa a palavra para a esposa.

— Boa noite. Eu sou a Lucila, mãe do Maximus, e tenho que confessar que, apesar de o Cassius não ter ficado nem um pouco preocupado, eu fiquei! Coisas de mãe... Excesso de cuidado com o filho caçula, que nunca deixou de ser uma criança pra mim. Apenas cresceu, e muito! – Lucila sorri quando vê Johanna olhar para trás para encarar o rosto envergonhado de Max. — Mas hoje eu estou feliz por meu filho ter encontrado você, Johanna, uma pessoa que desde o primeiro dia deixou claro para ele que sabe o que quer, com quem quer, como quer e quando quer. E fico mais feliz ainda que você tenha querido a ele dessa sua forma tão decidida.

Peeta ri abertamente com as últimas frases e, depois, sussurra em meu ouvido:

— A mãe do Max fez um trocadilho com as palavras que Johanna usou quando os dois se conheceram no hospital.

Johanna puxa o noivo pela mão e eles correm para abraçar os pais dele. Ela pega o microfone da mão de Cassius.

— Vou quebrar o protocolo para dizer que a sorte finalmente está a meu favor! Eu passei de não pertencer a ninguém a fazer parte dessa família maravilhosa e eles são incrivelmente importantes pra mim. No início, essa novidade fez com que eu me sentisse ansiosa e fosse mais arredia do que costumo ser. Afinal, eu não tinha nada a perder antes e não admitia me afeiçoar tanto a outras pessoas. Acontece que, com o tempo e com a paciência deles, eu me convenci de que a minha nova família não vai a lugar nenhum...

— Não sem você – completa Lucila, emocionada.

As palavras de todos comovem bastante e é gratificante ver estampado no rosto de Johanna um tipo de felicidade que, por certo, há muito tempo ela não experimentava. Com o rosto banhado em lágrimas, Max tenta dizer:

— Eu... Eu não vou conseguir falar muito agora. Vou deixar para amanhã, pois já está tudo ensaiado. Agora, vamos para a despedida de solteiro!

Apesar da animação dos noivos, muitos convidados se recolhem após o jantar e não ficam para as brincadeiras. Ao final, na ala feminina, permanecemos apenas eu, Johanna, Cressida, Annie, Effie e as crianças, que ainda estão acordadas, empolgadas com as novidades, especialmente com os tombos que levamos nas tentativas de tocar um sino depois de girarmos com as testas encostadas em um bastão fincado no solo.

Agora, todas estamos sentadas na poltrona circular em volta da lareira externa do hotel, que os funcionários ajudaram a acender antes de a reunião começar oficialmente.

Os rapazes estão no bar da piscina, alguns metros abaixo, de onde podemos escutar suas risadas e perceber o quanto estão animados, brincando uns com os outros. Ocasionalmente, nós ouvimos um coro com o nome de um deles, seguido de uma comemoração entusiasmada.

— Eu gostaria de propor um brinde! – Johanna declara, com uma garrafa na mão. Com a outra, ela joga um pedaço de lenha na fogueira à nossa frente.

As chamas da lareira crepitam em direção ao céu, enviando fagulhas que voam acima de nossas cabeças.

— É melhor que minha peruca não pegue fogo – reclama Effie, protegendo os fios artificiais.

— Aí você seria outra autêntica garota em chamas! Vamos todas ser garotas em chamas! – Johanna dispara depois de encher nossas taças e de tomar um longo gole do seu champanhe. — Já pensaram numa noiva em chamas? Ah! Não seria novidade. Cinna já fez isso com a Katniss, quando a transformou no Tordo naquele maldito palco. Nem parece que faz tanto tempo...

Percebendo o direcionamento da conversa, Annie leva os pequenos até um local coberto, com a desculpa de protegê-los do sereno, mas sei que também é para poupá-los de ouvir qualquer coisa sobre Jogos, rebelião e mortes.

— Já se passaram mais de seis anos – confirma Cressida.

— Johanna, por que você demorou tanto a se casar? – Effie indaga.

— São duas histórias longas. Querem mesmo ouvir? – Johanna não espera nosso assentimento para continuar. — O primeiro motivo foi uma espécie de promessa que fiz ao Blight no trem, no dia em que fomos sorteados para o Massacre Quaternário... Soa familiar, Katniss? Imagino que você e Peeta tenham feito algo parecido – ela fala para mim e eu confirmo, num aceno desanimado com a taça erguida.

Então, Johanna conta que guardou para si a missão de cuidar da família de Blight, caso sobrevivesse. Diversamente do que aconteceu com ela, alguns familiares dele foram poupados e, na época da rebelião, precisaram se dispersar. Uma sobrinha de Blight chegou a ser enviada para um orfanato em outro distrito e, como tinha receio de ser descoberta e sofrer alguma retaliação, estava ocultando sua identidade. Mas, enfim, a família foi toda reunida e Johanna cumpriu a missão que assumiu.

— O segundo motivo é que também demorei a me convencer a fazer algo assim, como uma festa. Eu nunca me imaginei num vestido de noiva! No entanto, nesses tempos de paz, eu entendi que a vida é um conjunto de momentos bons e ruins. Risadas, abraços, gritos de raiva, lágrimas de dor. Todos esses detalhes, que parecem insignificantes, é que dão à vida um sentido.

— Você descobriu o sentido da vida e, assim, ganhamos uma festa de casamento! – brinco.

— Exatamente. Essa é minha nova versão. Estou simplesmente tentando agregar novos e insignificantes detalhes à minha nova vida, porque, no fim das contas, a esperança é a única coisa mais forte que o medo. – Johanna corre o dedo pela borda de sua taça. — É possível que eu nunca mais me sinta como quando ria com meu irmão, ou quando ouvia as broncas do meu pai. Muito menos quando conversava com minha mãe. Também é provável que eu nunca sofra tanto quanto sofri quando os perdi. Mas agora eu sei que encontrar outras pessoas não significa esquecer daqueles que se foram, muito menos tentar substituí-los.

Apesar da tristeza implícita em suas palavras, observo que reconhecer isso em voz alta é alentador e animador para ela, ao mesmo tempo. O sorriso em seu rosto é comedido, mas completamente sincero.

— Effie, essa despedida de solteira ficou muito desanimada! – Johanna desvia a atenção dos assuntos delicados. — Crianças, vamos ver quem resgata os doces da piñata?

A piñata não está tão horrenda assim, mas é assustador para os pequenos ver uma boneca de véu e grinalda, com um machado na mão. Eles correm com medo quando Effie a posiciona no alto com a ajuda de uma roldana, mas depois ficam animados quando descobrem que está cheia de chocolates.

A primeira a ser vendada para tentar acertar a piñata é Johanna, porém ela falha epicamente, fazendo todo mundo se encolher enquanto sacode o bastão no ar e, por fim, acerta uma coluna.

Effie assume o posto e, num golpe certeiro, atinge em cheio o objeto, que voa longe para o deck da piscina, onde está acontecendo a despedida de solteiro de Max.

— Não pode ser! – Johanna protesta, enquanto os homens vibram, quando a piñata aterrissa por lá.

— A noiva é minha! – Max ergue a mão, reivindicando o objeto cobiçado por todos.

— A noiva sou eu! – Johanna rebate. — Eu declaro guerra a quem se atrever a pegar a piñata!

Antes que alguém possa impedir, ela pula a mureta que separa a área em que estamos do deck da piscina e desce a ladeira gramada e cheia de plantas exóticas, que certamente não deveria servir de passagem de um canto a outro.

Entrando no clima da brincadeira, Cressida me instiga.

— Katniss, eu vou filmar isso! Você não pode ficar aí parada, já que é uma das soldadas mais bem preparadas.

Então, encorajada pelo champanhe, sigo Johanna. Cressida vem logo atrás de mim, enquanto Effie e Annie ficam com as crianças.

— Nosso território está sendo ocupado! – berra Peeta para os rapazes.

Parece que eles haviam planejado nos atacar antes da decisão precipitada de Johanna, porque a próxima coisa que percebo é que todos estão empunhando bexigas cheias d'água, prontas para serem jogadas em nós. E eles têm um arsenal delas na beira da piscina. Gale é o responsável por abastecer as trincheiras.

— Não me acertem! Estou com a câmera! – Cressida justifica o motivo de ficar isenta dos ataques e nossos oponentes respeitam seu pedido.

Depois de uma curta perseguição, Max segura Johanna pela cintura e ambos quase caem no piso escorregadio, rindo loucamente.

Haymitch acerta alguns balões em mim, quando estou agachada, a ponto de agarrar a piñata, e fico um pouco desnorteada.

— Apaguei a garota em chamas. – Ele ri, satisfeito consigo mesmo.

— Bela tentativa! – rebato e rolo para o lado, prendendo a boneca de papel entre meus braços.

Johanna se desvencilha de Max e eu jogo a piñata para ela, antes de Peeta agarrar meu calcanhar.

Max e Johanna estão disputando a noiva de papel, cada um puxando por um dos braços. A piñata já está destroçada, mas os doces ainda estão dentro dela.

Estou a ponto de apoiar o joelho no chão para me levantar e ajudar Johanna, quando meu corpo é pressionado contra o chão molhado.

— Renda-se, Katniss! – Peeta me faz cócegas e, mesmo me contorcendo em risadas, consigo me virar de barriga para cima para encará-lo, pois ele alivia o peso sobre mim para cutucar minhas costelas.

— Nunca!

— Nunca diga nunca! – diz ele com a voz enrolada.

Então, Peeta me beija e é claro que eu me rendo, sentindo a sua pele recém-barbeada contra a minha e a pressão de seus lábios mornos e úmidos, com o gosto de alguma bebida que deixou neles um sabor diferente.

Não tendo outras invasoras para abater, Haymitch e Gale se concentram em acertar as bexigas restantes em mim e Peeta, interrompendo nosso beijo e nos deixando encharcados, incapazes de parar de rir.

A confusão só termina quando atendemos aos apelos de Annie:

— Vocês estão assustando as crianças!

— Parem com isso imediatamente! – Effie ordena. — Há doces suficientes para todos!

Num último puxão por parte de Max e Johanna, a piñata se divide ao meio e seu conteúdo fica espalhado pelo chão.

Todos param estupefatos diante da infinidade de chocolates de todos os tipos com que Effie recheou a boneca de papel e, com o fim das gargalhadas e do choque, recolhemos as guloseimas e, de modo surpreendentemente ordeiro e pacífico, repartimos entre todos.

Haymitch leva doces para as crianças. Em seguida, Effie vem buscar Johanna, avisando que ela precisa estar bem-disposta para amanhã, e ela e Max se despedem com beijos lambuzados de chocolate, pois vão dormir em quartos separados hoje.

Gale e Cressida juntam o lixo que ficou com a confusão que aprontamos. Tento ajudar, mas Gale me impede:

— Vai cuidar do Peeta, pois ele está meio zonzo.

Com esforço, consigo levantar Peeta do banco onde está sentado. Ele mordisca a metade de um chocolate e me oferece o outro pedaço, mas quase erra a minha boca.

— Eu já disse o quanto está linda hoje?

— Você está falando e agindo de modo engraçado – reparo.

— Estou bêbado. – Ele apoia a mão em meus ombros para se estabilizar. — Por sua causa.

— Explique-se – exijo, bem-humorada.

Peeta faz sinal de silêncio com o dedo indicador sobre a boca, abrindo bem os olhos. Pego sua mão, liberando-o para desembuchar.

— É segredo, mas eu conto. Fui desafiado pelos outros caras a fazer umas travessuras. Como me recusei, tive que beber... Hum... Alguma coisa que o Haymitch me serviu.

— E o que eu tenho a ver com isso?

— Minha primeira missão era ir lá em cima, no nosso quarto, trazer uma peça íntima sua. Depois, o desafio era esconder os seus remédios. – Ele coça a nuca ao ver minha expressão intrigada. — Até que foi uma boa ideia... Mas eu não cumpri, não.

— Está vendo o motivo de você não poder beber?

— Eu não bebi quase nada. Só umas três canecas. – Peeta aproxima o nariz do meu pescoço, deixando-me arrepiada, mas se afasta num sobressalto. — Ou foram quatro? Não, espera...

— Não foi pouco. E, mesmo que fosse, você acabaria assim.

— Assim como? Louco por você? Eu fico assim sóbrio também.

— Peeta... Seus remédios potencializam os efeitos do álcool.

— Katniss... – ele imita meu modo de falar. — Quer saber o que está sendo potencializado quando você fala meu nome desse jeito?

— Não ouse responder a essa pergunta, Peeta Mellark! – finjo irritação, para ocultar minha vontade de rir.

— O quê? Eu só ia dizer que é a vontade de beijar sua boca... Aí você vai e me chama de "Peeta Mellark" e potencializa a vontade de fazer outras coisas.

— Você está precisando de uma chuveirada fria. Vamos pro quarto?

— Seu desejo é uma ordem.

Mesmo cambaleante, ele me pega no colo. Como é de se esperar, ele tropeça nos próprios pés, errando os passos e quase me derrubando.

— Peeta! Cuidado!

Depois que ele me põe no chão, é difícil recuperar o equilíbrio por nós dois, e a maior razão são suas investidas, roçando o nariz em minha orelha e mordendo minha nuca.

— Vou colocar você debaixo do chuveiro do vestiário mesmo.

— Pode me levar pra onde você quiser – fala ele com a voz arrastada, abrindo os braços. — Desde que você fique comigo.

Eu o empurro pelos ombros até o local usado pelos frequentadores da piscina. Por sorte, está aberto, assim como as cabines com chuveiros. Pretendo colocá-lo debaixo do primeiro que vejo, porém Peeta se recusa a entrar no compartimento e me leva até o mais afastado. Ele mesmo aciona o registro e molha a cabeça, segurando minha mão como apoio. Ao menos, eu penso que é por isso.

Quando menos espero, Peeta faz com que eu me junte a ele sob o jato d'água. Minha tentativa de protestar é calada com um beijo e minha capacidade de resistência é nenhuma. Ele junta sua testa na minha, seus olhos faiscando de excitação.

— Estamos completamente molhados. Como vamos aparecer no saguão do hotel nesse estado, Peeta?

— Isso não é problema. É a solução pra disfarçar a bagunça que quero fazer com você.

— Bagunça?

— Para torcer suas roupas, primeiro você precisa tirá-las...

Aproveitando que estamos sozinhos, Peeta fecha a porta da cabine e encaixa a mão sob meu vestido molhado para passá-lo por minha cabeça, arrastando as unhas curtas pela minha barriga e pela lateral do meu corpo. Em seguida, faz o mesmo com sua camisa.

Peeta me recosta na porta de madeira, arrebatando a minha boca com a dele. Ele não se incomoda em tirar o restante das roupas, apenas o necessário para que possamos nos unir. Com toda a tensão causada pela possibilidade de sermos surpreendidos, suspiramos de alívio uma vez que isso acontece.

Mesmo com a adrenalina correndo nas veias, eu me concentro nos movimentos de nossos troncos, bocas e mãos, puxando, tateando, beijando, ofegando e compartilhando um clímax pulsante.

Mordo o ombro dele para ocultar qualquer som que emito. Peeta geme baixinho em meu ouvido, com os dedos enterrados nas mechas molhadas do meu cabelo, extravasando a impetuosidade de nossa pequena aventura.

Meu corpo ainda reverbera a intensidade do que acabamos de fazer, quando ele sussurra, com os lábios colados nos meus:

— Estou liberado para umas taças de vinho de vez em quando?

— Peeta Mellark...

— Não? – pergunta ele, afastando o rosto do meu.

— Vou fazer um estoque dos seus vinhos preferidos na nossa adega.

¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸

Na manhã seguinte, nem vejo Peeta, que acordou cedo para preparar o bolo.

Deixo a cabeça cair no travesseiro, pensando na imprudência de ontem, e em como saímos do vestiário e fomos nos esgueirando sorrateiramente até alcançarmos as escadas para subir ofegantes os muitos andares até nosso quarto.

Recordo também que, no decorrer da noite, enquanto dormia, ele repetiu diversas vezes que queria ver os olhos da menina.

Em um estalo, eu me dou conta de que Peeta deve estar sofrendo os efeitos da bebedeira e vou procurar um analgésico para levar pra ele.

Quando chego na cozinha procurando por Peeta, seu sorriso ao me ver, mesmo sonolento, é contagiante.

— Achei que estivesse precisando de um remédio pra dor de cabeça.

— Achou certo, infelizmente. – Ele estende a mão para pegar o comprimido e o copo que estou segurando. — Já tomou café da manhã? Não quis acordar você quando desci.

— Ainda não. Vejo você mais tarde.

— Volta aqui depois. – Ele cochicha. — Há uns compartimentos pouco frequentados, esperando uma visitinha nossa.

— Peeta...

— Com você falando meu nome desse jeito de novo, não vou esperar até mais tarde.

Com um beijo em sua bochecha, saio depressa, antes que ele me convença a cometer mais uma insensatez.

¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸


— Foi impressão minha ou vocês desapareceram ontem no vestiário da piscina? – Cressida pergunta, quando me sento ao lado dela na mesa do restaurante.

— Vestiário? Bem... Hum... É que...

As palavras fogem, enquanto meu rosto fica vermelho.

— Peeta devia estar passando muito mal. 

— É! Isso mesmo! Ele exagerou um pouco na bebida.

— Acho que todos passamos dos limites ontem.

— Você não imagina o quanto – murmuro.

— Espero que ele esteja melhor.

— Está sim. Obrigada. – Respiro aliviada ao perceber que nossa indiscrição não ficou evidente.

— Fazer umas loucuras de vez em quando é bom, Katniss. – Ela olha pra mim de modo sugestivo.

— E onde está o Gale? – tento mudar de assunto.

— Já está no meio da floresta. Esse lugar é fascinante mesmo. – Cressida passa um guardanapo pelos lábios e se levanta. — Deseje-me sorte, Katniss.

— Por quê?

— Agora é a minha vez de fazer uma loucura. – Ela respira fundo. — Vou lá fora pedir o Gale em casamento! Ele sempre quis e... Fiquei pensando naquelas coisas que a Johanna disse ontem.

— Então, não preciso desejar sorte. Ela já está a seu favor. – Sorrio e ela retribui. 

Antes mesmo que eu termine de comer, Effie já está pastoreando todas as pessoas que precisam assumir algum papel na cerimônia que está organizando e eu sou uma delas.

Ela invade o quarto de hotel reservado para a equipe de preparação, que já está transformado numa bagunça organizada, com esmaltes, escovas, secadores, maquiagem e crianças espalhados ao redor. Em algumas horas, estamos eu, Annie, Effie e os pequenos de frente para um espelho de corpo inteiro, com Venia e Octavia atrás de nós, suspirando por mais um belo trabalho terminado.

— Que tal? – Flavius abre a porta de uma sala contígua, trazendo Johanna pela mão.

— Maravilhosa! – Annie exclama, deixando escorrer por seu rosto uma lágrima, que é rapidamente secada por Octavia. 

Eu estava com receio de que Johanna se tornasse uma metralhadora giratória de insultos e reclamações durante a sua arrumação para o casamento, mas, para a surpresa de todos, ela está majestosamente calma. E linda! Num vestido claro e sem extravagâncias, que é ao mesmo tempo sensual e delicado, Johanna desfila diante de nós. 

— Tia Jo, você está tão bonita! – Maysilee elogia.

— Eu quero ser o noivo – confessa Finn em sua inocência.

— Também quero! – Elliot anuncia.

Johanna se abaixa para ficar da altura deles.

— Eu fico lisonjeada, mas vou ter que contar para o Tio Max que vocês estão querendo passar a perna nele.

— Não! Eu desisto, dinda! – Finn muda de ideia e é impossível não rir da cara de pavor dos meninos.

— O tio Max é muito forte. Pode casar com ele mesmo. – Elliot também não mantém sua palavra. 

Alguém bate na porta e Effie deixa Cressida entrar. Ela faz um sinal de positivo diante do meu olhar inquisidor.

— Então, pronta para se casar? – Cressida pergunta. — Todo o resto está pronto: a decoração, o bolo, o noivo...

— Então, falta apenas a nossa gloriosa presença. Vamos! – Johanna brada e descemos juntos no mesmo elevador, com Cressida captando todos os detalhes.

Tomo a dianteira, levando Maysilee e Elliot comigo, e eles correm em direção ao pai. Encontro Peeta já sentado numa das cadeiras reservadas aos convidados.

A cerimônia foi preparada numa área descampada, um pouco afastada do hotel e cercada de árvores altas. O céu azul emoldura esse cenário incrível. 

À frente das cadeiras, Max e seus familiares estão sob um grande arco feito de ramos e flores coloridas, que foi montado diante de uma passarela ladeada de belos vasos com arranjos florais e coberta de folhas bem verdes, formando um tapete natural.

— Estava com saudade. – Peeta passa o braço por meus ombros quando me sento ao seu lado e se aproxima para beijar minha têmpora. — Você não foi me visitar...

— Não foi por falta de vontade – sussurro de volta.

Ele ergue a sobrancelha e eu rio, entrelaçando nossos dedos. O vento sopra, espalhando o delicioso aroma da floresta e a música começa. Ficamos de pé para acompanhar a entrada de Johanna no corredor central.

Ela está mesmo acompanhada por Finn, que enche o peito para caminhar solenemente e olha para trás de vez em quando, em busca da aprovação da mãe.

De repente, um dos saltos de Johanna fica agarrado no solo e ela se apoia no menino para puxar o pé.

— De quem foi a bela ideia de fazer um casamento no meio da floresta? – resmunga ela.

— Foi sua, meu amor! – Max rebate na outra extremidade da passarela.

Ela dá de ombros e tenta dar mais um passo, mas dessa vez o outro salto fica mesmo preso e não sai nem quando Finn se abaixa e força o pé dela para cima. Sem mais delongas, Johanna tira as sandálias, pega Finn no colo, e segue adiante, com a barra do vestido arrastando as folhas verdes e um bocado de terra.

Effie fica um pouco aflita a princípio, mas relaxa quando vê que todos, principalmente Johanna e Max, acham tudo muito divertido. Apenas o celebrante encontra um pouco de dificuldade para acalmar os ânimos para dar início às formalidades do casamento.

Depois do sim e da troca de alianças, Johanna e Max seguram as mãos um do outro e ela começa:

— Tesouros não são somente joias, ouro e prata. Uma pessoa pode ser um tesouro. E você é esse diamante bruto, que faz parte da minha vida e é o dono do meu coração e dos meus sorrisos mais sinceros. Se alguém aqui já ouviu conselhos do tipo "seja você mesmo" ou "não se preocupe com a opinião dos outros", não faz ideia de que nós dois juntos somos a personificação disso. – Ela faz uma pausa e olha fixamente pra ele. — Você já deixou claro muitas vezes que eu o deixo louco e sabe que sou teimosa, impulsiva, geniosa e difícil de conviver, mas nunca duvide de que, se você não está comigo, não é onde quero estar.

— Podemos ser impossíveis juntos, mas eu quero tudo isso, se isso significar ter você ao meu lado, porque eu amo sua língua afiada, amo seu o modo de resmungar entre dentes, amo sua sobrancelha levantada quando está desconfiada ou pronta para dizer umas verdades...

— Espera aí! Deixe-me adivinhar... Essa é a parte dos votos que você não planejou e está improvisando?

— Não, tudo isso está nas minhas anotações – esclarece Max com sinceridade. — Posso continuar?

— Vá em frente. Seja você mesmo e não se preocupe com a opinião dos outros! 

— Eu amo sua risada, seu jeito de dançar, de enfrentar a vida e de me fazer feliz. Por isso, estarei com você, Johanna, onde você estiver.

Ela joga os braços em torno do pescoço dele e, enquanto a beija, Max gira Johanna no ar, derrubando o celebrante e, com ele, metade da decoração. Cassius e o Dr. Augustus ainda tentam segurar o arco no altar, mas ele tomba, espalhando a folhagem nas pessoas que estão próximas e quase acertando Cressida, mas Gale a socorre a tempo.

Effie ergue os braços em desepero. Depois, coça a cabeça, resmungando algo para si mesma. Por fim, com um longo suspiro, desiste de tentar consertar qualquer coisa. 

Max e Johanna olham petrificados para a destruição que provocaram, até que Johanna fala para todos, entre risos:

— Nós já dissemos o sim. Podemos encerrar isso aqui!

Ela segura na mão de Max e o leva em direção à saída, enquanto o celebrante grita atrás deles, depois de se levantar, balançando a cabeça em negação:

— E eu vos declaro marido e mulher!

Antes de chegarem ao fim do caminho, Effie intercepta os dois:

— Você esqueceu o buquê, Johanna!

— Não preciso mais dele, Effie! É todo seu!

Ao ouvir isso, Effie procura Haymitch entre os convidados, sacudindo o ramo de flores no ar:

— Haymitch, isso quer dizer que nós somos os próximos!

Então, seguimos todos para o local da recepção. Para compensar a grande confusão que foi a cerimônia e para a plena satisfação de Effie, a festa está impecável. E tudo se desenrola com perfeição do início ao fim. 

Estar entre familiares e amigos, cercada por pessoas amadas, é a melhor coisa para o espírito de Johanna.

As dificuldades e as perdas que cada um aqui sofreu em suas trajetórias realmente causaram grandes danos. No entanto, mais uma vez tenho a prova do poder restaurador da esperança. 

A única coisa mais forte que o medo.

¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸¸.•*'¨'*•.¸ 

Dois dias depois, eu e Peeta estamos no trem, porém não embarcamos de volta ao Distrito 12. Nosso destino é o Distrito 11. 

Pelo terceiro ano consecutivo, visitaremos as famílias de Rue e Thresh, para cumprir pessoalmente a promessa feita por Peeta durante a Turnê da Vitória, de entregarmos a eles o equivalente a um mês de nossos ganhos como vitoriosos.

O comboio para e, na plataforma, estão Harvest, a irmã de Thresh, e Sage, uma das irmãs de Rue. A menina que tinha a idade mais próxima da dela. Tão parecida com minha doce, ágil e esperta Rue.

Tremo de nervosismo. Os outros quatro irmãos menores de Rue surgem atrás dela, com a mesma pele escura e cabelos castanhos, mas agora livres da extrema pobreza e de terem que trabalhar do nascer ao pôr do sol nos pomares do Distrito 11.

Eu e Peeta saímos do trem e Anise, a irmã caçula de Rue, corre até mim e me estende os braços, como um passarinho.

— Você pode cantar? – pede ela, como faz todas as vezes em que se encontra comigo. Como fez a minha brava aliada na arena.

Eu a pego no colo e, depois que Anise envolve meu pescoço com seus bracinhos finos, embalo seu pequeno corpo de um lado a outro, cantando a canção de ninar em seu ouvido. 

Nesse instante, talvez por estar reproduzindo um gesto tão maternal, eu me recordo da menina que apareceu no sonho de Peeta. 

Paro de cantarolar e ele me estende a mão. Eu a seguro firmemente, ainda com a irmãzinha de Rue em meus braços.

— Queria saber uma coisa sobre a menininha de olhos fechados com quem você sonhou... Você disse que ouviu a voz dela chamando. Ela chamou você de quê? De Peeta?

Ele abaixa o olhar para me responder.

— Não. Ela me chamou de papai.

Então, Peeta levanta a cabeça e sorri. É um sorriso que acende algo dentro de mim. Ele me fita com aqueles lindos olhos azuis. 

O pensamento que me vem à cabeça é o quanto é injusto ninguém poder herdar aqueles olhos. Olhos nos quais posso me perder para sempre, pois são como um labirinto infinito de amor e... esperança.


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Notas finais do capítulo

Oi de novo!

Eu não acredito que consegui terminar o capítulo!
⏳⌛

Então, gente... É MUITO bom estar de volta!

Falta pouco para o Peeta convencer a Katniss a deixá-lo ver os olhos da menininha dos seus sonhos.
Verdadeiro ou falso?
Verdadeiro!

Espero vocês nos próximos capítulos e ficarei realmente grata se puderem conferir "Blind date" e "Antes que você se case"!

Até qualquer dia...

Beijos!

Isabela.