A Redenção do Tordo escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 46
Os filhos do Distrito 12


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!

Atendendo a alguns pedidos desesperados, já estou de volta, para acalmar o coração de vocês... (será????).

Nesse capítulo, eu adaptei uma parte de um dos filmes, que não está nos livros.

Foi uma tradução livre e amadora do áudio em inglês e tive que fazer umas alterações para ficar coerente com os acontecimentos da fic, tá?

Vamos ver quem vai descobrir que cena é essa?

Dica: as palavras são ditas por outra personagem no filme.

E tem hot inspirado numa parte interessante do livro "Bela redenção"...

Até as notas finais! Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/696420/chapter/46

 

 

Por Peeta

Não consigo identificar nenhum outro som, a não ser o que vem do andar de cima, do nosso quarto.

Meu primeiro impulso é disparar escada acima, porém me contenho, para fazer o mínimo de barulho possível… o que é inútil.

Devagar, eu me aproximo da porta do quarto e, para meu alívio, encontro Katniss, andando de um lado a outro, com um pedaço de papel nas mãos.

Solto a respiração que estava segurando. Ela está tão concentrada no que está lendo que não nota a minha chegada nada silenciosa.

Sobre a cama, está um vestido longo, prateado, o mesmo que ela usou no jantar realizado aqui no Distrito 12, ao final da Turnê da Vitória. Lembranças povoam a minha mente e algumas não são muito boas.

Respiro fundo e organizo meus pensamentos. Só então, eu me aproximo de Katniss, para resgatar a nós dois de nossas distrações.

— Esse vestido fica lindo em você – declaro e ela gira para me encontrar já colado ao seu corpo. — Quando eu vi você vestida nele naquele jantar, mesmo tendo que lidar com tantas outras coisas, eu só conseguia pensar que, a partir daquela noite, eu não poderia mais tê-la em meus braços, para velar seu sono e para me confortar dos meus próprios pesadelos, sempre sobre perder você.

— Você não foi o único que se lamentou por isso. – Ela me beija lenta e profundamente e eu agradeço por essa recordação parecer algo já tão distante.

Alcanço suas mãos e tento pegar a folha que ela está segurando. Katniss resiste.

— O que há nesse papel?

— Um rascunho da mensagem que pretendo ler na cerimônia. Escrevi baseada numa conversa que tive com Plutarch depois do meu julgamento, quando voltei pra cá.

— Posso ler? – peço e ela franze o nariz graciosamente, para depois me entregar as anotações, aguardando o meu aval com as mãos apertadas. — O texto está muito bom. É curto e a reflexão que propõe é muito pertinente.

— Diferente de mim, você tem o dom de falar… Mesmo aqui, conversando apenas comigo, você me surpreende. Então, pode ler no meu lugar!

— A grande diferença é que eu não sou você… A voz que todos querem escutar. – Toco a ponta do nariz dela com carinho. — Vamos treinar um pouco.

— Você não tem que voltar à padaria?

— Ah… Bem, eu… eu prometi ajudar a você, não foi? – Abaixo os olhos, sem querer revelar o principal motivo de estar em casa tão cedo.

Ligo para a padaria e aviso que não poderei mais retornar hoje. Apesar do grande movimento, tenho certeza de que Lionel e Casper darão conta de tudo.

— Vamos comer alguma coisa, enquanto você ensaia? – proponho.

Ela aceita e, assim, eu e Katniss passamos quase toda a tarde aperfeiçoando o modo como ela transmitirá sua mensagem, até que ela adormece em meus braços no sofá.

Chega a hora de nos prepararmos para a cerimônia.

Deixo-a dormindo e subo as escadas. Separo os itens que preciso para tomar um banho e fazer a barba e entro no banheiro.

Depois que giro o registro para deixar cair a água do chuveiro, Katniss abre a porta do box, enrolada numa toalha.

— Posso entrar? – pede ela, já pendurando a toalha, sem esperar resposta.

Estamos adquirindo naturalmente o hábito de tomar banho juntos, quando a rotina nos permite. São sempre momentos de muita troca e intimidade.

— Claro que pode!

Cedo meu espaço para que Katniss se molhe também. Logo a água corrente umedece todo o corpo dela, escorrendo por sua pele cor de oliva. Katniss estende suas mãos em concha. Derramo xampu nelas e ela faz espuma nos meus cabelos.

Agora é a minha vez de embrenhar meus dedos por seus fios longos. O cheiro de lavanda do seu xampu invade minhas narinas.

Ela vai até a água e, com os olhos fechados, ergue o queixo para tirar a espuma dos cabelos, depois enxágua rapidamente o rosto, e me olha, sorrindo.

— Sua vez.

Dou alguns passos à frente, inclinando meu rosto pra baixo, para meus lábios tocarem os dela.

Katniss me direciona para o jato d'água e pega com cuidado o sabonete.

— Você não quer saber com que roupa eu vou à festa de abertura? – pergunto, enquanto ela passa o sabonete pelo meu peitoral.

— Você estará bem de qualquer jeito.

Bem? Esse é o elogio que eu mereço?

— Tá legal. Lindo, maravilhoso, irresistível.

— Assim está melhor.

Tomo o sabonete de suas mãos, para ensaboar seu corpo delicadamente e, antes de passar os dedos por seus ombros, finco meus dentes levemente na sua pele molhada.

— Peeta, meu vestido é de alças. Cuidado para não deixar uma marca – resmunga ela.

— Tudo bem, mas você tem que me compensar por isso e… Fazer amor comigo… Agora – falo entre beijos em seu pescoço e em sua bochecha.

— Eu vim aqui tomar banho. Preciso ensaiar mais meu discurso! – Katniss finge indignação.

— Então, tenho um desafio pra você – sussurro e Katniss me olha tensa.

Escondo uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha e encosto a boca ali, demorando propositalmente a falar. Ela morde o lábio em expectativa.

— Você é capaz de recitar o seu discurso inteiro só pra mim? – Seguro firmemente sua cintura.

— Agora?

— Sim, sem errar. Caso contrário, não deixo você sair daqui.

— Só para constar… Você está arruinando as chances de eu conseguir falar alguma coisa na frente de todo mundo. Vou lembrar de você me desafiando… aqui.

— Pode começar! – Eu a instigo, sem soltá-la.

— Boa noite, cidadãos de… – inicia ela e eu beijo sua orelha. — Hmm… de Panem. – Meus lábios resvalam até o seu pescoço. — Eu gostaria de… de… – Katniss titubeia mais uma vez, quando deslizo a mão livre vagarosamente por entre seus seios, percorrendo o caminho até seu ventre. Ela suspira.

— Gostaria de…? – Levo as duas mãos às suas costas e desço até a curva de seus quadris.

Katniss fecha os olhos. A água escorre por seus cabelos e por seu rosto, num caminho sem obstáculos até seus pés. Se ela resistir mais um pouco, eu não vou aguentar…

Não adianta, eu já caí na minha própria armadilha. E ela sabe disso.

Então, eu jogo pesado, beijando e acariciando com ansiedade cada pedaço de pele ao meu alcance.

— Eu… desisto. – Sua respiração falha e eu paro para olhar pra ela com ar de vitória. — Vou contar um segredo. Eu entrei aqui exatamente com essa intenção… Fazer amor com você.

Imediatamente, puxo-a mais para junto de mim, deixando seu torso molhado completamente grudado ao meu. Exploro cada recanto de sua boca e ela arrasta as unhas pelo meu pescoço, afundando os dedos em meus cabelos.

Eu me preparo para a sensação arrebatadora que me domina quando estou dentro dela.

Giro seu corpo para abraçá-la por trás e ela espalma as mãos na parede, recebendo as gotas do chuveiro em suas costas.

Quando ela relaxa, em um movimento suave, movo o meu tronco pra frente. Ela permite que um murmúrio escape de sua boca quando nossos corpos se unem completamente. Pressiono meu rosto em sua nuca e, em seguida, apoio meu queixo em seu ombro.

Katniss ergue uma das mãos e corre ternamente os dedos pela linha do meu queixo, por meu pescoço e por entre meus cabelos. Então, deslizo a palma da mão por suas coxas, enquanto empurro ritmadamente meus quadris para junto dos seus.

Agarro-a com mais força, contornando seu ventre, e estendo a outra mão para tocar seus seios e outras partes sensíveis do seu corpo.

Ela arqueia as costas, liberando o ar dos pulmões com um gemido, dando-me pleno acesso ao seu pescoço.

Seus dedos finos pressionam meu braço, enquanto sua outra mão escorrega pelos azulejos, já sem firmeza, e eu preciso me sustentar na parede também.

Eu me delicio com a sensação quente do corpo dela, em contraste com os azulejos frios onde apoio meus braços, até que levamos um ao outro ao desprendimento total da realidade, na mais sublime enlevação.

Permaneço conectado a ela até que nossas respirações rápidas e superficiais se normalizem. Katniss fica novamente de frente pra mim e me beija febrilmente, nossas pernas tremendo pelo esforço e pela excitação.

— Agora você pode ir treinar o seu discurso – provoco.

Katniss sorri e recomeçamos nossos cuidados um com o outro, até terminarmos o banho, e ela deixa o banheiro, enquanto permaneço para fazer a barba.

Minutos depois, ela se apoia no batente da porta, para eu ajudá-la a fechar seu vestido. Esquadrinho sua pele exposta e constato:

— Nenhuma marca de mordida.

Ela pisca pra mim e ajeita as alças finas do vestido.

— Você cumpriu sua parte no trato, Mellark.

— Foi muito bom negociar com você, Everdeen.

Katniss sai, deixando a porta aberta, e eu apenas passo a toalha no rosto para retirar o excesso de água, antes de segui-la.

Enquanto eu me visto, ela se senta em frente à penteadeira para fazer uma trança elaborada no cabelo e se maquiar.

Sou o primeiro a ficar pronto e, sentindo a temperatura cair um pouco, pego para ela uma espécie de xale, que também fez parte de seu figurino na Turnê da Vitória, só que em outro distrito.

— Meus itens de maquiagem estão praticamente no fim – reclama ela.

— Quer que eu veja se Effie pode emprestar alguma coisa a você? – Ponho-me de pé atrás dela e fito demoradamente o reflexo de seu rosto no espelho. — Ah, não é preciso. Você está perfeita! – Pego sua mão e a levanto da cadeira. — Aliás, você conseguiu ficar ainda mais linda nesse vestido do que naquela noite no jantar! Mas a grande diferença é que, hoje à noite, você vai dormir nos meus braços… – digo em seu ouvido, colocando sobre seus ombros a peça de roupa que a protegerá do frio.

Descemos as escadas e, com as mãos entrelaçadas, caminhamos até a praça, onde um grande palco foi erguido.

— Ainda estou nervosa. Eu não vou conseguir falar com naturalidade… e será um vexame! – Katniss fala preocupada.

— Calma. Você vai encontrar a motivação para se expressar da melhor forma, com o coração, como já fez tantas vezes. – Eu a encorajo.

A cidade está em clima festivo, enfeitada com bandeirolas e placas comemorativas. Algumas pessoas carregam cartazes com saudações à Presidente. Diversas barracas foram montadas e oferecem comidas típicas de outros distritos e diversão para adultos e crianças.

Diferente de quando Panem era comandada por Snow, a presença dos habitantes no evento não é obrigatória. No entanto, a praça está bastante cheia.

Assim que nos avista, Effie nos encaminha para as nossas posições destacadas no palco, ao lado da cadeira reservada a Haymitch.

Cressida dirige um grande grupo de cinegrafistas, dentre eles, Pollux. Ambos se aproximam de nós.

— Pollux acabou de chegar da Capital. Antes de vir, ele acompanhou a namorada no exame para saber o sexo do bebê que ela está esperando – diz Cressida e ele confirma efusivamente com a cabeça. — É um menino e se chamará Castor.

O sorriso que Katniss havia dado ao saber da primeira notícia se apaga momentaneamente ao ouvir o nome do falecido irmão de Pollux, porém volta a se iluminar diante da alegria genuína com a qual ele recebe nossas felicitações.

Os dois voltam a assumir suas posições e corro os olhos pelo palco para encontrar a expressão gélida do Capitão Razor. Tento ignorar o fato de que ele parece muito mais amedrontador ao empunhar o armamento usado pela Guarda Nacional.

Haymitch se senta ao nosso lado, dando tapinhas em nossas costas e, não demora muito, a voz de Effie ecoa através das caixas de som:

— Feliz Turnê Presidencial! E que a sorte esteja sempre a seu favor! – É o seu cumprimento aos presentes.

Em seguida, ela anuncia a chegada da Presidente Paylor e de alguns de seus Ministros de governo.

Os acordes do novo hino de Panem preenchem todo o lugar, quando todos já estão de pé no palco.

O Ministro da Integração Nacional, Edmund Fare, um homem franzino de meia idade, oriundo do Distrito 6, faz o primeiro pronunciamento.

Comovido, ele destaca os avanços na implementação da democracia, alertando sobre a importância da união entre os distritos e a Capital.

— Embora seja um momento de celebração, esse é também um momento de reflexão – diz ele. — Embora muitos queiram abandonar de uma vez as recordações de como vivíamos antes da rebelião, não podemos nos esquecer de nada. De absolutamente nada. Se esquecermos a trajetória da nossa nação, estamos nos condenando a repetir as atrocidades praticadas no passado. Seria uma boa ideia a construção de um museu em cada Distrito. Porém, isso demandaria recursos que não temos no momento. O ideal mesmo é deixar isso gravado em nossas mentes e corações e propagar para as futuras gerações essa cultura de união e de paz. Obrigado.

O Ministro é bastante aplaudido e passa a palavra à Presidente Paylor, que logo conquista a todos com seu jeito de falar, que transmite sua cordialidade e segurança.

— Eu não gostaria de me alongar, pois eu conheço a natureza espontânea das pessoas do Distrito 12 e imagino que estejam ansiosos por começarem os festejos. No entanto, eu preciso tomar um pouco mais do tempo de vocês para fazer algumas homenagens. – Ela olha discretamente em nossa direção. — Todos aqui lutamos para que nosso país se transformasse. Não quero desmerecer os esforços de ninguém, pois cada um foi muito importante para a vitória da causa. Por isso, sintam-se todos homenageados ao presenciarem as condecorações que serão feitas a alguns filhos deste distrito. – A Presidente Paylor faz uma pausa. — Comandante Hawthorne, ou melhor, Gale. É assim que todos aqui o chamam. Você se distingue de maneira notável, por sua bravura e sua coragem. Você viu outros oficiais receberem a Medalha de Honra Nacional. Eu adiei a entrega da sua, pois você merece recebê-la no distrito onde nasceu e cresceu, no distrito que você ajudou a salvar da total dizimação.

A Presidente Paylor se vira para trás e dá as boas vindas à Posy, irmã mais nova de Gale, que carrega a pequena almofada onde repousa a medalha. Hazelle, Rory e Vicky caminham atrás dela.

Pelo ar surpreso de Gale, percebe-se que ele não esperava ver sua família aqui no Distrito 12.

— Sra. Hawthorne, faça as honras, por favor – convida a Presidente Paylor e Hazelle coloca a medalha no peito do filho, com os olhos lacrimejantes.

A expressão de amor e orgulho dos três irmãos menores, que agora abraçam o irmão mais velho, é tocante.

Os familiares de Gale descem do palco e ele retoma sua posição, recebendo muitos aplausos.

— Peeta Mellark – continua a Presidente Paylor e minha pulsação se agita um pouco quando ouço meu nome –, mesmo nos seus momentos mais difíceis, você manteve uma atitude pacifista. Ainda que nem todos concordassem com o cessar-fogo que você pedia, seus argumentos serviram para que alguns dos envolvidos na rebelião refletissem sobre prosseguir ou não com atos de guerra extremos. Por isso e por sua incrível confiança na eficácia do diálogo para a resolução de conflitos, eu o nomeio Embaixador da Paz de Panem.

Katniss acaricia minha mão e se levanta para me aplaudir, junto aos demais. Depois, caminho até a Presidente Paylor, que me entrega um brasão com o símbolo da nova Panem. Assim que tomo meu assento mais uma vez, ela recomeça a falar.

— Como muitos aqui, eu lutei ao lado de Alma Coin. No entanto, eu ignorava completamente o que ela realmente planejava para o seu governo, até que, depois da sua morte, foi retirado o sigilo dos registros de guerra. Descobrimos, então, que os planos dela seriam à altura da tirania de Snow, ou mesmo pior. E foi Haymitch Abernathy quem nos ajudou a decodificar muitas mensagens confidenciais que Coin e seus verdadeiros aliados trocavam entre si. Assim, pudemos frear muitas ações que seriam desastrosas para o nosso país. Então, Haymitch, você merece a Medalha de Honra ao Mérito, pelos relevantes serviços prestados à nação.

Dessa vez, é Effie quem pendura a medalha no pescoço de Haymitch, que faz umas reverências engraçadas em agradecimento, fingindo, por fim, que vai cair no chão. Porém, ele se ergue e suspende o dedo indicador, falando ao microfone:

— Sem tombos no palco hoje, pessoal! – Haymitch zomba de si próprio.

As risadas ecoam por um bom tempo, até que a Presidente prossegue com seu discurso:

— Muito bem… Todo esse esforço nos ajudou a romper as amarras, não só do antigo regime, mas das pessoas que pretendiam manipular mais uma vez o nosso povo sofrido e também usar a guerra como pretexto para cometerem uma nova onda de abusos. Tudo pela sede de poder. Enfim, interrompemos esse ciclo… O que me faz lembrar de você, Katniss Everdeen. – Os dedos de Katniss se prendem com mais intensidade aos meus. — E de tudo pelo que você passou, tudo o que você fez, como você abraçou sua missão rumo à liberdade e o impacto das suas escolhas. Eu imagino que você deva sentir o peso do julgamento de tantas pessoas em relação a cada uma dessas coisas. É por isso, povo de Panem, que eu defendo que não é mais o momento de discutir se ela cometeu ou não algum crime, se o que aconteceu foi justo ou injusto. Seus atos já foram submetidos ao Tribunal e Katniss já recebeu seu veredicto. Eu não posso, nem quero julgar ninguém – diz a Presidente Paylor com firmeza. — Por outro lado, não ignoro os fatos que tive a oportunidade de conhecer. Como cidadã de Panem, percorri os distritos para conhecer suas realidades, suas potencialidades e, principalmente, suas necessidades. Constatei que são todos muito diferentes entre si, em muitos aspectos, mas todos têm algo em comum. Em cada um deles, eu identifiquei o clamor popular pela sua presença, Katniss, e pela sua liberdade de ir e vir. Todos querem que você faça parte da reconstrução de Panem. Por isso, é com grande alegria que anuncio que seu pedido de revogação da ordem de restrição foi aceito pelo Tribunal e eu, como presidente deste país em formação, concedo a você o título de cidadã honorária de Panem.

Se o meu coração mal cabe no peito de tanta alegria, eu imagino o que se passa com Katniss. Suas mãos estão trêmulas, mas ela sorri. Seu sorriso começa tímido e se abre um pouco mais, porém volta a se retrair quando ela é aclamada com muito entusiasmo por todos os presentes.

A Presidente Paylor questiona Katniss com os olhos, fazendo um meneio com a cabeça em direção ao microfone. Eu fico de pé e entrego a ela o papel que está no meu bolso.

Katniss se levanta e se posiciona ao lado da Presidente. Visivelmente emocionada, ela respira fundo antes de ler o que está na folha em suas mãos.

— Boa noite… a todos. Eu… Eu gostaria de compartilhar com vocês um diálogo que me marcou muito e que tem muito em comum com os sentimentos que todos expressaram hoje. Quando eu estava voltando da Capital para o Distrito 12, perguntei a Plutarch Heavensbee se ele estava se preparando para mais uma guerra. Ele respondeu que não, não agora, pois estamos no período tranquilo em que todo mundo concorda que os nossos horrores recentes jamais deveriam se repetir. No enatnto, ele lembrou que o grande problema é que o pensamento em prol do coletivo normalmente possui vida curta. Somos seres volúveis e idiotas com uma péssima capacidade para lembrar das coisas e uma grande volúpia pela autodestruição. – Katniss passeia os olhos ao seu redor. — Não me olhem desse jeito, por favor. Essas foram palavras dele  – brinca ela e as pessoas suavizam suas expressões e sorriem. — Porém, ele também ponderou que talvez, em nosso tempo atual, estejamos testemunhando a evolução da raça humana. Talvez seja esse o momento em que a paz será duradoura. Então, essa é a minha nova causa. – Percebo que ela não mais se atém ao papel. — Eu quero participar da renovação de Panem, ainda que dando pequenos passos. Por mim, por vocês, por nossos pais, por nossos irmãos… Por nossos filhos. – Ela me olha com doçura ao dizer as últimas palavras.

Se ela havia sido aplaudida antes, agora Katniss é ovacionada. Ela volta para o seu lugar com as mãos estendidas para mim.

— Você foi maravilhosa! – Eu a abraço e toco meus lábios rapidamente nos dela, antes de nos sentarmos.

A Presidente retoma o seu pronunciamento:

— Para finalizar, gostaria apenas de parabenizar a coragem e a força de todos vocês na reconstrução de sua cidade e de seu país. Que esse dia seja o marco de uma mudança histórica. Com a rebelião, comunicamos claramente que nunca mais vamos suportar a injustiça. Hoje, um dia no qual reunimos família, amigos, entes queridos, que toda Panem se una. Não para duelar para o divertimento da Capital, mas para entrarmos juntos nessa luta. Que hoje seja o dia em que prometemos: nunca desistir, nunca ceder, até que tenhamos criado uma nova Panem, onde líderes sejam eleitos, não impostos sobre nós, e onde os distritos sejam livres para compartilhar os frutos do seu trabalho, e não para lutar uns contra os outros por migalhas! Essa nova Panem está no horizonte, mas devemos tomá-la para nós. O caminho para ela passa pelas nossas dores e nossas alegrias. Podemos conquistar esse novo país, porque somos um povo, um exército, uma voz. Porque hoje é nosso novo começo…

Deixo de acompanhar as belas palavras da Presidente Paylor.

Afinal, é difícil me concentrar em seu discurso final, enquanto aquele Capitão Letus Razor fita Katniss com um olhar obcecado.

Quando ele se dá conta de que está sendo analisado, dá um sorriso fingido em minha direção e, sem cerimônias, torna a encarar Katniss com aqueles olhos injetados e ainda mais sedentos.

Gale também percebe o estranho comportamento do oficial, pois o encara de modo preocupado.

Mas isso é o máximo de atenção que esse homem vai conseguir de mim, especialmente agora que terminou a cerimônia e estou rodopiando Katniss em meus braços em comemoração.

— Você está livre, meu amor! Livre!

Eu a ponho no chão e, enquanto firmo seu corpo pela cintura, ela abre os braços e joga a cabeça para trás, como se um grande peso abandonasse seu peito.

— Que sensação boa! – exclama ela.

— Vem, vamos celebrar!

Descemos do palco e Katniss vai cumprimentar Gale, enquanto espero o pipoqueiro me entregar o grande saco de pipocas que ela me pediu.

Assim que me aproximo deles, ouvimos a voz de Posy, vinda de uma barraca de tiro ao alvo.

— Gale! Gale, vem aqui me ajudar!

Daisy está ao lado dela e acena para Katniss se aproximar também, para fazerem dupla.

— Ah, não! Assim não vale! – Blaine, que está auxiliando Camellia na disputa, protesta com a escolha dos rivais.

— Você está reclamando? E eu, que vou perder todos os meus brindes? – lamenta o dono da barraca.

— São só algumas rodadas… – Katniss tenta acalmar os ânimos. — Posso usar arco e flecha?

— Pode. – O homem suspira e entrega-lhe o que ela pediu. — Cada participante escolhe a forma de atingir o alvo.

A disputa foi acirrada, primeiramente entre Katniss e Gale, que escolheu uma pistola de brinquedo. Depois, Blaine não ficou para trás, ao pegar o jeito de lançar dardos.

Num dos momentos em que Katniss está atirando uma flecha de modo certeiro, Gale me confidencia que o Capitão Letus Razor foi designado para uma missão no Distrito 13 e partirá amanhã no primeiro aerodeslizador que deixar nossa cidade.

Logo após, Cressida e os irmãos e a mãe de Gale se aproximam e se integram à brincadeira.

Então, depois de muitas rodadas e da distribuição de muitos brindes, Katniss se afasta da barraca.

— Eu estou desconfortável com esse vestido longo e esses sapatos. Vamos à nossa casa comigo pra eu mudar de roupa? – Katniss me puxa pelas mãos e sai correndo pela estrada, rindo deliciosamente, com ar de menina travessa.

Ela para um pouco à frente para tirar os saltos. Eu aproveito e a pego em meu colo para carregá-la pelo restante do trajeto.

Em casa, eu a ajudo a abrir o vestido. Quando a peça já não cobre mais o seu corpo, eu me aproximo e sussurro em seu ouvido:

— Acho que mudei de ideia sobre voltar à festa.

— Ah! Está tão divertida!

— Mas eu estou cansado, quero ficar em casa com a minha esposa linda…

Desço minha boca até o seu pescoço e planto ali uma bela mordida.

— Peeta! – Katniss fica emburrada e se olha no espelho, para conferir a marca que deixei em sua pele morena. — Puxa… Não vou sair de casa com essa vermelhidão na pele.

— Era essa a intenção.

— Agora estou presa aqui. – Ela cruza os braços.

Eu a abraço por trás e apoio sua mão esquerda sobre a minha mão esquerda.

— Esqueci de dizer que você não está totalmente livre. – Aponto as alianças em nossos dedos unidos. — Você está presa a mim… pra sempre. Prisão perpétua.

Katniss gira o rosto para me encarar, sorrindo novamente.

— Estar presa a você é a melhor forma de liberdade.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi de novo!

Alguém arrisca um palpite sobre a cena de um dos filmes?

E a hostilidade nada sutil do Capitão Razor continua, né? Só antecipando os momentos de tensão do próximo capítulo...

O que ele vai aprontar? E por quê? Preparem seus corações, pois não vai ser fácil para nossos heróis!

Beijos!

Isabela