Raios de sol infiltravam-se em meio às grandes janelas do salão comunal naquela linda manhã de janeiro. A luz matinal refletiu nos cabelos ruivos de Rose Weasley, e se não fosse por uma voz feminina particularmente irritante, talvez o sagrado momento do café da manhã estivesse bem mais tranquilo.

— Lily, você está repetindo a mesma coisa a quase duas horas. - A ruiva resmungou, terminando de comer um grande pedaço de omelete recheado com queijo e salsinha.

Hogwarts poderia ter muitas coisas, mas um de seus destaques com certeza era a comida. As mesas fartas estavam sempre regadas de sucos, frutas, pães e outras opções. Ninguém nunca teve ideia direito de como funcionavam as cozinhas, mas o mestre-cuca desse castelo merecia um prêmio por ser capaz de trazer tantas coisas deliciosas para os alunos.

— Você está ignorando Albus a quase duas semanas, prima.- Ela retrucou insistente enquanto pegava um pedaço do omelete da outra. Lily Luna era uma quartanista de cabelos ruivos acastanhados. - Ei, não me olhe com essa cara.

— Eu não estou te olhando assim por causa do seu irmão, e sim pelo último pedaço do meu omelete recheado. - Rose bufou, então tomando um pouco de suco.

— Isso não é problema, ainda tem um mont...- Suspendeu sua frase ao notar que Lorcan sorria ao monopolizar a tigela em seu colo. Lily se virou novamente para a amiga - Não mude de assunto. Nós duas sabemos que ignorar o Al, seja lá qual for o motivo, não vai adiantar nada.

— Eu não estou ignorando ninguém. - A garota revirou os olhos. - Na verdade, a gente só não tem se visto muito. Não estou nem tão decepcionada com o que aconteceu, mas é que monitores geralmente devem ficar monitorando o castelo pra nada do tipo acontecer.

— Hã? Decepcionada com o qu-

— Nada.- A mais velha interrompeu rapidamente, então se levantando da mesa.- Nós temos treino de quadribol agora, mas depois falarei com o seu irmão, pode ser assim?

~"~

Curiosamente, não havia um único time de Hogwarts sem um integrante Weasley. Entretanto, Grifinória superava as outras em disparada, com quatro jogadores da família.

— Como sabem, ano passado foi um campeonato extremamente difícil. Se não fosse pela velocidade que James alcançou com sua incrível Keitch 44, a possibilidade de ganharmos a final teria sido mínima. - O rapaz começou a explicar, jogando as vassouras para seus respectivos donos.

— Eu odeio quando James fala de si mesmo em terceira pessoa. - Hugo murmurou, recebendo algumas risadinhas dos colegas como resposta .

— Dessa vez as outras casas estão ainda melhores, e não podemos perder a chance de ganharmos pelo terceiro ano seguido. Portanto, nós vamos nos focar em agilidade: Quanto mais rápido formos, melhor nossas chances de driblar os adversários e pegar o pomo de ouro. - Concluiu James, retirando uma bola do bolso com o tamanho de uma pequena noz.

— Eu não vou precisar voar igual a um idiota atrás desse pomo, certo? - Um outro garoto interceptou o capitão, ajeitando os próprios cabelos loiros dentro de um capacete. Thomas Bott, aluno do sexto ano, era conhecido como um dos melhores goleiros amadores das últimas décadas.

Infelizmente, ninguém podia dar o mesmo título quando se tratava de seu carisma.

— Digo, eu já fui convidado para ir nos treinos do Ballycastle Bats e tudo mais, acho que não preciso ser mais rápido do que já sou. Um dos melhores goleiros dos últimos tempos, lembram? - Ele continuou enquanto estralava os dedos de sua mão compulsivamente.

— Tanto faz. Você e Rose ficam treinando nos aros, pode ser? - James revirou os olhos, dando uma goles na mão da menina. Ao entrelaçar seus dedos na extensão da bola, ela subiu com sua vassoura em direção às cestas.

— Eu também sou artilheiro. - Resmungou Hugo, não gostando de ter que perseguir uma "maldita bolinha brilhante".

O capitão se virou para ele, reprovando o comportamento do menino:

— Quem quebrou o braço na última temporada e perdeu os primeiros treinos desse ano foi ela. Rose treina arremesso, você treina agilidade com o resto do time.

Em poucos minutos, os jogadores já estavam voando com suas respectivas vassouras. Eles competiam entre si quem apanharia o pomo primeiro. James se encontrava ao lado dos mesmos, gritando manobras e movimentos que poderiam ser melhorados, mas isso não impedia ninguém de se divertir.

Os poucos espectadores nas arquibancadas acompanhavam o time com curiosidade, e para todos a manhã ensolarada parecia passar mais rápido que o comum.

Menos para Rose, claro.

— Tem certeza que ainda sabe jogar, cabeça de fósforo?- Alfinetou Thomas, após defender-se da goles que a garota arremessava.

— Entrei nesse time antes de você, sei muito bem o que estou fazendo. - A ruiva ralhou, visivelmente sem paciência. Mirando no arco da direita, jogou para o lado oposto na tentativa de enganar o goleiro. Não que isso tenha funcionado.

Se preparando, tentou pela terceira vez. O objetivo de Rose nessa tentativa era fazer um salto capaz de arremessar a bola para o alto, pular da vassoura e dar uma pancada de mão fechada na direção do aro esquerdo. Apesar de ser uma manobra complicada, Rose nos últimos anos era conhecida por seus movimentos graciosos. Infelizmente, foi mais uma jogada falha.

Então, a garota lançou a quarta goles com um pouco menos de esperança.

E a décima.

E a trigésima primeira.

— Se eu tivesse seu sobrenome, estaria por aqui muito antes. Você é uma péssima artilheira, gatinha. - O menino piscou, rebatendo mais uma goles. Ela havia acertado somente uma ou duas durante todo o horário, e nesse momento até mesmo os outros já haviam terminado o treino.

Rose sentia sua face se ruborizar ainda mais, tanto por irritação quanto por seu extremo cansaço. Ela estava ciente de que precisaria se esforçar bastante se quisesse fazer parte do time no próximo ano. Mesmo sem muita vontade, arremessou uma última vez em direção aos arcos.

Antes que a menina se retirasse da vassoura, de algum modo aparentemente inexplicável a bola de repente driblou o rapaz, rodando e passando pelo aro do meio, por fim acertando o garoto bem naquele lugar.

Thomas caiu imediatamente no gramado, com um rosto de dor. Enquanto era socorrido pelos outros colegas, Rose se encontrava absorta: Ela com certeza não havia enfeitiçado o objeto para fazer aquilo, mas então quem teria o feito?

— Não dava nem pra perceber que foi um feitiço, Scorp.

Desde quando esses sonserinos estavam bisbilhotando o treinamento? ela se virou para as arquibancadas ao ouvir aquela voz conhecida, arqueando a sobrancelha.

— Claro, bolas rodopiando por vontade própria são completamente normais - Ironizou o rapaz pálido de cabelos loiros.

Os dois amigos desciam tranquilamente as escadas da arquibancada, sorridentes. Porém, antes que saíssem do campo de quadribol, Rose correu em direção aos garotos.

— Vocês não deviam estar na aula? - A ruiva repreendeu, cruzando os braços.

— E perder a chance de azarar aquele cara? - Albus levou uma cotovelada indiscreta de seu amigo ao lado. Logo em seguida tossiu, reformulando sua resposta. - Nós só estávamos de passagem, Ro.

— Eu poderia muito bem reportar essa passagem para a diretora, sabiam? Existem regras contra bisbilhoteiros de time alheio. - Ela grunhiu.

— Você não faria isso com a gente, ruiva...Thomas Bott estava merecendo uma lição e a gente apenas não resistiu. - Scorpius se arriscou bem-humorado, então piscando.

— Como eu não aguentava mais aquele cara, vou deixar essa passar. - Advertiu a menina, soltando um sorriso.

— Quem aí está preparado para ter aula com o fantasminha camarada pelas próximas duas horas?? - O garoto moreno gritou, risonho.

~~

A aula de História da Magia sempre foi uma das preferidas do trio. A classe reunia os alunos sonserinos e grifinórios, o que era particularmente raro de se acontecer. Sendo somente a cinco minutos do campo de quadribol, a sala tinha suas paredes revestidas por dezenas de quadros e alguns relógios.Os resquícios de poeira nesses objetos evidenciavam que ninguém limpava ali a tempos.

Sentando-se numa mesa, Rose aguardava que o professor começasse a matéria.

— Bom dia, turma. - Iniciou sr. Binns, adentrando na sala de aula por dentro de seu quadro negro. Se ele não fosse um óbvio fantasma, talvez seu modo de entrada surtisse mais efeito nos alunos. - Hoje iniciaremos uma revisão sobre as Revoltas dos Goblins, que ocorreram entr-

— Entre o século 17 e 18. As últimas duas semanas já foram de revisão sobre essa mesma matéria, professor Binns. - Scorpius se apressou a falar, com sua mão direita levantada.

— Eu estou ciente disso, sr. Malfoy. Porém, as N.O.M.S são vocês quem vão fazer, então não ouse reclamar do meu método. - Ele pigarreou, virando-se para escrever no quadro. - Menos trinta pontos para Sonserina pela interrupção.

O pedagogo então se focou em seu monólogo enquanto escrevia minuciosamente cada palavra dita. Se não fosse por isso, talvez tirasse mais alguns pontos por conta dos alunos do fundo que jogavam aviõezinhos de papéis.

Será que Binns havia levado um fora de Murta-Que-Geme de novo?

— Ei, Weasley.- Uma menina desconhecida sussurrou, jogando-lhe um bilhetinho vermelho e apontando para Albus. - Passa isso pra ele, por favor?

Interessada na aula, Rose fez o que a garota havia lhe pedido, correndo então a anotar as coisas da lousa. O professor se articulava teatralmente durante seu monólogo, demonstrando indignação pela tal "legislação das varinhas" que não permitia seres não-humanos utilizarem varinhas para fazer mágica, na qual ele e os goblins dessa tal revolução estavam incluídos.

As pessoas pintadas nos quadros das paredes pareciam entediadas com tanta falação, assim como quase todos os alunos da sala.

Apesar de boa parte da classe estar cochilando, o fantasma não se sentia incomodado em explicar a mesma matéria para eles pela terceira vez.

— Scorp, você vai?- Ela repentinamente ouviu o primo cochichar na mesa da frente.

— Acho que não, cara... - O garoto loiro respondeu sem prestar muita atenção, voltando a copiar a matéria.

— Quer ir comigo amanhã em Hogsmeade, Ro? -Albus cochichou novamente, com a cabeça inclinada para trás. As mãos do menino batucavam a própria cadeira enquanto ela não o respondia.

O rapaz claramente não estava dando a mínima para a aula, ao contrário do amigo loiro ao lado.

— Eu posso saber o motivo?- Rose franziu o cenho, curiosa.

— O baile do dia dos namorados é daqui um mês, e tenho que comprar algumas coisas. - Albus disse, indicando discretamente a sonserina que havia o passado aquele bilhete. Pelo visto, alguém tinha acabado de arranjar um par.

— Ah sim, por mim tudo bem. Que hor-

— Srta. Weasley, por acaso tem algo interessante para compartilhar com a turma? - O professor girou a própria cabeça para fitar a aluna, enquanto falava em um tom de voz alto.

Rose negou em silêncio, voltando a escrever em seu pergaminho ao mesmo tempo que seu rosto ficar vermelho. Poucos minutos após o ocorrido, o rapaz inquieto de cabelos castanhos, cochichando mais uma última vez:

— Mas então, Scorp. Você vai?