Make Your Choice escrita por Elvish Song, SraFantasma


Capítulo 20
Na véspera do Natal


Notas iniciais do capítulo



Oi gente! Dessa vez quem vai postar o capítulo it's me SraFantasma.

Ahm... Eu queria dar um aviso e falar umas coisinhas POR FAVOR LEEM ESSA BAGAÇA SE NÃO EU VOU FICAR NA BAD! Enfim, eu vou deixar essa Fanfic... Eu sempre vou dar uma ajuda ou outra para a Caroline mas... Eu não vou participar mais da fic, então... Esse digamos que é o meu Adeus para Make Your choice, eu to tentando dizer da maneira mais humorada possível se não vai ficar um negocio triste e... ne... ;-;

Agora e... (Como vocês sempre fizeram) os créditos de qualquer capítulo daqui para frente podem ser dados a ElvishSong... Os meus motivos para sair da fic são simples: Escola e também 30321481290471041 de projetos de fanfics mais a Minha fã predileta que eu to escrevendo... E mais um outro projeto ai complicado para cacete.(Fazendo propaganda Show) Então é isso... Me desculpem por isso, apesar de ser grosseria da minha parte deixar a fic do jeito que ela ta indo... Desculpa.

E isso... Beijos e obrigada por todos os comentários e pelo carinho de vocês.



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Na véspera do Natal, Christine abriu um enorme sorriso ao olhar pela janela do quarto e ver que a neve finalmente se acumulara nas ruas, telhados e quintais! Amava o inverno, amava o manto branco de gelo que cobria tudo, tornando a paisagem ainda mais bonita! Por alguns instantes devaneou, lembrando-se dos natais de sua infância, e então foi tomada de outra percepção, muito mais alegre: seria o primeiro Natal que passaria com Erik, e isso a fazia feliz de um modo que mal conseguia expressar!

Alegre como um passarinho, foi até seu armário e procurou por um vestido adequado para o dia; por alguns segundos fitou as roupas, sem saber o que fazer... Incrível como escolhas ainda a atormentavam num primeiro momento... Mas passados os primeiros instantes retomou a própria autonomia e tratou de escolher um traje bonito, mas simples, de decote quadrado e tecido amarelo-escuro. Vestiu-se, e arrumou os cabelos, imaginando se seria muito difícil convencer seu noivo a celebrar a data de algum modo...

Ia abrir a porta para descer ao encontro de Erik – incrível como, por mais cedo que ela se levantasse, ele sempre já havia acordado, se não se levantado! – quando esta se abriu à sua frente para dar passagem ao Fantasma. Parecia feliz e satisfeito, e seu rosto se abriu num largo sorriso ao ver sua noiva já desperta e vestida:

— Bom dia, minha querida! Já pronta, tão cedo?

— Bem... – ela procurou o melhor modo de começar – você sabe que dia é hoje?

— O primeiro dia de neve, talvez? – e ante o brilho levemente desapontado nos olhos dela – é só brincadeira. Sei bem que dia é hoje. – ele executou uma elegante reverência e tomou a mão da garota – e já que está pronta... Vem comigo, senhorita?

— Com prazer, monsieur – iam se dirigindo para a escada quando ele parou, pensativo, e pediu:

— Espere aqui – entrou no quarto e voltou de lá com uma echarpe de Christine em suas mãos, aproximando-se da moça – feche os olhos, mademoiselle, por favor.

— O que está aprontando, Erik?! – perguntou, enquanto ele a vendava; um sorrisinho nervoso se desenhava em seu rosto, mas confiava em seu noivo o bastante para ignorar o aperto no peito que a vulnerabilidade lhe causava.

— Confie em mim – sussurrou ele, conduzindo-a pelo corredor até a escada; ali, ergueu-a nos braços e brincou – melhor carrega-la, ou chegará lá embaixo mais rápido do que desejaríamos.

Ela riu, nem tanto da piada ruim, mas do gesto carinhoso dele: como poderia imaginar que a vida com o homem do qual tivera tanto medo poderia ser daquele modo maravilhosa? Como ele podia ser ao mesmo tempo um assassino frio e um homem tão cheio de cuidados e gestos de amor? Ele desceu as escadas com sua noiva nos braços e a colocou gentilmente em pé, sussurrando:

— veja, meu amor. – ela sentiu os dedos habilidosos removerem a venda, e ao abrir os olhos viu que na sala, junto ao piano, havia agora um lindo pinheiro verde! No chão, duas ou três caixas com enfeites de Natal... Espere um pouco...

— Erik! – exclamou, surpresa e extremamente feliz – eu pensei que... Pensei...

— Não, eu nunca comemorei o Natal. – respondeu ele, segurando a mão dela com um sorriso, e beijando a moça – mas este ano tenho um excelente motivo, não acha? Afinal... Somos uma família, agora. – a jovem sentiu seus olhos arderem, emocionada, e abraçou seu amado com força, concordando:

— Sim, meu Anjo! Somos! – eles se beijaram intensamente, e quando se afastaram Christine perguntou – Mas... onde conseguiu essas coisas?

— Bem, Madame Giry sempre comemorou o Natal, e soube muito bem me indicar os lugares certos. – ele sorriu ao ver sua amada se sentar ao lado das caixas e começar a retirar os enfeites, pois a imagem evocou lembranças de muitos anos atrás, quando a mulher diante de si era só uma menininha que, na companhia de Meg, praticamente mergulhava nas caixas de enfeites natalinos para enfeitar as alas de convivência do teatro; a mesma posição de pernas cruzadas, o mesmo sorriso entusiasmado, o mesmo brilho nos olhos... E havia certo encanto em ver que algumas coisas não haviam mudado, nem haveriam de fazê-lo. A maior diferença de todas? Agora o Fantasma não era uma sombra a observar, mas sim o futuro marido da moça, e tomou com satisfação a liberdade de se sentar ao lado dela, abraçando-a pelas costas e começando a retirar também os objetos.

Meias coloridas na lareira, esferas de vidro coloridas na árvore, além das minúsculas velas cuidadosamente presas por Christine ao galhos do pinheiro, guirlandas nas portas e batentes das janelas... Para Erik seria tudo muito tolo e frívolo, se não significasse aqueles sorrisos tão espontâneos de sua amada enquanto arrumavam a decoração. Divertiu-se ao coloca-la nos ombros para que ela pudesse alcançar os batentes mais altos, ocasionalmente fingindo que ia perder o equilíbrio apenas para rir da força com que ela se agarrava às mãos dele, em sua cintura. Viu-se fascinado pelo olhar que outra vez brilhava com pura alegria, cheio de memórias felizes de anos passados na companhia de pessoas amadas... E agora isso se repetiria: mais uma comemoração, agora com ele, a nova família da jovem.

— Bom, acho que terminamos – declarou enfim, colocando Christine no chão – ainda é cedo... Mas poderíamos cuidar da ceia.

— Poderíamos? – perguntou Christine, surpresa – Se você disser que entende alguma coisa de cozinha, vou pedir truco!

— Uma dama usando palavras e carteado? – riu-se o Fantasma – onde aprendeu isso?

— Logo se vê que nunca espiou o dormitório – riu Christine – ou teria visto os jogos que viravam noite. – e ante o arquear de sobrancelhas dele – esperava o que de um bando de garotas adolescentes, sozinhas num alojamento? Que fôssemos comportadas? – e desconversando – mas ainda não me disse se sabe ou não cozinhar.

— Não vou exagerar dizendo que sei, mas... Sou competente seguindo instruções, e Louise já me confessou que você é melhor do que ela, nas artes culinárias.

— Mas é uma linguaruda! – a adolescente puxou seu Anjo pela mão em direção à cozinha – e já que fui delatada, vamos logo! Afinal, a ceia não vai se preparar sozinha, não é?

No dia anterior, Christine fora com Louise ao mercado próximo, e haviam juntas selecionado os ingredientes para a ceia que a jovem já pretendia fazer. Ceia e almoço do dia seguinte, pois convidara as Girys, Renée e Louise a virem almoçar em sua casa no dia seguinte; então, havia muito a fazer.

De fato, mesmo sabendo tanto sobre cozinha quanto um ganso, Erik era muito bom seguindo as instruções de Christine, e o trabalho seguia depressa; a garota havia acabado de colocar o pato no forno, e levantou-se para recolher o que estivesse sobre a bancada quando, de repente, sentiu os braços de Erik ao redor de sua cintura, o corpo dele empurrando o seu contra a bancada. E embora a primeira reação da soprano tenha sido se retesar, ela logo relaxou e riu ao sentir os beijos de seu Anjo em seu rosto, pescoço e ombros.

— Anjo – sussurrou, acariciando o lado exposto do rosto dele – assim vai nos atrasar!

— Você mesma disse que estávamos adiantados – sussurrou ele, segurando-a firmemente pela cintura, seu corpo pressionado contra o dela, que suspirou e pressionou as costas contra o peito dele, apenas para sentir o calor e força daquele corpo que começava a conhecer muito bem. Mas não esperava de modo algum que ele subitamente a virasse de frente para si, colocando-a sobre a mesa e beijando-a com paixão.

Ficaram trocando beijos e carícias por algum tempo, e aos poucos ela sentiu as mãos ousadas de Erik se insinuarem lentamente por sob sua saia. Mas que atrevido! Ela sorriu e não se opôs, tornando a beijá-lo, sabendo que ele não iria muito mais longe. Com efeito, ele resmungou:

— Para que tanto pano, Christine?

— Chama-se roupas de baixo, Erik, e servem para muitas coisas: dar forma ao vestido, preservar o recato de uma moça bem-criada, aquecer durante o inverno e, no nosso caso, garantir que o noivo não atrase a ceia ainda mais. – ela gargalhou ante a frustração dele e, com um beijinho rápido no canto dos lábios, consolou-o – mais tarde, meu Fantasma. Não dizem que a espera valoriza o prêmio?

— Você fez isso de caso pensado – acusou ele, ao que a garota respondeu com um beijo em seu rosto antes de pular para o chão:

— É claro que fiz! Conheço você! – ela começou a recolher as coisas que haviam deixado sobre a mesa – agora continue sendo bonzinho e ajude-me a terminar a sobremesa, sim?

Revirando os olhos, ele fez como a menina dizia; talvez deixa-la passar tanto tempo com Madame Giry e Renée no conservatório não fosse uma boa ideia... Christine logo, logo estaria tão autoritária quanto as outras duas! O pensamento, sem que percebesse, o fez rir.

*

A garota se olhou no espelho, satisfeita com o modo como o vestido se assentara em seu corpo – há um ano atrás não possuía as mesmas curvas que agora – e começou a arrumar os cabelos, esmerando-se para ficar o mais bonita possível para seu Anjo. Nesse momento percebeu como Erik era a primeira e única pessoa para a qual realmente quisera se apresentar bonita, em toda a vida – os tempos em que se mantinha arrumada para não despertar a raiva de Raoul certamente não contavam. Afinal, vaidade nunca fora uma característica sua, correndo pelo teatro em meia-calça, saia e collant, cabelos presos com uma fita ou soltos em cachos que não se preocupava em amansar...

Quando se arrumava era por convenção social, ou sob as ameaças de Madame Giry sobre escovar seu cabelo até que ele se soltasse da cabeça! O pensamento a fez gargalhar.

Hoje, porém, era totalmente diferente: sua beleza não era para si, mas para ele. Queria agradá-lo, queria ver os olhos azuis brilharem com admiração e felicidade... Sim, era uma tola apaixonada, e isso era maravilhoso! Sentia por Erik o que jamais sentira por ninguém, e queria desfrutar de cada segundo da sensação!

Finalmente pronta, Christine saiu do quarto e atravessou o corredor em direção às escadas; no caminho, parou na porta do segundo quarto, lembrando-se do sonho que tivera naquela noite – um sonho com Erik e um lindo bebê, fruto do amor de ambos – imaginando quando se tornaria realidade. Após momentos de devaneio retomou seu caminho, indo ao encontro de seu amor; Erik se arrumara primeiro, enquanto ela arrumava alguns “últimos detalhes” que não contara a ele. E foi indescritível a sensação de ver as safiras dos olhos dele brilhando de alegria ao vê-la!

— Você está indizivelmente linda! – elogiou o músico, segurando a mão de sua noiva quando ela desceu os últimos degraus: a soprano usava um vestido bege claro, perolado, com bordados dourados e mangas longas, fechadas por pequenos botões dourados nos punhos; uma armação sustentava a sobressaia drapeada, e os cabelos cacheados estavam soltos, adornados por uma tiara com pequenas pérolas.

E ao vê-la daquele modo, o Fantasma se sentiu como um adolescente apaixonado, o coração acelerado, borboletas batendo asas dentro de seu estômago, uma sensação de ansiedade e alegria... Como era possível se sentir apaixonado toda vez que olhava para ela?! – Anjo é uma alcunha que ainda não lhe faz jus.

— Você é um galanteador incorrigível, mas se o que diz é verdade, então formamos um belo par – ela o puxou para um beijo carinhoso – está lindo, meu Anjo! – e não era mentira: ele usava camisa branca, colete vinho-escuro, casaco e calça negros... Seus trajes eram muito similares ao que usara ao levá-la pela primeira vez à Casa do Lago, o que trazia memórias maravilhosas a ambos! E a moça jamais cansaria de admirar seu enigmático e fascinante futuro esposo!

Como o mais perfeito cavalheiro ele lhe fez uma reverência e tomou a mão da soprano na sua, conduzindo-a para a sala de estar: o piano começou a tocar sozinho, e o Anjo a enlaçou delicadamente pela cintura, o olhar cheio daquela sedução que ela tão bem conhecia e amava ao perguntar:

— Concede-me a honra, mademoiselle? – um arrepio de deleite subiu pelas costas da jovem ante o tom grave e hipnótico que ele utilizou na pergunta, e ela pousou uma das mãos no ombro dele, a outra delicadamente acomodada na palma direita do Fantasma, que fechou os dedos sobre os dela.

— É claro, meu Anjo. – suspirou em resposta, imaginando onde Erik teria aprendido a dançar... Provavelmente do modo como aprendera tudo o mais: observando. E parecia saber muito bem o que fazia quando começou a conduzi-la pelo espaço amplo da sala, os pés de ambos movendo-se no ritmo da música, seus corpos indecentemente próximos compartilhando ritmo, harmonia e calor... Ela se sentia desmanchar nos braços daquele homem magnífico, cuja alma era tão permeada de música ou ainda mais que a dela! E partilhar música, para eles, era algo tão íntimo e pessoal quanto fazer amor... Pois o conceito de individualidade se apagava, e eles se tornavam uma coisa só, entre si e com a música, uma magia além de qualquer capacidade de descrição!

Quando os sons finalmente desvaneceram no ar, o músico beijou a mão de sua amada e lhe sorriu; retribuindo ao sorriso, ela perguntou:

— Onde aprendeu a dançar?

— Sozinho, eu creio. Não há segredo, quando você se torna um com a música e ela guia seus passos. Fica ainda mais fácil quando a mulher em seus braços é uma habilidosa bailarina.

— Interessante... – ela envolveu o pescoço dele com os braços e perguntou – que outras coisas terá aprendido sozinho? – havia um toque sutil de malícia em sua voz, ao qual ele reagiu cingindo-a firmemente pela cintura e sussurrando a o seu ouvido:

— Se eu lhe mostrasse agora, meu amor, a ceia de Natal seria completamente esquecida. - ela riu, corada com as palavras dele, e o puxou para outra dança, mesmo sem música. – Gosta tanto assim dessa data, Christine?

— É um de meus dias favoritos no ano! – ela se deixou cair num dos sofás, os olhos brilhando repletos de lembranças felizes de dezesseis Natais anteriores – desde pequena... Uma das poucas lembranças que tenho com mamãe. E mesmo depois que ela se foi, papai fazia o impossível para que sempre fosse um dia perfeito. Depois veio o teatro, com Madame Giry e as outras meninas dos dormitórios... E você. – ela o puxou para perto e deitou-se atrevidamente no colo de seu noivo, que a aninhou nos braços sem grandes dificuldades – o Anjo.

Ele acariciou o rosto de Christine, lembrando-se do modo como, após toma-la sob sua guarda, sempre fizera o possível para agradá-la; isso incluía deixar sobre sua cama, todos os anos, um presente misterioso no Natal e no aniversário da pequena. Gostava de vê-la correr para Madame Giry, mostrar o que havia ganhado de “Pére Noel” – como o chamara no primeiro inverno em que ganhara um presente.

— Lembra-se de que você achou que eu fosse “Pére Noel”, na primeira vez que deixei um presente sobre sua cama? – a moça riu e deitou a cabeça em seu peito:

— Como esquecer? Acreditei em Pére Noel até os treze anos, graças a você! Não importava o que as outras diziam, ou se riam de mim...

— Você sempre acreditou em magia, encanto... Sinto-me um pouco envergonhado em pensar que me aproveitei de sua pureza para me passar pelo Anjo da Música.

— Ah, Erik, mas você não se passou pelo Anjo da Música! – protestou ela, fazendo-o arquear as sobrancelhas, surpreso: como não?! Em resposta, ela o puxou para um beijo – você é o Anjo da Música!

— Sou um homem, meu amor. Não um anjo.

— É um anjo, sim – corrigiu a garota, teimosa como só ela; e só Deus sabia como Erik ficava feliz ao vê-la contestá-lo outra vez! – é o meu anjo! E sempre vai ser!

— Como você é e sempre será o meu. – ele a beijou longamente – bem, eu poderia passar a noite inteira aqui, apenas beijando-a, mas a ceia esfriaria consideravelmente – colocou-a no sofá e se levantou – com fome?

Foram para a sala de jantar e se sentaram à mesa, sempre conversando animadamente; após terem se servido, Erik perguntou:

— Insiste em ser abstêmia, ou hoje aceitaria provar um pouco de vinho, senhorita?

— Mas que senhor sem escrúpulos! – ela fingiu se horrorizar – tentando me embebedar com segundas intenções?!

— Terceiras ou quartas, na verdade – respondeu ele, servindo-a de vinho, e então a si mesmo – mas não me parece muito preocupada.

Entre risos, eles brindaram ao primeiro de muitos natais juntos, e mesmo ante o revirar de olhos de Erik, Christine insistiu em uma breve oração de agradecimento; e mesmo que não fosse admitir para ela, também ele se sentia grato: grato por estar com a mulher a quem amava, por estar prestes a se casar com ela e, acima de tudo, por vê-la voltar a ser como era antes dos eventos de sete meses atrás, ainda que só agisse daquele modo quando estavam sozinhos. Sim, pela primeira vez ele tinha motivos para se sentir grato.
Seu semblante devia ter ficado sério, pois a jovem indagou:

— Algum problema, querido?

— Apenas pensando em como seu sorriso é lindo de se ver. – ele acariciava ternamente a mão dela – e como senti falta de vê-lo.
Ela sabia que ele se referia aos terríveis seis primeiros meses, nos quais ela fora praticamente incapaz de sorrir; mas agora, quando estava com seu Anjo, já conseguia se libertar dos demônios que tanto a haviam atormentado. Foi sua vez de olhar longamente para seu amado, guardando cada detalhe daquele momento perfeito como um tesouro precioso!

Terminaram o jantar tranquilamente, a conversa fluindo de modo absolutamente natural; após a sobremesa, o Fantasma convidou sua amada a um passeio pelo jardim, do que muito veio a se arrepender quando uma bola de neve acertou em cheio sua orelha.

Virou-se para Christine a encontrou com o ar mais inocente de sua vida, mas o leve sorrisinho a traía completamente. Um sorriso muito maior e mais vingativo espalhou-se no rosto do Fantasma, que falou em tom baixo e perigoso:

— Acha isso divertido, mademoiselle? – ele a viu arregalar os olhos, surpresa com sua reação, então continuou a farsa – acha que pode me provocar sem consequências?

— Erik? – ela deu um passo para trás, levemente branca.

— Que tal Lúcifer? – perguntou ele, na melhor encenação que já fizera; sentiu-se um pouco culpado ao vê-la recuar vários passos, então achou melhor terminar aquilo de uma vez: com três passadas largas alcançou o braço fino da garota e a puxou para si, gargalhando – o que vem, volta! – e derrubou ambos na neve, enchendo a gola de sua noive com neve, fazendo-a xingar e rir ao mesmo tempo.

— Seu idiota! Achei que ia me bater ou algo do tipo, pelo modo como falou! – ela se levantou, batendo para longe a nove que não entrara em suas roupas. Erik também se ergueu e a fez olhar para si:

— Eu já lhe disse isso, Christine, e não quero repetir: não ergo a mão contra mulheres, e certamente jamais contra você. Nunca mais quero ver medo em seu rosto, especialmente medo de mim. Entendeu?

Ela parecia sem-graça pelo próprio comportamento, como uma criança repreendida por uma travessura, e o Anjo tratou de afastar aquele sentimento com um beijo profundo que acelerou a respiração de ambos. Ah, droga, por que ela tinha de ser tão... Tão linda, e tão desejável?

Ele a queria a cada momento, a cada batida de seu coração! Bom, tal comportamento podia ser até aceitável, uma vez que eram, numa análise mais direta, um casal em lua-de-mel. Mas ele duvidava que aquela paixão fosse diminuir algum dia... Era improvável, para não dizer impossível.

Voltaram juntos para dentro de casa, onde se divertiram conversando, tocando piano e cantando, até que o relógio marcava cinco para a meia-noite: nesse momento, a moça puxou seu Fantasma consigo até a poltrona e retornou ao piano, praticamente se enfiando sob o instrumento; Erik já ia lhe perguntar o que fazia, quando ela puxou de lá um grande embrulho, com um sorriso radiante no rosto:

— Não achou que eu ia me esquecer, não é, “Pére Noel”? – perguntou ela, carinhosa. Ele precisou fazer um enorme esforço para conter as lágrimas que lhe turvaram a visão, e então sentou-se no chão, ao lado de seu Anjo. Não, ela não se esquecera... Ele se lembrou como, todo ano desde que começara a ensinar Christine, ela descera até a capela e deixara para ele um presente, por menor que fosse, no “aniversário” do dia em que se haviam conhecido, ou seja, a véspera de natal; coisas que imaginava agradarem a um anjo, como uma harpa em miniatura que produzia notas de verdade, desenhos pacientemente coloridos por ela, uma bíblia... E ele guardava cada um como um pequeno tesouro, não por seu valor útil, mas pelo amor e inocência que simbolizavam. Sua amada sempre fora gentil com todos, e a única, fora Madame Giry, a ser gentil e atenciosa com ele. A nunca esquecê-lo... Até o maldito Raoul! Mas agora o Visconde fora apagado de suas vidas, e voltavam a ser um com o outro como eram antes, e ainda mais!

— Você se lembrou...

— E algum ano eu me esqueci? – perguntou ela. De repente, porém, o sorriso morreu ao pensar no natal do ano anterior, passado com Raoul e a família... Era a única lembrança que tinha de uma festa triste, em vez de alegre... O único bom momento fora quando enfim adormecera em seu quarto e sonhara com seu amado Anjo, do qual se afastara por pura estupidez!

— Não. – disse ele, sabendo quais eram os pensamentos de Christine – nem pense nisso. Estamos aqui, estamos felizes. Nada mais importa.

A soprano meneou a cabeça, espantando as recordações e tornando a sorrir:

— Não mesmo, até porque... Tenho uma coisa da qual você vai gostar um pouco! Até porque, agora sei que você não passa seu tempo sentado numa nuvem com uma harpa.

Ele riu baixinho, pensando em como estava bem longe da descrição feita pela jovem; aliás, sua segunda personalidade adotava o nome de um Anjo Caído! Realmente não poderia ser mais diferente das imagens que retratavam os anjos. Seu riso foi interrompido, porém, quando Christine lhe entregou uma caixa envolta em papel brilhante... Ele teve de respirar fundo para não mostrar como ela conseguira emociona-lo, e beijar a fronte de sua amada foi o melhor jeito de não derramar lágrimas; também tinha surpresas para ela, mas não diria agora.

— Obrigado, meu amor.

— Veja o que é, primeiro!

Ele abriu a caixa, e não acreditou no que viu: a caixa de música persa, com o macaquinho que tocava pratos! Pensara que havia sido destruída! Perplexo, olhou para Christine, que tinha uma expressão cheia de amor:

— Madame Giry me contou o que significava para você. Projetou e criou a caixa ao longo de vários anos... Achei que ia querê-lo de volta.

— Mas onde...

— Desci até a Casa do Lago. – confessou a garota – Meg foi comigo e... Nós o encontramos.

— Você desceu até a Casa do Lago?! – ele estava incrédulo: sabia que o lugar guardava lembranças horríveis para a jovem, e não acreditava que ela fizera o sacrifício de retornar ali! – Por quê?!

— Eu queria te entender melhor. Queria conhecer sua história e, acima de tudo, queria recuperar o que pudesse de sua vida. – ela baixou os olhos para que eles não revelassem o quão difícil fora voltar sozinha àquela caverna... Em dado momento ela começara a tremer tanto que sequer conseguia ficar em pé... A lembranças retornavam de um modo que ela revivia a situação daquela noite distante, desesperada por saber o que aconteceria depois, tentando mudar o resultado mas vendo tudo se repetir... Mergulhara num abismo de recordações, para desespero da pobre Meg, mas conseguira se controlar afinal e, após longas horas naquele lugar, deixar o lugar com uma compreensão ampliada acerca da complexa natureza de seu noivo. – você é ainda mais incrível do que eu podia sequer imaginar!

Foi a primeira vez na vida que a garota viu Erik corar; toda a parte exposta de seu rosto parecia mais uma framboesa, de tão vermelho que ficou com o elogio, e foi impossível não rir:

— Nunca tinha visto você corar com algo! – ele a encarou com algum constrangimento, e então ela completou – fica tão bonitinho!

— Ótimo... Agora me sinto uma criança de oito anos!

— Foi um elogio, seu grande ranzinza. – ela engatinhou até ele e o beijou – sabe que eu te amo. – ela levou a mão ao rosto dele, acariciando-o com ternura, e então pediu – posso tirar sua máscara?

Como um gato assustado, ele se afastou bruscamente e exclamou:

— Não! – ao olhar para ela, percebeu que reagira exageradamente e, mais controlado, explicou – Christine, estamos felizes... Não quero que isso – tocou a própria máscara – estrague esse momento... Essa noite.

— Não vai estragar. Eu amo você, Erik! Sei como é seu rosto, e não tenho medo! – ela segurou o rosto dele entre as mãos – e também não estou fazendo isso por pena, como você acha. Eu amo o homem com quem vou me casar, e assim como não tenho mais medo dele, como aprendi a confiar nele... Queria que esse homem também aprendesse a confiar em mim. – ela beijou a fronte de Erik – sei que não lhe dei muitos motivos para confiar, mas... Por favor, vamos recomeçar. Deixe-me consertar as coisas entre nós. – e ante a hesitação dele – por favor.

O Fantasma engoliu em seco, e Christine percebeu como as mãos dele tremiam ao leva-la à máscara branca... Naquele momento, sentiu uma facada em seu peito ao compreender mais uma das formas pelas quais o ferira, atingindo seu Anjo em pontos tão sensíveis de suas memórias. Afinal, quanto ele não sofrera por causa do próprio rosto? E ela cedera aos pedidos de Raoul, traindo e humilhando o Fantasma. Podia ser hipócrita e culpar o Visconde por isso, mas fora ela quem escolhera fazer o que ele dizia, no final. Só esperava que algum dia pudesse curar as feridas que ela mesma abrira no coração de Erik.

A máscara expôs o rosto marcado do Anjo, cuja expressão de vergonha e medo era mais do que clara para a menina; mas desta vez ela não o iria trair, não o iria desapontar. Com todo o carinho do mundo, deslizou o polegar pela pele avermelhada da deformidade e, sem repulsa nem hesitação, depositou suaves beijos em toda a área afetada. E foi impossível para Erik conter as lágrimas, dessa vez! Ele amava Christine de todo o seu coração e, embora soubesse que ela também o amava, em algum grau, nunca poderia esperar aquela aceitação da parte dela! Não, ela não estava fazendo isso para salvar a vida de alguém, nem mesmo porque ele pedira que fizesse... Fazia por livre vontade, e isso... Ele não conseguia entender o que sentia, mas era uma emoção terrível e maravilhosa ao mesmo tempo. Pela primeira vez alguém o aceitava por inteiro, exatamente como era... Pela primeira vez alguém o amava! Mais do que isso! Pela primeira vez ele sentia que seu Anjo REALMENTE o amava!

Sem conseguir se controlar, ele a envolveu pela cintura com os braços e a puxou para um beijo intenso, seu coração acelerando intensamente! Queria abraçá-la e mantê-la em seus braços para sempre! Desejava deitá-la agora no sofá atrás de ambos e amá-la... Mas nem isso seria o suficiente, porque o que mais desejava realmente era compartilhar sua própria alma com a de sua noiva! Sentiu ela se afastar suavemente e fitou os olhos castanhos dela, que estavam cheios de amor e carinho.

— Por favor, que não seja um sonho – sussurrou ele, acariciando os cabelos da moça – que não seja apenas outro sonho...

— Não é. – afirmou ela, abraçando-o e deitando a cabeça no ombro de seu noivo – estou aqui, meu Anjo, e sempre vou estar!

Erik beijou o topo da cabeça dela, ainda dominado pela emoção; não havia melhor hora do que agora para dar a Christine um de seus presentes. Tomou a mão pequena entre as suas e lhe falou:

— Eu também tenho algo a lhe dar, meu amor. – ele se levantou e a conduziu até o piano, sentando-a ao seu lado no banco e colocando sobre o instrumento a linda caixa de música – ah, Christine, eu sou péssimo com palavras! Sei escrever as melhores árias de óperas, bons teatros e poesias... Mas falar... As palavras morrem em minha mente e não me lembro o que pretendia dizer... Então, eu realmente espero que isso possa lhe dizer tudo aquilo que eu não consigo - Levou as mãos levemente trêmulas ao piano e, quando seus dedos encontraram as teclas de marfim, todo o tremor cessou imediatamente!

A música iniciou com um allegro suave, lembrando um pouco As Quatro Estações, de Vivaldi. Ouvindo-a, Christine podia, ao fechar os olhos, enxergar em sua mente o vai-e-vem da corrida rotina no teatro; discernia os sons dos passos nos corredores, o burburinho das palavras, o barulho de objetos sendo levados, coros ensaiados... A música poderia ser tomada por um alegre ato de balé, mas para a soprano era muito mais. Seus ouvidos treinados à exaustão pelo Anjo captavam a música e a compreendiam de um modo que não estava ao alcance da maioria e, ouvindo cada nota, ela mal conseguia acreditar no modo como ele conseguira capturar a cacofonia atordoante dos bastidores e transformá-la em música! E bastava uma rápida análise da harmonia para conseguir detectar cada componente que ele utilizara como sua inspiração.

De repente uma melodia se destacou do todo da harmonia, e ela via pelos olhos de Erik: uma criança a se destacar das demais, um ser que ele percebia como diferente dos demais. A essa melodia juntou-se uma segunda voz, esta grave e mais intensa, e juntas travavam um dueto! E o coração da moça doeu de emoção ao ouvir a cadência mais aguda evoluir, tornando-se mais encorpada e firme, como a própria voz dela fizera. E os tons finais, maduros e evoluídos, travavam com a melodia mais grave um novo dueto, agora cheio de emoções! Paixão, tristeza, angústia, raiva... Mas sempre interligados, sempre fazendo alusão à outra voz... Erik transformava sentimentos e ações em notas, e o bailado descrito por cada som era um teatro vívido que ela quase podia enxergar! Havia na música do Anjo uma sobrenatural e poderosa sinestesia que estimulava cada sentido, cada parte do ser, imergindo-o num vórtex de sensações que nada mais podia despertar com tamanha intensidade!

A cadência ganhava força e volume, tornando-se tão intensa que a tensão desenvolvida era quase palpável! E então, numa explosão de notas que parecia poderosa o bastante para fazer ruir um edifício – ou assim Christine a sentia dentro de si – a música cessou. Oito compassos que pareceram uma eternidade enquanto o eco reverberava nas paredes, teto e chão, e a moça compreendia: aquele hiato haviam sido os meses separados. Meses de silêncio, de inércia, de uma morte em vida angustiante. Então, tudo recomeçava num pianíssimo lento e carregado de expectativas, antes que uma torrente angustiante arrastasse as emoções para abismos obscuros de dor e raiva; ela sentia dentro de si todo o sofrimento e desespero de seu anjo, tudo aquilo que ele sofrera em silêncio... E no meio da ode aos mais obscuros sentimentos de um ser humano, notas luminosas surgiam aqui e ali. Os tons raivosos abrandavam e decaíam num pranto constante, à medida que novo alegro se fazia ouvir. E novamente interligadas, as duas vozes musicais principais conversavam entre si, a alegria espantando a dor... Outra vez ela ouviu no piano, claras como a luz do dia, a própria voz e a de seu amado, entoando outra vez o dueto de suas vidas. Mas era uma canção diferente da primeira: estava carregada de um amor mais intenso e maduro, e uma paixão não desenfreada e irracional, mas forte e correspondida. O contracanto era como minúsculos fios a interligar as duas vozes, as duas almas... As duas vidas.

Aquele era um retrato musical da história de ambos, escrita pelos olhos de Erik. Era uma dádiva única na qual ele presenteava Christine com o que havia de mais secreto em seu interior, e expunha-se a ela completamente! Sem reservas nem hesitação, ele entregava seu coração e sua existência a ela, traduzida na forma de uma música que apenas ele dois poderiam compreender... E a intensidade de tudo aquilo fez lágrimas escaparem profusamente dos olhos castanhos, antes mesmo que a sala imergisse outra vez em silêncio. Não poderia haver presente maior do que aquele!

— Ah, meu Anjo... – ela tentou dizer algo, mas sua voz estava embargada demais para isso... Então fez a única coisa que conseguia: abraçou seu amado com força e o beijou apaixonadamente, colocando naquele beijo toda a sua entrega, todo o amor e paixão que carregava dentro de si. Queria cantar, falar e rir, mas ele a emocionara de um jeito que conseguira silenciá-la por completo! Então, usou os olhos e os gestos para dizer tudo o que estava dentro de si! E sabia que Erik a compreenderia, como de fato o fez!

Tão afetado pela música quanto ela, o Anjo correspondia aos beijos com mistura de ânsia, paixão, alegria... Seus sentidos despertavam, ainda mais aflorados, e cada um deles estava consciente da presença de Christine: o peso dela sobre suas pernas, o corpo macio entre seus braços, os lábios quentes contra os seus... O perfume dela, os arquejos que emitia entre um beijo e outro, o modo como o tocava... Ela despertava e preenchia cada sentido do músico, que não mais resistiu; levantou-a nos braços e a carregou até o sofá, deitando-a ali e cobrindo-a com seu corpo, ainda entrelaçados em beijos e abraços ora ternos, ora intensos. Ele se afastou por um momento para observar melhor a beleza de sua futura esposa, e ela sorriu ante o olhar violeta... Adorava quando seu Anjo se revelava a ela não como Erik, nem como Lúcifer, mas como o ser humano íntegro e completo do qual ambos se haviam originado, a personalidade íntegra que poucos momentos eram capazes de trazer à tona! Esse era um daqueles privilegiados momentos, e ela não pretendia perder m segundo que fosse. Amava Erik. Amava Lúcifer. E queria que seu Fantasma, qualquer que fosse a personalidade assumida, nunca mais tivesse qualquer dúvida disso!


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Notas finais do capítulo



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