A Assassina e o Alquimista escrita por Lilás


Capítulo 8
A morte encarnada


Notas iniciais do capítulo

Oi. Antes de começarmos, tenho um anúncio importante. Minhas aulas voltam semana que vem mas, calma, eu já tenho tudo planejado. As atualizações continuarão sendo às TERÇAS e SEXTAS, até segunda ordem. Agora, o capítulo de hoje.



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— Espera um pouco aí, Al – Edward interrompe – você disse que, depois de tudo, ela foi embora?

— Se não fosse por todos aqueles corpos no chão e os senhores Jelso e Zampano terem dito que também viram a garota – Alphonse balançou a cabeça afirmativamente – eu quase pensei ter sido tudo uma miragem.

“Resolvemos juntar nossas coisas e sairmos logo dali antes que os bandidos voltassem com mais reforços. Eu queria procurar pela garota e saber o que era aquela espada, mas não era seguro ficar por lá. Seguimos viagem normalmente”.

“Na noite do segundo dia, acordei por causa de um barulho. Havia alguém mexendo em nossas provisões. Olhei para o lado e vi os senhores Jelso e Zampano dormindo profundamente. Pensei que, talvez, fosse algum animal do deserto e levantei para checar. Quase caí para trás quando vi aquela mesma garota misteriosa com um pedaço de pernil na boca. Ela estava comendo nossa própria comida. Pelo menos, os senhores Jelso e Zampano parariam de brigar um com o outro por causa disso. O senhor Zampano desconfiava que o senhor Jelso estivesse roubando a comida durante o turno dele”.

“Levantei sem fazer barulho e me aproximei dela. Quando cheguei perto, ela percebeu minha presença e se assustou. Mostrei as palmas das minhas mãos para ela”.

— Eu não vou machucá-la – falei rapidamente – Eu só quero conversar.

“Ela olhou para mim com desinteresse. Parecia não estar com medo de mim. Olhei para o lado e vi o caldeirão de ensopado do senhor Jelso. Ainda estava um pouco quente, então eu peguei duas tigelas e as enchi com ele. Ofereci uma das tigelas para ela”.

— Deve estar com fome – falei.

“Ela nem se mexeu. Continuou olhando para mim do mesmo jeito. Estendi uma manta no chão, sentei e coloquei a tigela dela ao meu lado”.

— Aproveite que ainda está quente – sorri.

“Eu comecei a comer e ela ficou parada por um tempo, olhando para mim. Depois de alguns minutos, ela sentou timidamente ao meu lado e comeu da tigela”.

— Meu nome é Alphonse – sorri com simpatia – Alphonse Elric.

“Fiquei esperando inutilmente ela dizer o nome dela. Na verdade, ela continuou comendo como se nem tivesse me ouvido”.

— Desculpe – disse para mim mesmo – Vai ver você é muda.

“Terminei de comer e fiquei a observando comer. Fiquei imaginando de onde ela tinha vindo e o porquê de estar sozinha no deserto. Vi sua espada presa em suas costas. Dava para sentir o poder emanado por ela. Deveria ser algum artefato feito com alguma técnica de alquimia desconhecida. Pensei como adoraria estudá-la e descobrir o segredo da espada. Só percebi que estava olhando demais quando ela levantou os olhos e me encarou com aqueles estranhos olhos vermelhos. Fiquei imediatamente vermelho e pensei em algo para disfarçar”.

— Quer... quer ver uma coisa? – arrisquei.

“Uni minhas mãos e depois as coloquei no chão. Fiz aquela mesma transmutação que fazíamos para a mamãe quando éramos crianças, Ed. Aproveitei a água de um lençol subterrâneo e moldei um pássaro de argila em questão de minutos”.

— Pra você – disse, oferecendo com as duas mãos.

“Ela aceitou o presente e ficou girando-o nas mãos. Ela não parecia impressionada com a transmutação. Na verdade, parecia estar um pouco curiosa”.

— De onde você veio? – falei, despertando-a do transe em que estava ao analisar o presente – Para onde está indo?

“Ela nada falou. Ficamos em silêncio algum tempo”.

— Deixa para lá – suspirei – Talvez, você nem entenda o que eu falo.

— Meu nome é Akame – ela disse em uma voz fraca.

“Por mais que eu tentasse fazê-la falar novamente, essas foram as únicas palavras que falou durante a noite toda. Acabei dormindo sem querer e, quando acordei no dia seguinte, ela tinha ido embora mais uma vez”.

“Na noite seguinte, ela voltou e eu ofereci comida outra vez para ela. Enquanto ela comia, eu contei situações divertidas que passei em Xing. Falei dos momentos constrangedores que passei porque desconhecia a etiqueta xinguesa. Ela não ria, mas parecia bastante interessada nas histórias. Talvez, eu fosse mesmo péssimo em contar piadas”.

“Conversamos por mais duas noites. Quer dizer, apenas eu falava. Ela só ouvia atentamente. Como dizia, falei com ela por mais duas noites até eu resolver convidá-la para ir conosco”.

— Obrigada – ela disse, educadamente – Mas não posso.

— E por que não?

— Porque eu viajo sozinha – respondeu. Foi a única pergunta que ela me respondeu. Ela parecia nunca escutar minhas perguntas.

— Sou um cavalheiro – retruquei – É contra meus princípios deixar uma dama desacompanhada e entregue a própria sorte em um lugar inóspito.

— Eu não ligo – ela respondeu.

— Mas, para mim, é questão de honra.

“Como ela continuou recusando, resolvi jogar sujo. Disse que não daria mais nada para ela comer se não aceitasse nos acompanhar. Se bem que ela poderia continuar nos roubando e eu não poderia impedir. Disse que os senhores Jelso e Zampano eram muito legais e que ela iria gostar de conhecê-los. Insisti tanto que ela acabou aceitando”.

“No dia seguinte, precisei dar uma longa explicação para meus amigos-quimera por causa da nova integrante do nosso grupo. Mesmo depois de conhecer meus colegas, ela quis voltar atrás na decisão de nos acompanhar. Mas eu comecei a falar das maravilhas de Amestris, das cidades, das pessoas e lugares e ela acabou ficando encantada com meus floreios”.

“Rapidamente, os senhores Jelso e Zampano se acostumaram com ela. Porém, depois de passarmos pelas ruínas de Xerxes, chegamos a um posto avançado de Amestris. Por causa da construção da ferrovia que ligará Xing à Amestris, lembra? Fizeram um pequeno vilarejo que parecia um oásis no meio do deserto. Lá trabalham pessoas de várias partes do mundo”.

“Zampano e Jelso saíram para comprar mais provisões e eu fui procurar um telefone para ligar para cá e avisar onde estávamos. Levei Akame comigo para não dar a oportunidade dela fugir. Estava interessado em estudar a espada que ela carregava e eu não a deixaria escapar. Fiquei fazendo uma porção de gracinhas para ela não perceber que eu estava enrolando”.

“Quando voltamos ao lugar onde estávamos hospedados, Jelso e Zampano me chamaram em particular porque tinham algo sério para me contar. Eles disseram terem sido avisados por um homem que era de um distante país do leste. Ele viu Akame em nossa companhia e a reconheceu como a assassina mais temida do país dele. Akame da Espada Demoníaca. Ex-integrante de um grupo rebelde e dada como desaparecida na guerra civil que assolou o país”.

“Eu sempre acreditei que todos têm direito à defesa, então chamei Akame e expliquei a situação. Com relutância, ela contou tudo desde o começo. A família dela era muito pobre e seus pais resolveram vender as duas filhas ainda pequenas para o governo. Parece que é uma prática muito comum por lá. Essas crianças eram treinadas para serem futuros assassinos. Para isso, elas eram deixadas em uma floresta, sem calçados, sem ferramentas, para sobreviver por conta própria. Só podiam comer do que conseguissem na floresta ou, então, roubando. Muitas crianças morriam de fome, de frio, atacadas por feras ou pelos castigos se fossem pegos roubando. E Akame ainda precisava cuidar da irmã caçula. Elas deveriam ter mais ou menos a nossa idade quando mamãe morreu, Ed”.

“Depois de algum tempo juntas, elas foram separadas para concluir o treinamento. Akame se empenhou ainda mais e fez de tudo para continuar viva porque tinha esperanças de reencontrar sua irmã. Quando elas finalmente foram transferidas para o mesmo lugar e escolhidas para cumprirem missões juntas, ela não poderia estar mais feliz. As duas faziam a dupla de irmãs assassinas mais temidas do país. Mas Akame não se importava em ser enviada para matar pessoas, contanto que ela e a irmã continuassem juntas”.

“Porém, ela começou a questionar as atitudes do governo. Depois de tanto tempo confinada, ela saiu nas ruas e viu o sofrimento do povo. Começou a questionar se não estaria sendo cúmplice de um governo corrupto. Antes disso, ela achava estar sendo útil à ordem pública. Quando foi enviada sozinha em missão para assassinar uma líder rebelde, ela a convenceu a desertar e se aliar à causa rebelde. O problema é que, depois disso, ela e a irmã nunca mais puderam se unir do mesmo lado. E foi assim até a morte da irmã”.

“Após ter contado toda a história para mim e para os senhores Jelso e Zampano, ela levantou e começou a andar para longe”.

— Aonde você vai? – perguntei.

— Embora – ela parou e nos olhou por cima do ombro – Não precisam me mandar embora. Obrigada pela comida – voltou a andar.

— Não disse para ir embora – levantei também e a segurei pelo braço.

— E nem precisa – ela abanou o braço para que eu a largasse – Não preciso de mais gente para me condenar.

— Eu não estou te condenando – e olhei para Jelso e Zampano – Nós não estamos, não é?

— Nós também não, garota – Jelso concordou.

— Nós dois somos meio humanos, meio quimeras – Zampano completou – Sabemos bem o que é sermos julgados pelas aparências. E, pelo que você contou, você também foi uma vítima.

— Eu também fiz muitas coisas das quais me arrependo – eu disse – Não tenho moral alguma para te julgar.

“Ela não respondeu, mas me lançou um olhar de descrença”.

— Não acredita, não é? – perguntei – Pois, então, vou te contar uma pequena história. A história de como passei anos com a alma aprisionada em uma armadura.

“Eu contei toda nossa história, Ed. Desde quando o papai foi embora e a morte da mamãe até a derrota do Pai dos homúnculos e quando você sacrificou sua Porta da Verdade por mim...”

— Mas será possível – Edward cruzou os braços e virou a cara – que você tem que revelar toda a minha vida para a primeira assassina foragida e perdida no deserto que aparece?

— Eu e Akame-chan não temos segredos um com o outro – Alphonse sorriu largamente – E eu precisava ganhar a confiança dela. Ela não tinha motivos para mentir e eu também não.

— Imagino que, depois disso – Edward apoiou a cabeça no tronco da árvore – ela concordou em acompanhar vocês.

— Muito pelo contrário – Alphonse abanou a cabeça – Ela disse que tudo que eu havia feito nem se comparava com os erros dela. Disse que aquela era a prova de que eu era uma pessoa muito melhor do que ela. E eu disse que a fonte de todas as nossas tristezas era essa ideia de que existiam pessoas melhores e mais merecedoras do que outras.

— Falou bonito, Al – Edward riu pelo nariz.

— Eu perguntei a ela se ela não queria deixar tudo isso para trás e recomeçar a vida. Falei da Troca Equivalente e que ela deveria abandonar a vida antiga por uma nova. Também fiz propaganda de Resembool e falei de vocês. Convidei-a para ir comigo até nossa casa. Ela não me deu uma resposta direta, mas continuou nos acompanhando. Quando chegamos a Ishval, que está sendo reconstruída e as pessoas já estão vivendo bem lá, Ed, consegui fazer uma ligação em um posto amestrino para informar nossa chegada.

— Sei – Edward revirou os olhos – A tal surpresa.

— Isso mesmo – Alphonse sorriu – Akame ouviu o que eu falei e fez uma cara preocupada. Eu a tranquilizei e disse que não deixaria nada de ruim acontecer com ela – e seu sorriso se desmanchou – Prometi que o passado não iria mais se repetir...

— A culpa não foi sua, Al – Edward repetiu – Quem é que poderia adivinhar o que iria acontecer?

— Pois é – Alphonse deu um longo suspiro – Mas eu aprendi em Xing que um homem sempre cumpre suas promessas – levantou da árvore e dirigiu-se para casa porque Winry já chamava pelos dois.

**************************

— O que foi que você disse? – Mustang arregalou os olhos.

— Isso mesmo, general – Breda acenou com a cabeça – Recebi essa notícia quando o senhor pediu para contatá-lo.

— Mas por que iriam convocar o doutor Marcoh? – ele perguntou, ainda espantado.

Mustang pediu para Breda perguntar ao doutor Marcoh se precisaria de alguma ajuda com suas bagagens, afinal os dois precisariam voltar para Ishval logo após o casamento de Edward e Winry, mas se surpreendeu ao saber que o médico havia sido chamado como consultor em uma pesquisa de um dos laboratórios do exército.

— Acha que poderia ser algo relacionado à garota, senhor? – Breda perguntou.

— Talvez – Mustang ajeitou-se na cadeira – E quanto ao treinamento?

— Ela está com a capitã Hawkeye, no momento – Breda diz.

— Excelente – Mustang junta as mãos sobre a mesa – A capitã Hawkeye é muito responsável. Mas eu não quero que essa menina fique nem um único minuto fora de vigilância, entendeu? Eu quero que vocês descubram até mesmo o que ela sonha todas as noites, ouviu?

— Certo, senhor – Breda faz uma reverência antes de sair.

Na área de treinamento de tiro, Akame estava deitada sobre um estrado enquanto tentava acertar com um fuzil os alvos postados do outro lado do campo.

— Muito bem, subtenente – Riza Hawkeye acenou para que ela cessasse os tiros – Vamos fazer uma pausa.

— Sim, senhora – Akame sentou-se em um banco de madeira próximo. Riza ficou a observando por um tempo como se estivesse decidindo se deveria falar alguma coisa.

— Imagino que você seja como eu – Riza sentou-se muito formalmente no banco ao seu lado – Também não gostava de militares.

Akame não falou nada e as duas ficaram em silêncio por alguns minutos.

— E também – Riza falou em voz baixa – nunca me acostumei em tirar vidas.

— É apenas trabalho – Akame respondeu, olhando para o nada.

— Sim. Deve-se apenas fazer o trabalho – Riza levanta-se do banco e completa antes de sair – Afinal, é preciso proteger quem amamos.

— Proteger quem eu... amo? – Akame sussurrou para si mesma e a imagem de uma menina magricela de cabelos negros e curtos apareceu na sua mente.


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Notas finais do capítulo

Confesso que está sendo complicado escrever sobre esses dois animes. FullMetal tem um universo muito bem detalhado. Já Akame Ga Kill! tem muitas coisas que ficaram sem muita explicação. As duas situações são um problema. Mas eu já tenho uns capítulos adiantados que fico revisando várias vezes. Mas, mesmo assim, pode ser que eu deixe escapar algo. Comentem se tiverem alguma dúvida ou sugestão.



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