A Assassina e o Alquimista escrita por Lilás


Capítulo 49
O Mundo Assombrado pelos Demônios


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos.
Desculpem por ter sumido por uns dias, mas é que eu estive muito ocupada. Estava preocupada porque meu professor tinha marcado minha pré-banca para o mês que vem. Ainda bem que o colegiado deu um prazo maior e minha apresentação mudou para maio porque, se não, nem poderia atualizar hoje.
Mas, vamos voltar para a história que já está quase no fim. Vou ver se consigo atualizar o quanto antes,mas não posso prometer nada. Aliás, nem fiz direito a correção do capítulo. Talvez, eu corrija quando tiver tempo. Enfim, vamos para o capítulo de hoje.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/695826/chapter/49

— Ed – Alphonse corria para poder acompanhar os passos rápidos do irmão por um extenso corredor – por que me trouxe até aqui?

Edward deu um pequeno suspiro antes de parar em frente a uma porta.

— Quero que você fale com algumas pessoas – disse, antes de empurrar a porta.

Edward e Alphonse entraram em uma espaçosa sala da Universidade de Amestris, com arquibancadas dispostas em formato semicircular. Normalmente, as bancadas deveriam estar cheias de alunos assistindo uma aula ou uma palestra qualquer naquela hora do dia. Porém, a sala estava completamente desocupada, exceto por três pessoas que conversavam próximo ao estrado no centro da sala. Alphonse seguiu Edward até eles enquanto os passos dos dois ecoavam pelo ambiente vazio.

— Edward. Alphonse – doutor Marcoh os cumprimentou – Que bom que vieram. Esses são meus amigos Theodore Duver – e indicou o homem ao seu lado – e Wilhelm Johnson – apontou o senhor sentado em uma cadeira.

— Eu conheço o senhor – Alphonse falou ao apertar a mão de Duver – O senhor é o reitor da Universidade.

— Sim – Duver sorriu, simpático – É um prazer revê-lo, Alphonse Elric.

Duver era alto, magro e tinha uma aparência jovial, apesar dos cabelos castanho-claros estarem salpicados de fios brancos e começando a rarear nas laterais.

— Você se esqueceu de falar coronel Johnson, Marcoh – o homenzinho gorducho, vestindo um paletó risca de giz, levantou da cadeira se apoiando em uma bengala e cumprimentou os irmãos Elric como um tio recebendo a visita dos sobrinhos favoritos – Aposentado, mas coronel.

— Você nem tem mais idade para isso – Duver brincou e se virou para Edward e Alphonse – Fiquem à vontade, por favor.

Edward e Alphonse sentaram na primeira fileira das arquibancadas, Johnson voltou a sentar na mesma cadeira e Duver sentou na beirada da mesa de centro.

— Edward pediu para que meus colegas falassem com você, Alphonse – Marcoh continuava em pé – Eles estavam responsáveis pelas pesquisas sobre as Teigus no laboratório do exército.

— Na verdade – Duver cruzou os braços – Estamos muito mais interessados na Akame.

— Como assim? – Alphonse olhou de um para o outro.

— Fomos chamados para estudar a relação das Teigus com o usuário – Duver se afastou da mesa e andou de um lado para o outro como um professor diante da sua turma – E nos deparamos com um caso maior do que imaginávamos. Analisamos o sangue de Akame e encontramos uma produção irregular de proteínas...

— Assim você vai assustar os garotos, Thed – Johnson o repreendeu.

— O que Akame tem? – Alphonse levantou-se um pouco de seu assento.

— Bom, nunca vimos esse tipo de doença antes... – Duver começou.

— Nem temos certeza que é uma doença de fato – Johnson usou um tom de recriminação.

— E como você explica aquela multiplicação anormal de células? – Duver lançou um olhar desafiador para ele.

— Será que vocês podem explicar do que estão falando? – Edward reclamou.

— Eu vou explicar com uma única palavra – Johnson apontou para os dois – Übermensch.

— Como é? – Edward ergueu uma sobrancelha.

— Por favor, Will – Duver balançava a cabeça, parecendo exausto – Não vamos voltar a isso...

— Vou explicar melhor – Johnson ignorou as palavras do amigo – A humanidade como conhecemos hoje está no meio da escala evolutiva. Logo, seremos superados por um tipo de ser humano muito superior e que irá transcender os limites da humanidade – seu discurso ganhou um tom mais empolgado – E Akame representará o início desse futuro. Afinal, ela é o nosso mais precioso experimento.

— Experimento? – Alphonse fez uma careta.

— Isso mesmo. Certamente, aquilo não foi natural – Johnson apontou para ele – Afinal, Alphonse Elric, não foi você mesmo quem falou de Alquimia Reconstrutiva? Pense bem, essa garota consegue se regenerar como um réptil. Ela é a pesquisa da sua vida! Já imaginou nas possibilidades para o futuro? As próximas gerações serem capazes de regenerar membros amputados ou realizar prodígios ainda mais surpreendentes?

— À que custo? – Duver replicou – Você mesmo viu que isso é completamente instável.

Ex nihilo nihil fit— Johnson encolheu os ombros – A glória sempre cobra seus sacrifícios. E que mal há em usar nosso conhecimento científico para aperfeiçoar os atributos humanos e eliminar os indesejados? A ciência não existe para melhorar a vida humana?

— Será que vocês podem explicar do começo? – Edward estava perdendo a paciência.

— Sim, Edward – Marcoh resolveu tomar a frente – Tomei por base aquilo que você me falou sobre o fator de autorregeneração acelerada de Akame e fizemos alguns experimentos com as amostras de sangue dela.

— A verdade é que as células do sangue sofreram uma mutação estranha – Duver lançou um olhar de censura para Johnson – e as células anormais estão se replicando de forma acelerada.

— Essa reprodução acelerada pode explicar como ela consegue se curar tão rápido – Marcoh comentou – Mas não podemos dizer como. Nunca soubemos de nenhum caso assim.

— Com exceção dos homúnculos, mas eles não eram humanos – Johnson continuou com a voz mansa – Por isso, eu digo que ela é nossa obra máxima. A prova de que podemos selecionar e melhorar as potencialidades dos corpos humanos. No futuro, poderemos modificar nossos corpos para sermos igual à Akame. Mais rápidos, mais fortes, nos curarmos com facilidade...

— E também pode provocar a destruição lenta de tipos específicos de células, tecidos e órgãos ou alterar irremediavelmente suas funções – Duver continuou, falando um pouco mais alto do que Johnson – Porque é exatamente isso que está acontecendo com Akame. Ao mesmo tempo em que isso, que nem sabemos o que é, está a mantendo viva, também está a consumindo.

— O que isso significa? – Alphonse olhou de um para o outro, com os olhos arregalados.

— Ao invés de destruir apenas as células anormais, o sistema de defesa do organismo de Akame está atacando as células saudáveis e as alteradas sem distinção. Contudo, tanto as células saudáveis quanto as anormais estão se multiplicando de uma forma incomum – Duver suspirou, profundamente – Com isso, não sabemos o que pode acontecer. Simplesmente, não sabemos.

— Não estão dizendo que ela... – Edward começou.

— Não sabemos o que pode acontecer – Duver abanou a cabeça, triste – Realmente, é um mistério.

— Precisamos deixar a garota em observação – Johnson ponderou um pouco – Até mesmo para o próprio bem dela.

— Deixar Akame em observação? – Alphonse se levantou em um rompante – Estão pensando em prendê-la de novo? Vocês têm noção do quanto Akame sofreu até chegar aqui?

— Sim, rapaz – Johnson respondeu, tranquilamente – Acho que temos uma noção do quanto a garota sofreu.

— Como vocês sabem? – Edward enrugou a testa.

— Bom – Duver colocou as mãos no bolso, desconfortavelmente – por acaso, soubemos do passado de Akame – ele olhou de esguelha para Johnson – Não sei se podemos falar disso...

— Edward e Alphonse são adultos, Thed – Marcoh o acalmou – Não vai assustá-los com isso.

— Infelizmente, Akame foi vítima de uma prática antiga e que não é exclusiva do governo do Império – Duver meneou a cabeça, um pouco recoso, depois de hesitar por uns segundos.

— Uma coisa que sempre me intrigou é que Akame nunca demonstrava medo e sempre fazia tudo de forma sistemática, mesmo nos momentos mais críticos – Marcoh explicou, sem rodeios – Por isso e por causa de outras coisas, cheguei a uma conclusão. Ela passou por algum processo de controle mental. Na verdade, um processo muito mais cruel e sádico do que se pode imaginar. É assim, o indivíduo é submetido a um trauma intenso que produz uma fragmentação na sua personalidade e permite que o “adestrador” crie uma personalidade alternativa que pode ser programada como ele quiser. Acredito que vocês devem ter dito que Akame passou por muitos traumas durante seu treinamento, inclusive sendo abandonada em uma floresta cheia de animais selvagens com sua irmã. Não é?

— Sim – Edward se apressou em responder – Foi o que ela contou.

— Não é incomum pegar crianças pobres e abandonadas e treiná-las para servirem como escravas cegamente obedientes para as mais variadas funções – Johnson franziu a testa – A maioria das pessoas tem tendência a suprimir suas emoções e memórias quando passam por uma dor insuportável. E, quando isso acontece, um bom manipulador consegue conduzir uma pessoa que está totalmente vulnerável ao ponto dela crê que os desejos e pensamentos de seu manipulador são seus também.

— E, pelo que eu saiba – Marcoh continuou – Akame se acostumou a ver pessoas serem assassinadas ainda muito cedo. Quando nem podia compreender o real significado disso. Ela apenas acreditava em tudo que o “adestrador” dela, que ela chama de “pai”, dizia. Inclusive, ela tinha até uma frase específica para dizer quando fosse matar alguém. Tudo isso é uma forma de controlar as ações dela.

— Nunca imaginei algo assim – Edward esmurrou a mesa com uma expressão raivosa – Como algo assim pode existir? Como pode existir pessoas oportunistas dessa forma?

Duver lançou um olhar estranho para Johnson que parecia não ter percebido.

— Além disso – Marcoh olhou para Edward – você disse que Akame lhe contou sobre a Murasame ser um demônio que estava tentando manipulá-la...

— Foi a história mais louca que já ouvi – Edward confirmou com a cabeça – E o mais incrível é que aquele pessoal do Império acreditou nessa história. Deve ser um país de malucos.

— É típico de culturas mais atrasadas atribuírem a uma entidade sobrenatural a responsabilidade por fenômenos inexplicáveis – Duver concordou – É como nossos antepassados pensavam que o mundo estaria constantemente sendo assombrado pelos demônios.

— Não sou nenhum especialista – Marcoh meneou a cabeça – mas acho que Akame acabou herdando um transtorno de personalidade desses anos de lavagem cerebral. E isso a faz acreditar que existe essa outra personalidade dentro dela com o mesmo nome da espada dela. Porque é muito mais cômodo atribuir tudo que é de ruim a outra pessoa do que admitir a própria culpa.

— Outra prática muito comum – Johnson assentiu – É fazer a vítima acreditar que é perseguida e controlada por espíritos ou demônios. Uma mente enfraquecida por traumas sucessivos pode ser facilmente levada a acreditar nisso.

— Vocês estão dizendo que ela está inventando tudo isso? – Alphonse perguntou, incrédulo.

— Oh, não. Não é mentira – Johnson falou, quase afetuosamente – Não é mentira quando ela mesma acredita nisso.

— Eu sei o que vocês estão tentando fazer – Alphonse esmurrou a bancada em sua frente – Mas eu não vou deixar! Akame não é louca.

— Al – Edward se assustou com a reação do irmão – O que...?

— Isso é apenas uma desculpa para prenderem Akame de novo – Alphonse falou com Edward.

— Não, Alphonse – Marcoh tentou acalmar os ânimos – Estamos apenas dizendo que Akame precisa de ajuda...

— Talvez, suas intenções sejam as melhores, doutor – Alphonse o interrompeu, apontando para Johnson – Mas não digo o mesmo do exército – e acrescentou com sarcasmo – Não é, coronel?

— Will está falando um assunto sério, Alphonse – Duver aconselhou – Akame sofreu anos de abusos e pode levar o dobro do tempo para ela se recuperar com um acompanhamento especializado. Ou é mais provável que nunca aconteça uma recuperação total...

— Eu não vou discutir isso – Alphonse apontou para Johnson – O senhor fala de Akame como se ela fosse uma atração de circo. E o senhor – e indicou Duver – fala dela como se fosse uma aberração. Mas ela é uma pessoa – ele se levantou e se dirigiu para porta, sem nem esperar por Edward – Ah, e avisem ao exército – Alphonse deu meia-volta, parando na frente dos três cientistas – que se alguém se atrever a chegar perto de Akame de novo, vai ter guerra – e saiu, batendo a porta.

Edward precisou correr quase todo o longo corredor antes de conseguir alcançar o irmão.

— Al – ele puxou o irmão pelo braço para forçá-lo a parar – o que foi isso?

— Eu não acredito nisso – Alphonse reclamou – Toda essa calúnia contra Akame para justificar quando vierem prendê-la.

— Al – Edward o chamou – você lembra de alguma coisa quando esteve lá na Verdade com ela?

Alphonse abriu a boca para falar, mas parou por alguns segundos.

— Ela contou uma história mirabolante onde vocês invadiam as memórias um do outro – Edward fez uma careta – Está vendo? Se nem você lembra, quem garante que ela não inventou tudo?

— Ed – Alphonse balançou a cabeça – não é só porque você não acredita em nada espiritual, não quer dizer que quem acredita é louco.

— Uma coisa não tem nada a ver com outra – Edward abanou a mão, impaciente – Eu trouxe você aqui para que você visse outra coisa. É para que você perceba que essa garota é um caso complicado. Nós não temos como ajudá-la, Al. Nós não sabemos o que ela tem e nem sabemos como lidar com os traumas dela – Edward esperou que Alphonse dissesse algo, mas ele apenas o olhou sem dizer nada – Você ouviu o que eles disseram – recomeçou, mais calmo – Não adianta ficar insistindo em algo que não conseguimos ver uma solução.

— A gente não desistiu da mamãe nem quando ela morreu – Alphonse falou de um jeito tão sério que Edward se surpreendeu com sua fala – Mas, com a nossa mãe, a gente não poderia fazer realmente nada. Nem ela e nem Nina – ele suspirou, longamente – Porque as duas estão mortas. Mas Akame ainda está viva, Ed. Nós não prometemos fazer de tudo que estivesse ao nosso alcance para ajudar quem quer que seja usando Alquimia?

— Olha – Edward levantou um dedo trêmulo na frente do rosto – você sabe que falar da mamãe ou da Nina é muita covardia...

— E quanto a mim, Ed? – Alphonse o cortou – Você desistiu de mim quando eu era uma armadura? Mesmo quando todo mundo dizia que era impossível eu voltar ao que era? Eu nem tinha um corpo humano... Você viu como eles falam de Akame? Todo mundo deve a ver como uma aberração. Isso não te lembra alguém?

— Eu não poderia desistir de você – Edward abanou a cabeça – Você é o meu único irmão...

— Exatamente, Ed – Alphonse insistiu – Mas Akame não tem ninguém. Ela só tem a mim. E não vou desistir dela.

Edward deu as costas para Alphonse e passou as mãos nos cabelos, visivelmente nervoso.

— Você tem razão – Edward admitiu, ainda de costas para o irmão – Se você quer ajudá-la – ele voltou a encarar Alphonse – eu também vou te ajudar.

Alphonse arregalou os olhos, com o queixo caído, mas mudou rápido de expressão.

— Eu sabia que sempre poderia contar com você, Ed – Alphonse sorriu, largamente.

— Só tem uma coisa, Al – Edward indicou o corredor com a cabeça – Nós vamos ter que aceitar a ajuda deles.

— Ah, não, Ed – Alphonse abanou negativamente a cabeça – Eu não posso aceitar que eles prendam a Akame de novo...

— Eu não vou deixar que isso aconteça – Edward segurou o irmão pelos ombros – Olha, nós vamos precisar da ajuda deles. Nós estamos lidando com uma Alquimia que não conhecemos e com uma doença que nem sabemos o que é...

— Mas você confia mesmo neles?

— Apenas confie em mim – Edward deu um meio sorriso – Eu não vou deixar fazerem mal nenhum àquela cabeçuda. Mas, vamos precisar da ajuda deles. Afinal, você ao menos sabe por onde devemos começar?

Alphonse meneou a cabeça, sem responder.

— Vamos ser racionais, irmãozinho – Edward deu um tapa afetuoso na cabeça de Alphonse – E olha o que você me obriga a fazer. Eu estou lhe dando conselhos sendo que o mais equilibrado de nós dois é você.

Alphonse riu e aceitou voltar para a sala na companhia de Edward. Duver, Marcoh e Johnson ainda estavam nos mesmos lugares e não pareciam surpresos com a volta dos irmãos.

— Vocês ainda estão interessados no caso da Akame? – Edward se adiantou.

— Está brincando? – Johnson puxou um par de óculos do bolso e o equilibrou no rosto – Esperei por ela a vida inteira.

— Meu irmão pensou melhor – Edward continuou – E ele vai querer a ajuda de vocês para estudar essa doença misteriosa da Akame.

— Com uma condição – Alphonse frisou – ninguém mais vai questionar a sanidade mental de Akame. E nada de prendê-la, nem a deixar “em observação”.

— Por mim, tudo bem – Duver suspendeu as mãos em rendição. Johnson apenas concordou com a cabeça.

— Obrigado – Alphonse se curvou, envergonhado – E perdão por minha atitude de agora pouco...

— Oh, tudo bem – Johnson sorriu simpático para os dois – Toda essa energia é típica dos jovens. Eu também tinha toda essa paixão quando era novo. É uma qualidade muito útil para um cientista – ele bateu a bengala no chão –Você me lembra eu mesmo quando era uns... trin... vinte anos mais jovem.

— Vinte anos em cada lado, não é? – Duver riu e se virou para os irmãos – Mas vocês pretendem estudar para achar uma possível cura, não é?

— É esse o único objetivo – Alphonse falou, confiante – Mas vocês podem se beneficiar com os resultados das pesquisas contanto que não prejudique a Akame.

— Creio que poderemos conseguir um bom financiamento do governo para a pesquisa – Marcoh disse – Afinal, é uma pesquisa que interessa bastante qualquer um.

— Isso com certeza – Johnson arregalou os olhos – Só precisa escrever uma proposta de pesquisa, Alphonse Elric. Você sabe, seus objetivos, hipóteses, resultados esperados... essas formalidades.

— Podemos começar a pensar nas perguntas da pesquisa. Basicamente, estamos partindo de duas teorias – Duver disse, suspendendo os dedos – Ou essa multiplicação anormal de células é uma reação do próprio organismo em resposta ao veneno. Ou, a mais provável, isso é provocado porque o veneno contém algum agente patogênico.

— Mas como vocês podem dizer que é uma patologia se, fora a febre – Edward perguntou – ela não apresenta nenhum outro sintoma negativo?

— Isso que eu digo – Johnson apontou para ele – Isso não é uma doença.

— Bom, mas não podemos nos basear apenas em especulações porque isso não é fazer ciência – Duver continuou – Eu ainda acho que a resposta para todas as nossas dúvidas pode estar na fabricação das Teigus. Então, temos que começar a pesquisa com tudo sobre elas para termos uma visão melhor do problema. Se soubermos como elas foram feitas e do que é feito o veneno da Murasame, poderíamos ter ao menos uma pista para respondermos todas as perguntas.

— Podem deixar – Alphonse confirmou – Eu não vou descansar até descobrir isso, senhor.

— Bom, levando em conta seu histórico, Alphonse Elric – Duver cruzou os braços e o encarou com as sobrancelhas levantadas – você sabe bem como é o processo científico, não é? Teremos que repetir incansavelmente nossos experimentos para validar nossas teorias. E, em se tratando do caso de Akame, talvez, os métodos, as técnicas e as ferramentas que temos à disposição não sirvam e tenhamos que criar outros – Duver falava da forma mais suave possível – Todo o processo... Observar, sugerir teorias, medir, analisar, repetir até que nenhuma melhoria mais seja possível... Você sabe... Pode levar anos...

— E não fazemos milagres – Johnson acrescentou, secamente.

Alphonse ficou em silêncio por alguns segundos, olhando para um ponto morto em uma das paredes da sala. Edward observou a expressão do irmão com um pouco de preocupação.

— Então – Alphonse recomeçou, em voz baixa – temos que começar o mais cedo possível, não?

***************************

Enquanto esteve fora de Amestris, Mustang foi substituído nas funções pelo general Hakuro. Apesar de se esforçar ao máximo para não transparecer, Hakuro se ressentia do fato de precisar acatar as ordens de um oficial mais novo do que ele. Mas Mustang sabia muito bem disso.

A situação no Congresso ainda estava uma bagunça e Mustang precisou se atualizar dos últimos acontecimentos. Apesar disso, sua última campanha em Xing rendeu bons resultados porque resolveu, de uma tacada só, o impasse com o governo de Ling Yao e reforçou a segurança na fronteira dos dois países, além de conseguirem o apoio de um novo aliado, o Império. A popularidade de Mustang entre a população amestrina e o exército não poderia estar melhor.

— Não esqueça de me trazer todos os últimos relatórios, capitã Hawkeye – ele dizia, com a fala cansada, enquanto se dirigia para sua sala.

A capitã Hawkeye deu um breve aceno e saiu, apressada.

Mustang suspirou e pensou se conseguiria relaxar um pouco no curto espaço de tempo entre a saída de Riza Hawkeye e seu retorno com toda aquela papelada chata. Suspirou novamente com o pensamento enquanto empurrava a porta de sua sala. Mas, ao ver quem o esperava, desistiu completamente da ideia de alguns minutos de sossego.

O general Grumman estava sentado confortavelmente em uma das cadeiras defronte à mesa do Führer e segurava um copo de bebida em uma das mãos.

— Hail, Führer – Grumman se levantou imediatamente e bateu continência rapidamente, ainda segurando o copo de bebida – Espero que tenha tido um bom retorno.

— General Grumman – Mustang não conseguiu disfarçar a surpresa – O que...?

— Fui afastado do cargo de Führer, mas ainda sou um general do exército – Grumman respondeu.

— Sim, claro – Mustang se recompôs do susto e bateu continência também – Na verdade, iria perguntar se há algum motivo especial pela visita.

— Não diria especial – Grumman indicou a cadeira atrás da mesa para Mustang.

Mustang ergueu uma sobrancelha antes de sentar. Não entendia porque Grumman estava o tratando como visita em sua própria sala.

— Eu vi o laudo médico do coronel Panzer – Grumman continuou – Morte acidental durante o exercício da função. Estava escrito no laudo que a causa mortis foi infarto causado por intoxicação química. Curioso, não?

— Ainda não tive tempo de ver o laudo – Mustang encolheu os ombros.

— Eu fui ao funeral – Grumman tomou um gole de sua bebida – Caixão fechado. Nem a família foi autorizada a vê-lo.

— Foi realmente um incidente lamentável...

— Não vamos prosseguir nesse joguinho, Mustang – Grumman pôs o copo sobre a mesa – Nem o próprio Panzer sabia que estava guardando uma pedra filosofal em sua sala. Como você descobriu? Foi por isso que mandou aquela garota pegar a pedra, não foi?

— Não sei do que está falando – Mustang deu de ombros novamente – Mas, pelo que eu saiba, as últimas pedras filosofais produzidas pelo antigo governo do Führer King Bradley eram para estarem guardadas em um lugar isolado sob vigilância constante, não?

Grumman exibiu um pequeno sorriso antes de prosseguir.

— Soube que a garota foi condecorada – Grumman pegou novamente o copo – A Ordem do Profeta do Leste.

— Mais do que merecido – Mustang respondeu, sem interesse.

— Aliás, soube que foi muito generoso – Grumman bebeu toda a sua bebida e encarou o fundo do copo – Não prendeu a garota e nem aquele marinheiro fajuto. Na verdade, nem perseguiu os outros portadores de Teigu, apesar deles serem uma potencial ameaça...

— Não sou tão bonzinho assim – Mustang o interrompeu – O cadastro serve também para controlá-los. Estou monitorando os passos de cada um deles. Se algum deles espirrar sem colocar a mão na boca, o Exército Amestrino aparece com um lenço e um par de algemas.

— Você sabe que essas armas poderiam aumentar grandemente o poder do nosso exército, não é? – Grumman sorri, enigmático – Você não pretendia trazer a paz para todos? Como pretende garantir que todos os outros países se comportem se não mostrar que tem poder suficiente para puni-los caso descumpram as regras?

— Não acho que as coisas devem funcionar assim – Mustang virou-se desconfortável na cadeira.

— Não seja tão ingênuo, Mustang – Grumman balançou a cabeça – Isso é algo que você decididamente não é.

— Só não quero me apoderar de uma tecnologia que não é nossa – Mustang se encostou mais na cadeira.

— Principalmente, porque parece que você descobriu algo bem melhor do que pedras filosofais e armas imperiais – Grumman falou, displicentemente.

— Do que está falando?         

— Tenho um amigo aposentado do exército – Grumman se ajeitou na cadeira – O coronel Johnson costuma ainda fazer alguns trabalhos para o exército. Na verdade, ele é mais cientista do que militar e tem umas ideias extremas sobre pureza genética...

— Não conheço este senhor – Mustang não tinha nenhum interesse em continuar a conversa – Não tenho contato com os pesquisadores dos laboratórios do exército.

— Ele falou que conversou com os irmãos Elric ontem – Grumman prosseguiu, sem ligar para a interrupção – Parecia muito empolgado com a possibilidade de estudar o sangue da nossa subtenente estrangeira... Quer dizer, segunda-tenente, não?

— Como disse – Mustang suspirou – não tenho contato com os pesquisadores e não sei como estão as pesquisas.

— Entendo. Muito trabalho para o Führer – sorriu, simpático – Mas, posso fazer uma última pergunta? – e ele nem esperou por uma resposta – Por que não acusar a garota de assassinato?

— Porque seria complicado para o exército explicar o motivo, não é? – Mustang juntou as mãos sobre a mesa – Afinal, não havia nada naquela sala.

Grumman deixou escapar uma risadinha pelo nariz.

— Você está aprendendo bem, Mustang – apontou para ele – Está quase ficando igual a mim.

— Com todo o respeito, senhor – Mustang continuou, sério – Mas nada poderia passar mais longe do que eu do senhor.

— Oh,você pensa que eu sempre fui um velho? – Grumma sorri, simpático – Também já fui um jovem idealista que queria trazer a paz mundial – ele coloca o copo vazio sobre a mesa e se levanta, ajeitando o uniforme – Mas, sabe, acontecem muitas coisas depois de anos lutando contra o mundo. Mas não se esqueça de uma coisa – Grumman bate continência e fala com Mustang antes de caminhar para a porta – O mundo sempre vence. E, a propósito – ele dá meia-volta antes de chegar à porta – Podemos continuar com nossas partidas de xadrez.

— Eu ainda não arranjei um parceiro melhor – Mustang acenou com a cabeça. Grumman exibe um meio sorriso e lhe dá as costas.

Porém, antes de tocar na maçaneta da porta, Grumman é surpreendido quando a mesma é escancarada e uma pessoa carregando vários papéis aparece do outro lado.

— Capitã Hawkeye? – ele fala, claramente surpreso – Você está... – pigarreia – Como está?

— General Grumman – Riza segura os papéis com uma mão e bate continência com a outra mão, extremamente formal.

Grumman olha, desamparado, para Mustang antes de reagir.

— Des... descansar, soldado – gagueja, sem jeito, e sai pela porta sem olhar novamente para Riza.

Riza não parecia nem um pouco abalada e depositou os papéis sobre a mesa de Mustang com a mesma complacência de sempre.

— Capitã – Mustang chama depois de um tempo – Trabalhamos juntos há muito tempo, não?

— Certamente, senhor – Riza responde, séria.

— Ninguém me conhece tão bem quanto você – Mustang olhava para o nada, pensativo – Sabe que eu jamais gostaria de me tornar algo que não sou.

Riza continua em silêncio enquanto Mustang suspirava longamente.

— Não se esqueça da promessa que me fez – Mustang deu um longo suspiro – Nunca deixe que... nunca deixe que eu perca a cabeça.

— Eu estarei sempre aqui para isso – Riza o tranquilizou, com um discreto sorriso – Sempre estarei aqui pelo senhor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Notas do capítulo:
1. Ex nihilo nihil fit - "Nada vem do nada" É uma frase atribuída ao filósofo Parmênides.
2. "Übermensch" (dependendo da tradução Além-Homem ou Super Homem) é um conceito criado por Nietzsche em seu livro "Assim Falou Zaratustra" (Also sprach Zarathustra) explicando os passos ao qual o homem deve seguir para se tornar um "Além-Homem". Suas ideias foram distorcidas pelos nazistas e usadas para justificar políticas de eugenia e a teoria da supremacia ariana.
3. Grumman diz "Hail, Führer". A saudação nazista era "Heil, Hitler" (com E mesmo), derivada da saudação romana "Hail, Caesar".
4. A reação de Grumman ao encontrar Riza é porque, na verdade, Riza é neta de Grumman, mas eles nunca se encontram nem no anime e nem no mangá (se não me falha a memória).

Acho que eu deixei as coisas bem óbvias de como será o futuro deles, não? Vamos juntar tudo até agora: aviões; o pacto entre o Império, Amestris e Xing; o exército amestrino (mais uma vez) em uma pesquisa obscura; os irmãos Elric realizando (outra vez) uma pesquisa impossível; um pesquisador com ideias de pureza genética...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Assassina e o Alquimista" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.