A Assassina e o Alquimista escrita por Lilás


Capítulo 18
Rei posto


Notas iniciais do capítulo

Olá outra vez. E mais uma sexta-feira. Eita, acabei me empolgando e escrevi muito. Talvez, eu deva diminuir os próximos capítulos. Também acho que exagerei um pouco na violência nesse capítulo. Bom, já escrevi e estou sem tempo para mudar. Fiquei com vontade de editar alguns capítulos que eu já postei, mas fica para uma próxima. Vamos ao capítulo de hoje.



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O dia começou cedo na câmara baixa do Parlamento Amestrino. Era um momento histórico na política do país. Dos 650 membros da Casa dos Civis, dois acabaram faltando por motivos pessoais e outros três não compareceram e nem se justificaram, apesar da obrigatoriedade da presença de todos. Na pauta da reunião extraordinária, a decisão da permanência no cargo do Führer Grumman. Queixas relacionadas a gastos elevados, má administração, alta geral de preços por decisões econômicas equivocadas e – a gota d’água – a ameaça de uma nova guerra pesavam contra o governo. O novo Führer certamente deveria garantir a tão sonhada paz, e não mergulhar o país em um novo caos. E a Casa dos Civis já tinha seu candidato favorito para substituir Grumman: o condecorado general Roy Mustang.

Mustang sabia que essa votação não seria fácil. E também não seria uma decisão definitiva. Se a câmara baixa realmente aprovasse o afastamento de Grumman, ele assumiria o governo provisoriamente enquanto a Casa dos Oficiais avaliava sua decisão final. Mas essa decisão final poderia demorar meses.

Além disso, precisava que mais de 2/3 da Casa dos Civis estivesse de acordo. Com os 645 membros restantes, mais de 430 deveriam votar contra Grumman. Para convencê-los, a pressão popular era fundamental. Afinal, uma verdadeira guerra não se faz apenas nos campos de batalha. Durante essas últimas semanas, o grupo de Mustang trabalhou nisso. Os subordinados do major Armstrong e de Mustang trataram de procurar seus contatos nas rádios e na imprensa. Para mobilizar a população, eles contavam com a ajuda dos meios de comunicação de massa. O governo de Grumman tinha o apoio do Jornal da Central, o jornal mais vendido da capital. Mas, a concorrência não deixava a desejar. A Gazeta de Amestris era claramente favorável a uma mudança no governo e experimentou uma verdadeira explosão de vendas nas suas últimas tiragens quando começaram a acompanhar a recente crise na política. O que se seguiu foi uma verdadeira batalha pela popularidade com os dois grandes jornais. Com tantas trocas de acusações era normal a população ficar um pouco confusa sobre qual lado apoiar. Mas, em uma coisa todos concordavam, todos estavam cheios de guerras. Se Mustang tinha uma solução para evitar um conflito, essa eleição já estava ganha.

Inacreditavelmente, os parlamentares chegaram cedo naquele dia. A votação estava marcada para depois do almoço, porém todos os votantes já estavam presentes na Central de Comando antes da manhã terminar. O bate-boca também começou cedo. Um grupo favorável a Grumman começou a discutir com a principal ala pró-afastamento e a polícia precisou acalmar os ânimos. Lá fora, uma boa parte da população da Cidade Central aguardava, não menos agitada.

Depois de um almoço tumultuado, o chefe da Câmara abriu a sessão e todos precisavam dizer seus votos em voz alta, após serem chamados um a um, enquanto um rapaz marcava os votos em um placar improvisado no centro da grande sala de reuniões. Não precisa nem dizer que foi uma confusão de gritos e insultos do início ao fim.

— Vai ser um longo dia – Mustang suspirou, com os olhos pregados no placar.

*************************

O Quartel-General Central era uma grande construção militar com vários pátios internos, campos de treino e gabinetes dos oficiais de alta patente designados para atuar na capital do país. Nesse momento, o Quartel-General encontrava-se quase vazio porque aquele era um dia atípico. Um dos pátios internos, em um dos pontos mais afastados e isolados do quartel, encontrava-se quase abandonado quando uma figura apressada surgiu de detrás de um dos prédios a circundar o local. O coronel Bashir Panzer apoiou as mãos nos joelhos e respirou fundo para recuperar o fôlego. Estava fora de forma e aquela corrida o deixara muito cansado. Felizmente, conseguira despistar Akame e agora precisava arranjar um jeito de se proteger até chegar alguma ajuda.

— Algum problema, senhor?

Panzer suspendeu os olhos e deu de cara com três guardas olhando meio receosos para ele. Aqueles soldados deviam ter vindo para aquele ponto mais afastado para fumar e conversar durante o intervalo. Logo atrás deles, uma majestosa fonte erguia-se no centro do pátio. Uma torrente generosa de água escorria pelos dedos das inocentes estátuas de querubins.

— Rápido, soldados – Panzer arfou, tentando recuperar o ar – Ajudem-me a construir uma proteção ao redor do pátio.

— Por que, senhor? – o soldado mais próximo atirou o toco de cigarro pendurado em sua boca no chão e o esmagou com a bota.

— Não interessa. Obedeça as ordens – ele pegou o resto de lápis no bolso e abaixou para rabiscar um círculo de transmutação no piso desgastado.

— Já acabou? – uma voz ecoou pelo pátio.

Panzer correu os olhos ao redor, alarmado com aquelas simples palavras, e avistou Akame pendurada na sacada de um dos prédios, com os braços cruzados e os olhos fixos nele. Os soldados também olharam para os lados, assustados e confusos, e detiveram os olhos na garota.

— Como você... ? – Panzer começou a gaguejar.

— Estava apenas te testando – Akame deu um impulso e aterrissou agachada no chão, há poucos metros de distância do coronel e dos soldados – Temos um assunto a resolver... – e andou na direção do oficial enquanto sacava lentamente a Murasame.

— Ela é uma invasora – Panzer apontou para Akame, gritando com os soldados – Não a deixem chegar perto.

— Eu aconselho a não se meterem nisso – Akame continuou caminhando, tranquilamente.

Um dos soldados sacou a espada e avançou contra Akame, mas a garota foi mais rápida e, no instante seguinte, o braço do soldado com a espada saiu rodopiando no ar. Antes de o soldado conseguir dar um grito de dor, Akame girou o corpo, chutando o guarda no rosto e ele voou para longe dela. O segundo atacou com duas espadas e Akame precisou se abaixar para desviar dos golpes. Porém, ela se levantou já fazendo um corte profundo nas costas de seu oponente. O homem caiu de bruçus no chão, agonizando com o veneno. E o terceiro, nem chegou a destravar o rifle que carregava porque, quando ele tentou fazer isso, Akame cortou uma de suas pernas fora com apenas um movimento rasteiro.

— Eu falei para não se meterem – ela sacudiu a espada para limpar o sangue e girou lentamente a cabeça na direção do coronel.

Panzer parecia estar pregado no chão. Assistiu toda a ação sem sair do lugar e, aliás, nem mesmo respirar. Mas, quando ele viu Akame andando na sua direção novamente, ele voltou à realidade. O coronel riscou alguma coisa rapidamente no círculo de transmutação e, no minuto seguinte, um jato de água partindo da fonte voou por cima do militar e seguiu na direção de Akame. Ela reagiu rápido e, usando a Murasame, desviou o curso da água que serpenteou e colidiu violentamente contra a parede de um prédio, arrancando as calhas da calefação.

— Água aquecida até uma determinada temperatura pode cortar qualquer coisa – Panzer disse – Não se lembra que eu sou conhecido como o Alquimista dos Mares?

— Essa espada foi forjada para cortar oceanos – Akame estendeu a Murasame na frente do rosto – Adivinha o que ela faz com um simples mar.

— Que tatuagens são essas, Akame? – Panzer acabara de perceber algo estranho na garota. Na verdade, ele estava tentando disfarçar seu nervosismo – E por que seus olhos estão diferentes?

— Você deveria se sentir honrado – Akame posicionou a Murasame para o ataque – Não mostro essa forma para qualquer um.

Akame correu na direção do coronel, a Murasame pronta para um golpe fatal. Contudo, com a lâmina da arma a menos de um palmo de atingir o pescoço do militar, uma barreira de gelo deteve o avanço da espada. A garota não se intimidou e, de novo, atacou fortemente no mesmo ponto, fazendo a barreira trincar. Com um movimento veloz, Panzer atirou mais um feixe de água escaldante, mirando os pés da garota. Akame precisou dar uma cambalhota para trás para fugir do ataque mas, antes que pudesse tocar novamente o chão, o coronel começou a disparar pedaços de gelo pontiagudos na direção dela. Akame girou no ar e aterrissou no piso, desviando os projeteis com a Murasame.

No entanto, devido ao cansaço ou mesmo desatenção, uma das lascas de gelo acabou atingindo Akame na altura do ombro e um pequeno filete de sangue escorreu do seu braço livre. Apesar de aparentar ser um corte insignificante, Akame caiu de joelhos, segurando o ferimento e fazendo um esforço para respirar.

— Parece que essa forma consome muita energia, não é? – Panzer exibiu um sorrisinho maníaco.

Akame não respondeu. Respirou fundo uma vez e levantou com determinação. O sorriso diminuiu um pouco no rosto do coronel, mas não sumiu totalmente.

O coronel transmutou uma espada toda de gelo e ele e Akame trocaram golpes incrivelmente rápidos. Lascas de gelo caíam ao redor dos dois em cada pancada. O coronel Panzer era ágil e muito habilidoso com a espada, mas ainda não era bom o bastante para Akame. Depois de vários golpes acrobáticos e precisos, Akame conseguiu desarmá-lo. Akame desferiu um golpe fatal contra o coronel, mas algo impediu que a Murasame o atingisse. Panzer havia puxado o corpo do primeiro soldado morto por Akame e o usou como escudo. Ela tentou puxar a espada de volta, porém estava presa. Infelizmente, Panzer percebeu isso e usou a cabeça do soldado morto para acertar o rosto de Akame. Ao tentar acertá-la pela segunda vez, Akame desviou e empurrou o corpo do soldado para o lado. O problema é que a Murasame acabou indo junto com o cadáver. Panzer aproveitou-se disso e desferiu um soco contra Akame e ela defendeu-se com um braço. Os dois trocaram golpes com as mãos e a luta pareceu equilibrada nos primeiros segundos porque ambos se mexiam de forma acelerada. Em um movimento rápido, Akame apoiou um pé na coxa do coronel e enroscou a outra perna em seu pescoço, derrubando-o no chão. Panzer se debateu inutilmente após Akame o imobilizar em uma chave de braço e, sem ver saída para a situação, ele resolveu jogar sujo, mordendo a perna da garota. Akame nem demonstrou sentir dor e puxou o braço do coronel, que fez um horrível barulho de osso sendo deslocado. O grito de dor do coronel ecoou pelo pátio.

Akame se levantou tranquilamente e deixou o coronel caído de barriga para cima no chão, respirando com dificuldade e gemendo de dor. Ela foi até onde estava a Murasame e a retirou do corpo do soldado. Examinou a lâmina por um tempo e esperou o coronel se recuperar. Um pouco de sangue escorria da testa de Akame e ela afastou-o de um de seus olhos usando a mão livre. Com muita dificuldade, o coronel levantou o corpo e encarou sua algoz.

— Você realmente – o coronel estava tendo problemas para respirar – faz jus à sua fama.

— Pegue sua arma – Akame falou, simplesmente.

O coronel não tinha condições de fazer uma transmutação com aquele ombro deslocado. Ele nem conseguia mexer o braço. Pior ainda, segurar uma espada. No entanto, ele não tinha outra escolha. Fazendo um esforço hercúleo, ele pegou a espada de um dos soldados mortos e jogou toda a sua força no ataque. Akame rebateu os golpes sem precisar se esforçar muito. Panzer nem teve tempo de uma reação quando sentiu uma pancada forte em seu rosto, quebrando seu nariz. Ao invés de perfurá-lo com a lâmina envenenada da Murasame, Akame o golpeou com o punho da espada. Sem dar espaço para o coronel se defender, Akame ainda o acertou mais outras três vezes no rosto antes dele cair para trás, em cima da fonte de água, rachando a lateral da construção e quebrando um dos querubins, fazendo a água se espalhar em todas as direções.

Panzer tossiu e cuspiu sangue. O uniforme azul do coronel estava encharcado com água e sangue misturados. Akame aproximou-se calmamente do moribundo.

— Ainda estou vivo? – Panzer riu, sem humor, tentando limpar o sangue da boca – Pensei que você fosse mais eficiente.

— Você não merece ser morto pela Murasame – Akame falou, sem nenhuma expressão. E, logo a seguir, posicionou o braço da mesma forma que ela sempre fez, segundos antes de matar alguém – Eliminar – disse, em um tom robótico.

— Ei, ei – Panzer disse, rapidamente, erguendo a mão em um gesto inútil de defesa – e essa história de que eu não mereço ser morto pela...?

Mas, Akame não estava mais escutando coisa alguma. Nada a impediria de descer a espada de encontro ao pescoço do coronel.

— AKAME!!

Akame parou a espada no ar e olhou em volta. Um grupo de pessoas chegou correndo ao pátio. Quem gritou seu nome, certamente, era o rapaz que vinha correndo na frente, mas não podia ser. Alphonse Elric estava bem ali, vivo e saudável. Ao lado dele, Wave corria de um jeito meio desengonçado, provavelmente estava machucado. Edward Elric, Lan Fan e May vinham logo atrás, sendo seguidos por alguns dos soldados do norte e da central.

Panzer aproveitou a distração da adversária e, com o braço ainda bom, arriscou uma última tentativa. Ergueu a espada e direcionou-se de uma forma agressiva contra Akame. Quando percebeu o movimento do inimigo em sua visão periférica, Akame apenas reagiu automaticamente e brandiu a Murasame na direção do seu oponente caído e derrotado. O coronel contorceu-se grotescamente enquanto tumefações escuras cobriam sua pele, partindo de um extenso e profundo ferimento em seu peito. A fonte transbordou e uma água escarlate espirrou no piso aos pés de Akame.

— Akame...

Akame voltou os olhos para o grupo que havia acabado de chegar e notou as caras de espanto que iam dela para o cadáver do coronel mergulhado na fonte quebrada e os corpos dos soldados espalhados ao redor. Ela embainhou a espada, limpou novamente o sangue da testa e deu dois passos vacilantes na direção dos recém-chegados, antes de quase cair inconsciente no chão. Ela só não caiu porque Wave e Alphonse a ampararam na queda.

— O que aconteceu com ela? – Alphonse perguntou, olhando para Edward, enquanto ele e os outros tentavam fazer Akame acordar.

***************************

Mustang já estava cansado de tudo isso. A votação na Casa dos Oficiais levou a tarde inteira e quando enfim acabou, depois de muita discussão, vaias e gritaria, a Lua já aparecia no céu estrelado. O resultado foi apertado. Quatrocentos e trinta e seis votos a favor do afastamento do Führer. Duzentos e nove contra. O representante da câmara baixa fez um rápido discurso ao final da votação, embaixo de vaias e assobios, enaltecendo a seriedade e o compromisso dos participantes durante a votação.

Ao final de tudo, Mustang foi chamado para fazer seu discurso. Assumiria o cargo oficialmente em alguns dias, mas já poderia falar como o novo Führer.

— Eu agradeço a confiança em mim – Mustang pigarreou no alto do púlpito – Trabalharei incansavelmente pelos interesses do país, especialmente para garantir a paz.

Em seguida, ele se reuniu com seus subordinados e os demais oficiais do exército em uma sala da Central de Comando para discutirem as últimas ações do – como Mustang apelidou – “incidente diplomático” com o reino de Xing.

A general Armstrong mandava mensagens atualizadas da situação via código Morse e as últimas notícias não eram nada boas. O bando bem organizado dos rebeldes ameaçava as proximidades da Cidade do Rei, que estava sob proteção da divisão da general Armstrong. Mesmo com a desvantagem numérica, os soldados da general conseguiram manter os rebeldes a distância. Mas, se fosse ordenada a retirada das tropas amestrinas, os rebeldes atacariam a capital de Xing com certeza. E, se eles tomassem a cidade, bom... Não era uma situação boa para nenhum dos dois governos.

Mustang ouvia atentamente as sugestões dos outros generais. Cada um dizia uma coisa diferente e era certo que aquele debate não levaria a lugar nenhum. Por isso, Mustang agradeceu mentalmente quando Breda apareceu segurando um telefone e interrompeu a exposição acalorada de um dos generais.

— Desculpe atrapalhar, general. É uma ligação urgente do Quartel-General Central – entregou o telefone na mão de Mustang – E o senhor não vai gostar.

***************************

Akame sentiu seu corpo muito leve e resolveu abrir os olhos. Estava em um quarto estranho, muito branco, com um aroma suave de floresta. Alguém estava sentado ao pé de sua cama a observando durante seu sono.

— Onee-chan... – a garotinha sussurrou baixo.

Akame estendeu a mão para tocá-la, mas ela se dissolveu como fumaça, indo reaparecer na porta do quarto. Com um sorriso maroto, Kurome sumiu atrás da porta e Akame levantou para segui-la. Chegou a um corredor escuro, apenas uma luz fraca no final dele e Kurome estava parada lá, lhe esperando.

— Há quanto tempo, onee-chan – Kurome sorriu, fracamente – Agora, vamos ficar juntas para sempre – e entrou em uma porta.

Sem sentir medo, Akame segue a irmã caçula e atravessa a porta. O cenário muda totalmente e ela sente como se estivesse andando entre nuvens com tons levemente puxados para o rosado, procurando por rastros de Kurome naquele mundo etéreo. A cada passo se sentia mais perdida e mais sufocada por aquelas nuvens. Ao afastá-las para o lado com uma mão, viu as marcas das tatuagens da Murasame em volta dos seus braços. Àquela altura, as marcas já deveriam ter sumido. Enquanto pensava nisso, percebeu o desenho da tatuagem escorrer pelo seu braço. Não eram tatuagens. Era sangue. Seu próprio sangue. Cada pedaço do seu corpo sangrava e ela assistia, horrorizada, o sangue escorrer e formar uma gigantesca poça no chão. A poça crescia rapidamente e logo ela estava se afogando no próprio sangue, se debatendo inutilmente.

— Nós vamos ficar juntas para sempre, onee-chan – ela ouviu a voz de Kurome acima de sua cabeça – Eu prometo.

Akame levantou de vez da cama e assustou as pessoas reunidas ao redor dela. Edward, Alphonse, May, Wave e Lan Fan olhavam espantados para ela. Estavam em uma das enfermarias do Quartel-General Central. Por recomendação de Edward, eles foram trazidos para a enfermaria mais afastada do quartel e os poucos feridos que estavam lá foram transferidos para outros lugares. Tudo para tentar manter a discrição sobre o ocorrido.

Wave estava sentado em uma cama ao lado da de Akame, com o braço envolvido em bandagens e alguns curativos espalhados pelo corpo. Edward estava em pé ao lado de Lan Fan e May. Com um curativo cobrindo a sobrancelha esquerda e o pulso direito enfaixado, Alphonse estava sentado na beirada da cama de Akame.

— Eu disse que ela parece uma morta-viva – Edward falou, ainda um pouco assustado.

— Sente-se bem? – Alphonse perguntou, depois de se recuperar do susto.

Akame olhou para Alphonse como se não tivesse entendido a pergunta.

— Ao menos, a febre abaixou – Alphonse pôs uma mão na testa de Akame – Você estava quase tendo uma convulsão.

— Vaso ruim não quebra – May cruzou os braços e entortou a boca em uma careta de desdém.

— Nisso eu tenho que concordar com você – Edward disfarçou mal um risinho e Alphonse lhe lançou um olhar de censura.

Akame suspendeu a mão e pegou na mão de Alphonse em sua testa para se certificar de que não estava mais sonhando. Ao fazer esse movimento, ela percebeu as tatuagens bem mais fracas em seu braço, quase sumindo.

— Está tudo bem agora – Alphonse sorriu para ela – Você só precisa descansar.

Se Akame pretendia responder Alphonse, não dá para saber porque a enfermaria foi invadida por Mustang e seus subordinados.

— Aí estão vocês – Mustang aproximou-se rapidamente deles, seguido por Riza, Breda, Havoc, Fuery e Falman – Que diabos vocês pensam que estão fazendo?! Vocês querem me derrubar?!! Será que eu não posso deixar vocês sozinhos por um minuto que tudo vem abaixo?!!

— Ó lá como você fala!! – Edward não se intimidou – Que droga você está falando?

— Como você tem coragem de falar assim com o novo Führer?! – Mustang esbravejou.

— Ora, seu... – Edward começou – Espera aí – ele fez uma careta de confusão – Novo Führer?

— Provisório – Breda explicou – A votação acabou agora a pouco.

— Então, finalmente, você conseguiu – Edward o encarou.

— Claro que eu conseguiria. Você duvidava? – Mustang ajeitou o uniforme em uma pose arrogante – Mas, não desvia da conversa, não. O que diabos vocês estavam aprontando?

— Fomos informados da invasão do Quartel-General Central – Riza responde, resumidamente.

— Eu acabei de ser escolhido como o novo Führer. Como se não bastasse uma ameaça de guerra, uma crise política, uma multidão enfurecida lá fora e uma inflação batendo no teto – Mustang gesticulava – vocês acharam que meus problemas estavam poucos e deixam o Quartel-General Central de cabeça para baixo!! Como eu vou explicar toda aquela destruição e aqueles corpos?

— Com licença – a enfermeira-chefe cutucou o braço de Mustang – Aqui é uma enfermaria. Se vocês não fizerem silêncio, terão que se retirar.

— Tudo bem, capitã McGory – Mustang ajeitou o colarinho do uniforme – Eu fui nomeado o novo Führer e eles estão comigo.

— Não interessa quem você seja, coronel Mustang – McGory lançou-lhe um olhar severo – Se fizerem barulho dentro da minha enfermaria, terão que sair – e se afastou.

— Eu sempre tive medo dela – uma gota de suor escorria pela testa de Havoc.

— Vamos conversar baixo, então – Mustang falou – Como eu dizia, fui informado que o Quartel-General Central foi invadido por um rapaz usando uma armadura e uma garota de olhos vermelhos com uma espada. O maluco da armadura é você, não é? – e apontou para Wave.

— Eu? Maluco? – Wave levantou uma sobrancelha, ofendido.

— Ele é o portador de uma das Teigus que foi preso em Xing – Breda confirmou.

— Rapaz, você desconhece o significado da palavra discrição? – Mustang continuou – Era para a existência de vocês ser um segredo do exército!!

— Muitas pessoas viram os dois em ação – Falman passou a mão nos cabelos – Como vamos impedir que descubram quem eles são?

— Só há um jeito – Mustang balançou a cabeça, pensativo – Eles terão que ficar sob custódia do Estado. E temos que enviar os dois para um lugar isolado enquanto as coisas não se ajeitam durante o governo provisório.

— Enviar os dois para um lugar isolado? – Alphonse perguntou – E onde seria?

— O mais longe possível – Mustang abana as mãos, sem dar muita importância – Veja, temos assuntos mais urgentes a tratar. Precisamos resolver o problema da guerra civil em Xing. Depois cuidamos do caso deles.

— Guerra civil em Xing?! – Lan Fan se alarmou – Quer dizer que...

— As tropas da general Armstrong não podem sair do país porque os rebeldes estão ameaçando atacar a capital de Xing – Riza explicou – Estávamos tentando evitar ao máximo um confronto direto para poupar os civis de ambos os países, mas não tem outro jeito. Soubemos que os rebeldes estão matando e sequestrando qualquer pessoa e ameaçando a segurança na fronteira entre os dois países. Já tomaram uma boa parte do território de Xing e estão muito perto da Cidade do Rei. E o rei Ling Yao ainda não conseguiu apoio suficiente para reunir um exército.

— E precisamos reunir o máximo de soldados possíveis para enviar reforços para a tropa da general – Fuery completou.

— Inevitavelmente, vamos ter de convocar alguns civis que estão na reserva – Falman abaixou a cabeça, com pesar.

— Isso me fez pensar em uma coisa – Havoc coçou o queixo – Por que não envia esses dois para reforçar o batalhão da general Armstrong, general Mustang?

— Havoc, francamente – Mustang franziu o cenho – De todas as ideias ruins que você já teve na vida, nessa você se superou!

— Mas, é verdade. Pensem bem – Havoc insistiu – Nós não estamos procurando um lugar para escondê-los? Eles ficarão longe de tudo daqui e, quando essa guerra acabar, a notícia vai ter se esfriado. E eles são muito fortes. Poderiam ser nossas armas secretas lá.

— Chega, Havoc – Mustang o cortou.

— Sinceramente, Havoc – Breda balançava a cabeça – Você não sabe ficar com a boca calada?

— Tinha que ser o Havoc mesmo – Fuery diz.

— Acabo de ter uma ideia – Mustang levantou um dedo – Que tal enviar eles dois para o batalhão da general Armstrong?

— EI!! ESSA IDEIA É MINHA!!!

— Senhores... – a capitã McGory lançou um olhar gelado para o grupo.

— Silêncio, Havoc – Riza o repreendeu – Vamos acabar sendo expulsos por sua causa!

— Vocês esqueceram de perguntar – Wave acenou da cama enquanto Havoc choramingava em um canto – se eu e Akame topamos fazer parte dessa maluquice.

— Com os estragos que vocês fizeram no Quartel-General Central e na Prisão Central – Mustang cerrou os dentes para não gritar e uma veia saltou de sua testa – eu poderia muito bem trancafiar os dois e jogar a chave fora. Ela ainda fez pior. Ela matou um coronel! Um Alquimista Federal! Imagine a repercussão disso!

— Está insinuando que ou ajudamos ou vamos para a prisão? – Wave perguntou.

— Eu topo – Akame falou, simplesmente, e todos olharam espantados para ela.

— Akame? – Alphonse a chamou, receoso – Tem certeza?

— Eu ainda posso lutar – Akame respondeu, dando de ombros – Eu vou.

— É assim que se fala – Mustang abriu um largo sorriso – A garota é mais corajosa que você – e apontou para Wave.

— Eu não disse que não iria – Wave fez um bico, contrariado.

— Coronel, eu me sinto responsável por Akame porque fui eu quem a trouxe para cá – Alphonse começou – Não posso deixar Akame ir sozinha para uma guerra.

— Entendo, Alphonse – Mustang coçou o queixo, pensativo – Então, você também está se alistando no exército?

— Eu não disse isso – Alphonse levantou as sobrancelhas.

— O general Mustang está certo. Eu ouvi muito bem você dizer que não a deixaria ir sozinha – Fuery sorriu, maroto – Logo, você pensou em ir com ela.

— Você fala isso porque é puxa-saco do general – Edward alfinetou.

— NÃO SOU PUXA-SACO NADA!!

— Shhhhhhiiiiiiiuuuuuu!! – a capitã McGory fez um sinal da sua mesa.

— Mas, é sério, Alphonse – Mustang cochichou – Vamos precisar de pessoas com conhecimento médico em Alquimia. Você ficará no hospital de campanha – e encolheu os ombros – E vai poder ajudar Akame também, se quiser.

Alphonse parou por alguns segundos, ponderando a sugestão.

— Alphonse – Edward arrastou cada sílaba do nome do irmão – Não se atreva...

— Eu vou também, então – Alphonse ignorou Edward.

— Alphonse – Edward o repreendeu – Ela não é nenhuma criança!

— E eu também não – ele cruzou os braços com a cara emburrada – Ou você esqueceu?

— Então, eu também vou – Edward amarrou a cara – só para ter a oportunidade de jogar isso na sua cara quando eu te salvar lá.

— Quero ir também – May se adiantou.

— Eu também vou com a jovem mestra – Lan Fan confirmou com a cabeça – Afinal, é o nosso país. Meu jovem mestre deve estar precisando de minha ajuda.

— E todos nós iremos também. Eu não quero que vocês saiam mais das minhas vistas – Mustang falou, apontando para os dois forasteiros – E também, se conseguirmos vencer, será uma grande propaganda a meu favor. Eu, como o atual Führer – o general fez uma pose exagerada – Devo me sacrificar pelo bem do país e dos cidadãos amestrinos. Agora – ele lançou um olhar desconfiado para Edward – eu não sei se temos uniformes para o seu tamanho, ó Do Aço.

— Você, por acaso – Edward fazia um esforço para se controlar, mas veias saltavam da sua testa – não está insinuando que eu sou baixinho, não é?

— Eu não preciso insinuar isso – Mustang deu um sorriso arrogante – Isso já está evidente.

Edward tentou estrangular Mustang e os outros precisaram separar os dois. Isso resultou na expulsão do grupo inteiro de visitantes da enfermaria. Tanto Mustang quanto Edward esperneavam e diziam desaforos um para o outro enquanto eram arrastados porta afora por Breda, Havoc e Falman.


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Notas finais do capítulo

E, finalmente, a generala Olivier Armstrong vai aparecer no próximo capítulo. Adoro ela. Quando eu a vi pela primeira vez, fiquei até com vontade de me alistar no exército.
Até a próxima atualização.



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