Dois Solteirões e Uma Pequena Dama escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 5
Capítulo 05 – A Fada do Papai


Notas iniciais do capítulo

Perdão pela demora. Eu estive doente esses dias. Mesmo o capítulo já estando pronto, não consegui postar antes.

Vou deixar aqui meu agradecimento a Pudim e a RebecaHarumi por terem recomendado a fic. Meninas foi uma alegria enorme, eu realmente não esperava. Obrigada, de coração.

Espero que gostem do capítulo :)



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De volta ao apartamento, Emmett chamou pelo nome do irmão. Jogou as chaves no aparador ao lado da porta e se encaminhou às escadas, subindo de dois em dois degraus, levando na mão a pequena sacola da farmácia.

Edward apareceu na porta do quarto no momento em que ele alcançava o corredor. Emmett caminhou até ele. E entrou no próprio quarto, com o irmão chegando um pouco para o lado lhe cedendo passagem.

Pétala chorava baixinho, encolhida na cama do pai, enrolada em grossas cobertas de inverno.

— Como ela está? – Emmett se aproximou, ainda enquanto perguntava.

— Não muito bem. Sério. Ela já fez cocô duas vezes depois que você saiu. Eu não sei mais o que fazer. Ela chora o tempo todo. Conseguiu algum remédio que ela possa está tomando?

Emmett reconheceu no irmão sua verdadeira preocupação. Foi bom saber que não estava totalmente sozinho na árdua tarefa de criar e educar uma criança. Sentiu que sempre poderia contar com ele.

— Consegui – Ele ergueu a mão, mostrando a sacola da farmácia. – Uma moça que estava lá me recomendou esse medicamento. – Com cuidado ele afastou os cobertores e pôs Pétala no colo. Ela tremeu com o ar frio em suas pernas.

— Eu não pus de volta nela à calça do pijama na última vez que a levei ao banheiro. Fiquei com medo de não dar tempo de tirar tanta roupa e ela acabar fazendo nas calças– o irmão se explicou. – Mas a mantive embaixo das cobertas.

— Tudo bem – Emmett respondeu. E afagou as perninhas da filha, voltando a cobri-la com cobertas. Pétala olhou pra ele com o olhar tristonho. Pelo menos tinha parado de chorar. – O papai trouxe um remédio que vai fazer o seu dodói passar. – Ele ergueu as vistas se dirigindo ao irmão. – Preciso que você traga um pouco de água morna para que possamos fazer compressas na barriguinha dela. E também um pouco de soro caseiro. Rose disse que isso pode ajudar.

— Rose é? Sei... Rose.

— Vai logo!

— Já estou indo. Hummm... Rose disse que isso vai ajudar – repetiu com certo deboche. Já estava do lado de fora do quarto quando voltou a perguntar. – Como é preparado o soro caseiro mesmo?

— Eu não sei. Dê um jeito de descobrir. Pesquise na internet.

Emmett ouviu os passos do irmão se afastando pelo corredor até o primeiro lance de escada. Pegou então a sacolinha da farmácia novamente e retirou de lá o medicamento. Lendo a bula com bastante atenção antes de administrá-lo.

— Não quero tomar remédio – Pétala foi logo avisando. Os olhos escuros concentrados no frasquinho que o pai tinha na mão. – Não... porque não quero – choramingou.

Emmett olhou o fraquinho que segurava como que não significasse grande coisa.

— Ah, isso aqui? – falou. – Quem foi que disse que é remédio? Isso é uma poção mágica que peguei com as fadas.

De repente o olhar da garotinha não era mais de desconfiança. Parecia bem interessada no que o pai tinha a dizer. E ele continuou.

— Mas elas não queriam me entregar, não.

Pétala abriu os olhos como que duvidasse. E ele tentou parecer sério ao continuar.

— Então eu cheguei pra elas e disse: “Eu sou o papai daquela garotinha linda e cheirosa. E o seu nome lembra as flores. Pétala é o nome dela. Ela adora todas vocês, fadinhas. Imagino que não a queiram vir dodói, não é mesmo?”.  E sabe o que elas disseram pra mim? – perguntou a Pétala, que meneou a cabeça dizendo que não. – Elas disseram: “Claro que não queremos a Pétala dodói. Nós amamos aquela garotinha. Tome! Leve esta poção mágica. Dê-lhe para ela. Bastam apenas algumas gotinhas e ela estará curada”. Foi isso.

Pétala, antes encolhidinha no colo dele, endireitou a postura desejando saber mais sobre as fadas.

— Como elas eram? ­– pediu. – Eram pequeninas?

— Uhumm. Elas eram tão pequeninhas que era possível pegá-las com a mão. Tinham uma vozinha fina. E algumas tinham narizes arrebitados. Ah, mas tinha uma, a que mais falou comigo. Ela tinha os cabelos tão louros que brilhavam feito o pozinho que ela pôs nessa poção mágica.

O rostinho que minutos atrás mostrava apenas dor e desconforto agora se mostrava bem mais tranquilo e curioso. Isso fez Emmett orgulhasse de si mesmo. Afinal, estava fazendo as coisas darem certo. Estava sabendo lidar com a filha, ainda que em tão pouco tempo.

— O que mais?

— Os olhos dela tinha a cor âmbar. Você sabe que cor é o âmbar?

Pétala balançou a cabeça negando.

— É mais ou menos a cor das folhas que cai das árvores no outono. A estação do ano que estamos agora. E ela tinha uma pinta bem aqui. – Ele encostou o indicador acima dos lábios da garotinha revelando o lugar exato da pinta. – E quando ela sorria...

E então Pétala o interrompeu.

— Qual o nome dela?

— O nome dela?

— Ahã. Dessa mesma.

— O nome dela era Rose.

— Rose?

Ele a imitou. – Ahã. Rose. O que me lembra de rosas, igualzinho o seu. Então, o que me diz? Você vai experimentar as gotinhas mágicas?

Pétala moveu a cabeça concordando. Logo depois abriu a boca. Emmett pingou as gotas indicada com todo cuidado, com medo de exceder. Pétala soltou um ou dois muxoxos querendo chorar, mas acabou aceitando o remédio. E afinal o gosto não era tão ruim assim.

Emmett fechava a tampa do frasquinho, quando o irmão apareceu na porta do quarto trazendo nas mãos uma tigela grande com água morna e um paninho branco pendurado no braço.

— A água morna já está aqui, mano. E trouxe o paninho também.

Ele chegou mais perto, entregando tudo nas mãos do irmão. Emmett ajeitou a tigela na beirada da cama com cuidado. Mergulhou o paninho na água aquecida, torceu e desenrolou. Levantou a blusinha do pijama da filha encostando ali o paninho aquecido. No primeiro instante ela se recusou, empurrando o pano com a mão pequena pra longe. Emmett insistiu, e, ao perceber que aliviava a dor, Pétala deixou que o paninho descanasse na barriga por mais tempo.

— Você já deu o remédio pra ela? – Edward perguntou.

Emmett o alertou com o olhar.

— Não era remédio – Pétala corrigiu. – Era mágico, e era das fadinhas.

— O quê? – o tio falou confuso.

— Depois te explico – Emmett avisou, relanceando um olhar a filha, outra vez deitada na cama.

— Eu vou voltar lá embaixo e pegar o soro caseiro – Edward avisou.

Ele não demorou a voltar. E, apesar das reclamações de Pétala quanto ao gosto, tomou quase a metade do que tinha no copo.

Edward sentou na poltrona. Conversando com o irmão, de tempos em tempos, enquanto ele cuidava da filha. A medicação trouxe relaxamento, Pétala acabou dormindo minutos depois.

O telefone tocou no bolso da calça de Emmett. Ele levou um tempo até deixar as coisas de lado e retirá-lo de dentro do bolso.

Não reconheceu o número que aparecia na tela, mas tinha uma breve ideia de quem poderia ser. Fez um sinal com a mão, avisando ao irmão que iria atender lá embaixo.

— Por que será que estou achando que é uma tal de Rose – Edward provocou, observando-o deixar o quarto com o telefone celular tocando.

O telefone seguiu tocando pelo tempo em que ele, apressado, descia as escadas. Atendendo somente no penúltimo degrau, quando teve certeza que o irmão já não podia ouvir sua conversa.

— Alô? – Estava ansioso, imaginando se seria mesmo ela. A moça loura que conheceu na farmácia minutos atrás.

— Emmett? – Ele ouviu a voz dela no outro lado da linha. Parecia tranquila. Nada ansiosa. E, de repente, sentiu-se ridículo.

— Sim?

E lá estava ele, passando a mão na cabeça, de pé ao lado do sofá na sala de estar, depois de ter desviado dos brinquedos da filha espalhados pelo chão. Sentindo uma ansiedade que não lembrava de ter sentido antes.

— Você não deve estar reconhecendo meu número – ela comentou. – É a Rose, a moça que te ajudou na farmácia minutos atrás. Está lembrando-se de mim?

Sim, ele se pegou pensando. Era claro que se lembrava dela. Tinha sido tão prestativa. E, obviamente, era praticamente impossível esquecer-se tão fácil de uma mulher tão bela. Ah, se ela soubesse que há poucos minutos tinha se tornado personagem principal da história inventada que contou a filha.

— Claro. A moça que me ajudou com o medicamento pra dor de barriga de minha filha – ele disse. – E que também ficou de me passar o nome e o telefone do pediatra de seus sobrinhos.

Ouviu-se uma risada quase cantada ao telefone. E ele ficou pensando o quanto era bom ouvi-la.

— Como ela está? – Rosalie pediu, um segundo depois.

— Quem? – Ele se viu numa confusão mental que durou apenas alguns segundos.

— Sua filha. Ou será que estava mentindo pra mim?

Emmett percebeu seu tom acusatório ao dizer isso.

— Não. Mas é claro que não menti. Ela está na minha cama agora. Acabou de pegar no sono.

— Você deu o remédio certinho pra ela? E fez como te falei com as compressas de água morna? Isso alivia e ajuda a relaxar.

— Sim. Ajudou muito. O efeito foi exatamente esse. Obrigado.

— Não foi nada – passados alguns segundos em silêncio, ela prosseguiu: – Ela está bem, então?

— Graças a sua sugestão com as compressas de água morna. E a ajuda com o remédio certo.

Outra vez ouviu a risada dela.

— Fico feliz em ter sido útil – ela brincou.

E então Emmett foi quem riu dessa vez. E Rosalie se pegou pensando se as covinhas teriam surgido nas bochechas dele como tinha acontecido quando se encontraram na farmácia do irmão dela.

— Olha – ela voltou a falar –, estou aqui com o número do telefone do pediatra. Imagino que ainda esteja precisando de um?

— Você acertou.

— Tem como anotar agora? Ou prefere que te envie por mensagem?

— Não, prefiro que me fale. Só me dê um minuto.

Ele atravessou a sala alcançando a cozinha num instante. Numa das gavetas do armário pegou papel e caneta.

— Pronto, pode falar.

Após te anotado tudo, eles se despediram. Ainda que quisesse continuar a falar com ela, não teve coragem de estender a conversa entrando em outros assuntos.  Por alguma razão isso o surpreendeu.

Ele então transferiu os dados para a agenda do telefone e o deixou sobre a bancada. Estava cansado e com sede. Abriu a geladeira se servindo de um copo de suco. E ficou pensando nela pelo tempo em que bebia.

Edward tinha acabado de descer as escadas. E se aproximava da bancada da cozinha.

— E aí, ela é gata?

Emmett nada respondeu. Permanecendo de costas pra ele.

— Seu cretino! Estou falando com você.

Ele tomou um gole de suco, se segurando para não dar risada.

— Ela é gata ou não? – Edward insistiu. – Vai ficar aí se fazendo se surdo?

Emmett se virou de frente pra ele, com a bancada entre os dois.

— Ela é diferente de tudo que já conheci.

— Acho que alguém aqui foi fisgado.

— Olha só quem fala? O cara que passou a tarde inteira babando na garota do jogo de baseball. Qual é nome dela mesmo? Beatriz?

— Bella – Edward corrigiu. – O nome dela é Isabella.

Emmett tomou outro gole de seu suco, em seguida, ergueu o copo como sugerisse um brinde.

— Quem poderia acreditar – admirou-se.

— Não estou apaixonado – Edward negou.

— Nem eu. Nem eu... – Emmett repetiu se encaminhado para as escadas. – Nem eu...

— Ei, Emmett – Edward chamou, e o irmão virou-se pra olhar pra ele. – Se precisar de ajuda com Pétala, é só me chamar. Não irei a lugar algum essa noite.

— Obrigado – o irmão agradeceu. E logo depois desapareceu escada acima.

Ao entrar no quarto, olhou a caminha vazia improvisada aos pés da cama. A garotinha permanecia em sua cama. As pernas esparramadas, um bracinho ao lado da cabeça, o polegar direito na boca e a ovelhinha ao lado.

Ele entrou no closet para vestir o pijama. Habito adquirido com a chegada de Pétala. Antes disso dormia com pouca roupa. Voltou ao quarto, apagou as luzes do teto e ligou um abajur. Depois se deitou ao lado dela na cama.

Traçou com as pontas dos dedos o contorno do rostinho delicado da filha. Afastou os cabelos escuros da testa dela, plantando um beijo no local.

— Durma bem, minha pequena Pétala. Meu pedacinho de flor. O papai vai estar aqui sempre cuidando de você, para que tenha uma boa noite de sono. E uma vida tranquila. Farei o que melhor conseguir. Eu prometo.

Ele se acomodou ao travesseiro. Pegando no sono minutos depois, ao lado dela.

[...]

Quando Pétala acordou na manhã do dia seguinte, Emmett deu um banho nela e desceu para preparar o café da manhã.

Fez uma ligação para o consultório do pediatra recomendado por Rosalie. Conseguindo agendar uma consulta para depois do almoço.

Como ele é quem levaria Pétala a consulta, Edward foi para o escritório cuidar dos negócios da família.

Pétala passou a manhã inteira distraída com os brinquedos novos e os desenhos animados na tela de tevê gigante.

Emmett olhava pra ela e não encontrava nada fora do normal. Nem parecia a mesma criança que sofrera de dores na barriga na noite anterior. E ele pensou se isso acontecia com todas.

De vez em quando, Pétala procurava o colo dele. Ganhava um beijinho no rosto e voltava para suas atividades de criança.

Emmett pediu que o almoço fosse entregue um pouco mais cedo por conta da hora marcada com o pediatra.

Minutos antes do horário marcado, eles deixaram o apartamento.

Pétala levou sua ovelhinha embaixo do braço. Animada, até descobrir que estava indo ao médico.

Ela chorou, chorou muito. Mas foi por algo que Emmett não pôde lhe conceder. Pétala quis a presença da mãe logo que puseram os pés na sala de espera da clínica.

“Quero a mamãe”, ela pediu em meio a lagrimas e soluços. “Busca a mamãe no céu”.

Chorou tanto que se engasgou com próprio choro. E embolou as palavras.

Emmett se viu explicando pra ela outra vez sobre Callie estar no céu e não poder voltar. E depois toda a historia de Pétala ao pediatra e sua assistente, mencionando também Rosalie.

Nem mesmo a promessa de ganhar um pirulito multicolorido conseguiu animar a garotinha. Nada do que fizessem tinha força o bastante para fazê-la desistir de ter a mamãe ao seu lado. Callie era tudo o que Pétala queria. Era a única coisa que pedia. Era tudo o que importava.

Emmett segurou na mão pequenina lhe garantindo que ficaria tudo bem. Depois de ter lhe sussurrado uma canção.

Depois do que pareceu uma eternidade dentro daquela clínica eles, finalmente, estavam a caminho do estacionamento. Pétala ainda chorava agarrada ao pescoço dele. O rosto triste escondido na curvatura.

Quando sentiu a luz fraca do sol de outono tocar seu rosto, ela se permitiu olhar o céu. Havia poucas nuvens e, embora fosse um dia frio, o azul era de um tom bonito. Ela ficou olhando o céu com atenção. Ergueu a mãozinha no alto movendo-a devagar. E quando Emmett perguntou o que estava fazendo a resposta foi apenas uma: “Mamãe”. Ele então compreendeu, embora com uma tristeza repentina, que a filha estava, de alguma maneira, tentando chamar a atenção de Callie no céu.

Pétala abaixou a mãozinha devagar parecendo desapontada. Abraçou o pescoço do pai outra vez, voltando a esconder o rosto.

— Canta? – ela praticamente sussurrou.

Ele tentou ver o rostinho dela. – Você quer que o papai cante pra você agora? – pediu, passando a mão nos cabelos finos dela. Viu a filha balançar a cabeça com um suspiro triste. Não lhe restaram dúvidas quanto ao que deveria ser feito.

Por todo o caminho até onde havia estacionado o carro, ele cantou em voz baixa a música do filme Frozen, Livre Estou.

Não se importou com quem pudesse vê-los. Cantava desafinado, sim. Mas também estava ciente de estar fazendo aquela criança se sentir melhor com a canção. Estava lhe dando algum conforto.

Pétala sentia falta da mãe. Da rotina que tinham criado juntas. A única coisa que poderia fazer era se esforçar para ser, no mínimo, um tiquinho especial. Algo próximo do que a mãe foi um dia pra ela.

Ele colocou Pétala na cadeirinha, no banco de trás do carro, sem interromper a canção. E antes de se afastar beijou seu rosto triste. Angustiado com a dor encontrada em seus olhinhos escuros.

O celular tocou no bolso frontal da calça dele. Emmett olhava pra Pétala, quando o pegou na palma da mão.

— O papai vai só atender ao telefone e a gente já vai embora, está bem?

A menina não disse nada, apenas abraçou a ovelhinha de pelúcia e olhou para o lado, ainda com aqueles olhos tristes.

Emmett permaneceu ao lado da porta aberta do carro enquanto falava.

— Oi, mano – disse, encostando o celular ao ouvido.

— E aí, como foi? Está tudo bem com ela? – Edward pediu. O tom de sua voz deixava claro o quanto estava preocupado com a sobrinha. E o tempo que teve de esperar para fazer aquela ligação.

— Graças a Deus, os resultados foram bons. O pediatra disse que não tenho com que me preocupar. Ela está bem. – Ele se afastou um pouco da porta aberta. – Foi terrível, mano – sussurrou. – Ela chorou muito. Muito mais do que imaginei que pudesse acontecer. Ela queria a mãe. Pétala sente falta de Callie. E eu não sei o que fazer pra amenizar isso. Eu sequer consigo me lembrar de como foi estar com a mãe dela. Sinto-me terrível por isso. Queria ter uma história legal pra contar pra minha filha. Algo que pudesse de, alguma forma, confortá-la.

— Não esquenta. Na hora certa, você encontrará o que contar. Põe o telefone no viva-voz e me deixe falar com ela um instante.

— Papai...? – Pétala chamou.

Emmett tornou a se curvar pondo metade do corpo pra dentro do carro.

— Eu estou aqui, filhinha. – Ele aproximou o celular dela. – O titio vai falar com você agora.

A garotinha olhou em volta, ficando confusa por um instante. Imaginando que o tio estivesse chegando.

— Não, amor. O titio está ao telefone.

A voz de Edward estava também dentro do carro agora.

— Pétala? – O tio chamou. Ela olhou imediatamente o telefone na mão do pai. – Oi, princesa. É o titio falando. Você está bem?

— A mamãe não veio... – ela falou tão tristonha que os dois sentiram-se mal.

— É, eu sei... Não fique triste, Pequena Dama. Acontece que ela não pôde.

— Ela não pôde vir do céu? – a voz de Pétala soou ressentida.

— Não foi uma escolha dela, princesa – Emmett explicou. Pétala olhou pra ele no mesmo instante. E Emmett quis chorar por ver tanta dor e saudades naqueles olhinhos escuros.

Edward voltou a falar resgatando-o dessa agonia.

— Você não está sozinha, Pétala. O seu papai e o titio estarão sempre com você. Até que esteja bem velhinha.

— E então eu posso ir o céu ver a mamãe?

— Você pode vê a mamãe a qualquer momento, Pequena Dama, basta fechar os olhos e pensar nela. Feche os olhos, bonequinha.

Pétala olhou o pai novamente. Ele incentivou a fechar os olhos fazendo um breve movimento com a cabeça.

As pálpebras dela se fecharam bem devagarinho. Pensando em Callie, Pétala conseguiu se vir brincando com a mãe no parquinho perto da casa onde moravam. Ela descia no escorrega e Callie a segurava na chegada, rindo juntas. De repente, Pétala quase podia sentir o cheiro da mamãe novamente.

— Fechou os olhinhos? Consegue ver a mamãe? – a voz do tio soou dentro do carro através da viva-voz.

Pétala meneou a cabeça confirmando, esquecendo-se por um instante que o tio não podia vê-la nesse momento.

— Ela afirmou com a cabeça – Emmett explicou ao irmão.

— Vamos cantar um pouco pra ela. Isso vai fazê-la se sentir melhor.

— Estava fazendo isso agora a pouco. Mas posso fazer de novo. Não tem problema.

Surpreendendo até a eles mesmos, os dois tinham decorado todo o CD da trilha sonora de Frozen. Cantando pra ela algumas vezes ao dia suas canções favoritas.

Por isso lá estavam eles agora, com suas vozes desafinadas, cantando Vejo Uma Porta Abrir. Nem mesmo o irmão que estava no escritório se importou com quem pudesse ouvi-lo cantando no celular a canção de um filme infantil.

Quando a canção chegou ao fim, Emmett se pôs a falar primeiro.

— Vou levá-la a área de recreação do shopping. Está frio para ir até a pracinha agora.

— Tá certo. Qualquer coisa me avise.

— Falou, mano. Até mais.

— Pétala, o titio vai desligar agora. Se divirta com o papai no shopping. Tchau, princesa.

— Tchau, titio. Eu amo você.

Edward desejou como nunca poder abraçá-la e mimá-la.

— O titio também te ama. Fica bem. Vejo você mais tarde.

A ligação foi encerrada. Emmett guardou o telefone novamente no bolso.

— Quer brincar um pouco na área de recreação do shopping? – perguntou.

— Ahã – ela respondeu, coçando um olhinho.

— Então é pra lá que nós vamos – ele passou a mão no rostinho dela. – Chora mais não, está bem?

— Tá bom – a resposta veio fraquinha. Mas ele teve esperança de que ela não choraria mais.

Emmett deu um beijo na testa dela e se afastou. Fechando a porta traseira com cuidado.

Mais tarde, depois de um lanche na praça de alimentação, ele foi com ela a área de recreação como havia prometido.

— Deixe o papai ficar com o seu brinquedinho...

E Pétala o interrompeu dizendo:

— Coraçãozinho, papai. É coraçãozinho.

— Ah, sim. Desculpe-me. Deixe que o papai cuide dela pra você. Da Coraçãozinho.

Ela abraçou a ovelhinha e entregou na mão dele logo depois. Embora estivesse insegura.

Havia outras crianças brincando por ali. Adultos responsáveis sempre rodando. Algumas vezes alertando que tomassem cuidado.

— Vai lá! – Emmett incentivou, acenando para o brinquedo colorido.

Pétala esboçou um pequeno sorriso.

Emmett ficou olhando ela dar as costas pra ele e correr em suas perninhas curtas, desviando de um garoto ao entrar na área rodeada de cercas brancas de plástico.

Ele chegou mais perto da cerca, onde se curvou descansando os cotovelos. A ovelhinha branca de tutu cor-de-rosa presa entre as mãos. Observando Pétala subir na lateral do brinquedo pela escadinha e descer pelo escorrega, mergulhando na grande piscina de bolinhas coloridas. Ela fez isso algumas vezes, até se cansar e ir para outro espaço.

Emmett se pegou rindo sozinho. Acenando para Pétala quando ela parou numa das entradas da tubulação do brinquedo, olhando pra ele. Ela repetiu isso algumas vezes adiando o momento de entrar no brinquedo. Emmett se perguntou se isso tinha a ver com o medo que sentia de ele partir.

Estava tão distraído vendo a filha brincar que sequer percebeu quem se aproximava.

— Devagar vocês dois – Rosalie ergueu a voz falando com os sobrinhos. Gêmeos idênticos, de cabelos louros e cacheados que lhe caiam aos olhos. Dois garotinhos sorridentes e agitados.

Os meninos gritaram qualquer coisa entre si e partiram para o escorrega.

— Meninos... – Rosalie lamentou, chegando perto da cerca branca.

Avistou Emmett de costas. Mas não teve certeza de que realmente era ele até que virou o rosto seguindo alguém com o olhar. Ela guardou o celular dentro da bolsa e chegou mais perto. Parando bem ao lado dele.

O aroma de seu perfume alcançou o olfato de Emmett no mesmo instante. Mesmo assim, ele não se virou de imediato. Tinha certeza de já ter sentido aquele aroma em algum lugar. Só estava tentando lembrar onde.

— É você mesmo?!

Ele ouviu a voz familiar. E imediatamente olhou para o lado.

— Eu tinha certeza de já ter sentido esse mesmo perfume em algum outro lugar. – Ele a olhou, disfarçadamente, dos pés a cabeça. Encoberta pelas roupas de inverno, tão bela quanto se lembrava.

Rosalie sorriu para ele, nitidamente satisfeita.

— Não sabia que conhecia o meu perfume – provocou.

Ele se concentrou na feição do rosto dela. – Mulheres perfumadas são difíceis de esquecer. Ainda mais se forem tão bonitas e simpáticas quanto você.

Rosalie tornou a sorrir. – Está me cantando? – se atreveu a dizer, sustentando o olhar dele com seu.

— É possível – com sua resposta veio também às covinhas ao sorrir.

— Bom – ela comentou –, casado você já disse que não é. Isso o torna livre para flertar com quem bem entender.

Emmett não se preocupou em disfarçar o sorriso, meneando a cabeça ao dizer:

— Totalmente livre.

Rosalie descansou os cotovelos na cerca que rodeava os brinquedos. – Então o que está fazendo aqui, “senhor totalmente livre”? Está perdido?

Emmett olhou a ovelhinha de pelúcia entre as mãos. Fazendo um gesto, erguendo o brinquedo.

— Minha filha – disse. – A trouxe para brincar um pouco. Se distrair com outras crianças. Mas parece que ela não é muito boa em fazer amizades. Estou aqui há alguns minutos e ela não falou com nenhuma outra criança ainda.

Rosalie olhava as crianças agora com mais atenção, imaginado qual delas seria a filha dele. Havia apenas três garotinhas. Uma delas tinha os cabelos claros, as outras duas, cabelos escuros.

— Qual delas é a sua?

Emmett viu Pétala voltar à piscina de bolinhas naquele instante.

— A de cabelos escuros, que está entrando na piscina de bolinhas agora – explicou, sem deixar de olhar a garotinha que mergulhava nas bolinhas coloridas. E Rosalie percebeu toda sua adoração no brilho dos olhos ao olhar para a criança.

— Você a adora, não é?

Ele olhou para Rosalie e novamente para Pétala. E as palavras saíram com facilidade.

— Mais do que imaginei ser possível.

O olhar de Rosalie pausou no brinquedo que ele tinha nas mãos.

— E dela essa ovelhinha?

— Sim – confirmou, olhando brevemente o brinquedo. – Ela ama essa pelúcia, Definitivamente.

— Eu imagino – Rose respondeu. E seu olhar alcançou Pétala na piscina de bolinhas.

— E você, o que está fazendo aqui sozinha? – ele olhou pra ela ao fazer a pergunta.

— Não estou sozinha. Estou com meus dois sobrinhos. – E então ela levantou o braço. – Olha lá. Os gêmeos – explicou, mostrando os meninos que pulavam sem parar na cama elástica. – Josh e Zack. Eles têm seis anos. Era deles que estava falando ontem à noite. Na farmácia.

Emmett observou os garotos por um instante apenas antes de olhá-la novamente.

— Eles são sempre tão agitados assim?

— Pior que sim – ela riu. – Arrastei os dois pra cá, pra pobre da minha cunhada ter como escolher um vestido de festa. – Ela se esticou sobre a cerca, se dirigindo aos meninos quando ameaçaram chutar um ao outro. – Josh e Zack, parem já com isso.

Emmett estava meio assustado com a energia dos gêmeos. E, de repente, se recriminou por ter chegado a pensar que ser pai de menino fosse bem mais fácil.

— Papai – Pétala chamou por ele, lhe dando um tchauzinho.

— Vem cá filhinha – ele chamou de volta. Sem sequer notar que deixara Rosalie encantada com a forma carinhosa como tratou a criança. – Quero que conheça uma pessoa.

Levou alguns minutos até que Pétala conseguisse sair da piscina de bolinhas. Mas quando conseguiu foi correndo até onde eles estavam.

O pai a pegou no colo bem no momento que ela tomou conhecimento da figura de Rosalie pertinho deles.

— A fada – Pétala soltou, maravilhada. Surpresa, também. – A fadinha do papai – tornou a falar em voz alta. – A fada do papai – repetiu.

Rosalie sorriu pra ela, quase tão encantada quanto própria garotinha em vê-la.

— Essa é a Rose, filha – ele explicou um tanto constrangido. Começava recordar da historinha que inventou pra filha tomar o remédio na noite passada. E que, sem pensar, fez de Rosalie sua personagem principal. Deveria ter pensando na possibilidade de as duas se encontrarem um dia e Pétala comentar como estava fazendo agora.

— É a fada Rose? – Pétala pediu, olhando do pai para a moça loura que tinha todos os detalhes que o pai descrevera ao inventar a historinha envolvendo as fadas.

E Rosalie o encarou repetindo:

— Fada é?

— É uma longa história – ele avisou.

— Eu certamente adoraria ouvi-la.

Emmett apontou o dedo discretamente para Pétala enquanto lhe dizia:

— Talvez em outro momento.

E Rosalie concordou, pesando na garotinha.

— Você é tão linda – Pétala soltou.

— Você também é muito linda, sabia? – Rose falou com Pétala. E quando ela sorriu revelando doces covinhas, Rosalie pensou que fosse derreter com tanta fofura.  E assim ergueu as mãos, segurando o rostinho dela enquanto beijava ambas as suas bochechas estalando os lábios em cima de suas covinhas. – Que coisa mais preciosa – murmurou, ainda apertando as bochechas de Pétala. – Linda – deu outro beijo na bochecha dela. – Preciosa.

Emmett estava enfeitiçado, olhando as duas se comunicando tão pertinho dele assim.

E então alguém gritou por Rosalie.

— Rose!

Os três olharam na direção do som da voz.

— Minha cunhada – Rose se explicou.

A baixinha de cabelos repicados acenou para eles, carregando algumas sacolas das melhores grifes. Os saltos de seus sapatos fazendo barulho em contato com o piso à medida que seguia em frente, ao encontro deles.

— Cadê os pestinhas? – lançou ao chegar mais perto.

A mão de Rosalie se moveu procurando pela localização exata dos sobrinhos, agora na piscina de bolinhas. Atirando bolas coloridas para todos os lados.

Após as apresentações, Alice foi chamar os filhos. Mas não sem antes sussurrar a Rosalie.

— Que gato. Se eu fosse você pegava. – E Rosalie caiu na risada sem querer. Quando voltou olhar pra Emmett, ele a olhava com curiosidade e interesse.

— Ela é uma comédia... – começou Rosalie.

— E espontânea. – Concluiu Emmett. Ele olhava as costas de Alice enquanto ela caminhava, ao fazer o comentário.

— É. Ela é sim.

— Bom – Emmett começou –, eu preciso ir agora. Pétala tinha encostado a cabeça no ombro largo dele. A ovelhinha de pelúcia presa no braço.

Rosalie olhou Pétala com doçura. – Ela parece cansadinha – disse. E fez um carinho nas costas da menina com a mão.

— Foi um dia cansativo pra ela. – Emmett afastou a mão que Pétala levava à boca. – Não filhinha. Está cheia de bactérias.

— Ela chupa o dedo? – Rose pediu.

— Sim.

Quando Rosalie voltou a falar foi com Pétala.

— Chupa o dedinho agora não, princesa. Espere até chegar em casa e o papai limpar suas mãozinhas.

— Ah – Emmett se lembrou. – Obrigado pela indicação do pediatra.

— Então você a levou a consulta como sugeri?!

— Sim. E foi um chororô danado. – Ele indicou Pétala com o dedo. Ela estava com os olhos miúdos de sono. E ele temeu mencionar Callie em sua frente.

— Mas está tudo okay com ela, não está?

— Sim. Ela está bem. Em outro momento explicarei o motivo do choro. Claro, isso se você aceitar um convite para jantar.

— Mas é claro que eu aceito.

Emmett se sentiu animado. – Te ligo ainda hoje para marcarmos. Só preciso ver antes se meu irmão pode ficar com ela.

— Aguardo sua ligação, então.

Eles trocaram um beijo no rosto. Depois Rosalie beijou a bochecha Pétala.

— Tchau, princesinha – falou bem pertinho do rosto dela.

— Tchau... – Pétala respondeu, com a voz preguiçosa. – Fada do papai.

Enquanto Emmett se afastava, levando a filha sonolenta no colo, Rosalie deu dois pulinhos sem conseguir conter a animação. Se recompondo momentos depois indo encontrar-se com a cunhada e os dois sobrinhos, que deixavam o brinquedo em meio a risos e gargalhadas.

Emmett olhou para trás apenas uma única vez. Ouvindo Pétala murmurar em seu ombro: “A fada do papai”.

Ele beijou na cabeça da menina e continuou seguindo em frente.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada pelos comentários no capítulo anterior. Amei todos eles.
Beijo, beijo
Sill