Amor escrita por Araimi


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bem, não sei muito bem o que está acontecendo, mas escrevi e queria muito postar logo, então aqui está, espero que gostem
Boa leitura



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Ele é quente e pequeno e dela.

           

E ela se apaixona por ele no momento em que o vê.

           

Lili já o amava antes, mas tê-lo ali em seus braços... É diferente. E o amor que ela sente por ele invade seu coração e trás lágrimas aos seus olhos e enche sua alma com felicidade.

           

Fabinho diz que o bebê se parece com ele. Germano estufa o peito e diz que o menino é a cara do pai. Cassandra, sendo Cassandra, sugere que o bebê tem o seu queixo.

           

Lili deixa que eles falem; especialmente Germano, que está alegre como uma criança, entusiasmado como se fosse seu primeiro filho, mas ela acha o bebê parecido com seu pai, o velho Bocaiúva.

           

Ela gosta.

           

Eles dão o nome de Joaquim para o bebê e Lili não pode evitar repetir o nome de seus três filhos como um mantra em sua cabeça. Sofia, Fábio, Joaquim. Ela não tem certeza por que faz isso.

           

Também não tem certeza por que fica sussurrando o nome do filho quando está sozinha com ele. Ela não pode evitar. Está encantada, fascinada. Passa a maior parte do tempo observando o menino, memorizando seus detalhes, e quando percebe, está sussurrando:

           

— Joaquim.

           

Várias e várias vezes. Quase como uma oração.

           

Ele dorme a maior do tempo, como qualquer bebê recém-nascido, mas quando está acordado, seus olhos ficam muito abertos, cravados nela, observando-a como ela a ele. Lili não se lembra de Sofia ou Fabinho serem tão espertos naquela idade.

           

Fabinho menos ainda. Ela havia perdido quase todo o primeiro mês de seu filho do meio, trancada no quarto, afundada em depressão. Ela não queria vê-lo, hoje Lili não consegue lembrar por que. A depressão pós-parto impediu que ela criasse um vínculo com Fabinho no início, mas depois que eles se conectaram, bem, não havia como separá-los.

           

Germano havia reclamado que ela passava a mão na cabeça de Fabinho demais. Demorou em perceber isso e, quando o fez, perguntou-se se não tinha feito aquilo inconscientemente, como forma de compensar o tratamento que ele recebeu dela naquele primeiro mês.

           

Era um erro que ela não cometeria com Joaquim.

           

Esperava que não. Repetia para si mesma que não aconteceria.

 

—***-***-***-

           

Ela não gosta que Cassandra segure Joaquim.

           

Infelizmente, a garota está entusiasmada demais com o bebê e quer segurá-lo sempre.

           

Lili tenta disfarçar seu incômodo, porque Fabinho fica triste que sua mãe não goste de sua namorada. E não é que Lili não goste de Cassandra. A garota a tira do sério, mas Lili sente certo carinho por ela.

           

O problema é que Cassandra não para no lugar, fala demais, gesticula demais, esquece que tem um bebê pequeno nos braços e nunca – nunca – lembra-se de segurar a cabeça de Joaquim quando lhe passam o menino.

           

O que sempre – sempre – faz com que Lili perca a compostura e grite um:

           

— Cassandra!

           

Segurando a cabeça do filho com uma mão e arrumando-o nos braços de Cassandra com a outra. Joaquim quase sempre acorda e chora um pouquinho, o que leva a Cassandra a tentar ensiná-la como criar seu filho.

           

E nesses momentos, Lili esquece seu carinho pela moça e tudo o que quer é manda-la calar a boca e sair de sua frente antes que seja tarde demais.

           

Mas Fabinho está ao lado da namorada, sorrindo e olhando para Cassandra como se ela tivesse uma aura de luz visível apenas aos seus olhos. Lili se lembra do menino mal-humorado e ferido que ele era a não tanto tempo assim e, não pela primeira vez, chega à conclusão de que pode suportar Cassandra para ver aquele sorriso no rosto de seu filho.

 

—***-***-***-

           

O primeiro sorriso de Joaquim é para ela.

           

Eles estão sozinhos no quarto, Joaquim ainda fresco do banho, e ela está falando com ele docemente. Ele sorri rápido, os olhos ainda grudados nela, os bracinhos movendo-se, vez ou outra uma mão parando em sua boca.

           

Lili sorri e faz caretas e move suas mãos. Joaquim sorri novamente.

           

Seu coração bate mais forte, inundando-se de um calor gostoso e ela sente que o ama ainda mais do que amava um minuto atrás.

           

Ele sorri novamente, dessa vez por mais tempo, e é o sorriso de Sofia nos lábios do bebê.

           

Lili se lembra de outro bebê sorridente, deitada na sua cama como agora. Ela era tão jovem naquela época. Lembra-se de uma menina esperta, escondendo-se debaixo da escada, sorrindo como quem fez besteira. Lembra-se de Sofia e Fabinho correndo pelo jardim, suas risadas misturando-se e trazendo um sorriso aos seus lábios. Lembra-se de Sofia na Bastille, sorrindo com confiança enquanto ela e Germano observam orgulhosos. Lembra-se do sorriso de Sofia naqueles últimos dias que passaram juntas.

           

Então ela está chorando, porque ela sente falta de Sofia, porque ela ama Sofia, porque ela faria qualquer coisa para que Sofia tivesse outra chance.

           

Por que Sofia é sua filha e não é justo, não é certo, que os filhos morram antes dos pais.

           

Ela pega Joaquim no colo, abraçando-o contra si, beijando-o como pode. E Joaquim passa rapidamente de sorrisos para risadas e Lili ri também em meio as lágrimas.

           

Aquele é o seu som preferido no mundo.

 

—***-***-***-

           

Ela passa na Bastille com Joaquim, porque já faz muito tempo desde a última vez que ela foi lá.

           

Ela recebe cumprimentos pelo caminho e para algumas vezes porque seu filho é simplesmente fofo demais.

           

Débora se aventura a segurá-lo um momento, Zé Pedro faz caretas que fazem Lili rir antes de Joaquim e Mirtes pega-o no colo com satisfação, esquecendo seus afazeres para brincar com o menino. Lili nunca a havia visto daquela maneira.

           

Ela trouxe Sofia e Fabinho até a Bastille quando eles eram pequenos também, mas naquele momento, não é isso que ela pensa.

           

Lili pensa nela mesma andando pelos corredores da Bastille. Havia crescido na Bastille. Crescido com a Bastille. Toda a sua vida dividiu as atenções de seu pai com a empresa. Quase todas as memórias que tem de seu pai da sua infância são na Bastille. Ainda pode lembrar-se da sensação de olhar a empresa sobre seus ombros, sentindo-se como se pudesse tocar as nuvens. Dos dias que seu pai a colocava em seu colo, esparramava papéis por sua mesa e lhe explicava o que estava fazendo. Conforme ela crescia, as explicações ficavam mais complicadas.

           

Bastille havia sido feita para ela.

           

Bastille é sua casa, ela se sente confortável ali, mas não se encaixa naquele universo como se encaixa no universo da fotografia, da arte.

           

Havia projetado o título de Presidente da Bastille em Sofia tanto quanto seu pai havia feito com ela. E como ela, aquilo não era exatamente o que Sofia queria.

           

Lili não quer fazer projeções em Joaquim, nem quer dizer como certo que Fabinho assuma a empresa, apesar de sua crescente empolgação com a Bastille.

           

Não quer cometer o mesmo erro.

           

De qualquer maneira, quando Germano leva os dois para a sua sala, Lili senta na cadeira da presidência com Joaquim no colo. Ela move a cadeira, olha os papéis, entrega uma caneta para Joaquim, que vai direto para a boca dele. Germano observa em silêncio até por fim dizer:

           

— O que você está fazendo?

           

Lili lança um sorriso para ele, mas não sabe como explicar. Essa é uma das coisas que ela quer que seja diferente entre a educação de Sofia e Fabinho e de Joaquim. Lili quer que Joaquim cresça vendo a Bastille como ela vê agora. Uma opção, não uma obrigação.

 

—***-***-***-

           

Joaquim diz sua primeira palavra e Lili tenta fingir que não aconteceu nada.

           

Não é bem uma palavra, mas a intensão é tão clara que não tem como disfarçar.

           

E ainda por cima, é um domingo, a casa está cheia e há várias testemunhas de seu filho mais novo estendendo seus bracinhos e dizendo:

           

— Sanda.

           

Assim que Fabinho aparece com sua namorada.

           

Germano olha para ela com um sorriso contido, Lili revira os olhos e não dá atenção. Mas Cassandra – sempre Cassandra – solta um grito e corre em direção a Joaquim, pegando-o no colo tão rápido que faz o menino rir.

           

— Ele disse meu nome! Ele me chamou! Sogrinha, a senhora viu?

           

Lili sorri amarelo e tenta disfarçar sua frustação. Germano passa as mãos por seus braços, Fabinho ri e concorda com qualquer maluquice que Cassandra diz.

           

— Viu só, amor. – Cassandra está dizendo. – Eu disse que ficar repetindo meu nome pra ele ia dar certo.

           

Cassandra anda com Joaquim no colo, parando com os convidados, instigando o menino a dizer seu nome, mas ele não o faz. Uma pequena consolação para Lili.

           

Germano beija sua testa e diz em seu ouvido.

           

— Eu teria preferido que ele dissesse papai primeiro.

           

Lili suspira.

           

— Acho que temos que começar a policiar o tempo que essa menina passa com o Joaquim.

           

Germano ri, Lili sorri também, como se fosse brincadeira, mas tem uma pontada de verdade em suas palavras.

           

Alguns dias depois, Joaquim diz “mamã” e é tão perfeito que Lili quase chora. Fabinho é mais rápido e diz logo:

           

— Ah, mãe, não chora, por favor.

           

E ela engole o choro.

           

Joaquim repete sua palavra nova como um disco arranhado. Germano espera pelo “papa”. Lili está orgulhosa.

 

—***-***-***-

           

Eliza visita seu novo irmão no mesmo dia que ela chega de Paris.

           

Ela traz presentes para todos e entrega o de Joaquim sentando-se no chão ao lado dele. Joaquim não liga para o brinquedo, ele está encantando com Eliza.

           

Ele não é uma criança tímida e vai para perto de Eliza rapidamente, estendendo sua mão pequena para o cabelo ruivo de Eliza. Ela sorri e abaixa a cabeça para que ele possa aproveitar melhor.

           

Eliza cuidou dos irmãos mais novos, ela sabe como lidar com uma criança e ela e Joaquim viram melhores amigos em minutos.

           

Ele conversa com ela naquela linguagem que ninguém entende e oferece seus brinquedos. Ficou realmente furioso quando Fabinho tomou um dos bonecos de Eliza de brincadeira. Ele mostra seus truques e seu charme e quase não a deixa partir.

           

Eliza parte com a promessa de que voltará em breve para brincar com ele.

           

Ela volta dois dias depois e Joaquim trava uma luta para que Cassandra o deixe ir. Lili precisa mandar que Cassandra o solte em sua voz de poucos amigos para que seu filho possa ir até a irmã.

           

Eles passam a maior parte do dia juntos.

           

Germano está feliz que Joaquim se dê tão bem com Eliza. Lili está feliz que agora Cassandra tem competição.

 

—***-***-***-

           

A primeira vez que Joaquim cai, Lili sente seu coração sair pela boca.

           

Ele está brincando do lado de fora com Fabinho e Jamaica e ela escuta seu grito de dentro da sala.

           

Ele tem um arranhão vermelho no braço e seus olhinhos estão cheios de lágrimas, os lábios formam um bico enquanto ele repete:

           

— Mamã, mamã. – Antes mesmo de tê-la visto.

           

Ela o toma dos braços de Fabinho, não queria ser ríspida, mas provavelmente foi. Joaquim se agarra a ela, segurando seus cabelos em suas mãozinhas, molhando o pescoço de Lili com suas lágrimas.

           

Ela está tremendo, mas não chora. Segura o menino com força, beija seus cabelos, seu machucado, diz que está tudo bem, que não foi nada. Balança-o em seu colo até que seus soluços diminuem e tudo o que resta são olhos molhados.

           

É apenas quando o choro de Joaquim acaba que ela consegue escutar ou ver qualquer outra coisa. Fabinho está ao seu lado, preocupado, uma mão em seu ombro e outra acariciando as costas do irmão. Jamaica está inquieto, olhando-a como um cãozinho perdido.

           

— Desculpa, tia Lili, eu tirei o olho do moleque um segundo...

           

Lili força um sorriso.

           

— Tudo bem, Jamaica. Acontece.

           

Ela está sentada no chão, Joaquim em seu colo, e Fabinho e Jamaica a ajudam a levantar. Joaquim ainda está grudado nela e ela tampouco quer soltá-lo.

           

Dona Eusébia faz a maior parte do curativo, as mãos de Lili ainda tremem. Quando o curativo está terminado, Dona Eusébia da um beijo estalado no braço de Joaquim, que sorri e se desvencilha de Lili com o mesmo entusiasmo com que se agarrou a ela. Ele corre para a sala, onde Jamaica o espera de braços abertos e o joga no ar.

           

Alto demais para o gosto de Lili.

           

Joaquim se recupera muito mais rápido que ela, que continua na cozinha, tremendo. Ela não chora e, para Lili, já é uma vitória.

           

Quando Germano chega em casa, Joaquim mostra o braço e Lili pressente que ele vai chorar de novo. Mas Germano sorri, levanta o filho no colo e trata o arranhão como uma marca de guerra. Joaquim engole o choro, estufa o peito – bastante parecido com o pai – e aquela página está fechada para eles.

           

Lili convence-se que está fechada para ela, mas, de noite, quando ela e Germano estão na cama, prontos para dormir, ele pergunta em um sussurro se ela está bem.

           

Então ela chora.

           

Abraça-se a ele e chora.

           

Porque foi apenas uma queda, só um arranhão, mas poderia ter sido pior. Ele poderia ter batido a cabeça, poderia ter caído na piscina, tantas possibilidades que poderiam dar incrivelmente errado.

           

Germano deixa que ela chore. Abraça-a forte e acaricia seus cabelos e beija seu rosto. Ela não precisa explicar para ele porque está chorando, não precisa pintar todos os quadros imaginários de horror que aquele pequeno acidente causou em sua cabeça.

           

Germano não chora, mas ele sente de qualquer maneira.

           

Eles sentem a mesma coisa, mesmo que mostrem de formas diferentes.

           

O amor que eles ainda têm por Sofia, que sempre terão. A saudade que ela deixou. O medo de perder outro filho. O medo por Joaquim, que ainda é tão pequeno, tão indefeso.

           

— Ele vai ficar bem. – Germano diz por fim. – Vai ficar tudo bem.

           

Parecem as palavras que ela disse para Joaquim e ela se agarra a Germano como o menino havia feito com ela mais cedo. Lili sorri e Germano a acompanha.

           

— Vai ficar tudo bem. – Ela repete.


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Notas finais do capítulo

É meio vago? É meio vago. Poderia ter feito diferente? Não sei, talvez, acho que não.



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