The Originals: Bloodlines escrita por Garota Exemplar


Capítulo 7
1x07 - Auguries Of Innocence


Notas iniciais do capítulo

Hello!
Quanto tempo né? Nesse tempo aconteceram muitas coisas natal, ano novo, show do Roberto Carlos, Trump assumindo a presidência e a minha viagem para os Estados Unidos sendo cancelada. Sei que andei mais sumida que político pós época de eleição, ando desestimulada a escrever.
E quero agradecer as meninas que comentaram no capítulo anterior e foram o único incentivo que me trouxe até aqui, Angel, Absinthe, e wendypillow obrigada paixões. Há umas frases em itálico nessa parte Nova Orleans imaginem a voz britânica sexy do Klaus narrando.



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Aros, Dinamarca 1013 d.C.


A jovem vampira amaldiçoava a própria sorte. Já detestava ter de viver sempre em constantes e cansativas mudanças. Ainda que no começo lhe trouxesse certo prazer à adrenalina de viver uma aventura emocionante e o fato de conhecer novas paisagens, principalmente para uma garota que sempre sentira-se confinada, uma mudança de ares parecia maravilhoso. Por algum tempo.

Agora, no entanto, sentia-se vivendo como nômade, viajando o tempo todo de um lugar para o outro. Não bastavam os dias intermináveis balançando no navio, teriam de fazer outra parada para “abastecer” em uma cidade comercial viking. Apesar de o lugar lhe parecer mais uma enorme arena gladiadora. Quando o irmão lhe dissera “cidade fortificada” ela não imaginou uma muralha cercando todo o território.

 A areia fina da praia estava por todo o lado, levada junto à poeira pela brisa do ar ao cais, fazendo a garota bater as botas várias vezes na madeira apodrecendo do píer. E se já não lhe agradara o que vira de fora, por dentro fora ainda pior.

Odores de suor e estrume eram apenas alguns dos aromas locais, terríveis cheiros de putrefação e morte também eram acrescidos ao se aproximar do centro da cidade, onde estava o cemitério. Além disso, tanta relva a todo o lugar causava-lhe enjoos. Desde o declive á muralha aos telhados de turfa de residências. Estas, organizadas em assentamentos rurais e agregando construções parcialmente subterrâneas além da principal, o irmão mais velho explicara-lhe que serviam como um abrigo contra os rigorosos invernos que os habitantes enfrentavam naquela região.

O mais velho insistia em chamar a cidade de “pitoresca” e afirmar ter seu charme. Já ela? Definitivamente mal podia esperar para deixar aquele lugar.

— Quanto tempo teremos de levar neste lugar, irmão? — quis saber.

Mais uma carroça transportando barris de cerveja passava por eles em direção à taverna abaixo da estalagem onde hospedaram-se. De lá, provinham sons instrumentais em animadas canções, ruídos de objetos chocando-se e estilhaços de outros se partindo, e a algazarra de vozes alteradas pela bebida. A vampira praguejou, maldizendo o momento em que atracaram no cais.

— Apenas o suficiente, Rebekah, não se preocupe. — o que recebeu, no entanto, foi à resposta vazia e um sermão do irmão. — Enquanto isso, espero que lembrem-se de manter a discrição, especialmente considerando o… Costume, de nossos anfitriões.

— Pois eu acho que se temos apenas uma noite em um lugar tão singular, seria um desperdício lamentável deixar de aproveitar tudo o que tem a oferecer. — discordou o outro, por fim, reaparecendo através das sombras de um casebre. Limpou com o polegar o rastro de sangue ao canto dos lábios. O mais velho esboçou um sorriso depreciativo.

— São comportamentos como estes que peço a ser evitados, Niklaus.

O irmão apenas alargou o sorriso em provocação. Ela pensou ser melhor resguardar-se apenas a uma espectadora.

— Lidarei com repor a perda de nossa última tripulação. — o irmão logo estabeleceu fazendo menção a se retirar. Conteve-se, entretanto, e dirigiu a atenção enfaticamente ao outro. — Enquanto isso, eu recomendaria a não chamar a atenção. Afinal, diferentemente dos moradores, Mikael não será facilmente persuadido.

Então retirou-se.


A mais jovem repudiava contrariar ordens do irmão, mas afinal, estava sendo discreta e estava faminta. Ademais, certificara-se de que o cemitério estava seguramente vazio… Porém, nem tanto quanto a vampira acreditara.

Ao finalizar com as últimas gotas de sangue da pobre mulher enquanto perfurava freneticamente o pescoço, um novo som ressoou a escuridão da mata. Afastou as presas do corpo sem vida de sua vítima e olhou ao redor em alerta. Fora o som de passos ao gramado que a despertara, mas fora as batidas rítmicas de um coração pulsando e o aroma de sangue que lhe trouxe a certeza.

— Quem está aí?! — indagou após soltar o corpo da mulher ao chão. — Eu posso ouvi-lo, mostre-se.

Manteve-se atenta a qualquer movimento até que pacientemente, detrás das árvores a silhueta masculina se revelou na imponente figura de um jovem. Aparentemente, não deveria passar dos vinte e cinco, se chegasse lá, contudo, o semblante duro e inexpressivo e postura firme e calculada passava a impressão de que talvez, a aparência era apenas um truque enganoso.

— Bem, é uma pena. — continuou a vampira ao perceber que não receberia qualquer resposta. — Você era bonito demais para morrer.

Avançou em um único movimento de velocidade sobre-humana exibindo as presas afiadas ao ataque, contudo, foi ela a ser surpreendida quando o estalo de ossos partindo-se foi audível ao ter as pernas quebradas. A vampira despencou á relva sem conter um grito estridente e mal houve tempo a se recuperar quando sentiu pontadas de dor vibrantes na cabeça, como se o cérebro estivesse explodindo.

Segurava as têmporas com força e apertou os olhos enquanto sentia-o aproximar-se tranquilamente, e olhos intimidadores a analisá-la atentamente.

— Você não é um deles. — concluiu franzindo o cenho. — Quem é você?

Quando a resposta não veio, com um movimento da mão o bruxo fez com que sua dor intensificasse consideravelmente e a garota emitisse um grunhido ainda maior.

— Só perguntarei mais uma vez… — insistiu firmemente. — Quem é você?

— Rebekah Mikaelson… — a vampira esforçou-se a rosnar entredentes.

— Não. — ele girou a mão novamente, aumentando a tortura.

— Definitivamente não é.

A vampira vociferou e encolheu-se agonizando enquanto o bruxo fortalecia o feitiço. O bruxo sentira a intensa magia emanando de outras duas presenças e quando uma sombra saltou sobre suas costas, invocou o feitiço e usou da outra mão a arremessar o vampiro recém-chegado contra o terceiro que se revelou na tentativa de ajudar a irmã.

Com os três caídos, o bruxo conjurou mesmo feitiço sob os outros dois provocando o romper de neurônios e vasos sanguíneos. Examinou o trio meticulosamente. Aquele a atacá-lo era o único desconhecido, possuía os cabelos castanhos armados à altura dos ombros e as linhas do maxilar acentuadas. Já os outros dois, dispunham posturas naturais de nobres e traços semelhantes, apesar de a mulher ser uma ruiva de cabelos como fogo vivo e brilhantes olhos verdes, enquanto o homem dispunha madeixas de um tom loiro escuro e um rosto redondo de intensos olhos azuis. Ele recordou-se de tais fisionomias, afinal, fora as presenciadas em quadros ao salão do castelo do Conde.

— Os filhotes de Martel… É claro. — pronunciou, compreendendo impressionado.  — Confesso que não encontrava um motivo para que os levassem com eles, agora tudo faz sentido.

— De que diabos está falando?! — emitiu a ruiva entre grunhidos sôfregos.

— É realmente uma jogada inteligente, usá-los para enganar Mikael e levá-lo para longe. Mas como fizeram com que realmente acreditassem que são eles? — pensou alto consigo mesmo enquanto ponderava. Laylah havia lhe dito que o feitiço concederia além da imortalidade outros… dons.

— Como sabe sobre Mikael? — foi Tristan a exigir explicações, tentando inutilmente lutar contra a dor enquanto, como os demais, retorcia-se ao orvalho da noite. — Como sabe sobre nós?

— Bem, não importa. Ele caiu na armadilha e está a caminho.

Voltou a dar atenção ao trio contraindo-se aos espasmos de dor excruciante e meditou por um segundo, decidindo que não tinha tempo para isso agora. Até porque, não era realmente problema seu. Lidaria com isto em uma próxima.

— Ouçam o que vão fazer. — anunciou firmemente.


Após um discurso nada amigável, porém realmente convincente, o trio compreendera que estavam diante de um verdadeiro duelo de Titãs. E depois de indiscrições mais do que suficientes cometidas e a certeza de que se o bruxo já os alcançara, Mikael não deveria estar tão longe, lhes pareciam bastante proveitoso uma distração para atrasar o Destruidor providenciando tempo para uma fuga rápida.

Fora que os sósias ainda encontravam-se estupefatos de tamanha forma diante ao presenciado. Nunca antes depararam-se a tal poder como o que sentiram naquela noite, assim como, dúvidas haviam sido plantadas diante as palavras do jovem. Dúvidas com as quais partiram tão brevemente a arranjarem uma nova tripulação, e que de forma alguma, ficaram para trás junto a Aros ao zarpar do navio.

Enquanto o bruxo não tivera de esperar muito. Um dia e uma noite quando logo na seguinte, o homem que desgraçara-o a vida pela última vez atracava a cidade viking. O palco perfeito para a última batalha. O palco perfeito para a tão esperada vingança.


Nova Orleans, atualmente.

Um dia antes.

Ao longo dos séculos, divagações sobre vida e morte têm sido feitas.

Toda a vivacidade parecia condescendentemente apagada em um dia cinza. As melodias de jazz de artistas de rua soavam melancolias, e as telas sem expressão, mesmo as ruas aparentavam quase que desertas e não haviam fantasias ou dança. A cidade estava sem cor. Nova Orleans estava de luto.

O que acontece às almas enquanto os corpos deterioram-se ao tempo? O que vem depois? Reencarnação, luz ou trevas, paraíso ou inferno, salvação ou condenação?

Mas quando um artista põe a própria alma em sua arte, a criação, para a eternidade, tende a refletir esta alma. Então como pode a obra refletir todo seu fugaz esplendor, quando a alma do artista está despedaçada?

Milhares de teorias especulam a última perda.

Do alto ao antigo prédio de tijolos, na varanda de ferro forjado; lá estava o triste rei em sua agonia, a qual nem mesmo o Bourbon poderia afogar. A pele sem sangue nas juntas, onde os dedos apertavam o copo e as barras das grades, mas mesmo o semblante parecia desprovido de vida. As feições consternadas poderiam, talvez ser disfarçadas ao assumir a falsa postura inabalada do temido híbrido Original, mas nada esconderia a dor por trás dos olhos turquesa, a qual o consumia um pouco mais a cada segundo. Ainda que nela já estivesse imerso. Ainda que não o fosse admitir.

Engoliu o último gole do uísque e deixou o complexo.

Mas eu recordo um poema que relembra a verdadeira perda.

Klaus acreditava que a morte era um inimigo que, apesar de não facilmente, poderia sim ser driblado. Principalmente, quando era Klaus Mikaelson, o poderoso rei temido de Nova Orleans, e quando já o fizera anteriormente.

Conservara o corpo de Marcel no “Jardim” enquanto buscava uma maneira de trazê-lo de volta, recusando-se e frustrando qualquer tentativa de dá-lo uma cerimônia de despedida. Só agravando a fúria de Rebekah de modo que evitavam até mesmo se ver. Embora, Klaus particularmente evitasse todos. Não queria ver e tampouco falar com alguém, nem mesmo sua pseudo psicóloga. Mas este é sempre o primeiro estágio, negação. Até ser enfim convencido — para não admitir apenas enxergar o que estava cego demais pelo ódio e a dor para ver — e pôr um fim àquele tormento.

 “Marcel teria gostado de festas homenageando-o por sete dias” foi o que lhe disseram quando decidiu que cortaria este ponto. Até um velório fora sugerido. Uma blasfêmia! Marcel não estava lá para fazer desejos. Não eram despedidas, aos que só sentiam a dor da perda, apenas servia para intensificá-la e prolongar uma tortura.

“Toda noite e toda manhã…

A noite era acompanhada por uma névoa densa que a tornava sombria. As únicas claridades naquele ponto provinham da luz brilhante da lua e o tremeluzir das flamas amarelo e laranja das tochas aos ali presentes e do barco em chamas onde flutuava o corpo do vampiro. Iluminando ponte a qual atravessava o rio Mississipi, onde todos despediam-se de Marcel Gerard.

…a existência de alguns é vã”

Ainda assim, se na vida não há justiça por que haveria na morte? A sua seria mais um dos grandes fatos sobrenaturais quais não entrariam para a história. Como deveria, considerando seus atos em Nova Orleans, desde reconstruir a cidade das cinzas a criar uma verdadeira comunidade de vampiros, escondida bem a vista de todos.

“Toda manhã e toda noite…

De forma alguma, entretanto, poderia se dizer que a existência de Marcel Gerard fora vã. Afinal, dentro da comunidade sobrenatural, não haveria quem não conhecesse o poderoso nome que recebera tão harmonicamente aliado a quem estava destinado a ser. Não um menino bastardo e escravo. Marcel sabia que ainda deixaria sua marca em um mundo onde seu nome teria valor e seria conhecido.

…Alguns nascem para o doce deleite”

“Alguns nascem para o doce deleite”

Como sabia que o caminho até lá seria uma estrada longa e tortuosa, mas ele não o via como um castigo. E sim algo que traria ainda mais valor ao seu trunfo. Não escondia suas origens, mas as exibia com orgulho como as marcas da chibata em suas costas. Não teria nada fácil como um nascido nobre feito seu meio-irmão, quem tivera tudo em vida, mas morrera sem deixar qualquer vestígio sobre sua existência.

“Outros para o infinito da noite”

Marcel definitivamente jamais seria esquecido. Afinal, o vampiro marcara vidas. Como um tirano ou um poderoso líder, uma coisa era certa: Marcel seria lembrado. Por alguns como um monstro que matou e aprisionou uma matilha inteira a uma maldição; mesmo monstro que salvou um grupo de crianças prestes a condenação da mesma maldição antes da hora. O assassino que tirou a vida de uma família, e o salvador que demonstrou misericórdia a um bebê, ainda que seu inimigo natural, mandando-a para longe. Tanto o vilão que aprisionara e usara uma garota assustada e inocente para manter vantagem na guerra, quanto o herói que salvara uma criança de ser sacrificada enquanto os próprios pais apenas assistiam.

“Somos levados na mentira acreditar”

“Quando não vemos através do olhar”

Mas Marcel era conhecedor do próprio fim. Como sabia que a vida eterna era uma mentira; assim como a imortalidade, questão de percepção. No fim, seu legado não seria para sempre lembrado? Seu nome não ficara marcado na história sobrenatural do French Quarter tanto quanto seu sangue manchava as ruas? Sim, a vida eterna é uma mentira. Ninguém vive para sempre. Mas a eternidade é real e se alguém a alcançara, certamente fora Marcellus. Assim, ele estava em paz. Partindo ao infinito da noite, a qual fora seu berço, sua morada e seu leito final.

“Quem nasce à noite, perece à noite”

“Quando a alma dorme em raios de luz”

Marcel, porém, não ficara para lidar com ela. E ainda que todos encontrassem conforto neste pensamento, Klaus jamais encontraria qualquer consolo. Não quando ao olhar o corpo inerte, não era o grande homem o qual se tornou quem via. Mas o garoto de bravura admirável, um bastardo sem nome, desprezado e enfraquecido pelo que queriam que ele fosse e o que o aprisionara, impedido de libertar potencial e força dentro de si. Exatamente como Klaus fora um dia. Um pequeno guerreiro.

E fora aquele quem perdera.

“Deus aparece e Deus é luz”

“Para as pobres almas que na noite tem morada”

Não o poderoso Marcel que reinou no French Quarter. Mas o pequeno Marcellus, o menino quem criou como seu filho. E esta era a dor de sua perda. Não a de um amigo, não a de um companheiro, não a de um grande homem. A de uma criança que educara, cuidara, treinara e ensinara. A quem fez a sua imagem sentindo que um dia o superaria e o deixaria orgulhoso. Mas Marcel tinha algo que ele nunca teve. Crença.

A crença de uma criança.

Aquela enorme fé dentro de si e que emanava através dele e passava a que os outros sentissem; uma capacidade de fazer as pessoas acreditarem nele. Pois, ele acreditava. Marcel acreditava em si mesmo e em seus objetivos, e sempre soube pelo que estava lutando e acreditava em sua luta como acreditava em sua vitória. A inocência de que no final, tudo daria certo. E, como todo o guerreiro, ele venceria.

“Mas em forma humana se anuncia…

A inocência de uma criança. E a perda de cada criança é uma perda da inocência.

No curso natural da vida humana, pais morrem antes dos filhos. E se quando um filho perde os pais a dor é imensurável, pois ainda que seja a forma natural, não torna mais fácil a aceitação. Mas quando um filho perde o pai, o que fica é a dor da saudade. Porém, quando um pai perde um filho, o que fica é a mágoa, a raiva, a dor, e o ódio. E quando um filho é assassinado, o combustível que o alimenta então, é a sede de vingança.

…Á aqueles que moram na luz do dia”


No novo acampamento montado ao Bayou, tudo estava longe de pronto. Barracas ainda erguidas, motorhomes organizados e uma nova cabana improvisada. A maioria da iluminação provinha da fogueira, das tochas ou das lanternas, além da brilhante lua nova que enfeitava o céu naquela noite.

Lion, o homem grisalho e com expressão de linhas duras, que usava estilo lenhador de camisas xadrez e coturnos, se aproximou da fogueira onde a maioria se reunia sobre troncos secos com cerveja e canecas de chope.

— Soube que já estão queimando o corpo. — comentou sordidamente.

— Queria ver isso. — diz o jovem John de feições duras e frias iluminadas ao crepitar do fogo. — Agora os sanguessugas sabem como é quando matam um de nós.

— Quando matam… — o homem de voz grave interrompeu-se para um gole. — É sempre um pai, um irmão… um filho, de alguém.

— E se o funeral já acabou? — reforçou Lion — Quando acabar, o dia de luto também acabou.

— Não temos de esperar tanto. — discordou John. — Só até meia-noite.

— Não!

A voz imponente surgia das sombras através da floresta. Will Bryant trazia lenha nos braços e um semblante tenso em reprovação no rosto. As sobrancelhas friccionadas e os olhos escuros graças ao breu da noite continham tom ameaçador.

— Nunca mais repitam essas coisas. — e esclareceu — Nós não somos assim.

— Não, não somos. — o tom mais suave e ainda altivo da irmã se fez presente. Alessia tinha uma expressão fria e contida. Encarou cada um fixamente ao dar o aviso.

— Agora escutem, ninguém vai fazer nada hoje. Eles estão de luto.

— Isso nunca foi um problema para eles!

— Você acima de todos deveria entender. — fez-se silêncio carregado quando Lion disparou impiedosamente. Levou um momento de tensão para a resposta.

— Relaxa, Rei Leão. — Alessia, por outro lado, não perdeu a postura petulante. — A hora deles chegará e quando chegar, não atacarei de forma baixa ao estarem fracos. Essa é a natureza e a nobreza de ser um lobo. Claro, duas coisas que não podem ser compreendidas por covardes.

Will, John e Connor tiveram de segurar o homem ameaçando partir sobre si.

— Alguém devia dar um calmante ao Simba. — Alessia sorriu insolente.

Enquanto a mais jovem se afastou, desaparecendo onde a escuridão alcançava as árvores, Will suspirou profundamente sentindo o peso da dor da irmã.

— Less… — fez menção de segui-la e foi impedido.

— Deixe-a, Will. — diz John com dois tapas a seu ombro em sinal de apoio.

— Sabe que hoje é um dia difícil para ela.

Alessia passou mais tempo no cemitério desta vez, era muito a dizer com tudo o que aconteceu, só ainda não acostumava com o fato de não ouvir uma resposta.

Estalos de gravetos e folhas secas partindo-se sob seus pés eram os únicos movimentos. Como em um rasante, repentinamente, veio o golpe a arremessá-la ao ar e o encontro ao solo foi em queda violenta. Uma emboscada era o que Alessia não esperava quando já estivesse no Bayou, mas não houve tempo a pensar quando o agressor partiu sobre si outra vez, obrigando-a a contra-atacar depressa.

Uma luta corporal de movimentos rápidos e precisos se iniciou onde o som de passos pesados contra o solo, osso contra músculo e rachar das cascas de árvores atingidas no processo eram intensos. Como se estivessem conectados, como se um previsse o ataque do outro, as posições eram rítmicas como em uma dança mortal. Quando um usava o ataque, o outro combinava a defesa, e quando um contra-atacava, o outro levantava a guarda.

Um poderoso chute alto no peito, enfim bem-sucedido, e o encapuzado ricocheteou contra um tronco enquanto a loba tomou impulso e saltou sobre ele de punho fechado. Alessia intensificou os socos a face do homem abaixo de si, mas os três acertaram de leve ao passo em que ele esquivou-se.

— Momento histórico: a identidade de Robin Hood é finalmente revelada! — zombou Alessia ao puxá-lo pelo colarinho da jaqueta.

Sob o capuz, a loba vislumbrou um sorriso antes de ele jogar o quadril sobre o seu e arremessá-la a relva. Com o quadril imobilizou o dela e um braço prendeu os seus acima da cabeça com força sobre-humana. O suspiro fraco escapou dos lábios ao sentir o aço gélido da arma no pescoço e Alessia arregalou os olhos.

— Está destreinada, Less. — seu interior vacilou ao som da conhecida voz.

O escorregar do capuz preto revelou o rosto angular e a pele alva, mesmo à escuridão noturna, definitivamente por ela tão familiares. Os cantos dos lábios espessos se ergueram lentamente no bem delineado sorriso atrevido.

— O filho pródigo retorna. — enfim, Alessia devolveu o sorriso com humor.

— Olá, Asa.

— Olá, irmãzinha.

O mais velho ergueu-se e ajudou-a a levantar. Já em pé, Alessia pulou no pescoço do irmão envolvendo as pernas ao redor da cintura de Asa no abraço cheio de saudades, o que provocou o riso breve do irmão devolvendo o abraço.

— Também senti saudades, tampinha. — provocou antes de soltarem-se.

— Diz o cara que acabou de tomar uma surra da irmãzinha. — rebateu Less.

Oh, Asa, você está tão destreinado.

Asa ergueu o braço em direção ao rosto de Alessia e limpou com o polegar o canto de seus lábios, exibindo-o em seguida para que a irmã observasse os rastros do próprio sangue. Arqueou uma das grossas sobrancelhas negras. Alessia sorriu tripudiando ao mesmo nível enquanto cutucou o abdômen do irmão onde havia acertado o chute, vendo-o franzir o cenho tentando conter o grunhido de dor.

Eram outras perguntas que rondavam a cabeça da mais nova, no entanto, por rever o irmão tão cedo. E Asa já imaginava o turbilhão passando-se na cabeça dela.

— Vamos, mostrarei o novo acampamento. — Alessia adiantou a novidade.

— Tenho uma ideia melhor. — o irmão inclinou a cabeça observando-a sob olhos indecisos, como Alessia apelidara. Pois, ainda pior do que com Will, os olhos de Asa mudavam de cor. Iam de verde tão claro que se confundia ao cinzento, para outro tão escuro quase alcançando o castanho. — Ainda trabalha naquele restaurante?

Alessia sorriu condescendente por recuperar o irmão cumplice.

Sequer no dia seguinte teve paz. Klaus era constantemente vigiado e contido, principalmente por Elijah, lembrando-o como mesmo perigo a Marcel poderia ser oferecido à Hope e à família; deixava Klaus louco. Como podia guardar a sede de vingança em si? Porém, como então poderia descontá-la à custa de novas perdas?

Freya convenceu-o ser ela a acompanhar Rebekah no encontro à bruxa renegada, e Klaus não estava em posição de discutir. Não haveria como argumentar a perspicácia da irmã quanto seu objetivo nem tão oculto em tirar proveito e fazer uma visita às bruxas. Com as notícias que retornaram, entretanto, sua vontade foi ter ido pessoalmente e obrigar Davina a colaborar, já que sabia como mesmo explicando a situação, o irmão egoísta não retornaria por vontade própria. E agora, não poderia obrigá-lo, ainda mais essa. As adagas desaparecidas e sabe-se lá nas mãos de qual inimigo, e eram muitas as opções.

Do quarto, Klaus escutou a voz do irmão ao se anunciar no andar debaixo, decidindo logo acabar com aquela espera impertinente assim que ouviu suas palavras a Rebekah: “E então, como foi com Davina?”.

— Tão ruim quanto poderia, se quer mesmo saber. — anunciou o híbrido a passos pesados rangendo sobre a madeira às escadas para o pátio de entrada.

Os olhares dirigiram-se a ele imediatamente. Elijah o observou meticulosamente, o que Klaus sabia que era sua forma de certificar-se diante a qual faceta do irmão estaria agora; enquanto Rebekah revirou os olhos, entediada, parou próximo aos dois.

 — E a julgar por sua expressão derrotista, suponho que nenhum sucesso com os lobos também. — Klaus concluiu ao fitar Elijah atentamente. — Como eu esperava.

— Suas últimas ações contra eles, como amaldiçoar a matilha inteira, por exemplo, podem ter dificultado um pouco a tarefa. — Elijah rebateu presunçosamente. Klaus inclinou a cabeça e relaxou a postura tensa ao voltar a olhá-lo; sorriu falso.

— Bem, como diria Charles-Guillaume Étienne, “se quer algo bem feito, faça você mesmo”.

— Niklaus… — pôs-se em seu caminho de forma autoritária. Klaus grunhiu.

— Tentamos do seu jeito e, como pode ver, não funcionou. — esbravejou, colocando-se diante ao irmão ameaçadoramente.

— Então apenas saia do meu caminho enquanto eu faço do meu.

— Deixe-o, Elijah. — enfim Rebekah manifestou-se displicentemente.

— Niklaus não vai descansar até arruinar completamente essa família.

— Oh, e o que você tem feito, Rebekah? — Klaus dirigiu-se agressivamente à irmã no estofado vitoriano, sinalizou a bebida em suas mãos. — Porque, até onde eu sei, beber e chorar não contam como tentativas válidas em resolver a situação.

— Vai se ferrar, Nik!

Os estilhaços de vidro explodiram e cacos caíram das mãos assim que o copo se partiu e Rebekah o encarou com a expressão transtornada. Elijah bem que tentou acalmar os ânimos sendo apenas ignorado por ambas as partes.

No fundo, Klaus não tinha intenção de dizer aquilo e, ainda assim, não se desculparia. Apenas ele sabia ser este motivo pelo qual vinha evitando todos, pois previa este como resultado para qualquer interação. O uso de palavras agressivas sem medir sua raiva pelo puro instinto e a necessidade de extravasá-la, por nenhuma razão senão a necessidade de ferir alguém tanto quanto se sentia ferido. Ainda que uma das raras pessoas a ocupar um lugar em seu coração frio. Ainda que não fosse a intenção. Mas serem os únicos realmente capazes de machucar uns aos outros era apenas parte da essência de ser um Mikaelson.

— Pode jogar a culpa em todos os outros, mas quem começou a destruir essa família há mil anos foi você com seu egoísmo e sua paranoia. — acusou Rebekah em um súbito de raiva, apontando-lhe o dedo. — Então, talvez nossos inimigos nem devam se preocupar em nos derrubar porque você vai fazer isso sozinho.

— Rebekah! — gritou, vendo a irmã passar pela porta de forma impactante.

— O que está acontecendo?! — quis saber a outra irmã surgindo através do arco à entrada com uma segunda presença atrás de si.

— Ora irmã, vejo que traz o inimigo à nossa casa.

Elijah virou para cumprimentar o bruxo acompanhando Freya ao comentário maldoso de Klaus.

— Vincent, obrigado por vir. — disse ele cordialmente assim que ambos juntaram-se a eles. — Peço que perdoe os modos de Niklaus, os últimos eventos levaram sua paranoia a outro nível.

— Só estou curioso. — defendeu-se Niklaus com falsa inocência de um brilho no olhar repleto de intriga. — O que o faria ficar contra seu próprio povo em nosso favor, especialmente após meu irmão Finn virar parasita em sua cabeça ano passado.

— Escute cara, eu não estou do seu lado. — Vince tratou de esclarecer.

— Mas qualquer coisa para manter os ancestrais longe da minha cabeça.

— Vincent têm informações sobre os movimentos recentes das bruxas e, — interrompeu-se Freya, contorcendo feições preocupadas — as notícias não são boas.

— É, mas só para começar…

Vincent retirou algo do bolso interno da jaqueta e entregou a Elijah que o observou cautelosamente. Klaus juntou-se ao irmão mais velho para ver fotografias de corpos dissecados e a pele estraçalhada em diferentes partes do corpo.

Klaus reconheceu o lugar, havia estado lá com Marcel há mais de dois anos atrás quando tomou o controle do Quarter e o antigo conselho dos humanos explodiu o bar no posto de gasolina onde a maioria dos vampiros fora do circulo de anéis ficava durante o dia.

— Encontrei com Kinney hoje de manhã, ele pediu minha ajuda para dar um jeito nisso antes de mais alguém encontrar. Isso aconteceu ontem por volta de uma hora da manhã. — explicou Vincent.

— Logo após o funeral. — disse Elijah, ainda concentrado as fotos.

— O que significa isso…

— Vampiros do Marcel. — diz o bruxo. — Mortos no bar fora da cidade por…

— Mordidas de lobisomem. — dessa vez, foi o híbrido a concluir o raciocínio.

— Exatamente como Marcel. — refletiu Elijah. — Bem, eles já tentaram antes, não deu certo. Podemos fazer de novo, tudo o que precisamos é descobrir os responsáveis por estes ataques.

— Não, é diferente agora. — Freya discordou com certeza e receio por trás dos olhos verdes. — Não são apenas os lobisomens…

A loira trocou um olhar cumplice com Vincent indicando a deixa do bruxo para contar o que sabia. Elijah acompanhou o raciocínio em expectativa.

— O que estão planejando? — questionou temerosamente.

— O objetivo é bem simples. Tirar de vez sua família de Nova Orleans. — o olhar seguro de Vincent passou por cada um dos irmãos. — Mas é realmente diferente agora. É mais forte. E não acho que serão tão facilmente derrotados outra vez.

“Alguém que quer acabar com essa raça em Nova Orleans…” — Elijah murmurou as palavras recordadas com um olhar distante. — Foram as palavras de um lobo sobre o surgimento de outra opção além de Hayley e Jackson.

— Espera, está dizendo que… — Freya precisou de um momento, dirigiu-lhe os olhos surpresos, acompanhando o silogismo de Elijah e encontrando certa razão.

— Acha que as bruxas e os lobos são aliados?

— Não seria a primeira vez que lobos e bruxas formam uma aliança contra nós.

— Não, não, eu não acho isso, cara. — Vincent negou em discordância.

Afinal, a última vez em que uma aliança entre lobisomens e bruxas acontecera, todos na comunidade sobrenatural perceberam, e agora, não havia quaisquer indícios dessa possibilidade. Nem ao menos rumores espalhados. Para o bruxo, não fazia qualquer sentido.

— Até onde eu sei nenhum lobo frequenta o cemitério e não ouvi nada sobre uma aliança com o Bayou.

— Bem, os lobos se aliaram a elas por anéis da lua. — Freya relembrou, concentrando-se — Então, agora que controlam a transformação, o que elas teriam a oferecer?

— O inimigo em comum. — sugeriu Klaus por fim, após tirar seu tempo em silêncio apenas ponderando. — Tanto as bruxas quanto os lobos nos querem longe, por que não unir forças?

— William Bryant parece ter assumido a liderança do Bayou, o que nos leva a questão: quem representa as bruxas? — Elijah ergueu os olhos para os demais, mas como um desertor, aquela era uma questão sem resposta até mesmo para Vincent.

— Só há uma maneira de descobrir. — Klaus disse incisivo. — E já que na última conspiração nossa mãe voltou dos mortos, eu prefiro evitar surpresas.

— Eu não me precipitaria tanto. — Vincent soou de forma tão enfática quanto horripilante. — Acreditem, já vi muito poder naquele cemitério, mas com a força que senti… Se fosse vocês, iria embora hoje mesmo.

Um som estridente explodiu na cabeça de todos, repentinamente, como o soar de um apito. Os fez se contorcer diante aos impulsos de uma dor excruciante como se o cérebro fosse explodir. Dos portões de ferro surgiu o jovem asiático sempre com o brinco negro na orelha, parou diante aos olhos de todos e encarou cada um.

— Eu ouviria o conselho dele. — disse Van Nguyen.

Klaus foi o primeiro a tentar resistir aos impulsos na cabeça e trouxe sua essência híbrida à tona, mostrando os olhos negros sobre as veias saltadas e exibindo as presas, porém, ao tentar avançar para um ataque, sentiu o corpo formigar, dormente. Foi como se apenas não respondesse aos próprios comandos.

Desviou os olhos a Elijah que parecia ser afetado da mesma maneira, assim como Freya, mas Vincent, parecia ainda pior. De joelhos ao chão, sua tosse era sangue que também pingava do nariz e Vincent segurou a própria cabeça como se ela estivesse prestes a ser arrancada. Foi quando Klaus entendeu. Um único bruxo não poderia dispor de tamanho poder para deter todos, a não ser que não fosse Van. O ruído ensurdecedor em sua cabeça eram sons fantasmagóricos de feitiçaria. Os ancestrais.

— Mas é azar o seu, Vincent. — o bruxo do Clã Versailles voltou à fala, erguendo uma das mãos em direção ao bruxo. — Não toleramos mais traidores.

A próxima coisa que ouviu foi o grunhido do bruxo de joelhos ao chão, agora, o líquido metálico lhe escorria através de olhos e orelhas e o grito estridente da irmã preencheu o lugar com seu desespero.

— E não se preocupe híbrido. Em breve, você irá conhecê-lo. — e Van sorriu pretensioso antes de levar os olhos a Vincent novamente. — Boa sorte no purgatório.

Van girou a mão e ao mesmo tempo o estalar de ossos se partindo encheu o salão, acompanhado do baque surdo quando o corpo despencou pesado sobre o piso.

Em pé, Rebekah desviou os olhos sobressaltados entre todos que penderam com a breve perda do equilíbrio ao livrarem-se da tortura assim que Van caiu morto aos pés da loira.

— O que diabos está acontecendo?!

P.O.V. Elena

No caminho até minha casa, concentrei-me em fixar os olhos à janela, nas paisagens dos prédios de tijolos baixos e espaços comerciais lado-a-lado, e as residências tradicionais, em sua maioria de arquitetura entre as décadas de vinte a cinquenta. Era uma distração, mas pelo menos, eu pensava menos sobre a sensação perturbadora em ter Mason Lockwood no volante ao meu lado.

— Então, você está no segundo ano, não é? — Mason iniciou a conversa, soava divertido. — Deve estar aprontando para valer agora.

Virei-me, alternando a atenção da janela a ele. Sorri sem graça.

— Não exatamente. — respondi simplista.

— Na nossa época qualquer coisa era desculpa para matar aula nos fundos atrás da escola ou na floresta na propriedade da minha família. — contou Mason de forma calorosa. Logo certificando-se de acentuar: — Por favor não diga a Jenna que contei isso, mas tem mesmo é que aproveitar, sabe. — ele continuou.

— Época melhor que essa só a universidade.

— Na verdade… Isso não é muito a “minha coisa”. — confessei.

— Oh é, eu… Soube do acidente de seus pais. — tocou logo em assunto o qual eu tentava evitar. Mason dirigiu-me os olhos turquesa, exibindo feições suaves.

— Sinto muito. Sei como pode ser difícil perder os pais tão jovem.

— Obrigada. — eu sorri acenando positivamente.

— Então, e — por favor, não diga você está bem — você está bem?

— Sim, estou bem. Obrigada.

Esforcei-me em soar verdadeira. Sabia que Mason apenas tentava ser legal, mas eu simplesmente não suportava mais como todos os assuntos iniciados comigo levavam de volta a “coitada, ela perdeu os pais”. Como se eu precisasse de cada resquício de pena. Até porque, isso só surtia em mim dois efeitos.

O primeiro, quando alguém de fora o fazia, então o buraco em meu coração aumentava mais um centímetro ao levar-me de volta as lembranças, recordando-me a cada segundo como não estavam mais aqui. E segundo, e este ainda pior, quando era alguém próximo. Pois então, sabia que estava machucando-os também por se preocuparem comigo, por mais convincente que eu pudesse ser.

Deixei meus pensamentos de lado quando o Ford Bronco estacionou em frente ao meu jardim com apenas as luzes da varanda acesas.

— Obrigada pela carona. — despedi-me com um sorriso, espero, mostrando gratidão. Soltei o cinto e puxei a maçaneta interna, porém, antes de descer, Mason tocou meu braço trazendo-me os mesmos impulsos alarmantes outra vez.

— Elena, eu queria me desculpar sobre aquela noite no pub. Eu tinha bebido e você… — Mason pareceu escolher as palavras cuidadosamente antes de concluir.

— Você se parece bastante com alguém que eu conheço.

— Sem problemas. — respondi com descaso, disfarçando. — Boa noite.

Já atravessava a trilha de concreto ao gramado até a varanda quando ouvi a voz de Mason descendo do Ford, que se apagou.

— Vou acompanha-la até a porta.

— Oh, não precisa. Você já me trouxe em casa.

— Eu faço questão.

Em frente a esta, agradeci mais uma vez e alcancei o molho de chaves, vendo-o afastar-se. Relaxei os ombros com a sensação de alívio que durou três segundos.

— Sabe se Jenna está em casa? — Mason estava parado no meio do caminho entre o carro e a varanda. — Não nos vemos há tanto tempo, eu adoraria revê-la.

— Na verdade, acho que ela ainda deve estar no escritório. — procurei uma resposta rápida. — Jenna às vezes fica até mais tarde.

— E você fica sozinha todo este tempo?! — sorriu — Não tem medo?

— Não estou sozinha, Jer está em casa. — respondi, voltando-me à porta.

— Elena. — tomei fôlego antes de me virar. — Peça para Jenna me ligar.

— Claro. — forcei um sorriso.

Tranquei a fechadura rapidamente ao adentrar e encostei as costas à madeira da porta, soltando o ar. Aquilo fora mais do que apenas tenso ou esquisito. E apesar de desconhecer a natureza, sentia que o tio de Tyler não fora tão perseverante nessa conversa apenas para desfazer um mal-entendido por ser a sobrinha de uma amiga de infância. E se assim fosse, então sejam quais fossem os motivos reais por trás do excesso de simpatia, eu deveria ficar de olhos abertos.

Agora, no entanto, tudo o que queria era mantê-los bem fechados e dormir uma boa noite de sonho, para recuperar todas as últimas que sequer dormira direito.

Mais uma vez acordei erguendo-me na cama com um sobressalto ao som do despertador. E após desliga-lo suspirei profundamente e esfreguei o rosto, tentando me recuperar.

Querido diário, esses pesadelos vem tornando-se cada vez mais intensos e confusos. Agora, depois de ver minha foto como “encontrada morta” no noticiário e correr para a porta, era a figura sinistra de um lobo cinzento que me espreitava da varanda com olhos predadores e atacava-me diante a mínima movimentação.

Vampiros, lobos, cada vez era mais difícil tentar entender o sentido ou a natureza desses pesadelos. Parte de mim apenas quer que eles acabem de vez. Simples. Sem explicações, apenas o fim. Porém, a outra parte sente a necessidade de entender a relação desses temas com meu subconsciente, e, acima de tudo, as respostas aos questionamentos que não saiam de minha cabeça. Como por que começaram de repente e quais as suas origens.

Nos últimos meses, sinto que perdi o controle da minha vida e não sabia mais como recuperá-lo. A antiga Elena provavelmente reorganizaria os pensamentos e encerraria de vez a história. Mas a cada dia aumenta a certeza de que não sou mais ela, e isto me deixa perdida, mas mantenho a mesma decisão, voltarei a viver minha vida. Embora saiba que quando meus pais morreram uma parte de mim se foi junto deles, eu só ainda não sei o quão grande essa parte era. E preciso descobrir para voltar a ser aquela Elena.

Em frente à penteadeira eu prendi as escuras madeixas lisas de meu cabelo em um rabo de cavalo e ao observar meu reflexo, meus olhos encontraram as fotos de nossa família contra o espelho. Sorri fitando-as durante um segundo antes de me dirigir ao banheiro que dividia com Jer.

Ao abrir a porta, contudo, fui surpreendida por uma presença.

— Ei, Elena. — usando apenas a camiseta vermelha do time favorito de futebol americano de Jer, Vicki terminava a escovação ao lavabo. — Não se preocupe, eu já terminei. — ela disse dirigindo-se a porta à lateral direita que levava ao quarto de Jeremy. Sorriu ao passar por mim.

— Bom dia.

— Bom dia… — respondi para o vácuo após sua saída. Sorri em seguida.

Finalizava minha higiene matinal quando a porta de meu irmão se abriu e Jeremy adentrou o cômodo com uma expressão sonolenta.

— Bom dia. — desejou ao ver-me.

— Bom dia. — de braços cruzados, apoiei a lateral de meu corpo ao lavabo com um sorriso cumplice. Jer ergueu o rosto para mim e revirou os olhos.

— Nem começa. — disse.

— Hm? — espremi meus olhos castanhos, acusatória.

— Não diga nada.

— Hm?

— Quer parar?!

Cai logo na risada, vendo-o manter a carranca de mau-humor embora demonstrasse sinais de morder a bochecha e disfarçar para não rir também. O empurrei brincalhona antes de apoiar-me sobre seu ombro, observando seu reflexo através do espelho. Sorri.

— Oh, vamos, desfaça a carranca. Eu só fico feliz em ver você assim.

— É, ok. — Jeremy concordou após segundos de relutância, porém ao voltar a provoca-lo, empurrou-me levemente para a porta. — Agora, chega, saia daqui.

Jenna havia saído mais cedo, então, Bonnie quem me ofereceu carona para a escola e aproveitou para me ajudar com uma breve revisão de matéria sobre história, já que com esse mal dormir e sendo o Tanner, eu tenho perdido cada vez mais sobre o conteúdo. E era logo com ele os dois primeiros tempos e, de novo, eu só conseguia pensar na minha cama, o que não foi diferente nas outras aulas, porém, com história eu acabei ficando definitivamente apavorada já que o querido professor marcou uma prova para a aula após a revisão geral.

Algo que foi o bastante para me deixar preocupada durante todas as primeiras aulas até o almoço, quando Bonnie, Caroline e eu nos dirigimos à cantina.

— Eu quero matar o Tanner. — disse Care enquanto soltava a bandeja cheia de alimentos orgânicos sobre a mesa em minha frente ao sentarmos. — Qual é, eu estou tão ocupada com os clubes essa semana, sem falar que o jogo contra o Killerbears é na sexta, e agora ele marca uma prova! Sério, vou ter de me virar em duas para lidar com tudo isso.

— Na verdade, nós até demos sorte se considerar que ele apenas não marcou a prova para a próxima aula por causa do jogo nesse fim de semana. — Bon reforçou.

— Estou apavorada com essa prova. — confessei com preocupação.

— Não peguei nada do conteúdo e o Tanner está me marcando.

— Ok, você já disse isso antes e a sua pior nota é oito. — brincou Bon.

— É, mas isso era antes, quando eu não tinha problemas para dormir.

— Então, você é muito sortuda por ter as duas melhores alunas da classe para revisar. — retrucou a morena sorrindo ao meu lado e dirigindo-o, cumplice, à Caroline.

— Isso… Um grupo de estudos! — anunciou Care com empolgação e já podia vê-la planejando tudo. Bonnie e eu trocamos um sorriso, ninguém gostava tanto de projetos como Caroline Forbes, e ninguém era tão bom quanto. — Nós vamos para sua casa revisar a matéria. Podemos pegar livros na biblioteca, juntar as apostilas, eu pego minhas anotações e guias.  E fazemos o jantar. — a loira sorriu motivada.

— Vai dar certo!

— Eu realmente senti falta de vocês! — reafirmei ouvindo logo um “Aww” em uníssono de ambas e esticamos os braços umas para as outras como em um abraço.

Ao entardecer, Bon e Care chegaram à minha casa para começar as revisões para história, e eu quase me sentia mal por isso já que sabia que iria dar trabalho do modo como estava enferrujada.

Nós estudamos por três horas até a fome nos levar a cozinha, onde nos dividimos para fazer o jantar. Care com o molho, Bon com o cozido e eu cortava os legumes do outro lado da ilha da cozinha.

— Então, falando no jogo, Elena, talvez esteja na hora de você voltar para a torcida. Hm? — Caroline soou sutil, mas sua expressão a denunciou. Eu a acusei divertidamente enquanto Care apresentou sua melhor expressão pidona com empolgação. — Oh, por favor, era tão divertido quando éramos nós três!

E seu lugar continua lá apenas esperando por você. — completou Bon.

— Meninas, eu aprecio o que estão fazendo, de verdade. Mas eu nunca me encaixei realmente, vocês sabem…

— Nunca se encaixou? — Bon repetiu sorrindo incrédula.

— Está brincando?!

— Sério?! Elena, você era ótima! — protestou a loira.

— Acredite, é Caroline que está dizendo. — Bon brincou a olhá-la acusadora.

— Certo, eu podia ser boa nas coreografias, mas era péssima quanto a social. Morria de vergonha e ficava nervosa só de ter tantos olhares sobre mim; e falar em público nem pensar. — Defendi-me desviando o olhar com um sorriso culpado. — Lembro que era divertido estar com vocês e as viagens no ônibus, mas… Desculpem.

Encolhi os ombros, sem graça. Caroline suspirou por um momento, deixando de lado a preparação do molho para se dirigir diretamente a mim.

— Ok, Elena, você tem que voltar para suas atividades. Para a sua vida. — disse com convicção. Tentou suavizar a preocupação e fez menção com um sinal de mão. — E quanto a tocar? Vamos, você tocava direto e tão bonito, não diga que não se encaixa nisso também.

— É, eu sei… Ainda é complicado para mim. — respondi entrelinhas.

— E seu irmão? — Caroline compreendeu minha hesitação; desconversou.

— E a relação de vocês, algum progresso? 

— Eu diria que Jeremy está bem melhor. — pontuei sorrindo cumplice. Recebi olhares curiosos de modo a deixar claro não ter opções a não ser explicar sua razão.

— Dei de cara com a Vicki no banheiro hoje.

— Vicki, a irmã do Matt? — Bonnie parou o que fazia, com surpresa.

— Eu sabia! — declarou Care com satisfação e um brilho diferente aos olhos azuis. — E acabei de ganhar um ajudante para a organização do Baile Década de 60.

— Vocês apostaram? — Bon a olhou divertidamente com descrença.

— Noite passada, no Grill, que você perdeu. — a loira lhe arqueou a sobrancelha, acusadora. — E saibam que também foram escaladas como voluntárias.

— “Voluntárias”?! — perguntamos em uníssono.

— Sim. Vou precisar de toda a ajuda possível, o evento é no próximo mês!

— E você, Bon? — perguntei — Como estão as coisas desde a fogueira?

Tentei soar de forma casual e suave ao tocar no assunto. Afinal, ela não havia dito mais nada desde aquele dia, a não ser é claro quando me explicara o fato do ex-namorado estar por se mudar, já que antes vivia viajando, e se tratar deste o motivo de estarem estremecidos durante os quatro meses em que estive afastada. O que me deixava bem insegura em mencionar, pois Bonnie nunca foi do tipo que falaria sobre seus problemas.

— Não sei… É complicado. — admitiu com dificuldade. Então forçou sorriso.

— Mas eu vou ficar bem, é só muito recente. Mas, quanto a isso tudo bem.

— Têm certeza? — estiquei-me sobre a ilha para tocá-la em sinal de apoio. Eu conhecia bem o significado de sorrisos forçados e não queria que Bon enfrentasse os problemas sozinha apenas para nos poupar, como eu estava fazendo.

— Bon, você sabe que pode falar com a gente. — reforçou Care.

— Meninas, isso é normal. Eu vou superar. — Bonnie sorriu para nós, um mais divertido dessa vez. Até que ele se desfez em uma expressão consternada. — Na verdade, não é esse o problema.

— Então, o que há de errado? — a loira indagou. Bon suspirou.

— Vovó está surtando. — disse por fim, com um olhar tenso. — Ela só fala sobre ocultismo e essas coisas. Quer dizer, tudo bem, ela sempre esteve envolvida com isso e eu até gostava, mas agora ela está ficando obcecada.

Bonnie relatou de forma enfática, e ficava claro sua preocupação a cada palavra e o olhar verde agitado. Ela puxou sua bolsa e revirou rapidamente, retirando dela um punhado de plantas de flores roxas e soltando a ilha da cozinha a nossa frente. Care e eu observamos confusamente.

— E isso. Ela está me fazendo pôr em tudo o que bebo, é assustador!

— Meu Deus, têm certeza de que ela não está… — Care insinuou, temerosa.— Você sabe.

— Não, eu a conheço. Ela está mais tensa do que o normal… Talvez esteja trabalhando demais, ou é apenas estresse.

— Talvez, mas, de qualquer jeito, vocês deveriam observar isso. Ela mora sozinha, pode ser perigoso…

Enquanto Caroline e Bonnie debatiam o assunto, eu prestei a atenção nas flores. Alcancei uma, sentindo um aroma perfumado suave; aproximei do nariz.

— Que erva é essa? — perguntei.

— Verbena. Vovó diz que é para proteção. — respondeu Bon com descaso.

— Pode ficar, eu tenho um estoque agora.

— Obrigada. — agradeci jogando água quente sobre a planta curiosa sobre o sabor e quando provei cuidadosamente, descobri que estranhamente não havia um.

— Talvez seja hora de se aposentar? — Care retomou o assunto anterior.

— Vovó? Ela ama lecionar, sem falar que é o assunto favorito dela, então, sem chances. — Bonnie achava graça só de pensar. E assim, acabou refletindo por um instante. — Aliás, ela está dando aula para um cara gostoso.

— Quem? —quis saber Care sorrindo sugestivamente.

— Não sei. — Bon deu de ombros. — Deve ser da Whitmore.

— Só isso?! Por favor, a essa altura eu saberia o nome da mãe dele e chamaria de “mamãe”. — Caroline usou de uma forma descontraída, Bon e eu rimos.

— É, só que eu acabei de terminar um relacionamento e começar outro não está nos meus planos. — relembrou ainda sorridente.

— O que eu faço com vocês?! Como vamos sair de casais assim?!

— Bem, ultimamente você sai por todas. — provoquei. Bonnie riu comigo.

— Nem me faça falar de você. Quer dizer, até o seu irmão mais novo namora e você não. — A loira rebateu com um sorriso mordaz.

— Ei!

Molhei as pontas dos dedos e esguichei água em Care, logo todas riamos.

Nós ainda jantamos antes de voltar a estudar e dizer que estava tendo dificuldades em pegar tanto conteúdo seria um elogio. Sabíamos ter de repetir a revisão mais algumas vezes antes da prova, sendo muita matéria e agora, concentrando-me em tudo, tive noção do quanto estava perdendo graças a minha insônia fatídica.

No dia seguinte, pude prestar a atenção em todas as aulas perfeitamente, bem descansada. Felizmente, não havia repetido nenhum pesadelo há noite e ao contrário, há muito não dormia tão bem. Sentia-me revigorada e isso refletiu em meu dia inteiro.

Ao anoitecer, decidi dar uma volta ao centro de Mystic Falls enquanto observava as luzes da cidade acenderem lentamente, e mesmo movimentada, como hoje, a cidade continuava pacata. Atravessava frente ao tribunal, onde podia-se ver a torre do relógio também já acesa de luzes amarelo alaranjadas.

Observei a praça histórica do outro lado da rua. Diferentes espécies de belas árvores vivazes nesta estação ladeavam a praça cortando as trilhas concretadas em espaços verdejantes, onde casais namoravam ao cair das folhas sobre os bancos de jardim e alguns grupos de turistas fotografavam no centro da praça, ao monumento em honra dos confederados mortos na guerra, junto a sua bandeira também disposta em um dos postes de ferro forjado que iluminam a praça.

A minha frente estava o Mystic Grill de fachada verde musgo e as mesas rústicas dispostas a calçada. Um café seria bom, pensei dirigindo-me ao Grill. Parei abruptamente a porta ao perceber a figura familiar surgir através desta ficando bem a minha frente.

— Elena. — senti uma nota de sarcasmo acompanhar o sotaque britânico e o sorriso que se formou em seu rosto. — Que prazer encontrá-la aqui novamente.

Usava uma camisa casual em tom cinza chumbo dobrada a altura dos cotovelos e jeans escuro. E sua expressão era indecifrável, o que só me dava mais motivos para ficar em alerta. Cada vez, ele me dá mais razões para acreditar que não tem nada de “coincidências” nisso, foi o que se passou pela minha cabeça. Algo que tentei disfarçar ao refazer minha postura firme, e soar com descaso.

— O Grill é um dos pontos principais da cidade. Todos vêm aqui.

— É… Sabe, Mystic Falls é uma cidade pequena, pode tornar um pouco difícil ficar longe de você. — senti o sabor amargo ao ter de engolir minhas próprias palavras. Ele, por outro lado, parecia ainda mais confortável para sorrir outra vez.

— Não que eu não goste disso.

— Bem, eu gosto do meu café ainda quente, então… — cortei o assunto, preparando-me a sair como se o café esfriar fosse a maior de minhas preocupações. Fiz menção à porta, enquanto ele continuou em seu lugar, sem sequer se mover.

— Eu não esperaria por isso. — disse — A fila está bem grande.

— Então você não deveria esperar, não é?! — sequer pensei antes de disparar a resposta afiada, mas ele não pareceu se importar.

— Na verdade, eu estou esperando alguém.

Logo em seguida, a porta abriu-se novamente. A jovem morena de cabelos ondulados e íris verdes brilhantes trazia dois expressos e formou o belo sorriso conhecido nos lábios bem delineados ao nota-lo.

— Ei, aqui. A fila pareceu maior de repente. — Bonnie ofereceu um copo.

— Obrigado, Bonnie. Bom ver que a hospitalidade não morreu nesta cidade. — contudo, dirigiu o olhar a mim ao final. Sequer dei atenção à indireta, perplexa demais.

— Bonnie?! — murmurei incrédula.

— Elena! Não sabia que estava por aqui. — ela se aproximou ao notar-me.

— Espera, — Bon desviou os olhos entre nós. — Vocês se conhecem?

— Não. — respondi rápido. Já ele ficou em silêncio, atraindo olhares.

— Não... ainda — disse por fim, o semblante cínico.

— Ok… Bem, tenho que ir. — Bonnie despediu-se. — Até mais.

— Bon, espera.

Aproximei-me dela antes que desse mais que dois passos, sem conseguir disfarçar minha expressão tensa, quase que perturbada. Certifiquei-me estarmos a uma distância pelo menos razoável para não sermos ouvidas.

— De onde você conhece esse cara?! — indaguei.

— Não conheço. Encontrei por acaso. — ela deu de ombros e explicou — Ele é o cara tendo aulas com a vovó, que eu falei ontem.

— Quê?! — quase não contive o sobressalto.

— Elena, você está bem? — Bon franziu as sobrancelhas.

— Você parece alterada. Aconteceu alguma coisa?

— Não. — mas demorei a responder, uma sensação lancinante atingiu-me violentamente.

Suas palavras chamaram minha atenção para algo importante, algo que soou familiar, no que Bonnie disse. Concentrei-me atentamente. Um estalo me despertou.

Levei o olhar aonde ele ainda estava, encarando-me sob os olhos castanhos tão escuros que pareciam adotar um brilho diferente. Desafiador.

— Nada. — continuei inexpressiva — Só um pressentimento.

— Certo… Eu tenho mesmo que ir, Caroline está pegando pesado nos ensaios para o jogo de amanhã. — comentou, sorrindo em expectativa. — Você vai, não é?

— Claro. — voltei-lhe a atenção e forcei um sorriso. — Vou sim.

— Ok, então até amanhã.

— Tchau. — eu acenei brevemente observando-a partir.

— Ela é legal, não é? — meu peito subiu e desceu rapidamente em um sobressalto quando o som de sua voz soou bem ao meu lado de repente.

Dei dos passos para trás instintivamente, tendo o cuidado de manter aquela distância quando analisei seu rosto, em busca de qualquer resposta.

Talvez fosse apenas eu, ou o fato de que por alguma razão todos os meus instintos alertavam-me sobre ele. Mas tinha a sensação de que havia alguma conexão e que esse cara estava de algum jeito bem no meio de tudo isso. Ele apareceu e as coisas repentinamente parecem agitadas em uma cidade que não acontece nada, e agora Bonnie refere-se a mim parecendo alterada, exatamente o que dissera da avó e coincidentemente, nós duas parecíamos ter uma presença recente em comum.

— Você está sempre no lugar certo, não é? — soei de tom acusador.

— Talvez eu goste da sua companhia. — disse primeiramente.

— Ou, — baixou o tom como se fosse segredar — eu estou perseguindo você. — um momento e o sorriso zombeteiro esgueirou-se em seus lábios, parecendo diverti-lo colocar cada frase no momento certo, como em um jogo perfeito. Um jogo que quanto mais tentava escapar, mais parecia enredar-me em sua teia.

— Bonnie disse que Sheila anda perturbada e eu não sei como, mas sei que isso está relacionado a você. — tomei coragem no impulso, aproximando-me de forma ameaçadora eu dispus firmemente — Estou avisando: pare. A xerife conhece todas nós, é amiga da família, e mãe de nossa melhor amiga. E ela não vai gostar de saber sobre visitantes perturbando seus amigos.

Porém, diferentemente da reação esperada seu sorriso aumentou, tal como o divertimento. Permaneci irredutível ao desviar de si agressivamente continuando o trajeto via em frente a passos pesados, entretanto, antes de me distanciar muito ouvi o tom do sotaque incomum fazer-se presente. Inclinei o corpo apenas o suficiente para enxerga-lo.  

— Você não deveria andar por aí sozinha há essa hora, amor. — ele disse intensamente — Tem um animal faminto a solta.

Ao completar de certo modo enigmático, deu as costas e partiu.


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Notas finais do capítulo

Família Bryant completa:
Will: Shiloh Fernandez -http://68.media.tumblr.com/1d9d8047b27cf0567d06a7499c4a39e9/tumblr_mkeffinJeg1s63swko1_500.gif
Alessia: Shelley Hennig - http://data.whicdn.com/images/273476629/large.gif
& Asa: Matthew Daddario - https://33.media.tumblr.com/6d04cf520fae310216d27b5f8fce9019/tumblr_inline_o4ib8jboW21sysfms_500.gif

Aros♥ Ainda vou viajar para Aarhus apenas para ir ao museu e ver pessoalmente como a cidade era na era viking!
Capítulo muito especial pra mim pela homenagem a Marcel junto as lindas estrofes do poema que eu tive que colocar, pois tem tudo a ver com o Klaus, principalmente sendo um poema de William Blake, mesmo autor do poema que ele lê na série. E que encaixa na imagem de Little Warrior. E que eu precisava escrever com meu coração e alma.