Outono de 1001 d.C

O jovem bruxo olhou ao redor toda a destruição enquanto retornava, era o que restara do que anteriormente seria o vilarejo. Corpos frios e sem vida em decomposição faziam com que o cheiro de morte se alastrasse. A fumaça que ainda levantava misturava-se a neblina densa e trazia um cenário ainda mais sombrio para a cena fantasmagórica dos destroços do que sobrara da aldeia após os eventos dos últimos dias.

Ele podia sentir a magia impregnada por todo o lugar e olhou ao redor perdido, tornando-se cada vez mais confuso. Mas o que teria causado tamanha atrocidade? Seus olhos arregalados encheram-se, por medo, por preocupação.

Voltou correndo aos tropeços pelo caminho tão conhecido de sua casa, sua respiração cada vez mais ofegante à medida que os passos tornavam-se pesados e urgentes. Agitados como seu coração, pulsando acelerado. Pelo desespero, ele imaginava, e pelo medo que tomava conta de si. Estaria àquela velha bruxa dizendo a verdade, afinal? Não! Ele não poderia acreditar. Não era possível.

Seus olhos já estavam inchados e o rosto úmido, frio como mármore das lágrimas que só aumentaram quando teve a visão do casebre completamente destruído, tanto quanto as demais casas da vila. O aperto em seu peito indicava o que temia, porém ele não parou e adentrou pela porta já arrombada. E procurou. Procurou. Procurou. Gritou pela mãe, mas não houve respostas. E após minutos caído ao chão batido sem forças aos prantos, obrigou-se a engolir as lágrimas e a dor e erguer-se outra vez. Pois se não encontrara o conforto, encontraria sua vingança.

Seguiu a diante reconhecendo o lugar, porém em nada se parecia com o centro do vale que ele conhecia, não sem o majestoso carvalho branco, árvore característica do local e seu marco. Ao contrário, agora apenas as ruínas de onde mais cinzas emanavam, espalhando-se ao vento, apenas os restos do que um dia havia sido a mais bela árvore.

O jovem perguntou-se quanto tempo esteve fora e o que se passara. Teriam sido os lobos da vila? Teria sido um ataque surpresa? Uma batalha por terras?

— Socorro... — clamou uma voz fraca de quem usava o máximo de esforço na pronuncia da pequena palavra. — Ajude-me... Por favor...

            Avançou seus passos ao encontrar de onde vinha à voz. Notou um senhor já de idade, caído e encurralado entre dois grandes galhos secos. Imediatamente abaixou-se e ajudou o velho a sair debaixo da madeira e ao ver os olhos de um azul esbranquiçado e sem foco em lugar algum, entendeu que aquele idoso não enxergava.

— O que é isto? — perguntou atordoado. — O que aconteceu?

— Um massacre... — respondeu o homem, sem forças.

— Foram eles? Os homens que se transformam em bestas? — tornou a questionar enquanto ajudava o outro a se acomodar o mais confortável possível.

— Sim... Foram as bestas, mas não apenas os homens-lobo... — contou o velho, após um momento calado recordando-se, como se revivesse as cenas. O garoto perguntou-se como poderia se este não enxergava? Mas não iria indagá-lo. — Houve uma batalha entre eles e os vikings... Mikael...

— Mikael? — repetir o nome despertou em si um sentimento maligno, um misto de raiva, mágoa e indignação. Ele iria confrontá-lo pelo que o homem abominável lhe fez.

— Ele está morto?

— É... — disse vagamente com ar distante. Porém, logo a voz falha sobressaltou-se: — Não... Não... Ele sobreviveu... Eram como monstros.

— Monstros? — indagou com olhos saltados. E ele sabia que ali não havia mais nada para ele e tudo o que ele tinha agora, era a chance de vingar-se de quem tomara tudo de si. — E para onde eles foram?