Viver sem ela era muito difícil. Sua vida havia virado um caos e ele nem havia se dado conta disso. Nem mesmo sua filha acalentava seu coração pois Lily era uma lembrança viva de quem Kate era e do que fora tirado deles. Mundo cruel. Injusto.

Castle dedicou anos de sua vida atrás daquele maldito assassino. Após recuperar-se do seu mar de álcool, decidiu reunir conhecimentos e forças para achar o responsável e matá-lo, da mesma maneira que mataram sua mulher. Já não lhe importava mais a justiça. Tudo o que Castle queria agora resumia-se à vingança.

A pequena herdeira de Beckett crescera ouvindo seu pai contar histórias de como sua mãe era forte e corajosa. Nas noites medrosas de toda criança seu pai gostava de deitar-se abraçado com ela em sua cama, contando de um jeito divertido os casos reais que vivera ao lado de sua musa. Após rirem e a diversão acabar, Lily podia sentir seu pai ficando mais sério, e ao achar que ela já estava dormindo, ouvia a respiração dele ficar mais pesada, o corpo dele estremecer e então soluçar baixinho enquanto a abraçava com um pouco mais de força na esperança de que pudesse protegê-la da maneira como não conseguiu proteger sua mãe.

Naquela época, Lily era jovem, pequena, de ainda sete anos, mas sua cabecinha infantil já sabia bem o que era dor. Compreendia os sentimentos de seu pai e o abraçava de volta na tentativa de devolver a proteção que recebera de sua mãe. Kate morrera com sua filha nos braços, protegendo-a do tiro certeiro que lhe atravessou o coração pelas costas. O último sorriso de sua mãe estava gravado em sua mente. O último toque, o último beijo. E a primeira vez que ela sentiu ódio em seu coração.

— Papai, já estou pronta. – a voz da sua eterna menina ecoou chamando-o através da sala.

Castle se levantou colocando a arma de Kate em seu coldre e vestindo o casaco marrom que sua musa mais gostava. Caminhou alguns passos e encontrou aquela bela jovem e seus 21 anos olhando os transeuntes pela janela enquanto rodopiava seu distintivo recém adquirido por entre as mãos. Cabelos longos, levemente loiros, olhos de um verde oliva intenso... Cativante e amedrontador. Tudo em Lily lembrava à Kate Beckett: sua jaqueta de couro preferida de sua mãe, calças jeans, botas de cano longo e altos saltos.

Aproximou-se, abraçaram-se. Naquele loft rarefeito de alegrias, a mais nova detetive da cidade de Nova York e aquele ex- escritor, agora veterano de tantas dores, derrotas e algumas poucas vitórias. Rick suspirou por um momento, respirando os cabelos de sua filha. Ela também cheirava a cerejas e isso lhe trazia ainda mais dor. Ele queria acreditar que não era verdade. Porém, infelizmente, a história se repetia e ali estava ela. A filha de Kate Beckett, pronta para vingar a morte da mãe.Restara a ele acompanhá-la da melhor maneira que ainda lhe restava fazer: com toda a juventude de seu conhecimento, já que a velhice de seu corpo não lhe permitia mais a força para uma nova caça às bruxas. Talvez o sucesso da caçada estive destinado à Lily. A personalidade forte de Katherine e a teimosia de Richard pulsava em suas veias de jeito misteriosamente extraordinário. Ninguém conseguiria impedi-la, nem mesmo ele e suas súplicas. Ninguém pode negar o seu próprio DNA.