Primeira Vez escrita por Day


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

FINALMENTE, NÃO É MESMO???
Passei quinta e sexta todinhas pensando/escrevendo/trabalhando nessa one. Por inúmeras vezes, eu quis te perguntar como estava, pedir sua opinião, mas era segredo. Não vou mentir pra ti, até porque nem vale a pena, mas não sei se ficou exatamente boa; não sei se sua Bárbara está do jeito que estaria se você tivesse escrito, assim como James Sirius. E, ainda por cima, era sua ideia, então é bom que eu tenha feito algo aceitável.

Falando em emoção agora, eu já nem sei o que vou escrever aqui. É o terceiro textinho de aniversário que faço/farei pra você, eu não sou tão criativa assim. Mas, tudo bem. Bárbara, eu só tenho a agradecer todos dias por ter você na minha vida, o dia todo, falando sobre vários nadas e uns assuntos que são altamente desprezíveis. Mas, agradeço por poder sempre falar contigo a respeito de qualquer coisa, desde as mais fúteis até as mais sérias. Obrigada, também, por confiar em mim pros teus assuntos pessoais e pros acontecimentos não muito bons que acontecem por aí. Acho que não falo isso, mas eu queria poder ir até aí e te abraçar bem forte. ♡
Masss, não é só dessas tristezas que a vida é feita. Obrigada pelas infinitas vezes que você me fez rir, inclusive quando já era de madrugada e todo mundo dormia, ou no meio das minhas aulas ou quando eu estava meio triste. Obrigada por todas as ajudas/conselhos/dicas/opiniões que você já me deu durante esse tempo todo. Por todas as ***fotos zoadas*** e que eu realmente queria que fosse mas, mas você com cara de tédio ou sendo cosplay da Snow já são suficientes. Obrigada por me apresentar Chaly e me fazer shippar esse casal que, em toda a vida, eu jamais cogitaria colocar junto. (Eu estava lendo aquela sua Jily que eu betei e porraaaa, eu shippei Jily a primeira vez por sua casa ♡♡).
Por falar em Jily, milhares de agradecimentos por ter me feito ler Harry Potter. Porque, sem isso, essa one jamais seria postada. Obrigada por me fazer entregar ao mundo da J.K. e por continuar sendo minha amiga, mesmo que eu tenda a ser Griffyndor às vezes. Mas, você sabe, SLYTHERIN PROUND ♡ (finja que é verde).
Nós nunca dizemos esse tipo de coisa, aliás só dissemos uma vez, quando eu estava prestes a ir pra São Paulo, mas eu amo você. De verdade. Não faz nem seis meses que nos falamos, mas parecem anos e anos. ♡

Depois de tudo isso, eu espero mesmo que você goste! Se eu te decepcionar, me avise pra eu chorar quietinha. É a maior one que eu já fiz na vida toda.



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Todos diziam que Bárbara Black não amava. Não amava ninguém, nem a falecida mãe, o pai ou os irmãos. Não amava os namorados que teve, nem o marido e, há quem diga, que não amou nem o filho. Bárbara Black não vivia de amor. Não de amores além do seu próprio.

Contudo, após sua morte, em Godric Hollow, foram encontradas provas que contradiziam todas essas afirmações. Ficou provado que ela amou, e muito, alguém. Mas, não era sua família, marido ou filho.

A Black amou um Potter. Com todas as suas forças.

 

✣✣✣

 

Eu amei um Potter.

一 BB.

Sobre nossas primeiras vezes ♡

 

QUANDO EU O VI PELA PRIMEIRA VEZ

A PRIMEIRA DE MUITAS VEZES EM QUE O VERIA PELO CASTELO

Quando o Chapéu Seletor berrou Sonserina para todos so Salão Principal ouvir, nos meus onze anos, jurei a mim mesma que honraria minha família, meu nome e, sobretudo, minha casa. Sorri para McGonagall e caminhei confiante à mesa repleta de verde e prata, fui tão bem recebida que qualquer dúvida de que aquele era meu verdadeiro lugar morreu.

Por curiosidade, e também pelo barulho ensurdecedor, olhei para trás, para mesa da Grifinória. Haviam acabado de receber um novo aluno, uma menina com quem dividi o trem na viagem. Observei-a se sentar, transbordando vergonha, ao lado de um garoto aparentemente mais velho que nós.

De relance, ele se virou para onde eu estava e eu o reconheci. Pelo cabelo ridiculamente bagunçado, o sorriso presunçoso e os olhos. Tão verdes quanto o brasão da minha casa. Ele riu e até sua voz me era familiar; de todas as vezes que a ouvi pelas ruas de Godric Hollow, ou em passeios com meus primos por Hogsmeade.

一 Ei, Potter! 一 um de seus amigos o gritou. 一 Já está de olho nas novas cobras?

Antes que ele respondesse, senti meu braço ser puxado e minha atenção se voltar para minha mesa. Um segundanista me falava sobre as peculiaridades do castelo, sobre as aulas e professores, me alertava do que poderia me causar detenções e todas as coisas que eu mesma já sabia.

一 E aquele ali 一 apontou ao grifinório. 一 É James Sirius.Você deve conhecer o pai dele, o grande Harry Potter, o Garoto que Sobreviveu ao Avada do Lord Voldemort. Potter é um sangue-puro que se comporta como trouxa. Nem perca tempo com ele.

Concordei, assimilando as informações. Claro que eu sabia toda a história do grandioso, único e incrível Harry Potter, eu só não imaginava que seria colega de classe de um dos seus filhos.

一 Ele é primeiranista?

一 James? Não. É um segundanista assim como eu. A diferença é que minha família, e minha casa, são muito melhores 一 o garoto respondeu, com um brilho nos olhos ao falar de si mesmo. 一 Braider Malfoy.

一 Bárbara Black.

一 Parece que os Black finalmente voltaram à Sonserina.

一 É, parece que sim.

 

QUANDO FALEI (DE VERDADE) COM ELE PELA PRIMEIRA VEZ

MESMO QUE TENHA DURADO UM OU DOIS MINUTOS

O castelo todo estava em ansiedade coletiva. Seria a final da Copa das Casas, no meu primeiro ano, e as finalistas eram Sonserina e, claro, Grifinória. Eu já tinha ido a jogos de ambas as casas, mas nunca tive a chance de vê-las competir entre si. Na Sala Comunal, tudo que se falava era a respeito da partida, os jogadores eram deixados sozinhos quase o tempo inteiro para se concentrarem nas jogadas e táticas. Quase não vi Braider nesse tempo todo. Ele era apanhador da Sonserina e era o melhor de Hogwarts.

Todos os corredores eram enfeitados nas cores das casas; o vermelho se misturava ao verde de um jeito que ficava genuinamente bom. Serpentes e leões eram espalhados pelas salas, entre os alunos e até entre os professores, que tentavam ser imparciais, embora os diretores das casas falhassem na missão.

Depois de semanas angustiantes, o dia do jogo chegou. Ninguém mais se continha em ansiedade e, quando o relógio bateu quatro da tarde, todos, sem exceção, rumaram ao campo de Quadribol. Perguntava-se acerca dos jogadores, onde estariam e quando chegariam para jogar.

O primeiro time a entrar foi da Sonserina. O uniforme predominantemente verde reluzia sob o sol e foram aplaudidos e recebidos sob muita euforia. Acenei para Braider, mas tive quase certeza de que ele não conseguiria me distinguir em meio a tantas pessoas. Eles se posicionaram um ao lado do outro e esperaram que os adversários entrassem.

Com um barulho ainda mais alto, o time da Grifinória sobrevoou o campo. O vermelho chamava ainda mais atenção e os jogadores pareciam mais relaxados e descontraídos, interagindo com os espectadores. Muito mais alto que todos, em uma Nimbus 3500, James Sirius, apanhador da casa, fazia piruetas com a vassoura.

O início da partida foi dado e, depois disso, acompanhei Malfoy e Potter atentamente, esperando para ver quem pegaria o pomo primeiro. Um alarme falso foi dado e eles miraram juntos para a mesma direção, com tanta velocidade que pensei que poderiam se machucar seriamente caso colidissem com o chão.

Muitos minutos depois, o jogo acabou. James apanhou a pequena bola dourada poucos segundos antes que Braider pudesse fazer isso.

一 O placar final é 170 a 250 para Grifinória! 一 o narrador grifinório anunciou, sem conseguir conter a felicidade. 一 Parece que ganhamos, quero dizer, os leões ganharam!

Os sonserinos se retiraram do campo com o desgosto visível pela derrota. Não fiquei nem um pouco diferente deles. Perder para os grifinórios era não só uma derrota, mas uma vergonha para casa. Corri para alcançar Braider a caminho da nossa Sala Comunal quando um mar vermelho passou por mim, comemorando e cantando uma música própria.

Ignorei a todos que falaram comigo, soltando piadinhas e nos comparando a cobras e afins. Discussão entre casas era algo que, naquele momento, só a Grifinória curtia, porque a Sonserina ocupava-se demais em se sobressair em outras coisas além de um jogo de Quadribol perdido.

一 Ei, mocinha 一 um vulto vermelho se pôs à minha frente. James suava e seu uniforme era colado ao corpo, alguns fios do cabelo caíam pela testa e cobriam os olhos verdes. 一 Sinto muito tirar o prêmio da sua casa esse ano. Quem sabe ano que vem vocês não ganham a taça?

一 É, quem sabe 一 respondi. 一 Parabéns de qualquer jeito.

Não, eu não parabenizava ninguém, as ocasiões em que isso aconteciam eram absurdamente raras. Contudo, senti uma necessidade de lhe dar os parabéns pela vitória e as palavras saíram pela minha boca sem controle algum. E James, nada diferente do imaginado, não pôde esconder o quão surpreso ficou com o que falei.

一 Obrigado, eu acho 一 ele respondeu. 一 Boa sorte para vocês no ano que vem.

一  Pode ter certeza de que vamos ganhar a próxima Copa.

Uma das batedoras do time da Grifinória o puxou para longe e nosso breve diálogo acabou tão repentinamente quanto começou.

 

QUANDO NOS PROVOCAMOS PELA PRIMEIRA VEZ

E DESCOBRI O QUÃO BOM ERA PROVOCAR JAMES POTTER

Era o primeiro dia de aula do meu segundo ano. Braider e eu estávamos sentados à mesa da Sonserina, esperando pelo encerramento das aulas. A mesa dos grifinórios, atrás de nós, ainda vibrava a vitória da Copa das Casas no ano anterior e o barulho era suficiente para nos incomodar a ponto de tornar nossa comunicação impossível. James era o líder de toda a conversa, falando alto, fazendo piadas com o fato de terem nos vencido, e era acompanhado por vários colegas.

一 Potter! 一 gritei quando minha paciência estourou. 一 Isso já foi há meses, que tal mudar de assunto para o bem de todos aqui?

一 Ah, Black, não se meta na nossa comemoração. Não aja como uma cobra, se infiltrando onde não é chamada. Atenha-se à sua casa.

Antes que eu respondesse com algum argumento ainda mais baixo, Braider me puxou para frente. Minha vontade era de ir lá e arrancar um por um de todos aqueles fios bagunçados e dizer que cobra era a avó dele e não eu.

一 Não dê mais motivos para ele se gabar, Bárbara.

一 Ele me tira do sério.

O resto do banquete de boas vindas continuou e a seleção dos novos alunos aconteceu como deveria. Assim como era de se esperar, as casas comemoravam seus novos membros, com palmas, gritos e assovios. Observei aquilo tudo sem nenhum entusiasmo, esperando que algum novato me surpreendesse.

Era a vez de Albus Potter, irmão de James. A Grifinória já comemorava mais uma pessoa para casa e, de fato, parecia certo que ele fosse para lá. O Chapéu foi colocado na cabeça do menino assustado e, demorando pouco mais de alguns segundos, berrou SONSERINA!

Minha mesa vibrou muito além do esperado. Aparentemente, o filho do grandioso Harry Potter, tido como sinônimo de coragem e bravura, o garoto que sobreviveu, pertenceria à casa rival do pai, à casa daquele que acabou com seus avós, que dizimou todos que os Potter amavam.

Olhei de soslaio para James. Ele parecia surpreso, mas, ao mesmo tempo, divertido com o anúncio. Seguiu o irmão até que este se sentasse próximo a mim. Não desviei o olhar quando ele me encarou, pelo contrário, sorri como se tivesse vencido uma discussão que durava horas.

一 Parabéns! Agora você tem uma cobra infiltrada dentro de casa.

 

QUANDO FICAMOS SOZINHOS PELA PRIMEIRA VEZ

BOM, MAIS OU MENOS SOZINHOS

Ao que parecia, Albus Severus Potter era um idiota completo. Inteligente, mas um pouco problemático. Aluno destaque, mas um pouco relaxado. Bruxo puro-sangue, mas com alma trouxa. Eram as únicas explicações para seu comportamento.

Ele e o irmão pareciam dois desconhecidos quando se encontravam pelos corredores; pelo jeito, o choque de ter um sonserino tão perto de si abalou James mais do que o esperado, e, é claro que todas as provocações que ele ouvia pelo castelo contribuíam para isso.

Cada mínima oportunidade que surgia era o suficiente para mim, para destacar o óbvio para o grifinório mais insuportável que conheci: Seu irmão é um sonserino, James. Às vezes a implicância ia mais longe e passávamos ao patamar das ofensas, o que era tudo que os monitores-chefe queriam para nos dar detenções.

Por vezes, as cumpríamos sozinhos. Ou limpando os troféus, ou ajudando algum professor em uma tarefa realmente chata, ou ainda, tendo de limpar nossos banheiros. Costumavam dizer que era o suficiente que nos agredíssemos verbalmente pelos corredores e que nos manter ainda mais tempo juntos era estupidez.

Eu não poderia concordar mais.

一 Cale essa maldita boca!

一 Ou vai fazer o quê? Mandar uma das suas cobras venenosas me picar?

一 Potter! Black! De novo? 一 o monitor-chefe da Lufa-Lufa nos interrompeu, com o semblante nada amigável. 一 Quem sabe se vocês trabalharem juntos talvez parem com isso. Detenção para os dois: limpar todos os quadros dos antigos diretores de Hogwarts.

Era a detenção mais ridícula de todas, porém pesada de certo modo. Hogwarts teve centenas de diretores e, consequentemente, centenas de quadros a serem limpos. O lufano nos acompanhou até a sala do diretor e, a cada um de nós, entregou o que precisaríamos para a limpeza.

James nem ao menos me olhou e começou pelos que estavam mais ao alto. Fui até o lado contrário dele e comecei minha parte. Com toda certeza, passaríamos horas e horas ali, horas cansativas e, acima de tudo, insuportáveis. Eu não podia suportar a presença dele, e ele não podia suportar a minha.

Mas, muito tempo e muitos quadros depois, chegamos ao que parecia ser o último, Albus Dumbledore. O velho de barba grande e branca sorria para nós e repetia constantemente as qualidades de nossas casas, que não deveríamos discutir para saber qual era a melhor, pois todas eram.

一 Besteira 一 murmurei. 一 Se Sonserina é tão ruim, por que Merlim pertenceu a ela?

一 Ora, srta. Black, Grifinória também contou com muitos bruxos importantes, como Harry Potter e seu avô, Sirius.

一 Meu avô é um traidor e Harry Potter é um mestiço. Muito importantes realmente.

一 Você pode falar do meu irmão o quanto quiser, mas não toque no nome do meu pai 一 James gritou. 一 Mestiço ou não, ele foi mais grandioso do que você, puro-sangue, jamais vai ser!

Encarei-o perplexa, assustada e, de certa forma, orgulhosa. Pelo que parecia, ele também podia se exaltar e sair da sua posição calma e brincalhão. Ri de seu rompante, mas não respondi nada. Eu não estava errada, não, Sirius Black foi um traidor do sangue, um dos grandes, e Harry Potter não era nada além de um mestiço com um pouco de sorte nas horas certas.

Terminamos de cumprir aquela detenção ridícula, sob o olhar do lufano e  as palavras de Dumbledore. Durante todo o caminho de volta para nossas Salas Comunais, não permiti que trocássemos uma só palavra, James continuava a fazer comentários irônicos sobre partes do castelo, mas nada que rendesse mais de uma frase.

一 Sobre minha exaltação 一 sua voz abaixou o tom e, pela primeira vez, prestei atenção no que ele tinha a dizer. Se fosse um pedido de desculpas, bom, eu estava certa. 一 Eu estou a razão.

一 Potter, suma daqui.

Mas, James não se moveu, tampouco disse qualquer resposta. Continuei meu caminho até as masmorras e o olhar que ele tinha sobre mim era quase latente. Conforme me aproximei da entrada, senti que deveria olhar para ele também, uma última vez naquele dia.

一 Boa noite, naja 一 e toda vontade de respondê-lo morreu quando ouvi aquele apelido.

 

QUANDO PASSAMOS CINCO MINUTOS SEM DISCUTIR PELA PRIMEIRA VEZ

PORQUE JAMES POTTER PODERIA SER GENTIL. SE QUISESSE

Eu odiava aula de Tratos de Criaturas Mágicas, sobretudo quando eram criaturas absurdamente ridículas como as Hinkypunk com suas pernas únicas e os fiapos de fumaça dos quais era feitos. Pelo que nos foi dito, e muito ressaltado, elas tinham como passatempo aparente desorientar viajantes perdidos, o que era ainda mais ridículo.

Mantive-me à frente de toda a classe, confiante de que aquilo acabaria sem nada de mais. E, enquanto ouvimos a parte teórica, realmente não teve nada de mais, até manusearmos as pequenas criaturas. Talvez eu tenha as irritado, com comentários a respeito da importância ou não que elas tinham, ou talvez as Hinkypunk tenham me escolhido para brincar.

A verdade era que, assim que as toquei, todos meus sentidos caíram por terra. Eu não podia ouvir com clareza, minha visão era um borrão preto e não conseguia tocar em nada que mantivesse meu equilíbrio. Tentei falar, mas as palavras só faziam sentido para mim. Até consegui distinguir algumas vozes, mas não eram da minha classe, tampouco dos meus colegas de casa.

Quando meus sentidos se normalizaram, muito ou pouco tempo depois, não reconheci onde estava. Nunca estive ali antes, pelo menos não que eu me lembrasse. Nada do que acontecia ali me era familiar e pensei que poderia estar em algum lugar fora de Hogwarts, ou até mesmo ter viajado no tempo, mas era estúpido demais cogitar essa possibilidade.

一 Vou tentar ser direto sem ser indelicado, naja 一 revirei os olhos ao ouvir aquela voz. 一 O que você está fazendo na minha Sala Comunal?

Então eu estava na Grifinória. Revirei os olhos, era uma Sala muito sem graça, sem nada de atrativo. Honestamente, a Comunal da Sonserina era, além de mais aconchegante e confortável, mais bonita e elegante.

A pergunta de James retumbou em meus ouvidos, mas eu estava cansada demais para pensar em alguma resposta à altura, então tudo que fiz foi me levantar e me colocar à frente dele. Não estávamos sozinhos e todos os outros me olhavam como se eu fosse algum tipo de criatura de outro mundo, ou coisas do tipo.

一 Quero voltar à minha Sala Comunal.

一 Como veio parar aqui?

一 Estava na aula de Trato com algumas Hinkypunk e elas me confundiram até me jogarem aqui.

一 Elas são terríveis 一 respondeu. 一 A saída é por ali 一 apontou um quadro. 一 O caminho até a Sonserina você conhece e pode fazer sozinha.

一 Certo. Obrigada.

Enquanto caminhava à saída, pensei no quão estranho era o fato de termos nos falado sem qualquer insulto, provocação ou ofensa. Se tratado da maneira certa, James Potter até podia ser uma boa pessoa.

 

QUANDO EU O VENCI PELA PRIMEIRA VEZ

E ME SENTI MUITO MELHOR DO QUE O PROVOCANDO

Há algumas semanas que Braider havia se machucado seriamente em um duelo durante aulas de Feitiços. Eu não entendi muito bem o que havia acontecido exatamente, mas sua posição no time da Sonserina ficou em aberto e precisava ser preenchido logo, já que a final da Copa estava chegando e nosso adversário era, mais uma vez, a Grifinória.

Não sabia como ou por quê, mas me escolheram para substituí-lo. Disseram que era meu desempenho exemplar nas aulas de voo e minha agilidade com a vassoura, que poderiam me colocar como uma ótima apanhadora substituta. Mais pela pressão que o time exerceu sobre mim do que por vontade própria, aceitei o convite.

Os treinos eram exaustivos, principalmente porque tinha pouco tempo para me adaptar ao mundo do Quadribol na perspectiva de jogadora. Eu era a única menina no time e, dependendo do ponto de vista, poderia ser um ótimo detalhe. Treinávamos depois das aulas até muito tempo após o toque de recolher, repetíamos as mesmas jogadas até que nossas vassouras as fizessem sozinhas.

Três semanas depois, chegou o dia do jogo. Na noite anterior, eu mal havia dormido, ansiosa e preocupada com o resultado e, sobretudo, com o time grifinório. Se os batedores deles fossem tão… batedores, eu certamente sairia machucada e sem qualquer pomo de ouro.

Apertei as mãos contra minha Nimbus 3500 e pensei em como era idêntica à vassoura de James e que isso não me dava muitas vantagens. Entrei em campo e ver aquele mar verde e prata fez meu estômago revirar alguns segundos antes do desejo de vitória ser a única coisa que eu sentia.

一 Será que você dá sorte à Sonserina esse ano, Black? 一 uma confusão de fios castanhos me provocou.

一 Eu sou a sorte da Sonserina, Potter 一 respondi.

Todo o jogo foi um borrão na minha memória. A única coisa que conseguia me lembrar era de querer apanhar a pequena bola dourada. As provocações de James duraram durante toda a partida e, por várias vezes, quis derrubá-lo da vassoura. Tivemos duas oportunidades de apanhar o pomo.

Na primeira, miramos juntos para baixo e, por muito pouco, não colidimos com o chão. Vi os espectadores de muito perto, inclusive Braider, que sorriu para mim. Ouvi as reações como se estivesse ao lado delas e, no segundo seguinte, voltei para o alto.

Na segunda, James me empurrou para longe e achei que poderia me desequilibrar, cair e passar alguns dias na Ala Hospitalar. Mas, por uma razão que não fui capaz de explicar, mantive-me na posição certa e voei na maior velocidade que pude rumo à bolinha dourada, antes de cair após pegá-la.

Senti-a, gelada e pequena, presa sob meu aperto, suas asas tocando suavemente meus dedos. O campo estava no silêncio mórbido que existia quando algum dos apanhadores chegava perto do pomo. Olhei para o lado e Potter estava caído, assim como eu. De longe, qualquer um de nós poderia ter conseguido a vitória.

一 Eu ganhei, Potter 一 sussurrei. 一 Eu ganhei de você.

Levantei-me e mostrei a todos a bolinha dourada. A torcida da Sonserina explodiu em gritos e comemoração. O verde se sobrepunha até o vermelho da Grifinória, cujo time se retirava de cabeça baixa.

Vi James se arrastar para longe e sorri vitoriosa. Eu havia o vencido.

 

QUANDO TOMAMOS CERVEJA AMANTEIGADA PELA PRIMEIRA VEZ

OU NOS PROVOCAMOS EM PÚBLICO PELA PRIMEIRA VEZ

Meu bilhete de autorização para nossa visita estava devidamente assinado e eu estava mais do que animada para aquilo. Primeiro porque iria, finalmente, sair de Hogawarts algumas vezes ao ano. E segundo, porque Hogsmeade era incrível, para não dizer mais. Braider já tinha ido antes e me falou sobre a cerveja amanteigada e como era a melhor bebida de todo o mundo bruxo.

Nossos professores nos guiaram por todo o trajeto e, quando chegamos, procurei pelo Três Vassouras o mais rápido que pude. Um homem que se dizia parente de Madame Rosmerta, antiga dona do lugar, me atendeu e providenciou uma cerveja para mim.

O lugar estava lotado, os alunos do castelo se espremiam uns contra os outros para alcançarem o balcão ou para se sentarem em mesas vagas. Por sorte, ou por algum outro motivo, dois bancos estavam vazios próximos a uma das janelas. Não era preciso pensar duas vezes; assim que peguei minha bebida, caminhei até lá e me sentei.

Antes que pudesse tomar minha cerveja, a pequena fonte de luz que vinha até mim foi ofuscada. Olhei para cima e James Potter sorria presunçoso, com aquele cabelo permanentemente desalinhado e o cachecol da Grifinória cobrindo parte de seu rosto. Ele estava sozinho, nenhum dos seus amigos parecia acompanhá-lo e seu olhar era bastante sugestivo para o banco vazio ao meu lado.

一 Está ocupado.

一 Por quem? Nick Quase-Sem-Cabeça? Ele não se importa de sentarmos no mesmo lugar, não vai nem sentir 一 e riu de sua própria péssima piada. 一 No ano passado, na primeira vez em que vim aqui, lembro de ter me sentido nos céus tomando cerveja amanteigada. Dizem que no mundo trouxa cerveja não é vendida para menores, dá para acreditar?

一 Sobre o mundo trouxa, quem sabe é seu pai, não é mesmo?

As chances que eu tinha para infernizá-lo, nem que fosse com pequenas provocações, jamais eram desperdiçadas. James revirou os olhos e apertou fortemente o copo que tinha em mãos. Sorri com sua ira.

一 Não posso ficar por aqui, Potter. Você sabe, sou uma cobra.

 

QUANDO JAMES POTTER ME ELOGIOU PELA PRIMEIRA VEZ

PORQUE NÃO ERA SÓ DE VERDE QUE UM SONSERINO VIVIA

Visitantes de Durmstrang e Beauxbatons estavam vindo para Hogwarts e nosso diretor achou que seria uma ótima ideia promover um baile para que os estudantes pudessem interagir melhor. Tinham apenas duas regras 一 ou exigências 一 para o evento:

Todos, sem qualquer exceção, deveriam participar;Os casais deveriam ser compostos por uma pessoa de cada escola.

Meu par era Hian Krum, filho de um antigo jogador de Quadribol mundialmente conhecido. Hian não era muito cavalheiro, atencioso ou preocupado com qualquer coisa além de si mesmo, mas dançava bem e tudo que eu queria nesse baile era impressionar a todos. Os outros pares eram da mais estranha combinação. Com toda certeza, em ocasiões normais, Braider não dançaria com Medaline Delacour.

À certa altura da noite, meus pés doíam e minhas costas imploravam para que eu fosse dormir. Sentei em uma das mesas e tomei o restante do meu suco de abóbora; eu odiava esse suco, mas, sendo a única coisa disponível, não tive muita escolha.

James não apareceu nenhuma vez naquele dia para me importunar, o que era muito estranho, já que essa era sua atividade preferida desde Hogsmeade quando insultei seu adorado pai. Mas, toda minha felicidade por isso morreu assim que ouvi sua voz perto demais de mim:

一 Olá, Black 一 me preparei mentalmente para qualquer insulto depois daquilo. Mas, o que ele disse foi o completo oposto. 一 Você está bonita hoje.

Não, eu não recebia muitos elogios. Não de grifinórios. Não de um grifinório em especial. James Potter jamais me elogiava.

一 Bateu a cabeça em algum lugar?

一 Não. Só estou reconhecendo que esse tom de vermelho caiu muito bem em você.

一 Verde é melhor.

Corri para o meu dormitório e me olhei em um dos espelhos. Sim, vermelho caía bem em mim. Diferente do que disse, não era melhor que verde.

 

QUANDO ELE ME AJUDOU PELA PRIMEIRA VEZ

APRENDI QUE AMORTENTINA NÃO SE INGERE NA PRIMEIRA FASE DE PREPARO

Era o ano dos N.O.Ms para mim e eu não conseguia dormir direito, pensando nas avaliações, e era estúpido pensar nisso logo no inicio do ano se as provas aconteceriam meses depois. Braider constantemente me acalmava, dizendo que estudaria comigo e me ajudaria com minhas dúvidas. Ele prestaria os N.I.E.Ms e parecia muito mais relaxado do que eu.

Criei minha própria rotina de estudos e, depois do final das aulas, ao invés de ficar sem fazer nada na Sala Comunal, eu simplesmente estudava mais. Estudava o quanto podia, o quanto meu cérebro aguentava, até estar exausta demais para ler uma linha a mais sequer de pergaminho.

Naquele dia, meu último horário tinha sido Poções e, ao invés de sair, preferi permanecer nas masmorras e revisar o que tinha aprendido naquele dia. Amortentina. Poção do amor, muito forte, antídoto complexo de se produzir, efeitos colaterais graves dependendo da dose. Anotei tudo que podia sobre Amortentina.

Senti os olhos pesar e os fechei por alguns segundos, ou minutos ou horas. Dormi ali mesmo, sobre a mesa dupla e parecia muito mais confortável que minha própria cama. Meu sono era pesado, eram noites e noites mal dormidas sendo compensadas de uma só vez. Até um barulho ensurdecedor ser feito bem ao meu lado.

一 Eu te odeio, Potter 一 gritei para ele. James batia todos os objetos para me acordar. Minha cabeça doía e parecia prestes a explodir.

一 O que faz aqui, cobra?

一 Estudando para os N.O.Ms, e você?

一 Prestes a te dar uma detenção, mas como não sou monitor-chefe, ainda, vou te levar ao monitor da sua casa.

James era monitor? E iria me dar uma detenção? Minha realidade estava muito destorcida.

一 Não, não, não faça isso 一 pedi. Nunca havia pedido nada a alguém, mas Potter conseguia arrancar de mim todas as minhas primeiras vezes. 一 Qual é, James, eu preciso estudar mais. Você não tem muita moral para me dar detenções.

Ele me analisou, olhou-me de cima a baixo várias vezes. Andou de um lado para o outro até o chão ficar gasto. Coçou aquele maldito cabelo bagunçado. Arrumou o distintivo de monitor e revirei os olhos com isso. Abriu e fechou a boca várias vezes, antes de, finalmente, me responder.

Pensei que estaria completamente ferrada e claro que, se isso acontecesse, logo no início do ano, todo meu desempenho nas aulas e nos N.O.Ms seria prejudicado. Meu pai com certeza me mandaria um berrador e diria que estava decepcionado. E, de tudo no mundo, decepcionar Damon Black era o maior tiro no pé que alguém poderia dar.

一 Tudo bem, posso fazer isso 一 antes que eu comemorasse, ele continuou: 一 Mas, terá volta. E pode ter certeza absoluta que vou cobrar.

Pela primeira vez em quatro anos dentro de Hogawrts, senti uma gratidão genuína. E por James Sirius Potter.

一 Você está ruindo, Bárbara 一 murmurei para mim mesma.

 

QUANDO FOMOS SINCEROS UM COM O OUTRO PELA PRIMEIRA VEZ

E NOSSOS NOMES SOARAM MUITO MELHORES QUE OS SOBRENOMES

Quatro dias depois dos N.O.Ms, a áurea de ansiedade e nervosismo ainda pairava pelos corredores, ainda era tangível pelos alunos e não parecia ir embora tão cedo. Todos os quintanistas estavam apreensivos e evitavam conversar sobre as provas entre si, embora em todos os cantos do castelo os Níveis eram comentados.

Braider tentara me animar, passando toda uma tarde em Hogsmeade e bancando quantas cervejas amenteigadas eu quisesse. Mas, não foi o suficiente. A única coisa que me acalmaria seriam as notas, de preferência as que permitiriam ser uma auror. Todos os dias, sem falta, eu procurava saber do resultado, sem sucesso. Minhas noites viraram uma sequência de sonhos ruins e muitos minutos de ansiedade.

Albus Potter passou correndo por mim, rumo à Torre de Astrologia. Se seu irmão fosse minimamente parecido com ele, talvez James se tornasse um pouco menos insuportável. Enquanto Albus era um típico sonserino, James era grifinório demais para mim. Na verdade, se ambos pertencessem à Sonserina, várias coisas nos meus anos em Hogwarts seriam melhores.

一 É só pensar no diabo… 一 falei assim que James parou à minha frente.

一 Pensando em mim, Black?

一 Não eram coisas boas.

一 E o que era?

一 Cogitei o fato de você ser sonserino 一 ele arqueou a sobrancelha, surpreso. 一 Sabe, as coisas poderiam ser diferentes.

一 Tipo o quê?

一 Com toda certeza, não iríamos nos provocar tanto, não pareceria ilegal conversamos pelos corredores, acho que poderíamos até ser amigos.Você não me chamaria de cobra porque, bom, se você pertencesse à Sonserina, também seria uma.

一 Então você pensa nessas coisas? 一 concordei. 一 Às vezes penso em você na Grifinória. E quer saber? Não duraria dois meses 一 o olhei com repreensão, como se aquilo fosse um absurdo. 一 E é verdade, Bárbara, você não pertence aos leões.

Era a primeira vez que ele dizia meu nome. E não Black, cobra, naja, sonserina, ou qualquer outro apelido. Era meu nome, puro e simples, direto e exatamente como ele era. Bárbara. Soou tão bem aos meus ouvidos que só quis que James o repetisse mais e mais vezes.

一 Se você diz, James, quem sou eu para discordar? Preciso voltar à minha Sala Comunal agora, com licença.

一 Gostei de como você pronuncia meu nome 一 ouvi-o dizer, mas não respondi nada mais.

O fato de pronunciarmos nossos nomes de uma maneira bem melhor era motivo suficiente para me fazer sorrir àquela altura da minha vida em Hogwarts?

 

QUANDO ELE ME MAGOOU PELA PRIMEIRA VEZ

E, FINALMENTE, PERCEBI QUE O AMAVA

Braider estava no último ano e fazia questão me lembrar isso a cada segundo do meu dia. E, se o Malfoy não fosse suficiente, James Potter também adorava dizer isso a todos que passavam por seu caminho. Inclusive eu. Ele me via de longe e corria até mim apenas para constatar esse fato óbvio. Nas primeiras vezes foi legal, até me fez rir um pouco, mas já não era tão engraçado assim.

Todas as vezes em que via James pelos corredores, minha primeira atitude era dar meia volta e ir a qualquer lugar onde ele não estivesse nem por perto. Às vezes minha Sala Comunal era a melhor escolha para isso, mas encontrar com Braider era quase tão maçante quanto Potter. Embora opostos perfeitos, eles estavam agindo exatamente do mesmo jeito. Insuportáveis.

一 … último ano 一 escutei as palavras que mais me causavam raiva ultimamente. Seguidas, é claro, pela bagunça que era aquele cabelo.一 Só de pensar que você não terá o prazer de me ver ano que vem, cobra, o que você pensa?

一 Eu agradeço por isso. É a única coisa que penso 一 respondi ríspida. Respostas daquele nível eram as únicas que eu podia pensar. 一 Vou ter paz, por pelo menos um ano. E você, Potter, o que pensa?

一 Vai ser ótimo não ter que lidar com pessoas do seu tipinho, sinceramente. Sabe, Black, eu tentei por todos esses anos não ser o que estou sendo agora, mas você me leva ao limite. Com suas respostas tortas, essa prepotência e esse maldito orgulho, que te faz pensar que está acima de todos os outros. Ainda não sei como meu irmão pode te elogiar tanto nas férias, dizer que você é a melhor pessoa dessa escola 一 ele imitou uma suposta voz de Albus 一 quando, na verdade, você é uma das piores. Não sou acostumado, tampouco obrigado, a lidar com vocês, sonserinos detestáveis.

Tentei responder, mas todas aquelas coisas foram, ao mesmo tempo, repentinas, inesperadas e pesadas demais para mim. Mas, eu jamais deixaria que James Potter soubesse que aquilo me afetou. Era muito mais fácil lidar com os sentimentos mantidos no escuro do que expô-los todos de uma vez só, como ele acabara de fazer.

一 Uau, Potter. Então você consegue mesmo assimilar várias coisas embaixo dessa zona que é seu cabelo? Estou impressionada e acabo de mudar minha resposta. Vou ficar devastada sem sua presença ano que vem. Afinal, quem estará à minha disposição para que eu importune a qualquer hora do dia?

Virei as costas e caminhei até minha Sala Comunal em passos rápidos, quase correndo. Não parei para falar com ninguém pelo caminho e, quando cheguei à minha cama, desabei. Chorei contra o travesseiro, baixo o bastante para não ouvirem e não me questionarem o porquê de eu estar chorando.

James Potter havia dito tudo o que pensava de mim, ou parte do que pensava. Mesmo que eu não me importasse com o que diziam a meu respeito, daquela vez me importei. Porque, descobri ali, chorando, que eu o amava. Talvez desde nosso primeiro ano ou desde alguma outra ocasião ao longo dos anos.

Sobretudo, me importei porque ele fez algo que poucos conseguiam fazer: me magoar.

 

QUANDO ELE FOI LONGE DEMAIS PELA PRIMEIRA VEZ

PORQUE IR LONGE DEMAIS ERA O QUE JAMES POTTER FAZIA DE MELHOR

Abracei Braider mais uma vez na estação de trem. Nosso ano letivo tinha chegado ao fim e me despedir dele era quase como me despedir do único amigo verdadeiro que fiz em Hogawrts. Durante todo o ano seguinte, eu estaria sozinha; sozinha nas altas horas acordada na Sala Comunal, sozinha em todas os passeios além do horário permitido, sozinha para qualquer conversa sobre algum assunto mais profundo.

一 Nós ainda vamos nos ver por aí 一 ele me garantiu.

一 Claro que vamos 一 respondi, antes de vê-lo embarcar.

Já quase prestes a embarcar também, ouvi meu nome ser gritado ao longe. Olhei em volta e ninguém parecia esperar que eu respondesse, bom, ninguém que poderia querer falar comigo. O único que acenava na minha direção era a última pessoa no mundo com quem eu queria falar.

Faltando um degrau para entrar no trem, James agarrou meu braço e me colocou de volta ao chão. Desde que ouvi todas as coisas que ele tinha para me dizer, não trocamos uma só palavra, nem ao menos passávamos no mesmo corredor. Se, na opinião dele, eu era tão detestável, não havia motivos para forçar uma casualidade que não existia.

一 O que você quer?

一 Boa viagem, Bárbara 一 murmurou antes de me dar um abraço apertado, exatamente como fiz com Braider. Senti seu perfume forte inundar meus sentidos e quis ficar abraçada a ele por muito mais tempo.

James se separou de mim devagar e encarou cada parte de mim. Nunca estivemos tão perto como daquela vez, nem mesmo quando a maldita Hinkypunk me levou para a Comunal da Grifinória por engano, ou quando fomos obrigados a limpar os quadros dos diretores. Nem mesmo quando sentamos lado a lado no Três Vassouras.

Eu descobri que gostava daquela proximidade.

Estava pronta para vê-lo sorrir com deboche, virar as costas e voltar para seu vagão. Mas, ao contrário disso, James se curvou e pousou os lábios contra os meus. Estávamos nos beijando e era surreal demais para mim. Não me movi, não fiz nada além de fechar os olhos e, por um segundo, esquecer que todos nos olhavam. Senti sua mão pousar na base da minha coluna e puxar meu corpo para mais perto do seu.

一 Não aja como um robô trouxa da próxima vez 一 ele falou baixo depois de nos separar.

Próxima vez? Não vai existir uma próxima vez 一 James riu com ironia e se afastou.

E eu estava certa, não teria próxima vez.

✣✣✣

Bárbara Black morreu de alguma doença trouxa que os medibruxos não puderam curar a tempo. Tinha pouco mais de vinte e dois anos e havia se casado recentemente, com Braider Malfoy. Em sua casa, encontraram os pergaminhos que listavam sua relação não muito amistosa com James Sirius.

Potter nunca deixou de preencher os pensamentos dela, de estar presente sempre que ela via alguém com cabelos bagunçados ou fazendo alguma piada infame. Bárbara pensou em James todos os dias de seu último ano em Hogwarts, pensou nele sempre que passava à frente da entrada da Comunal da Grifinória, ou quando ia aos jogos de Quadribol e não o via lutando pelo pomo.

Bárbara não teve a chance de vê-lo pela última vez, mas ele teve. Viu a Black estendida no caixão, sem vida, sem respirar, sem toda a Sonserina que ela carregava consigo. James viu todos os pergaminhos que ela tinha sobre ele e, pela primeira vez, se viu na visão dela.

James queria que ela se visse sob sua visão também.

 

✣✣✣

 

Eu sinto muito.

一 JSP

 

QUANDO EU A VI PELA ÚLTIMA VEZ

PORQUE A VIDA NÃO É SÓ SOBRE PRIMEIRAS VEZES

Nunca achei que viveria o bastante para ver Bárbara Black morta. Morta, sem respiração, sem pulso, sem sangue, sem nada. Apenas ela mesma, vestida no mais vivo tom de verde. Foi tão irônico que uma cor tivesse mais vida. Nunca achei que sentiria falta de toda sua petulância. Da sua arrogância, sua prepotência e seu orgulho sonserino.

Mas, vendo-a ali, sem vida, eu senti. Saudade de Bárbara no mais puro sentido da palavra. Quando me entregaram vários pergaminhos, cujo destinatário era eu, não acreditei em nada que li. Pude ver a mim mesmo no ponto de vista da mais pura sonserina que conheci. E eu era incrível.

Braider Malfoy chorava a morte da esposa, tendo nos braços um garotinho de pouco mais de dois anos. Ainda que loiro, a criança tinha os mesmos olhos negros dela, tão escuros que podíamos nos ver refletido neles. E, de pensar que eu jamais os veria de novo, tive vontade de chorar, até que isso a trouxesse de volta.

一 Ela te odiava, James, por que está chorando? 一 Albus perguntou enquanto voltávamos para casa.

一 Porque, mesmo com todos os defeitos, eu a amava. De verdade. Só me dei conta muito tarde 一 e, quando Albus me abraçou, eu desabei.

Eu não me lembraria de Bárbara deitada ali. Preferiria lembrar dela me perguntando cheia de petulância o que eu fazia ali, antes de abraçá-la e beijá-la.

Pela primeira e, infelizmente, última vez.


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Notas finais do capítulo

AAAAAAAH, ENTÃO VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI. Desculpa por esse final, eu não resisti.



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