Um amor Silencioso! escrita por Will o Construtor de Sonhos


Capítulo 4
Eu posso tocar a lua


Notas iniciais do capítulo

Como prometido mais um capitulo hoje, desculpe a demora ficou corrido de tarde! Abordei aqui um pouco de dialogo entre eles espero que não fique confuso!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/694076/chapter/4

Eu fiquei em casa sozinho o resto do dia e decidi não tomar os remédios. Minha mãe ligou a cada intervalo de aula, e meu pai ligou umas tantas vezes mais, mas não dei muita atenção. Apesar de tudo, respondi que estava bem e evitei respostas longas.

Olhei o bilhete (que ele me entregou na noite anterior) umas dezenas de vezes. Então decidi mandar uma mensagem bem concisa.

“Oi. Estou bem! Obrigado por perguntar. Está desculpado.”

Pensei em dezenas de outras ideias, mas desisti e acabei apagando. Ele não respondeu de imediato e nem depois de alguns minutos, acabei me entediando. Enquanto a resposta não chegava, fui assistir TV, o que foi menos proveitoso; fiz algumas pesquisas na internet e nem isso me distraiu.

Por volta de meio dia, o celular fez barulho e eu sai correndo, me atropelando para pegá-lo e descobrir que era uma mensagem da operadora. Minutos depois, ele tornou a fazer barulho e eu fui vê-lo com menos empolgação dessa vez.

“Olá, você está bem mesmo? O que faz uma pessoa amanhecer na rua de bermuda e regata?”

Ri daquilo e respondi.

“Estava precisando caminhar, não achei que precisasse trocar de roupa para dar uma volta no quarteirão.”

Por um momento, parei para pensar. Eu tinha levantado e saído com as roupas de dormir e com chinelos de dedo! Como pude ser tão imprudente?

“Você mora nesse quarteirão também?”

“Também”? O que ele quis dizer com “também”?

“Quem mais mora nesse quarteirão?”

“Um cara bem gente boa que é bem na dele”

Não conhecia os alunos da minha turma ainda, então fiquei sem saber o que responder.

“Você vai se atrasar para a próxima aula” mandei para ele, ignorando sua última mensagem.

“É matemática, me viro bem sem uma aula!”

“Minha mãe vai pegar no seu pé, ela não gosta de alunos faltantes.” Realmente, mamãe era chata nesse assunto de faltas, e me senti um bobo por mencionar isso.

“Sua mãe? Ela é a nova professora?”

Não tinha pensado a respeito disso antes de mandar a mensagem. Ninguém sabia  ainda.

“Sim” respondo meio sem graça.

“Isso explica porque você é bonito”.

Fiquei em silêncio naquela conversa escrita. Eu ainda não tinha dito para ele o que curtia ou não, e devia isso ao Victor. Porém, apesar de achá-lo bonito, e algo nele chamar minha atenção, não sei se conseguiria me relacionar com alguém que não poderia me ouvir dizer “eu te amo” e não poderia me responder.

“Ela é bonita, eu não sou tanto” respondo com a intenção de desviar o assunto.

“Vou subir para a sala, nos falamos mais tarde?”

“Talvez, estarei por aqui”.

Ele parou de responder e eu mergulhei em pensamentos. Como seria namorar alguém que não ouve e não fala? Minha cabeça começou a dar voltas e eu acabei caindo no sono, ali na sala mesmo, com a TV ligada. Acordei com meus pais chegando em casa e, como não é de costume, eles chegaram juntos! Recebi mais um sermão, dessa vez da minha mãe e meu pai acompanhou. A consulta seria amanhã, de manhã.

A noite se alongou calmamente e, por volta das nove da noite, recebi outra mensagem dele.

“Você está muito encrencado?”

“Encrencado? Não! Por quê?”

“Sua mãe não tinha uma cara boa na aula, se meteu em confusão por sair pra caminhar?”

“Um pouco! Algo por eu não ter avisado e os deixado preocupados.”

“Deveria tê-los avisado ou deixado um bilhete, se eles se preocupam é porque gostam de você.”

Agora, até ele me dá um sermão. Sério isso? Quem era ele mesmo?

“Não estou com problemas, nada que mais uma hora falando com um psiquiatra não resolva.”

“Você precisa mesmo passar por essa coisa?”

“Não é sempre, mas, quando perco o controle, sim.”

Não sei porque estou contando isso a ele!

“Achei que só eu era imprudente.”

De novo, ele estava dando um jeito de voltar no assunto.

“Posso garantir que não sou imprudente, pirado talvez.”

“Tenho um tratamento natural que sempre me ajudou.”

Achei que ele pudesse estar brincando comigo.

“Que tipo de tratamento? Cigarros? Hehe.”

“Não, e eu não fumo sempre.”

“Me pareceu que fuma, afinal, você me baforou uma nuvem naquele dia.”

Ok, agora eu estava voltando no assunto.

“Desculpe por isso também.”

“Desculpado.”

“Posso te mostrar! É claro, se você não tiver muito encrencado para sair à noite e dar uma volta no quarteirão.”

O que ele iria fazer? Me drogar? Me embebedar? Eu decidi pagar para ver.

“Isso foi um desafio?”

“Não, por quê? Se for, você vai cumprir?”

“Talvez.”

“Então eu desafio o filho da mamãe a estar na praça da esquina à meia noite.”

“Desafio aceito.”

“Preciso alimentar o cão. Te vejo mais tarde.”

Paramos com as mensagens e tracei um plano simples de como fugir. Não poderia pular a janela, porque não estava no térreo, teria que descer as escadas silenciosamente e  torcer para que meus pais não viessem até meu quarto, no período em que eu estivesse fora.

Eles se despediram às onze e meia, me deram uma dose absurda de remédios e foram se deitar. Decidi jogar os remédios mais tarde, se o fizesse agora eles ouviriam, então deixei os comprimidos em um copinho descartável no beiral da janela.

O relógio estava avançando rápido e eu tinha pouco tempo. Desci a escada, silenciosamente, e saí pela porta da sala, sem ao menos fazer um barulho.

Fui em disparada rua acima! Virei na esquina do quarteirão e vi a praça.

E lá estava ele. Sentado no balanço, olhando a rua  de onde eu viria, e seu cachorro correndo pra lá e pra cá.

Sentei ao seu lado  e tentei recuperar o fôlego. Meu celular vibrou e vi que ele estava com o dele em mãos.

“Alguém te perseguiu até aqui?”

“Não.”

“Fale olhando em meu rosto, pausadamente, que eu vou entender.”

Ele sorriu e eu fiz o que ele disse

— Não, ninguém me seguiu.

“Ok.”

— O que quer me mostrar? — Falar, olhando nos olhos de outra pessoa é difícil, olhar para ele era mais ainda. Victor transmitia uma calma sem tamanho, pelos olhos sem desconfiança, e seu sorriso me deixava desconfortável, de uma maneira que não sabia explicar.

“Se balance o mais rápido e alto que conseguir, de olhos fechados, e depois olhe direto para a lua.”

— Só isso?

“Feche os olhos agora e faça o que eu disse, depois olhe para cima. Você sabe onde a lua está, não a procure nos céus ainda.”

Decidi não discutir com ele, fechei os olhos e me balanço, o mais alto e rápido que consegui. E a sensação, de olhos fechados num misto de pânico e emoção, é muito diferente de você ver a paisagem passando rápido! Então, quando eu estava bem rápido e alto ou quando considerei estar no ponto, abri os olhos e vi a lua. Estava na parte alta do balanço e a vista era incrível, a lua estava perto e longe quando o balanço recuava, a velocidade do vento nos ouvidos e a ausência de som era surpreendente. Tive vontade de gritar bem alto, mas resisti à tentação.

No vai e vem do balanço, senti que podia tocar o céu, mas controlei o impulso de tirar a mão da corrente que me prendia. Victor ficou parado, o tempo todo, olhando para cima e sorrindo, enquanto eu ria impulsivamente e sem controle.

Quando, finalmente, parei o balanço, ele mandou mais uma mensagem.

“Sorrir sempre é o melhor remédio.”

— Obrigado, vou me lembrar disso. — Mantive sustentado o seu olhar, e ele não desviou, nem por um segundo. Ainda estava sorrindo e eu sentia uma mistura de sentimentos.

Decidi me entregar a algo que estava segurando a algum tempo: fui até ele e o beijei. Dessa vez, foi ele quem se surpreendeu, foi ele quem recuou um passo e me olhou com cara de espanto, então eu recuei também um passo.

— Desculpe-me. — Virei-me e queria sair dali, correndo de volta para meu quarto seguro. Ele me segurou pelo pulso e me contive ali, mesmo com o impulso de me soltar e correr. Virei-me, lentamente, para ele novamente, e ele me puxou.

Dessa vez, o beijo foi quente, molhado e desajeitado, mas quente. Não tinha gosto de cigarros, como da primeira vez, e sim de frutas, como se estivesse com uma bala na boca até minutos atrás. Ele fechou os olhos e fiz o mesmo. Isso deu imersão ao beijo. Naquele momento, eu ouvia sua respiração e sintia seu toque, ele me envolveu em um abraço aconchegante e firme que eu retribui. Nossos lábios não se separaram, ele usou a língua para apimentar o beijo. Aquele foi o melhor momento que já tive.

Ao meu redor, não havia mais nada. Tinha uma vaga noção do chão e do vento frio. Contudo, seu corpo quente, bem próximo ao meu,  seus lábios macios contra os meus, seu hálito adocicado, seu perfume marcante, eram as únicas coisas que eu contemplava. Finalmente nos separamos, mas ele ainda manteve os braços em volta de meu corpo e eu do corpo dele. Victor estava sorrindo e seu sorriso era contagiante. Então, vi uma lágrima no canto de seus olhos, e ele me abraçou mais firme, enquanto encostava sua cabeça na minha. Ficamos assim pelo que pareceu um longo momento.

Depois de alguns minutos, ele me soltou e pegou a guia. Sabia que era hora de ele partir, mas, diferente do cachorro, não fiquei feliz, não queria deixar ele ir.

— Você precisa ir?

“Não quero te arrumar confusões!”

— Vou te ver amanhã? — Vi mais uma lágrima, escorrendo pelo seu rosto, e aquilo me deixou em agonia.

“Talvez, tenho que ir!” ele me deu um último selinho e saiu com o cachorro, como da primeira vez, em uma corrida curta. Vi ele se afastar na rua, iluminada pelos postes, e ficar cada vez mais distante e decidi fazer o mesmo. Retornei a casa, caminhando, e entrei sem fazer ruídos.

Quando cheguei no meu quarto, enviei uma mensagem, que ele não respondeu.

“O que aconteceu? Por que saiu daquele jeito? Fiz algo que não devia?”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

PS: Acho que esse fim de semana não conseguirei postar por isso dois cap hoje!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um amor Silencioso!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.