Pegou a pilha de documentos e prontuários espalhados na mesa para organizar, ordenado pelo tipo de tratamento feito e depois pelo nome em ordem alfabética. Tinha sido um dia relativamente tranquilo no hospital, uma cirurgia simples, algumas consultas e gennins que tinham se machucado devido àlguma travessura na academia. Ainda assim sentia-se cansada, fazia poucos dias que retornara de uma missão em Suna, onde o exame chunnin tinha sido realizado e ficara responsável por coordenar toda a equipe médica, as tempestades de areia e as lutas, algumas muito violentas, tinham feito com que muitos dos participantes precisassem de atendimento médico, motivo pelo qual teve de permanecer mais tempo que o planejado para se assegurar que todos ficariam bem.

Para completar fazia cerca de dois dias que não dormia mais que três horas, passava horas deitada na cama olhando as paredes do seu quarto decidindo qual a próxima cor deveria usar para pintá-lo, os porta retratos espalhados lembrando-se das histórias que as molduras protegiam, se os livros na estante estavam na ordem que gostava, e principalmente alternando seu olhar do teto para a janela conforme seus pensamentos agitavam-se. Quando finalmente tudo estava guardado, pegou as pastas segurando de qualquer jeito a bolsa com a outra mão enquanto caminhava para recepção, onde pediria para alguém levar os papéis para o arquivo. Ao chegar na entrada do hospital viu Naruto conversando com uma das moças do balcão.

— Oi Sakura-chan, estava te procurando! - ele aceno dando um largo sorriso conforme via sua amiga se aproximar.

— Aconteceu alguma coisa, Naruto?

— Tenho uma notícia para te dar, Sakura-chan! Uma excelente notícia. - ele falou observando a amiga assinar um papel antes de passar a alça da bolsa sobre o ombro - Você está indo para casa agora?

— Sim, meu turno acabou já faz um tempo. - Sakura observou o amigo, os olhos pareciam brilhar mais que o normal, mexia os pés impaciente e exalava animação. - O que é essa notícia pra te deixar tão feliz assim?

— Vamos andando pra sua casa, vamos, no caminho eu falo. - ele passou o braço pelos ombros da amiga, tão feliz que praticamente estava a arrastando junto de si.

— Naruto, baka! Não precisa me guinchar dessa forma! - reclamou tentando se soltar do aperto.

Pelas ruas da vila, as pessoa observavam com carinho a dupla, uma amizade tão grande que chegava ao ponto de se tornar palpável, os grandes heróis da vila e tão humildes, que de tão intimas pareciam duas crianças.

— Conte logo Naruto, estou curiosa! - Sakura falou conforme dobravam a esquina para a rua de seu apartamento, que ficava a poucos minutos do hospital.

— Leia isso, Sakura-chan!

Naruto a soltou enquanto estendia o pequeno pergaminho que antes estava no bolso. Cuidadosamente ela soltou o laço, desenrolando-o para ler uma única frase.

“Kakashi, estou retornando para a vila.

Uchiha Sasuke”

Um pequeno sorriso formou-se lentamente nos seus lábios até deixar o rosto com marcas de cansaço, gentil, os olhos verdes que brilhavam sem desviar das marcas pretas sobre o papel.

— O teme está voltando Sakura-chan, ele está voltando! - seu amigo a agarrou, rodopiando com a pequena garota pelo ar, ela riu baixinho devolvendo o papel ao amigo que encarou confuso a sua reação silenciosa - O que foi Sakura-chan? Cadê seus gritos de felicidades?

— Eu estou feliz Naruto, - uma sorriso largo nasceu em sua face enquanto devolvia o pergaminho - afinal, Sasuke prometeu para mim que iria voltar.

É,

Só eu sei

Quanto amor

Eu guardei

Sem saber

Que era só

Pra você.

Sem dizer mais nada virou-se para entrar em seu prédio, deixando um Naruto confuso com sua ação e palavras para trás. Subiu as escadas saltitantes, seu peito parecia que quebraria com as batidas fortes do coração, e o estômago vazio dava pulos que não era de fome. A verdade é que a notícia de hoje era uma confirmação, um último decreto que lhe mostrava o quanto aquilo era real, já que o motivo das duas noites de insônia foi quando ele avisara cerca de três dias atrás que estava retornando.

“Sakura, mantenha sigilo, estou retornando para a vila. Chegarei em no máximo três dias pela madrugada.

Uchiha Sasuke.”

Era naquela noite que finalmente ele chegaria, provavelmente só avisara ao sensei para que não houvesse nenhum tipo de transtorna com o seu retorno, o que a deixava de certo modo ainda mais contente e vaidosa, já que além de ser a primeira a saber da volta do antigo companheiro de time fora a única a receber algum tipo de detalhe. Sentiu-se importante para Sasuke, não fora seu melhor amigo, Naruto, quem ele quis informar; nem seu antigo sensei e atual Hokage da vila, Kakashi, a quem ele deveria prestar informações, fora ela, Haruno Sakura, que o fez escrever mais do que uma simples linha, que deu um prazo e hora de chegada, que confiou a informação que não deveria ser contada.

Entrando em casa esqueceu a fome, e o corpo pedindo por um relaxante banho quente. Correu para o quarto jogando-se na sua cama, mexendo na gaveta do criado mudo ao lado em busca do semelhante pergaminho que tinha chegado em sua janela carregado por um falcão dias atrás, abrindo mais uma vez para apreciar as letras pintadas na superfície. Riu mais uma vez como aconteceu diversas vezes nas últimas horas por vê-lo dizer o horário de chegada, o que para uns poderia ser interpretado como uma atitude normal, ela sabia ver o significado por trás. Sasuke não era de dar avisos que achasse irrelevantes, e aquele estava ali somente, e incrivelmente, como um pedido discreto para que fosse lhe esperar na entrada da vila.

Mas nada aqueceu mais seu coração que uma frase rabiscada fortemente de preto um pouco acima da assinatura, uma clara intenção de evitar que pudesse ser lida mesmo quando posta contra a luz, porém as técnicas de manipulação que tinha tido com Tsunade haviam lhe dado habilidades também para espionagem, bastou uma mistura simples com algumas ervas e aplicadas cuidadosamente para que uma pequena frase, um tanto borrada, pudesse ser vista.

“Voltando para você.”

Nunca pensou como três palavras tão comuns, juntas, fariam sua vida tão feliz. Depois de anos esperando esperando o retorno de Sasuke, anos a procura do seu paradeiro, anos tentando salvá-lo finalmente ele estava de volta. Mesmo que não o visse, não o tocasse, sentia-se unida por algo muito maior que a proximidade física, de alguma forma que nunca foi capaz de compreender eles estavam unidos do jeito como sempre sentiu que deveria estar, seu amor não somente tinha o alcançado, fora aceito, e agora zelado.

Uma frase que deixava claro para Sakura que do mesmo modo que seu coração conectou-se com o dele de uma maneira única e especial há anos atrás, o dele também sofreu do mesmo feito com o dela, e não existiria outra pessoa no mundo que fosse capaz de substituir qualquer um, pois seus jeitos, seus modos, as dores entendidas, as rejeições sofridas, as declarações escandalosas, os cuidados discretos, só eram genuínos entre si.

Não teria outra troca de olhares, nenhum toque, nenhum pensamento igual, a dor e a alegria não teriam nem o tom, nem a intensidade de tantas outras vezes, nem a realidade seria tão presente se fosse diferente. Porque a unicidade do que eram, só aconteciam com eles, para eles, e por eles, e se não fosse assim seria nada, porque aquele amor era unicamente deles.

É, só tinha de ser com você,

Havia de ser pra você,

Senão era mais uma dor,

Senão não seria o amor,

Aquele que a gente não vê,

O amor que chegou para dar

O que ninguém deu pra você.

O amor que chegou para dar

O que ninguém deu pra você.

Rolou na cama mirando os olhos para uma foto que sempre deixava por perto, na sua casa e uma cópia no hospital, a única que tinha com ele, seu rosto completamente feliz entre os dois garotos emburrados. Ainda não compreendia como uma pessoa tão tensa como ele, poderia ter expressões tão serenas quando queria, dava-lhe calma como o azul anil de um dia ensolarado, mesmo que naquele instante só fosse capaz de sentir uma agitação tão grande; o rosto tão bonito que sempre admirou de longe, a pessoa tão ferida que a fez sangrar junto, os momentos que foi capaz de vislumbrar o que Sasuke era e em que foi obrigado a se transformar.  Seu garoto, seu amor, que finalmente voltava para casa, para seus braços, para ela.

É, você que é feito de azul,

Me deixa morar nesse azul,

Me deixa encontrar minha paz,

Você que é bonito demais,

Se ao menos pudesse saber

Que eu sempre fui só de você,

Você sempre foi só de mim.

— Tadaima, Sakura.

— Okaeri, Sasuke-kun!

Se ao menos pudesse saber

Que eu sempre fui só de você,

Você sempre foi só de mim.