Eu preciso dizer que te amo escrita por Miss Ann


Capítulo 1
Capítulo 1




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2015

Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras...

Eva coçou os olhos mais uma vez, aproveitando para empurrar os óculos para cima e apertar a ponte do nariz, como se aquilo fosse diminuir tanto seu sono quanto a dor de cabeça que a atormentava. Os sons exarcebados da emergência apenas pioravam seu quadro e ela estava realmente de mau humor naquele dia correndo de um lado a outro, atendendo casos aqui e ali. Apesar das especializações, devido ao regulamento do hospital, Eva ainda era obrigada a cumprir algumas horas na Emergência — o hospital considerava útil manter o cérebro afiado na clinica básica de saúde.
— Senhora, utilize essa pomada... - apontou o medicamento escrito no receituário. — Após cada banho. Lave bem a área com sabonete neutro e seque bem antes de usar a pomada, sim? - a mulher a sua frente concordou com um sorriso triste e, depois de um aceno, deixou o reservado, permitindo que a médica se jogasse para trás por um segundo e encarasse o teto branco. O teto era igual as paredes brancas e objetos brancos e tudo ao seu redor era estupidamente branco e lembrava-lhe um manicômio. No dia a dia, aquilo já a irritava, mas hoje parecia bem pior, o que a fez soltar um suspiro. Segundos depois, para piorar sua dor de cabeça, o telefone sobre a escrivaninha tocou. — Clínica. Eva na linha.
— A doutora pode falar ou está ocupada demais para dar atenção a velha que a colocou no mundo? - a voz ácida da mãe a fez sorrir.
— O mundo agradece por ter me colocado nele, mamãe. Apesar disso, preferia que ligasse para meu telefone pessoal em vez da clínica.
— Ah, querida, eu aproveitei ter ligado para Aidan e pedi que ele transferisse para seu ramal. - a garota franziu o cenho diante do nome do rapaz. — Da próxima vez, ligo para o seu celular.
— Não tem problema, mãe. Como estão as coisas por aí? - equilibrou o fone no ombro e pediu que o enfermeiro que esperava na porta entrasse.
— Como sempre. Seu pai está na garagem, mexendo naquelas porcarias de ferramentas dele. Disse que está preparando uma surpresa para quando você vier aqui nos visitar. E disse que está esperando Aidan para fazerem aquele churrasco que haviam combinado da outra vez. - Eva quase errou sua própria rubrica na receita que dispensava ao enfermeiro por ouvir novamente o nome do rapaz. — E como você está, minha filha?
— Me perguntando quando vocês adotaram Aidan como filho de vocês. - estendeu a receita ao enfermeiro que ria do tom de voz dela, enquanto saía. Ela deu uma piscadela e meio sorriso, mas que se desfez quando o outro fez um gesto em direção ao corredor, antes de bater a porta.
— Querida, sabe que por nós adotaríamos Aidan como nosso genro, mas você simplesmente nos frustra dizendo que ele é só seu amigo. - Eva soltou um suspiro alto, antes de reclinar-se sobre a cadeira e fitar o teto. — Vocês fazem um casal lindo. - ela não queria entrar nesse assunto de novo.
— Tanto faz, mamãe. O que importa é que somos apenas amigos... - a porta se abriu e ele entrou na sala. Toda vez que ele a via, o olhar dele repousava de imediato no rosto dela, fazendo-a sorrir. — E que essa criatura insuportável acaba de invadir minha sala porque ele não tem mais o que fazer da vida a não ser perturbar minha existência. - homens, em geral, deveriam vestir jalecos ou ternos/roupas sociais sempre. Mas homens bonitos... Devia ser de lei. E era o caso daquele que estava parado com as mãos enfiadas na sua calça social preta, empurrando o jaleco de seda para trás. Mais de 1,80m, cabelos jogados para trás de um jeito despretensioso, como se não tivesse tido tempo para arrumar (apesar dela saber que ele passava um bom tempo bancando o metrossexual na frente do espelho) e um sorriso de canalha que era capaz de deixar qualquer um molhada num estalar de dedos. — Tenho que desligar para dar atenção a ele e aos meus pacientes. À noite, eu te ligo para podermos conversar com mais calma, pode ser?
— É claro, querida. Bom trabalho e não esqueça: te amamos.
— Também, mamãe. Tchau. - colocou o fone no gancho e olhou para o homem que se acomodava na beirada da mesa, bem ao seu lado. — Não consegue viver sem mim?
— Vim ver se sua cara tinha melhorado depois de sair de casa, mas continua horrível.
— A culpa é sua, seu ridículo. - resmungou chutando uma das pernas para que ele fechasse um pouco, porque a calça apertada estava mostrando mais do que o apropriado no momento. — Sua e da escandalosa que levou para a casa ontem, Aidan.
— Eva... - ele começou rindo, mas a mulher o calou num gesto.
— Você não tem noção do que é aquela risada ridícula e estridente a noite toda... - então o tom de voz dela se tornou mais agudo e estupidamente infantil. — Oh, bebê, que tal mais um martini? Oh, bebê, que tal um pouco mais de privacidade...— Eva arqueou a sobrancelha diante do riso do rapaz. — O bairro todo deve saber quando essa mulher tem um orgasmo.
— Se quiser saber detalhes de como é... - ela o interrompeu com o indicador.
— Não ouse.
— Ace... - olhou para ela com aqueles adoráveis olhos verdes escondidos por trás de lentes pretas grossas pretas, enquanto a chamava pelo seu apelido favorito. — Não passamos de bons drinks, é sério. O que você ouviu durante a noite foi ela bêbada gargalhando sobre algo que nem eu sei o que era! Não sei como Avery me convenceu a dar uma chance a ela porque admito que nem eu estava aguentando a voz dela. - Eva deixou seu óculos de lado e apertou a ponte do nariz.
— Como eu continuo sua amiga depois desses anos? Você é o maior canalha e babaca que conheci em toda a minha vida.
— Um dia você vai entender o quanto me ama, Ace, e vai me aceitar do jeito que sou.
A mão dele repousou sobre a cabeça dela, afagando os fios ondulados de seu cabelo, fazendo-a se render igual a um gato. Eva o encarou pelo olhos entreabertos, visualizando o sorriso satisfeito dele e sorriu também. Sorriu aquele sorriso que escondia um dos poucos segredos que tinha para com ele. Aquele segredo que a atormentava a cada vez que ela o encontrava com outra mulher. A cada vez que pensava como eles poderiam dar certo. A cada vez que ela queria dar um passo e tinha medo.


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Notas finais do capítulo

São mini-capítulos e a ideia é postar dois ou três por dia para quem quiser acompanhar. Sério. Quem gostar, me lembre de postar porque eu esqueço, heheehehehehehehe