Indolor escrita por Bibi Gonzales


Capítulo 1
To: Blue


Notas iniciais do capítulo

Oi, Blue. Você provavelmente não sabe que é você, e também não faz mal, porque você não vai ler isso agora, mas um dia vai. Fique a vontade. Vocês todos que não são o Blue também fiquem a vontade. Oi vocês todos.

(att 15.05.2020): continuo em contato com o Blue e agora ele sabe que escrevo sobre ele, mas não sabe que está compactado aqui nessas histórias. Quem sabe um dia?
ps: incolor não tem gênero.



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25.05.2016 

 

Torpor

substantivo masculino

 

1. sentimento de mal-estar caracterizado pela diminuição da sensibilidade e do movimento; entorpecimento, estupor, insensibilidade.

2. indiferença ou apatia moral; indolência, prostração.

3. ausência de reação a estímulos de intensidade normal.

 

 

 

To: Blue

Querido Blue,

eu não sei o que te levou a achar que só porque acabou eu estava imune. Não é assim. Não é porque me acostumei com as porradas de amor que você me dá que não vai doer cada vez que você bater de novo. Sempre dói.
Viu só? Sempre.

E enquanto eu te pedi encarecidamente para que ficasse e me perdoasse, para que não sumisse de novo, você me ignorou. Simplesmente chegou a conclusão de que não me machucaria mais se fosse embora – você não sabe como pode estar errado, porque com você eu posso até não compreender muito bem as coisas ao nosso redor, e você não sabe o quanto eu odeio esse azul, mas sem você… Bom, sem você eu estou incolor, afinal, sou Incolor e sempre fui, mas será que você me entende? Eu tenho a impressão de que não.

E pensando bem, prefiro sim levar essas porradas do amor que seu ascendente em escorpião insiste em me dar do que me ver longe de você mais uma vez – você entende isso? Você é a minha zona de conforto, e como um caranguejinho, não quero sair da minha casa, do meu lar. Nunca mais. E meu lar só é meu lar enquanto você estiver aqui.

Te escrevendo isso eu peço que não se vá mais uma vez. Você já se foi o que? Duas vezes, e nessas duas vezes eu não podia ter me sentindo mais entorpecido. Mas acredite: até ficar com hematomas azuis de todas às vezes que você fez o amor doer é muito melhor do que o torpor.

Saiba que você não é indolor. Nunca foi. Mesmo longe, e mesmo que nenhum de nós dois fosse real, suas palavras sempre me atingiram como cometas – e cometas só são bonitos e admiráveis quando estão longe. Desculpe te dizer isso, sei o quanto sempre foi difícil que agradasse a todos que queria agradar, embora todos te amassem muito.

Viu? Você foi muito amado. Eu sei o tipo de amor que você queria, e sei que apesar das porradas de amor, você me amava muito desse mesmo jeito. Pena que isso está em um pretérito, não é mesmo? Eu não estaria a redigir isso agora se estivesse no presente. Talvez eu estivesse apenas digitando palavras soltas sobre coisas que sei e que ninguém liga – só você.

 Eu não sei o que faria se aquele torpor me atingisse novamente.

Agora eu só lhe imploro que por favor, fique. Nem que seja para aparecer só nos dias 1 e 31 de cada mês, beber um chá de hortelã ou café, falar aleatoriedades e ir embora. Você sabe como eu sou e também sabe que meu casulo sempre está aberto para você – por mais que não haja tempo para visitas, estarei te esperando com bolo e café quente. Só não deixe que ele esfrie, porque o café é como amor: nem frio, nem requentado. Só quente pode ser servido.

 

Com todo o meu amor e azul,

seu sempre não-amado, Incolor.


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Notas finais do capítulo

Lembrem-se de tentarem sair do azul.

(att 15.05.2020: galera, meus sentimentos nessa época eram de um adolescente dramático e exagerado tentando encontrar uma maneira de se expressar. a partir do capítulo 6 eu começo a escrever nos dias de hoje.)



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