Lírio escrita por Shay


Capítulo 1
Todos os lírios




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No mundo existem mais de 200 mil espécies de flores, cada qual com uma extensa variedade de cores e seus diversos significados. No sexto ano de Scorpius Malfoy, ele descobriu o significado de uma das cores de um tipo de flor.

Tudo em sua vida parecia correto, até o momento em que Rose Weasley resolveu terminar o namoro de dois anos deles. Sem uma explicação razoável ela deu fim a todos os momentos bons que eles viveram juntos, ela jogou fora todos os dias gastos sofrendo e tentando lutar pelo amor que sentiam um pelo outro. Todas as dificuldades pelas quais passaram para receberem a aprovação de suas famílias e também para superarem as diferenças entre suas respectivas casas. E em um piscar de olhos nada mais existia.

— Rose, você vai pelo menos me explicar o porquê de estarmos terminando? Eu não vejo sentido nisso. – O garoto argumentava, ainda tentando manter a calma e a voz baixa. Não queria que madame Pince os expulsasse da biblioteca, principalmente por ser horário de pico e ter vários alunos estudando por ali.

A ruiva o olhava séria, mas seus olhos estavam cheios de lagrimas que ela não deixava cair. Demorou para responder, pensando no que diria. A verdade era que ela estava fazendo isso mais por seus pais, para agradá-los e para seguir com o que eles haviam planejado para seu futuro. Mas ela não contaria o verdadeiro motivo para Scorpius, isso o machucaria mais ainda.

— Scor, você tem que entender que existem coisas mais importantes do que isso. – Movimentou as mãos no ar indicando os dois.

— Isso quer dizer que eu não sou importante para você. – Não era uma pergunta.

— Você é. – O loiro apenas balançou a cabeça esperando que ela continuasse. – Mas eu preciso ter algumas responsabilidades daqui para frente e não posso me dar ao luxo de manter distrações.

— Agora eu sou apenas uma distração? – Resmungou baixo. Scorpius não tinha nenhuma expressão no rosto, mas seu interior estava tomado de raiva e mágoa.

Rose segurou as mãos dele por cima da mesa e tentou dizer do modo mais amigável possível: — Por favor não me odeie, eu espero que possamos ser amigos.

Scorpius recolheu suas mãos e assentiu levemente para ela, pegou suas coisas e saiu da biblioteca. Ele pensou que aquele tinha sido o pior dia de sua vida, mas as semanas seguintes não foram muito melhores.

O garoto que se mostrava extremamente confiante vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, o inabalável Scorpius Malfoy, estava agora se sentindo em um inferno pessoal. Ele quase não conversava com ninguém, apenas Albus conseguia arrancar algo dele e mesmo assim eram poucas as palavras. Seu desempenho nas aulas estava péssimo, sem contar com os treinos e jogos de quadribol.

E foi exatamente em um dos jogos que Lilian resolveu conversar com ele. Scorpius era um ótimo jogador, o melhor da Sonserina, mesmo contando com Albus Severus. E o garoto que estava em sua frente no campo não era de longe nem a sombra do Malfoy que ela conhecia. Lily sabia que ele e Rose haviam terminado, mas a prima não quis entrar em detalhes do porquê, então imaginou que deveria ter sido culpa do garoto, mas o estado em que ele se encontrava demonstrava o contrário.

— Scorpius! – Chamou correndo até onde ele estava no corredor. Ele a encarou sem expressão, mas seus olhos pareciam cansados e levemente vermelhos.

— Lilian. – Respirou fundo antes de continuar, tinha total certeza de que o que viria a seguir seria um sermão sobre o relacionamento dele com Rose ou algum questionamento em relação a Albus. – O que foi agora?

— Eu é quem deveria perguntar. Olha só para você está horrível. – Apontou para o peito de Scorpius.

— Acho que você já sabe o motivo. – Passou as mãos pelos cabelos, desviando o olhar da ruiva um palmo mais baixa que ele.

— Bom, se quiser conversar sobre isso com alguém. Quer dizer, com alguém que não seja o meu irmão, não acho que ele é muito bom com essas coisas. – Os dois deram uma risada fraca concordando em relação a Albus. Scorpius balançou a cabeça em afirmativo para Lily, mas nada disse e assim os dois seguiram seus caminhos.

Mas diferente do que Lilian pensou, o Malfoy realmente apareceu para conversar. De início fora um pouco estranho para ela estar na presença dele sem tentar arremessar algum objeto afiado em sua direção. Mas com o tempo Lily foi se acostumando a estar com ele e sempre que dava os dois arranjavam uma maneira de se encontrar. O engraçado é que eles não precisavam fazer muito esforço para arranjar assunto, tudo acontecia tão naturalmente que parecia estranho nunca terem se falado de verdade antes.

Passados quatro meses poderia se dizer que eles já tinham uma bela amizade, além de terem adquirido uma rotina de andarem juntos pelos jardins do castelo ao final da tarde, para discutirem sobre coisas absurdas. Scorpius adorava estar com ela, sempre tão animada e sorridente, ela parecia colorir o ambiente a sua volta. Lilian era esperta e adorável e gostava de conversar com ele sobre quadribol, assunto que Rose sempre evitava por não ser a favor de esportes. Já Lily cada dia mais se surpreendia em relação Scorpius, principalmente por tê-lo julgado erroneamente por tanto tempo. Ele não era nem ¼ do que ela pensava ser.

— Bom dia, Lírio. – O garoto a cumprimentou, aparecendo de repente ao seu lado.

A ruiva parou de andar no mesmo instante, girando nos calcanhares para encara-lo: — Do que me chamou?

— De Lily. – Respondeu rápido demais, passando as mãos no rosto para que ela não percebesse que estava envergonhado.

Lily não pensou em contraria-lo, já que não se sentiu ofendida pelo apelido, na verdade ela estava feliz por alguém tê-lo usado. Por isso apenas lhe lançou um sorriso caloroso e o puxou pela camisa, para que continuassem seu caminho. Aquele sorriso era um dos que Scorpius nunca mais se esqueceria em sua vida.

Nesse ano Lilian Luna Potter era como um lírio amarelo. Ela era a amizade necessária após uma grande desilusão. Ela era a nova fonte de alegria na vida de Scorpius, a chance de um novo começo.

 O sétimo ano passou rápido, mas quanto mais próximo dos últimos dias de aula, mais Lily parecia estar alheia ao que acontecia ao seu redor.

— Lily, você está bem? – Scorpius perguntou, cutucando-a na barriga, em um ponto que sabia que ela sentia cócegas. Mas se teve vontade de rir ela reprimiu por completo. – O que está acontecendo?

Os dois se encontravam no meio de um dos corredores, esperando Albus sair de sua aula. Eles quase não trocaram palavras durante o tempo que estavam ali sozinhos e Scorpius já estava começando a se sentir incomodado. Ele sabia que havia algo de errado com ela, mas não tinha ideia do que pudesse ser, mas se preocupava com Lily de um modo que nunca achou ser possível.

A ruiva suspirou triste, ainda encarando seus sapatos: — As aulas estão terminando.

— Achei que estivesse feliz por isso.

— Não. Quer dizer, estou. Eu adoro férias, você sabe, mas essas férias em específico significam que você não volta mais ano que vem para Hogwarts.

Scorpius levantou o rosto de Lily com as mãos, para que ela lhe encarasse. Seus olhos verdes sempre cheios de alegria, agora estavam marejados e demonstravam tristeza e até um pouco de desespero. Vê-la assim era algo que ele descobriu ser insuportável, tudo o que mais queria naquele momento era poder ver ela sorrindo novamente.

— Não se preocupe com isso, você sabe que eu sempre apareço na sua casa alguma hora. Eu faço isso a oito anos.

— Mas não vai ser a mesma coisa. – Disse desviando o olhar dele. – Queria não ter te julgado mal por tanto tempo. – Contra isso ele não sabia como protestar. E pela primeira vez Scorpius ficou sem palavras para dizer a ela.

A que ponto os dois haviam chegado?

A menos de dois anos atrás, Lilian não aguentaria se manter perto do Malfoy por tanto tempo sem se sentir nauseada e agora estava quase chorando pelo mesmo? Ela que por tanto tempo o tinha taxado como um babaca completo, que não merecia sua atenção e hoje era a pessoa com quem ela mais queria estar perto todas as horas do dia.

Scorpius não era muito diferente. Também não sabia ao certo quando Lily deixou de ser a irmã magrela e hiperativa do seu melhor amigo, aquela menina chata que ficava estreitando os olhos para tudo o que ele fazia e começou a ser o motivo para ele levantar da cama todas as manhãs. Ele não sabia quando foi que começou a reparar nas diversas sardinhas que a menina tinha nas bochechas, mas que a deixavam linda. E como o cabelo dela se pareciam com fogo, quando os dois estavam juntos vendo o sol se por. Ou até mesmo do quanto ele sentia falta quando Lilian não sorria para ele, aquele sorriso que ele tanto amava.

Naquele momento Scorpius Malfoy percebeu que Lily era como um lírio laranja. Ela era muito mais que apenas uma amizade, ela era a garota por quem ele era totalmente fascinado. Ela era a paixão que ele pensou que nunca mais iria sentir depois de Rose.

 Sem se importar com os olhares a sua volta, Scorpius fez a única coisa que sentia vontade naquele momento. Ele beijou Lily do modo que ela merecia, com todo o amor e carinho que ele aprendeu a ter por ela.

As férias chegaram e a garota não se sentia mais infeliz, muito pelo contrário, ela estava radiante. Ela e Scorpius estavam juntos e apenas isso importava.

Contar a novidade para Harry não havia sido fácil. Lilian achou que o pai iria surtar e proibir até Albus de ver os Malfoys. Mas foi pior que isso, pelo menos Scorpius não achou nada agradável passar quase uma hora sozinho com Harry, enquanto ele lhe explicava tudo o que ele podia ou não fazer com a sua ‘garotinha’, além de tê-lo ameaçado com uma colher de pau.

— Scorpius, eu juro que se você fizer algo, qualquer coisa que machuque a Lily...

— Eu nunca faria nada que a magoasse.

— ...eu vou te transformar em uma fuinha e te prender em uma gaiola! – O Potter gritou apontando uma colher para o rosto do Malfoy.

— Você não deveria estar usando uma varinha ao invés disso? – Perguntou baixando o olhar.

— Não desvie do assunto!

— Tudo bem! Tudo bem. – Respirou fundo. – Eu juro solenemente não fazer...

— Não termine essa frase. – Harry murmurou.

— ...nada de ruim. – Mas mesmo assim o homem acertou o braço dele com a colher de pau. – Eu disse: nada de ruim! De ruim!

Ao contrário do marido, Ginny estava quase surtando, mas de felicidade, ela achava incrível o fato de um Malfoy ter entrado de cabeça em sua família. Draco e Astória ficaram meio receosos no início, mas se importavam demais com a felicidade do filho para darem palpite em suas escolhas. Além do mais, Draco preferia aturar a garota Potter do que a filha da Granger. Lily era impossível de não se encantar, sempre tratando todos bem e fazendo com que se sentissem felizes, nem mesmo o pai de Scorpius conseguiria resistir aos seus encantos.

Mesmo depois de anos juntos, Albus nunca deixava de irritar o amigo por ele estar com a pirralha da sua irmã. E ao contrário do que todos pensavam, Rose ainda era uma das melhores amigas de Scorpius, assim Lilian ainda era a de Hugo.

Dessa maneira as primaveras se passaram e nessa em especial Lily era como um lírio branco. Tão branco quanto o vestido longo que ela usava e tão puro quanto o sorriso desenhado em seu rosto.

 Scorpius estava quase explodindo de felicidade e angústia, enquanto via sua futura esposa andar até ele, de braços dados com o pai. Se não fosse Albus ao seu lado, provavelmente já teria desmaiado.

— Não acredito que estou entregando o meu bebê para um Malfoy. – Harry não perdeu a chance de reclamar, mas ele estava feliz. Lily amava Scorpius, e apenas isso importava.

— Pai!

— Desculpe, querida. – Deu um abraço rápido na garota e se voltou para Scorpius: – Se fizer algo contra ela, você já sabe o que acontece.

— Sim, eu já decorei todas as regras, senhor Potter. – Assentiu e deu o braço para Lily, subindo juntos para o altar. – Você realmente acha que ele ainda me transformaria em uma fuinha?

— Ele não perderia a chance. – Sorriu divertida para o loiro. – Ainda tem tempo de desistir.

— Desistir do meu lírio? Nunca.

Quando estavam finalmente casados, Lily se tornou o último lírio e provavelmente o mais belo de todos. Ela era um lírio azul, a eternidade de um sentimento bom, a permanência do amor e segurança que um transpassava para o outro. Ela era a flor favorita de Scorpius, e sempre seria.


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