Incolor escrita por Bibi Gonzales


Capítulo 1
Azul


Notas iniciais do capítulo

Essa one-shot é, com todo o meu amor e azul, para Blue.
Embora ele não faça a mínima ideia de que o apelidei assim.



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Os olhos não eram azuis, nem o cabelo, nem as unhas, nem a roupa. Ele era. Era azul de tristeza profunda e incompreensão. Era azul hematoma, das porradas que levara do amor.

Eu também estava azul naquele momento. Levei tantas porradas do amor quanto ele; levei porradas do amor dele. E ele gritava que sofria, e que não queria mais me ver e nem ver mais ninguém. O azul o engolia de dentro para fora.

Eu tentei soprar o arco-íris em sua face novamente, tentei lhe devolver outras cores que não fossem o azul; ele não quis. Ele rejeitou minhas cores para viver naquele azul que o engolia pouco a pouco, por mais que eu tentasse salvá-lo de sua própria imensidão, por mais que eu tentasse lhe apresentar cores mais calorosas ou mesmo menos frias.

Ele apenas dividiu um pouco do seu azul comigo; eu não queria aquele azul, mas não conseguia rejeitá-lo também. Ele o empurrava para mim, como se já não bastasse todos os hematomas que deixara na semana passada, na retrasada e nas antes da retrasada; nada bastava. Ele precisava de mais para se sentir vivo, e é claro que eu estava disposta a me sacrificar para que um pouco do arco-íris fosse soprado em sua face. Eu não me importava em ficar azul para a eternidade se isso fosse agradá-lo.

O cinza não era exatamente o da camiseta. Eram as cinzas do cigarro e a fumaça impregnada no meu suéter pela proximidade, e também em seu pulmão que já não aguentava mais aquele processo lento de suicídio.

E eu gritei para que ele parasse – eu não queria mais sentir aquilo. Eu estava sentindo aquele processo lento de suicídio em mim, a nossa conexão não me deixava nunca, alimentando aquele cinza que o matava e agora me matava também.

Estupidamente, tomei suas dores. Tomei suas dores com uma dose de conhaque, que era nojento e a ideia mais estúpida que já pude ter. Mas quem é que podia me impedir? Naquele momento, eu que o impedia de cometer os mesmos erros que eu para com outra. As cinzas dele caíam lentamente no meu copo.

Empurrei o copo, querendo quebrá-lo. Aquele cinza mancharia meu carpete, e eu demoraria alguns meses, talvez alguns anos para limpar, mas ficaria tudo bem. No entanto, o copo era de plástico; não se quebrou, não se partiu e o cinza continuou lá dentro, irredutível.

O verde não era da cannabis em suas mãos, nem das notas de dinheiro em meu bolso. O verde era o da relva molhada sob meus pés descalços.

O verde era outro processo; era o processo que me fazia sair do cinza pouco a pouco. Mas por que eu estava fora do cinza e ele continuava lá? E por que eu não conseguia trazê-lo para o verde junto comigo? Ele simplesmente se negava.

E eu insistia em voltar. Voltava para o cinza e depois para o azul, no qual prometi ficar para que assim o processo se partisse e ele pudesse chegar ao arco-íris, sozinho. Como sempre eu pensei antes nele; ignorei qualquer coisa que eu pudesse sentir, afinal, não era importante. Ele era.

E a transparência? A transparência era unicamente de minhas lágrimas e da chuva. Minhas lágrimas se misturando com a chuva.


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Notas finais do capítulo

Aqueles sentimentos que não podem ser escritos em muitas palavras, mas você sabe que está sentindo, então faz uma one-shot.

Blue, obrigada pelas porradas de amor. No fim deu em alguma coisa, embora eu não tenha entendido bem o que.



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