Teto de Vidro escrita por SkyHeo


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Estou fazendo uma soundtrack para a fanfic, me mandem músicas com tema psicodélico e de certo modo, amor trágico!



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Via a neve cair do lado de fora, estava nevando muito em Idris ultimamente. Viu as torres demoníacas brilhar, era estranho, mesmo em meio a neve e a neblina fina que cercava Alicante; aquelas torres ainda resplandeciam.
Tirou as luvas que cobriam a runa em seu pulso. Hope geralmente só as tirava em casa, e principalmente quando estava sozinha. Sentiu o ar quente na ponta dos dedos enviar pequenas descargas elétricas pelo corpo. Era outono, a estação onde tudo é embaralhado; às vezes quente, outras vezes frio. Na realidade tudo era instável em Alicante, as coisas poderiam mudar de uma hora para outra. Para Hope, só havia três coisas que nunca iriam mudar: a Lei e as Regras dos Caçadores de Sombras, alguma outra pessoa tomar a "tarefa" de ser Inquisidor de seu pai e a terceira, aquele pequeno detalhe que nunca mudaria: Hope nunca receberia mais runas em seu corpo e nunca mais iria fazer alguma.
O celular vibrou em seu bolso, havia deixado no silencioso para tomar chá com Rosália, a bibliotecária e coordenadora da Biblioteca de Alicante. Ela havia ganhado um há dois anos, pois o Conselho decidiu que ela não era capaz de mandar um sinal, ou qualquer outro jeito, caso estivesse em perigo. Dante havia ganhado um também, aliás, era uma mensagem dele.
Se você não descer, irei aí em cima te buscar. Nem que eu tenha que te arrastar, XOXO. Dizia a mensagem.
Sorriu, Dante sempre fora seu amigo, eles nasceram praticamente juntos; Hope nasceu seis dias após Dante. O que era, pensava, muita sorte de dele, se ele tivesse nascido no dia em que ela nasceu, provavelmente estaria morto.
Pegou suas luvas e as vestiu novamente, era de seda branca com uma fina camada de renda verde escura por cima. Calçou as sapatilhas e antes de sair do quarto e olhou-se brevemente no espelho. Sua pele pálida fazia um contraste estranho com a cor verde musgo de seu vestido, os cabelos louros, cacheados e vibrantes eram presos por presilhas e parte solto, e seus olhos... Aquelas duas esmeraldas resplandecentes brilhavam tanto quanto as torres demoníacas. De fato Hope era extremamente bela, mas toda aquela beleza e delicadeza não afastava a amargura que continha em seu olhar, não afastava o sofrimento que era mascarado pelo seu sorriso. Ela era como uma pintura, as pessoas viam em Hope o que elas quisessem. A maioria só via beleza e uma garotinha fraca e indefesa, incapaz de portar runas. Incapaz de ser realmente uma Caçadora de Sombras.
Desceu as escadas rapidamente, queria esquecer a visão que tinha de si através do espelho. Quadros de sua família eram expostos pelas duas paredes que cercava a escada, ela nunca parou realmente para os olhar. A voz de Dante se fez presente assim que as escadas terminaram, a cabeleira loira e cacheada dele veio logo depois. Hope sentou no ultimo degrau da escada, ela havia acabado de subir e já teve que descer, aquilo com certeza a cansou. Apoiou os cotovelos em seus joelhos e a sua cabeça em sua mão esquerda. Respirou irregularmente mais algumas vezes, sentiu um par de mãos afagar sua cabeça. Não precisava olhar para saber quem era.
— Hey, você está bem?
Hope ergueu os olhos para Dante, apertou lábios levemente e voltou a abaixar a cabeça.
— Sim. Você sabe, as escadas.- Apoiou suas mãos no degrau da escada e se levantou — Como foi a Academia?
— Urgh, Félix continua me perturbando.
Atravessaram a sala e saíram. Dante ia lhe contando sobre os treinos e como Félix, seu instrutor, pegava em seu pé.
As ruas de Alicante eram embaralhadas, filas e mais filas de casas e lojas; todas em um tom rústico e escuro. As ruas menores iam direto para outra maior, e assim sucessivamente até irem de encontro a rua e a praça principal. As ruas eram todas interligadas, como uma imensa teia de aranha. Hope conhecia cada rua, cada viela estreita de Idris. Ela não conhecia todos ali, porém todos pareciam conhecê-la. Quem não iria conhecer a filha do Inquisidor? E a única sobrevivente daquele massacre?
— Félix me convidou para ir ao Instituto de Nova Iorque. – disse rapidamente, se Hope não fosse uma boa ouvinte ela não entenderia.
Parou de se mover, virou sua cabeça para olhar melhor seu amigo. Sua pele branca fazia um contraste reluzente com as faixas de luz que refletiam nas torres demoníacas, seus cabelos loiro escuro era levemente cacheado e caía sobre seus olhos cinzas esverdeados. Ele era uma das pessoas mais bonitas que já havia visto.
— Hum, parabéns?
Não sabia ao certo o que dizer, se conheciam desde crianças, nunca ficaram muito tempo longe um do outro. Dante fazia algumas missões fora de Idris, mas não durava muito tempo. Ir para o Instituto de Nova Iorque significava que teria uma possibilidade dele ficar por lá, e ela o conhecia o suficiente para saber que ele iria se impressionar. Não a preocupava a distância, existiam portais para isso, mas sim o fato de ela não poder ir visitá-lo. Também não desconfiava das habilidades dele, sabia que ele era bom o bastante para se proteger, mesmo assim... Era Nova Iorque.
— Eu não sei ao certo, - colocou uma das mãos sobre o ombro de Hope enquanto voltavam a andar –meus pais querem que eu vá. Mas se você quiser que eu fique, tudo bem.
Queria que ele ficasse, queria muito. Mas Hope decidiu a muito tempo não atrapalhar a vida de mais ninguém.
— Não. – apressou o passo, não queria que ele visse a insegurança estampada em seus olhos. – Não, tudo bem. É o seu futuro, afinal.
Entraram em uma viela estreita, a neve e a neblina dificultava um pouco a caminhada. Mas eles não pararam, nenhum dos dois. A respiração de Hope estava acelerando junto com seu batimento cardíaco. Ela odiava imensamente a neve, sempre tinha que fazer esforço para se manter em pé e sempre acabava escorregando.
***
Dante abriu a porta da cabana para Hope, era estranho o fato deles terem vindo o caminho todo em silêncio. Eles sempre tiveram muita coisa para conversar, ele sempre teve muita coisa para contar sobre as terras além de Alicante.
A cabana ficava distante do centro, era antiga e pequena, possuía dois cómodos; uma pequena sala e um banheiro minúsculo. A cabana era totalmente livre de moveis, exceto pelo vaso sanitário e o lavabo antigo no banheiro. A cabana estava quase totalmente coberta por plantas e galhos, até mesmo por dentro a natureza tomava conta do lugar. O chão era de madeira escura e velha que rangia a cada passo dado. As paredes estavam cobertas por musgos e plantas, porém em alguns pontos dava para ver o papel de parede azul.
Hope cruzou a sala, parou enfrente a uma parte da parede, esperou por Dante; afinal só ele podia fazer aquilo.
Olhou para ela rapidamente, não queria que o clima ficasse ruim entre eles, mas a indiferença de Hope as vezes o chateava. Parecia que ela não se importava em tê-lo longe. Afastou esses pensamentos de sua mente, sabia o quanto era difícil para Hope expressar os seus sentimentos, certo. Não falar para ele não queria dizer que ela estava indiferente quanto a partida dele. Pegou sua estela e traçou uma runa de abertura na parede a sua frente. Houve um "click" e logo após o som de uma porta se abrindo. Na parede oposta a que eles estavam, precisamente no chão abaixo da parede, um alçapão se abriu. Não era exatamente um alçapão, não passava de uma pequena porta quadrada de madeira velha e escura. Não possuía escadas, e não tinha iluminação; era um buraco escuro e vazio.
Dante pulou dentro do alçapão, alguns segundos depois o local foi iluminado pelas pedras enfeitiçadas. Hope se sentou na borda do alçapão, suas pernas para dentro. Ao ver os braços de Dante estendidos, respirou profundamente e olhou além dos braços dele. Eram dois metros e meio até o chão. Hope odiava altura, contudo; se jogou nos braços de seu amigo de infância sem pensar duas vezes.
***
— Minha decisão final é não.
A Consuela e os integrantes do conselho se entreolharam. Toda vez que iriam discutir o caso era a mesma coisa, Jonas se recusava a deixar a filha sair de Alicante.
— Será bom para ela conhecer o Instituto, além do mais, ela não estaria sozinha; Dante e os demais integrantes do grupo especial estarão com ela.
Jonas apertou os lábios, a cada reunião ficava mais difícil de dizer não.
— Confio nas habilidades dele como Caçador de Sombras, – olhou rígido e enraivecido para o conselho, espacialmente para a Consuela. – não confio nas dela. Hope é fraca e não tem nenhuma experiência prática em lutas. Ela está totalmente despreparada.
A Consuela olhou com cumplicidade para Rewen Leadwater, um dos conselheiros.
— Jonas, o conselho já havia tomado uma decisão antes dessa reunião. – a Consuela elevou a voz como se estivesse dando uma ordem. — Hope Eleonor irá para o Instituto de Nova Iorque, ou será selada em Idris... Para sempre.
Os lábios de Jonas tremeram levemente. Hope não era ameaça apara os nephillins ou qualquer ser do submundo. Calou-se, não tinha como ir contra o Conselho. E todos sabiam que o Conselho de Idris era a lei absoluta.
***
As juntas de seus dedos já estavam doloridas, a faixa em torno de sua mão estava gasta e não amortecia o impacto do saco de areia. Estava treinando há algumas horas, e por mais que não admitisse, estava esperando Kaio, seu pai. Olhava a cada minuto para a porta, não sabia explicar, estava ansiosa. Quanto finalmente ele entrara pela porta, todo o seu entusiasmo fora por água abaixo. Elara conhecia o seu pai o bastante para saber que ele não estava bem; o franzido de suas sobrancelhas, os lábios apertados e a postura ereta denunciava que ele estava irritado com alguma coisa.
— Pai, como foi a conferência? – ela se referia ao chamado da Clave para com ele.
— Aparentemente, seremos babás.
E só, saiu do campo de treinamento, iria provavelmente para o seu escritório. Ela não o interromperia, quando seu pai estava assim era melhor deixá-lo sozinho.
Sua mãe, Jahine passava pela porta, não estava com o semblante igual ao de seu pai, mas poderia dizer, também, que sua mãe não havia gostado nenhum pouco.
Ela era ótima com expressões corporais e faciais.
— O que papa quis dizer com sermos babás?
— A Clave irá mandar alguns de seus jovens para o instituto. – Ao ver a expressão confusa de Elara, suspirou e completou. — A filha do Inquisidor vem junto.
Foi aí que entendeu, pelo o que diziam, a garota era intocável, dependente - até demais- da Clave. Era um estorvo. Ela era famosa, mas não de um jeito bom.
— Quando eles chegam?
— Amanhã, pelo portal.
***
Hope mastigava sua bochecha na tentativa de amenizar a ansiedade. Havia recebido a notícia de que iria para Nova Iorque, seu pai havia dito para que ela levasse o máximo de coisas possíveis, pois iria passar muito tempo lá e provavelmente muito tempo sem fazer nada. Ele havia dito que ela não precisaria de roupas para treinos e batalhas. Hope não contestou. Na verdade, sabia que iria ficar em segundo plano, e não seria requisitada para nenhuma missão. Esse pensamento até a aliviava.
No começo, aquela situação a assustou, mas bastou uma conversa com Rosália para entender que ela precisava se libertar. A velha bibliotecária havia dito para viver um dia de cada vez. Mas na verdade pensar em ficar longe de sua família, fora da proteção de Idris, dava uma leve sensação de pavor. Insegurança.
Bem, Dante iria com ela; conversaram por algum tempo, ele fazia planos. Hope só sorria e concordava.
Na manhã seguinte, depois de toda despedida e palavras, necessárias aliás, Hope estava em frente ao portal. Já havia visto muitos mas não havia passado por nenhum. Tinha até certo receio: e se algo desse errado? E se fosse parar no limbo?
— Você está pronta?
Ouviu Dante dizer, ele parecia igualmente ansioso.
Ela queria responder que sim, só não sabia se estava realmente pronta. Mesmo assim, novamente, não deu muita atenção para àquela pequena voz em sua cabeça dizendo para ficar em Idris.


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Notas finais do capítulo

As coisas podem estar acontecendo muito rápido para vocês, mas é tudo planejado!



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