Completa-me escrita por BlackLady2


Capítulo 3
Capítulo III


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou maior que os outros, já que estou me soltando mais na história. Espero que gostem.



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Por Aaron Warner

Algumas das nossas tentativas de achar Juliette falharam.

Certo, todas as nossas tentativas falharam. A prova disso é que há sete anos, quatro meses e doze dias que eu não a vejo. Que eu não sinto a maciez da sua pele ou o seu cheiro, quero dizer, o meu cheiro, já que ela gostava de roubar meus sabonetes, que também eram seus sabonetes, já que dividíamos o mesmo quarto. Isso, o fato de que ela esteve presente em cada canto da minha vida, me tirava do eixo sempre que eu falava o nome dela. No início, quando eu ainda não havia aprendido a conviver com a ausência dela, de vez em quando, eu esquecia a realidade e chamava-a para perguntar uma coisa qualquer, então a verdade batia e eu chorava como um bebê. Castle ficou muito preocupado comigo, achou que eu estava depressivo e que eu precisava de ajuda.

— Eu preciso da Juliette. É dela que eu preciso.

Tentei ser grosseiro vez ou outra com Castle para vez se ele se afastava e me deixava tentar respirar em meio a dor, mas não deu certo. Ele não se afastou e eu não conseguia mais tratar mal um homem tão gentil quanto Castle.

Juliette ter ido embora fez eu me aproximar mais de James, o irmão mais novo que eu não sabia que tinha até alguns dias antes de tomarmos o Restabelecimento. Ele tinha um apreço enorme por Juliette e, estranhamente, tinha um apreço por mim. Ele disse que sabia que eu estava triste demais e que sabia que eu sabia que ele estava triste também, por que esse era o meu poder. A frase ficou tão enrolada que eu sorrir o meu primeiro sorriso depois de meses vazio. Depois disso, tudo o que nos fazíamos era para encontrá-la, e fazíamos juntos, o que me ajudou bastante a aturar a vida.

Quando Castle disse que Juliette havia partido, uma parte da minha mente pensou que a tinham sequestrado, outra parte pensou que ela havia ido resolver coisas que eu sabia que não existiam porque a vida dela era esse setor. Não havia familiares ou antigos vizinhos que ela iria visitar. Saber que ela foi porque quis ir me magoou mais do que se a tivessem arrancado de mim. Depois de aceitar que Juliette não nos queria mais na vida dela, eu pensei que ela não partiria se não tivesse uma boa razão para isso e eu queria saber o que a fez me deixar tão repentinamente.

— Estamos quase lá. Lembro bem dessa parte da rua – disse Adam.

Eu não lembro, penso em dizer, mas resolvo guardar para mim mesmo. Castle sempre diz que eu devo voltar a expressar meus pensamentos, contudo não sinto vontade de falar.

— Eu me lembro de estar correndo de seus soldados, Warner. Eles gastaram uma quantidade imensa de balas nas nossas costas – comenta Kenji, sorrindo um pouco.

Olho para fora monotonamente. Jamais estive aqui nessa rua, mas já estive em um ponto próximo, algumas ruas acima. O depósito com abrigo subterrâneo onde encontrei Juliette fugindo com Adam e, bem próximo dali, o prédio onde beijei Juliette pela primeira vez. E onde ela atirou em mim. Sorrio com a memória, surpreendendo Kenji.

— Bem, se Warner está sorrindo, tudo é possível. Já estou até mais confiante.

Chegamos a frente a um prédio que foi reconstituído para famílias que não tinham onde morar. As pessoas que já tinham casa nessa área somente as reformaram com ajuda do Setor 45. Juliette tinha muitos planos e eu conhecia cada um deles. A construção havia sido rápida e facilmente habitada, já que o que mais existia eram pessoas sem ter onde morar. Deixamos o carro discreto de Adam em frente à porta e entramos. Castle nos disse que o primeiro apartamento no primeiro andar era o nosso. A porta estaria aberta e a chave pendurada em um gancho ao lado da maçaneta, dentro da casa. E estava tudo como ele explicara. O lugar se dividia em sala, um quarto e cozinha. Mobiliado com o necessário – sofá e mesa de centro na sala, três camas e um guarda-roupa no quarto, fogão e geladeira abastecida na cozinha – e sem exageros. Simples, como Castle.

— Que lugar caído – reclamou Kenji.

— Não estamos a passeio, Kenji.

— Eu sei, Adam, mas custa tentar deixar a vida divertida?

Sai do ambiente sem uma palavra. Custa muito tentar deixar a vida divertida. Para mim, está custando sete anos e eu nem sei se vai termina bem.

Encontrei o banheiro em uma entrada pequena no quarto. Tão singelo quanto o resto da casa. Levei apenas o shampoo. Eu não consegui mais usar o sabonete que costumávamos repartir. Muitas lembranças para suportar. Agora eu me lavava com o shampoo que apenas eu usava, entretanto eu ainda carregava o sabonete na mochila. Deus sabe por quê.

Sai de lá já vestido, penteado e com a barba tirada, o que eu não fazia há semanas. Kenji me elogiou, tentando tornar as coisas mais fáceis, funcionou um pouco, pena que não foi o suficiente para arrancar a ansiedade que só crescia no meu estômago.

Esperei eles se aprontarem e saímos atrás de informações.

Kenji nos deixou invisíveis e, com poucos passos, chegamos ao bar, que estava com as portas fechadas.

— Abre apenas a noite agora – explicou Adam

Rodeamos a estrutura, tentando achar alguma coisa. Nada. Sem sinal de brigas ou sangue. Para nós, esse era o caminho certo. Mortes sem vestígios. Juliette. Kenji nos soltou quando chegamos à parte de trás do bar e ficou vigiando quem vinha ao lado do bar. Tentamos encontrar objetos ou marcas que pudessem indicar alguma coisa. Nada.

— Não encontrar sinais de morte tendo mortes confirmadas é um bom sinal para o que queremos achar – disse Adam para mim.

— Juliette. Estamos no caminho certo.

— Ei, olha só o que estava nos bisbilhotando – a voz de Kenji veio antes de ele aparecer da lateral do bar – uma miniatura.

Ele segurava um menino de pele rosada, cabelos e olhos castanhos, que se debatia para se libertar. Kenji o puxou até está na nossa frente.

— Por que não larga o garoto, Kenji? – pediu Adam, que se ajoelhou em frente à criança – A não ser que tenha algo para nos contar. Você tem?

Ele pareceu pensar – O que procuram?

— Não, nós perguntamos e você responde.

— E o que eu ganho?

— Que tal sua cabeça sem galos causados pelos meus cascudos? – irritou-se Kenji – Fala logo.

— Vocês estão aqui por causa das pessoas que morreram, não é? - adivinhou o garoto.

— E se for? – questionou Adam.

— Bem, as pessoas que morreram eram más. Roubavam a gente, tiravam nossa comida e diziam que se nós denunciássemos, eles nos matariam, então... – o garoto parou de súbito.

— Continua, moleque – exigiu Kenji.

— Não posso contar o resto.

— Por que não pode contar o resto? – perguntei. O menino apenas sacudia a cabeça dizendo não – Você sabe quem nós somos?

— Não.

— Somos quem vai ajudar a pessoa que está matando os maus a acabar com quem rouba vocês. Pode confiar em nós.

O garoto não parecia que ia falar – Eu te dou tudo o que eu tenho na carteira, se você falar – chantageou Adam.

Isso soltou a língua do moleque – Certo. Tem alguns meses que chegou uma moça nova na área. Ela veio com a empregada e a filha da empregada.

— Empregada? Do que você está falando? – indaguei.

— Elas moram algumas ruas abaixo, mas ninguém sabe onde é. Dizem que é em um apartamento que já foi atacado pelo antigo Restabelecimento uma vez. A moça sempre sai à noite, mas a empregada e a menininha nunca saem de lá. A moça sempre vem ao bar e, antes de sair, paga uma rodada para todo mundo.

— Como sabe disso?

— Talvez eu tenha entrado escondido no bar uma vez ou outra.

— Se você entrou, então sabe como ela é – arrisquei e, mais uma vez, ele se calou – Já disse que pode confiar em nós. Não vamos machucar a moça. Só queremos saber quem ela é e se ela precisa de ajuda com o serviço de... limpar a cidade.

Não funcionou até Adam mostrar a carteira.

— Tudo bem. Ela é branca, tem cabelos castanhos bem longos, é bem magrinha e muito bonita.

— Você descreveu quase todas as garotas que eu conheço.

— Ah! Ela tem olhos bonitos. Mas eu não sei se são verdes ou azuis – tento não expressar nada e, pela primeira vez em anos, consigo – e, bem, eu vi acontecer.

— Viu o que acontecer? – pergunta Adam.

— A mágica que ela faz.

— Mágica?

— É, ela só segurou na mão do cara que havia roubado a comida de uma velhinha há alguns dias e ele começou a se debater e a se contorcer, mas ninguém no bar parecia se importar. Ele era mau. Quando ele parou de se mexer algumas pessoas do bar se ofereceram para levar o corpo para a lixeira mais próxima e quando eles voltaram, a moça comemorou e pagou bebida para tudo mundo.

— Ela só tocou nele? – questionei.

— E ele morreu.

Kenji largou o menino e Adam abriu a carteira quase vazia, mas o garoto não reclamou, pegou o que tinha e foi embora. Voltamos para o apartamento em silêncio, mas assim que a porta bateu, não pude mais segurar.

— É ela. Desta vez, não há dúvidas. Encontramos Juliette.

— E eu concordo – disse Kenji – Só há uma coisa a fazer.

— O que?

— Ir ao bar encher a cara e torcer para toparmos com uma assassina de ladrões de velhinhas.


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Notas finais do capítulo

Bem, talvez ela apareça no próximo capítulo. O que você acha de comentar? Ou criticar? Ou elogiar? Sua opinião é mais que necessária.
Beijos.
BL.



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