PRÓLOGO

"É exatamente disso que a vida é feita, de momentos. Momentos que temos que passar, sendo bons ou ruins, para o nosso próprio aprendizado. Nunca esquecendo do mais importante: Nada nessa vida é por acaso. Absolutamente nada. Por isso, temos que nos preocupar em fazer a nossa parte, da melhor forma possível. A vida nem sempre segue a nossa vontade, mas ela é perfeita naquilo que tem que ser." - Chico Xavier

A primeira coisa que veio em minha mente assim que descobri que Michelle, minha então namorada, havia me traído foi que eu estava preso em um eterno pesadelo, daqueles que, por mais que tentássemos, era impossível acordar. Mas não era um pesadelo.

A cena estava lá, mais colorida e real do que nunca: as roupas espalhadas pelo chão do quarto, o lençol cobrindo os dois amantes, Michelle com cara de assustada e o cara, vamos chama-lo de Louis porque eu nunca soube o nome verdadeiro dele, alternava o olhar entre eu e a garota que tornaria-se minha ex-namorada em menos de três minutos. Xinguei Michelle de todos as palavras que eram sinônimo de vadia, xinguei o cara por ser um cafajeste, chamei a mim mesmo de idiota por não ter percebido nada antes e, só então, depois de sair batendo todas as portas do apartamento, caminhei a pé até a minha casa.

A previsão do tempo não havia errado: o temporal estava começando a se formar sobre a cidade, embora estivesse abafado demais para o mês de janeiro. Não me preocupei em apressar o passo, apenas queria organizar meus pensamentos, afinal, nós nunca esperamos que isso aconteça com nós. Pois é, crianças, o ano em que eu conheci a sua mãe começou de uma forma horrível, mas se tudo aquilo não tivesse acontecido, vocês não estariam aqui hoje, então agradeçam à Michelle por ter me traído com um cozinheiro naquele fim de semana.

Naquele primeiro fim de semana de janeiro, alternei entre todos os sentimentos que alguém poderia passar. Fui de tristeza extrema até um nível de raiva que eu nunca havia chegado. Rasguei tudo que me lembrava Michelle,soquei a parece tantas vezes que precisei enfaixar a minha mão, quebrei porta-retratos e garrafas de cerveja vazias. Na madrugada de sábado para domingo, arranjei briga no bar do Johnny e, se não fosse pelos seus tios Jimmy e Matt, eu teria apanhado muito. Na manhã de domingo, amanheci com ressaca, um coração partido e seus tios Zacky e Johnny me xingando. Eles já não aguentavam mais o meu comportamento - e só haviam passado desde dois dias após a traição. O que eles não sabem é que aquilo iria continuar pelas próximas semanas, até eu conhecer sua mãe. Mas é assim mesmo, crianças. Quando se tem um coração partido, não podemos fazer nada além de deixar o tempo passar e levar com ele todas as lembranças e feridas. Foi só questão de tempo até a sua mãe aparecer e estender a mão, lá de cima do poço em que eu estava, para me ajudar a subir. Ela apareceu com o sol numa manhã fria de inverno e aqueceu cada parte da minha alma, então, não, eu não lamento de nada que aconteceu naquela sexta-feira, 3 de janeiro. Todas as minhas escolhas, todas as escolhas de Michelle, todas as escolhas de sua mãe nos fizeram chegar até aqui. Então, crianças, não lamentem quando algo ruim acontecer, pois algo muito bom acontecerá depois.

E foi assim, em meio dessa confusão toda, que começa a nossa história.

A história de como conheci a sua mãe.