Lola Hernandes Cortéz

Ao ver aquele mendigo tão decidido comecei a rir por dentro. A quem dizia que ele era esperto para um mendigo, eu sabia que não podia ser tanto assim, no fundo não passava de um ingênuo fácil de manipular ao modo que eu quisesse. Não muito diferente de Bibiana.

A diferença entre os dois, é que Bibiana ao menos tinha sobrenome, prestigio e dinheiro. Ela não precisava de inteligência para sobreviver.

Poucas eram como eu, que tinham inteligência, dinheiro, um casamento por conveniência e claro dinheiro de sobra. Fitei meu marido e o de Bibiana ainda conversando animados, nem prestavam atenção em nós – o que me levava a pensar que o de Bibiana era por conveniência, mesmo que no inicio eles fossem um casal muito romântico – em seguida voltei a fitar o mendigo.

Mário do Bairro realmente era um bom nome, embora ele nunca fosse levar o mesmo fim do da personagem. Ele já estava na mesa de centro, enquanto os demais convidados estavam prestando atenção em outra coisa. Quando o vi cortando o bolo de encerramento, que deveria ser feito pelo nosso anfitrião ao final da festa, quase não acreditei. Tive de dar um chute em Bibiana por baixo da mesa para que ela não gargalhasse e estragasse tudo, ele já estava desconfiado, não podíamos dar motivos.

Olhei para o lado e percebi que Camille nos recriminava com o olhar. Ignorei-o. Camille adora se fazer de “certinha”, porém podia ser a pior de todas quando queria, e ela sabia muito bem disso, no fundo iria se divertir tanto quanto nós.

E a brincadeira até que era inocente. Não iria dar muitos estragos, mas daria a entrada que eu precisava para contar a todos quem era realmente aquele intruso na festa. Sara estava se rebaixando muito convivendo com aquele tipo de gente, que o fizesse na casa dela, nenhum de nós era obrigado a conviver com isto.

Vi então ele se aproximando de Sara com o bolo, e ele mesmo deu um toque especial levando junto uma flor que fazia parte do enfeite. 

— Sara, é para você. – Ele se aproximou então, interrompendo a maravilhosa conversa que ela tinha com Riley e Manuel.

— Gil... – Ela então olhou para o bolo e para ele logo em seguida. – Você não... – Sara então ficou tão envergonhada com a ação de Grissom que ficou sem palavras.

— O que foi Sar? – Perguntou inocente, e por um momento pensei em sentir pena. Desisti em seguida, aquilo ficaria tão divertido.

— Sara, o que o seu convidado fez com o bolo? – Riley ficou hostil, se havia algumas coisas que ele prezava acima de tudo era: Educação, respeito e o bom andamento deste evento. Ele odiaria ver aquele bolo, ao qual encomendava sempre com antecedência para que saísse perfeito, destruído antes da hora.

Quase gargalhei naquele momento. O mendigo fitou-me tão raivoso, que tive que ir colocar mais lenha na fogueira antes que ele me entregasse.

— Sara...  – Disse sorrindo. – O que esperar trazendo um mendigo para a festa? Um homem que não sabe as normas básicas de educação e comportamento, principalmente em um evento como esse, e...

— Mendigo Sara? Lola está dizendo a verdade?