A menina ficou balançando os seus pequenos pés para fora da cama, antes de começar a falar. Aquele silêncio me matava, de alguma forma queria saber como Alicia tinha chego aquela conclusão.

— Papai é diferente longe de você. Mesmo antes de te conhecer ele era diferente. Quando ele está com você ele... Ele sorri. – Ela olhava para qualquer lugar menos para mim. – Ele fica feliz quando você está por perto. E eu só lembro-me dele assim com a mamãe. Quando a mamãe se foi, parece que papai tinha ido junto, mesmo quando ele queria parecer alegre, ele não era. E você então apareceu e ele ficou alegre de novo. É diferente... – Seus olhos ficaram mareados. 

— Como assim pequena? – Sentei-me do lado dela.

— Parece que Arthur e eu não somos o suficiente para o papai. – Suspirou. - Eu entendo que ele sinta falta da mamãe, ela era especial, e eu também queria ser.

— Ei pequena, não é assim. Alicia é completamente diferente esse tipo de relação, você pode ter certeza que enquanto ele possa ficar triste longe de mim, ele não viveria sem você. – Levei minha mão a seu pequeno rostinho fazendo-a me encarar. – Lembra-se quando Arthur ficou doente? – Alicia acenou com a cabeça. – Ele ficou fora dele, ele estava triste e desesperado, não estava? – Ela concordou acenando a cabeça novamente. – Você sabia que se isso fosse com você, ele ficaria mal igual, não sabia?

— Eu acho que sim...

— Você tem que ter certeza disso pequena. A questão é que seu pai pode até ficar triste sem mim, mas ele conseguiria viver assim. Agora se qualquer coisa, por menor que fosse separasse você ou Arthur dele um pouquinho que seja, ele não conseguiria viver.

— Mas eu quero ver o papai feliz, - ela disse ainda com a voz triste – só que para isso ele precisa de você. E parece que ele não é o único. Arthur também precisa de você.

— E você?

— O que tem eu?

— Você precisa de mim também?

— Eu... – Ela negou com a cabeça como se estivesse pensando. – Eu não sei.

— Alicia, está aí? – Ouvimos a voz de Aninha vindo do corredor em direção a porta do meu quarto.

Como em uma tentativa de fuga naquela conversa, Alicia se levantou sorridente para ir de encontro a amiga. Ela já estava quase na porta, quando voltou correndo e pulou na cama me abraçando com ternura e me dando um beijo apertado na bochecha. Eu recebi-o com um sorriso e surpresa pela reação carinhosa.

— Talvez eu precise também. – Murmurou antes de sair correndo do quarto, não me dando tempo de responder, pude apenas ouvi-la indo conversar com Ana Paula, sobre ir brincar.

Deitei-me na cama refletindo sobre o que Alicia havia me dito. De alguma forma ela comparou os sentimentos que ele tinha por mim com os sentimentos que tinha pela antiga mulher dele, isso era como dizer que ele me amava. Saber que ele ficava ansioso e feliz por me ver, de alguma forma mexeu comigo, isso mostrava que já havíamos passado de um relacionamento casual, eu significava algo para ele. E eu também podia feri-lo. Esse era o momento de eu abrir meu coração para mim mesma e descobrir o que eu sentia para não machucá-lo. Afinal, eu o amava ou não?