Ghost escrita por Gabby


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá! Sejam bem-vindos!
Agora que sabemos que Solangelo é canon, precisamos de mais fics deles no fandom ♥ Espero que se divirtam lendo!



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Annabeth amarrou os cabelos loiros em uma cola alta, enquanto caminhava acompanhando o ritmo da residente e dos seus colegas internos. O hospital estava um caos, mas Will Solace já havia presenciado dias piores. Houvera um acidente com duas barcas — nada tão grandioso, mas deixara bastante pessoas machucadas. A maioria apenas ferimentos superficiais, que precisariam de pontos ou algo do gênero, mas havia certas pessoas que não tiveram essa sorte — e todos os internos da cirurgia do Seattle Grace estavam felizes com isso, por pior que parecesse.

         Uma maca passou praticamente voando por entre eles, e Will acompanhou com os olhos. Era uma garota, jovem como ele, já devidamente entubada. Era só o que podia dizer dela, considerando seu estado inchado e quase desfigurado. A Dra Ártemis, chefe da traumatologia do Seattle Grace a acompanhava, praticamente correndo, junto a alguns enfermeiros e um residente.

         — Reservem o sala de Trauma 2! Agora! — ela ordenou. Virou a cabeça e um fio de cabelo castanho avermelhado se desprendeu de sua cola. — Dra. Bailey, preciso de um interno seu.

         — Eu estou disponível! — exclamaram Cristina Yang, Annabeth Chase e Will Solace em uníssono.

         Um olhou para o outro, de esguelha. Depois, olharam para Ártemis. Mas eles sabiam que quem tinha a palavra final era a Dra. Miranda Bailey — pois, não importava para que fosse, a residente de Will parecia que sempre mandava.  

         — Primeira da turma! — exclamaram Annabeth e Cristina, rapidamente. Uma olhou para a outra, ambas irritadas. Meredith Grey, colega interna e melhor amiga de Yang, não pôde deixar de sorrir, achando graça da semelhança das duas.  

         — Vocês sabem que eu quero ser cirurgião do Trauma — replicou Will. — Annabeth quer ser neurocirurgiã; A Cristina quer fazer Cardio-torácica...

         Foi nesse momento que um garoto interrompeu a discussão. Era mais novo que Will uns cinco anos, tinha uma pele pálida como papel e cabelos escuros. Gritava algo em italiano e tentava chegar à garota da maca, que estava inconsciente. Um dos enfermeiros o impediu, mas ele continuava lutando.

         — Ela é a minha irmã! — disse, em inglês desta vez.

         Miranda Bailey o encarou por um momento. Ele tinha alguns cortes no rosto e hematomas roxos nos braços demasiados pálidos. Depois, a médica se aproximou dele e disse, num tom de voz bondoso.

         — O senhor precisa voltar para o pronto-socorro. Sua irmã estará em boas mãos. A Dra. Ártemis é muito boa no que faz.

         Ártemis sorriu para ele. Tinha um rosto redondo e jovem, mas seus olhos eram duros, repletos de experiência de que um cirurgião do trauma precisava ter.

         — Qual é o nome dela?

         — Bianca. Bianca Di Angelo.

         — Ela tem alergia a algum tipo de medicamento, usa algum remédio ou tem alguma doença?

         Ele disse não com a cabeça.

         Ártemis assentiu. Dra Bailey voltou-se para trás, para seus internos. Havia Cristina Yang, uma talentosa e determinada médica — que também era orgulhosa e insensível. Havia Annabeth Chase, que tinha qualidades e defeitos parecidos com os de Cristina. Havia Piper McLean, que era atenciosa e gentil com seus pacientes — mas que se envolvia demais com todos. E havia Meredith Grey e Will Solace — uma combinação interessante entre ambição e gentileza.

         — Solace, vá com esse rapaz aqui e trate de seus ferimentos — disse.

         Will Solace só vivia na mesma especialização: Trauma. Haveria certa hora que ele precisaria trabalhar na ortopedia ou obstetrícia e não saberia fazer nada. Bailey tinha que tomar cuidado com isso.

         Will olhou para ela, rangeu um poucos os dentes, mas conduziu o seu paciente para longe dali sem renas infantis.

         — Grey, vá com Ártemis! — ela ordenou. — McLean, pronto-socorro. Chase, o Shepherd precisa de você. — Bailey olhou para seu pager. Tinha sido convocada para uma cirurgia envolvendo um corte feio na barriga que havia rasgado alguns órgãos — Yang, vá ver se a ortopedia precisa de ajuda.

         Ela bufou. Bailey a encarou com um olhar mortal. Com receio, a Dra. Cristina Yang se virou e correu para ver se a ortopedia precisava de ajuda.

///

         — Sou o Dr. Will Solace — apresentou-se. — Qual é o seu nome?

         O menino estava parado, sentado à cama. Will podia olhar para ele com mais atenção agora que não estava disputando uma cirurgia. O garoto tinha olhos castanhos, e os cabelos embaraçados estavam sujos com um pouco de sangue. Ele tinha alguns arranhões e pequenos cortes nos braços, além de dois joelhos ralados. O ferimento mais preocupante era um corte na canela que talvez precisasse de um ponto.

         — Nico Di Angelo — ele respondeu, com os olhos zanzando pelo andar sem foco. Dezenas de pessoas com ferimentos semelhantes aos dele, todo mundo a vista. Gente procurando os parentes e amigos; médicos de roupas azuladas zanzando naquele caos como se o hospital fosse sua casa. Will compreendia a sensação de desorientação de Nico Di Angelo, mas há anos deixara de senti-la.

         Will se aproximou do garoto. Não sabia bem o que fazer, então lhe sorriu gentilmente. Tocou em seu rosto, mas Nico rapidamente se esquivou, franzindo a testa.

         — O que você está fazendo, exatamente? — perguntou, perturbado.

         Will ficou sem graça.

         — Desculpe — disse, e mexeu no bolso até encontrar sua pequena lanterna. A acendeu. — Queria apenas checar seu reflexo. Seus olhos parecem estar meio desfocados.

         — OK.

         Nico parecia um pouco desconfiado, como um animal selvagem. Will não podia culpá-lo. A sua irmã estava correndo risco de vida, dependendo de desconhecidos.

         Will checou os olhos escuros de Nico. Ele não pode deixar de notar o quanto eram o negativo um do outro — o médico tinha olhos claros, era bronzeado e loiro, enquanto Nico tinha pele pálida e cabelos escuros. Will Solace estava com o seu típico jaleco branco, enquanto seu paciente usava roupas pretas sujas de sangue da irmã.

         — Sabe, eu conheço as médicas que ficaram responsabilizadas por sua irmã — começou Will, tentando tranquilizar Nico. — Já trabalhei com a Dra. Ártemis. Já a vi realizar cirurgias muito difíceis com êxito. Ela é a melhor dos melhores.

         Nico sorriu minimamente para ele.

         — E Meredith Grey é minha amiga. Eu moro com ela — comentou Will. — Ela pode roncar que é o diabo, mas é uma ótima médica. É até mais talentosa do que pensa que é.

         Nico fixou os olhos escuros e turvos em Will, com intensidade.

         — O quanto talentosa ela é, exatamente?

         Will sorriu, um pouco sem graça. Guardou a lanterna no bolso.

         — Muito.

         Nico fechou as suas mãos em punhos.

         — O suficiente para salvar Bianca?

///

         No fim, os pontos não foram necessários. Will apenas limpou com álcool os arranhões de Nico e fez um pequeno curativo em um machucado. Foi bastante desinteressante. Se todos os seus casos fossem assim, tão sem importância, não teria valido a pena sacrificar as praias da Califórnia pelo clima frio e chuvoso de Washington. Por um momento, desejou que algo horrível ocorresse com seu paciente — não suficientemente horrível a ponto de matá-lo, mas horrível o bastante para que Will tivesse algo para fazer. Tentara contatar Bailey para pedir uma outra tarefa, mas a residente estava em cirurgia, assim como todos os membros do staff cirúrgico. Enquanto todos os seus colegas faziam coisas interessantes, ou pelo menos faziam alguma coisa, Solace estava fadado a observar o garoto com o canto dos olhos e procurar algo para fazer naquela sala.

         — Você parece entediado. E inquieto — observou Nico, de repente. — Nunca vi alguém que consegue estar os dois ao mesmo tempo.

         — Você fala inglês muito bem — comentou Will, sorrindo.

         Nico fechou a cara e murmurou:

         — Meu pai...

         Ele não concluiu a frase, mas Will entendeu que o pai de Nico era americano.

         — Você e sua irmã estavam vindo visitá-lo? — perguntou Solace.         Nico não respondeu. Will analisou a sala com os olhos. A maioria dos pacientes só tinha arranhões ou cortes que não requeriam mais que cinco pontos. O acidente nas barcas fora decepcionante.

         — Me ocorreu agora que eu tenho que ver a sua pressão novamente. Ela estava um pouco baixa da última vez que eu vi — disse Will, tentando encontrar algo para se ocupar.

         — Não precisa. Eu to bem — disse Nico. — Só preciso saber de Bianca.

         — Olha, provavelmente não é nada, mas é melhor confirmar — insistiu Solace. Nesse momento, seu pager tocou. Meredith o tinha bipado. Ele leu a mensagem, depois pôs o pager no lugar. — Vou pegar o equipamento. Só um momento. Esqueci onde pus.

         — O que foi isso? — inquiriu Nico, levantando o queixo.

         Will franziu a testa.

         — Isso o quê?

         Nico apontou para o pager com o queixo.

         — Ah, bem, minha colega me mandou uma mensagem — explicou Will, esfregando a nuca. Meredith estava pedindo para que Will levasse seu paciente até a sala de espera. Ela queria falar algo sobre a cirurgia de Bianca. Solace queria ver como estava a pressão de Nico antes de tudo. Sabia que, depois que ele soubesse das informações — quaisquer que fossem — não iria mais deixar Will verificar a sua pressão.

         — É aquela tal de Meredith? — perguntou Nico. — É sobre a minha irmã?

         Will ficou desconcertado. Nico parecia ter certeza de que era.

         — É — respondeu Solace. Se mentisse, estava certo de que Nico saberia. O menino parecia ter algum tipo de dom sobrenatural. — Tiraremos sua pressão e depois iremos para a sala de espera. A Dra. Grey quer te falar algumas coisas sobre a cirurgia.

         — Eu vou agora — avisou Nico e levantou-se do leito. — Se você puder me indicar onde fica essa porcaria dessa sala de espera.

         — Espera! — replicou Will. — Só um minuto.

         Will estava interessado em ver a pressão de Nico. Ela estava baixa, e as batidas de seu coração estavam acima da média. Isso podia ser causado apenas por má alimentação, além do clima tenso em que Nico estava, nervoso por causa da irmã, mas também havia a chance de ser algo mais. Solace se via no dever de verificar.

         — Minha irmã não tem um minuto! — retrucou Nico. Ele ficou olhando para Will, o peito subindo e descendo muito rápido. — Tudo bem. Eu encontro sozinho.

         Nico se virou para andar, mas cambaleou e tropeçou nos próprios pés. Ele se apoiou na parede. Will correu até ele.

         — Tudo bem? — Solace tocou o ombro dele.

         — Tudo. — Nico tirou a mão de Will do seu ombro. — Estou só tonto. Hospitais me deixam nervoso. Todo esse branco e esse cheiro de desinfetante me lembram morte.

         Para Will, hospitais o lembravam exatamente o contrário. Seus pais eram separados. Ele morava com sua mãe, mas, quando visitava o pai — um dos melhores cirurgiões plásticos do mundo —, Will vivia em hospitais. Apolo era um homem muito ocupado, viajava muito e não tinha tempo para levar o filho para um jogo de baseball ou um fliperama. Então, os hospitais eram os únicos lugares que ele podia desfrutar da companhia do pai.

         — Você vai para a sala de espera mesmo que eu insista que fique? — perguntou Will.

         — Você sabe que sim — respondeu Nico.

         — Então eu te acompanho.

///

         A cirurgia de Bianca era complexa. Ela fraturara vários ossos, incluindo vértebras e costelas, que rasgaram seu pulmão. Bianca estava em estado crítico. A residente de ortopedia, Callie Torres, fazia o possível para concertar os ossos de Bianca, enquanto Ártemis liderava os esforços para mantê-la respirando. Mesmo assim, Nico foi avisado por Meredith que, na melhor das hipóteses, Bianca perderia os movimentos das pernas. Seria necessária fisioterapia e muito apoio da família, que Nico garantiu dar.

         — Vocês têm alguma família nos Estados Unidos, que seja possível contatar? — perguntou Grey.

         Meredith estava em pé, enquanto Nico e Will jaziam sentados. A sala de espera era um lugar grande, amplo e bem iluminado, com várias cadeiras acolchoadas e um balcão de atendimento. Era mais quieto que o pronto-socorro, porém ainda ouvia-se os burburinhos dos enfermeiros.

         — Não, não realmente — respondeu Nico. Ele estava ainda mais pálido, suas pupilas estavam agitadas, seu coração batia forte e suor escorria por sua testa.

         — E o seu pai? — indagou Will, estranhando a resposta do italiano. Ele acabara de dizer para Solace que seu pai era americano.

         — Está fora de questão — disse Nico, sem olhar nos olhos de Will. Meredith dirigiu um olhar estranho para Solace. — Ele mal nos conhece; não tomará as decisões por Bianca. Sou eu o responsável por ela, e ela é a responsável por mim. É assim que fazemos desde que me lembro por gente.

         — Não insinuamos o contrário — disse Meredith.

         — Só que... — replicou Will, que foi interrompido.

         — Se a questão é dinheiro, arrumaremos de outro jeito — falou Nico, encarando as mãos. — Bianca tem plano de saúde, mas eu não sei se ele cobre um acidente em outro país... Temos um pouco de dinheiro na poupança e podemos fazer um empréstimo para conseguir o resto do dinheiro. De qualquer jeito, vocês não sairão sem serem pagos.

         Nico encarou Meredith, que sustentou o olhar.

         — Tudo bem — disse ela.

         — Tudo bem? — ecoou Will, indignado. — O pai não pode simplesmente não saber o que está acontecendo com a própria filha!

         — Se ele não os criou, ele não merece saber — disse Meredith. Will lembrou que o pai havia abandonado-a. Arrependeu-se por ter mencionado a questão na frente dela.

         Existia uma cumplicidade no modo como Meredith olhava para Nico, e como Nico via Meredith. Havia um sentimento de identificação ali, que Will não podia ter com ninguém em relação ao pai. Nunca havia encontrado alguém que partilhasse com o pai a relação que ele partilhava com Apolo. Eles ficavam sem se ver por meses, mas mesmo assim Will nunca tinha se sentido uma criança abandonada pelo pai. Pelo contrário, sempre o amara incondicionalmente.

         — Volto aqui quando tiver mais notícias sobre Bianca — avisou Meredith e desapareceu no corredor.

         Will olhou para Nico, que respirava com dificuldade. Seu peito subia e descia muito rapidamente.

         — Você está bem? — perguntou Solace, aproximando-se de Nico.

         — Claro que não! — gritou ele, as sobrancelhas franzidas. — Minha irmã vai perder os movimentos das pernas, isso se não morrer!

         Will abaixou a cabeça, envergonhado. Ontem mesmo, ele pensava que tinha mais tato com as pessoas. Hoje, as seqüências de palavras ditas e não pensadas faziam-no repensar isso.

         — Desculpe. Não foi a minha intenção ser insensível — disse ele, sincero, observando os pés. — Só estava realmente preocupado.

         Nico não respondeu. Estava com a cabeça afundada nas mãos. Will parou de olhar para os próprios pés quando escutou ele murmurar algo em italiano. Nico podia estar chorando ou não. Solace não tinha como saber.

         — O que você disse? — perguntou Will.

         Nico, ainda com o rosto tampado, limpou os olhos com as mãos, tentando disfarçar as lágrimas. Depois, levantou a cabeça. Não olhou para Will, e sim mirou a parede na sua frente.

         — Não estava falando com você. Estava falando comigo mesmo — explicou.

         — Você quer conversar comigo sobre isso? — Solace perguntou, tentando se mostrar prestativo. Odiava ver as pessoas tristes, sentindo-se desamparadas. — Sobre Bianca, sobre seu pai, sobre qualquer coisa que você quiser.

         Nico suspirou, pesaroso.

         — Você não conheceu ela de verdade, então qualquer coisa que eu diga não vai fazer sentido nenhum pra você — murmurou o menino.

         — Você não quer mesmo que eu chame seu pai? — replicou Will. — Entendo que ele não foi presente na vida de vocês, mas, se os convidou para vir visitá-los agora, ele está arrependido.

         Nico riu, sem humor.

         — Você fala como se ele tivesse algum sentimento parecido com remorso — disse ele. — Hades só pensa em si mesmo. Ele acha-se no direito de ser chamado de pai, porque nos deu dinheiro. Mas nós não queremos o dinheiro sujo dele, e, agora que nós não precisamos mais, vamos recusar. Iríamos recusar, quero dizer. Se a barca não tivesse quebrado, nós iríamos recusar.

         Ele soluçou e recomeçou a chorar. Tampou o rosto com as mãos. Will envolveu os ombros de Nico com os braços, a fim de abraçá-lo. E então ele caiu. Ele apenas caiu no chão, desacordado. Will o chamou pelo nome, deitou-se e verificou seu pulso. Não conseguiu encontrá-lo.


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