— Você estava com pressa em? – perguntei enquanto Dani dirigia para a clinica.

— É claro que eu estou, a cada dia ele cresce mais, e já não é uma decisão fácil.

— Você ao menos falou com o Richard?

— Não, e ele não vai saber disso, nunca, me entendeu Elena? – ela me olhou com um olhar ameaçador.

— Claro que não. - virei para encarar lá fora.

 Fiquei em silêncio o restante do caminho, eu preferia não pensar no que estou indo fazer, não pensar que ela vai fazer um aborto, e não pensar em como eu deveria faze-la mudar de ideia.

 Ela assinou alguns papéis e nós ficamos na sala de espera, o lugar não era agradável, nem um pouco, mas limpo, para uma clinica clandestina, haviam duas mulheres ali, uma de no máximo dezesseis anos, ela parecia assustada, e ao lado dela uma mulher mais velha com um olhar nervoso, e uma aparência impecável, provavelmente a mãe, engoli em seco.

— Daniela Duquette – disse uma mulher segurando uma ficha, que olhava pela sala.

— Sou eu  - disse Dani se levantando, eu não poderia entrar, então a puxei para um abraço.

— Ainda dá tempo que tomar a decisão certa, eu estaria com você, o tempo todo. – ela não respondeu.

 Me sentei de volta na cadeira, eu sentia lagrimas se formarem em meus olhos, era difícil acreditar que ela ia fazer isso, sua família toda cristã, ela adora crianças, coloquei o rosto entre as mãos respirando fundo, quando ouvi uma porta bater.

— Elena, vamos embora – disse Dani aparecendo ali, seu rosto estava vermelho.

— O que aconteceu? O que foi? – ela andava quase correndo até a porta, e eu a segui, então já lá fora segurei seu braço – o que foi?

— Eu não quero – ela estava chorando – não posso, fazer isso com o meu bebê, eu vi Elena, eu vi – ela estava soluçando, e me abraçou forte.

— O que você viu?

— Um bebê... Morto... Não posso fazer isso com o meu filho.

— Você fez a coisa certa, vou te levar para sua casa, já que você tem o restante da tarde de folga.

 Fui até o apartamento, e levei-a até lá, o gato gorducho estava no sofá, algumas coisas estavam diferentes, eu a sentei no sofá.

— Você vai me ajudar? – ela segurou minha mão – se o Richard não quiser o bebê, você vai me ajudar?

— Mesmo se ele quiser, eu estou com você nessa. – e então ficamos longos minutos abraçadas, ela chorava em meu ombro, e eu pude sentir seu alivio, ela tomou a decisão certa.

 Fiquei com ela mais um tempo, e então tive que voltar para o trabalho.

— Posso saber por que demorou tanto Gilbert? – disse a minha supervisora.

— Tive um problema familiar.

— Sempre vai ter – ela disse e saiu andando.

 Resolvi ignorar, eu estava feliz, Dani tomou a decisão certa, e eu vou estar lá por ela, vou ajuda-la em tudo que ela precisar.

 O restante da tarde passou rápido, e foi como todos os outros dias, eu sai e fui direto para a faculdade de taxi, cheguei lá vinte minutos depois, eu entrei e fui direto para a mesa, Lexa logo chegou lá, nós ficamos conversando sobre coisas aleatórias, e então Nick chegou, ele me lançou um sorriso tímido, que eu ignorei e continuei minha conversa com Lexa.

— Não vejo a hora, faltam três meses, e então só mais um ano, e então estamos livres.

— Livres? Na verdade estaremos ferrados – eu ri – honestamente, depois que comecei a trabalhar no hospital eu já não vejo do mesmo jeito, ser médica exige muito tempo, e sem vida pessoal, não sei se quero isso.

— E o que você faria então?

— Não sei, acho que eu abriria meu próprio negócio, quem sabe – dei de ombros.

  As aulas foram normais, e Damon me buscou na saída, e nós fomos para casa, eu cheguei e me joguei no sofá, estava exausta.

— Você está bem? – ele perguntou se sentando do meu lado.

— Estou muito cansada – me levantei e me sentei no colo dele, ele passou os braços ao meu redor.

— Só cansada?

— Desanimada também.

— Com  o que pequena?

— Com tudo, não sei mais se quero ser médica, não estou gostando do meu emprego.

— É só uma fase, você sempre gostou deste curso.

— Acho que é o estagio que está me desanimando.

— O que você acha de tomarmos um banho de banheira em? – ele mordeu o lóbulo da minha orelha e um arrepio invadiu meu corpo.

— É uma boa ideia – sorri.

 Ele se levantou comigo no colo, e subiu as escadas, enquanto nos beijávamos, pelo menos depois de um dia chato e cansativo, eu tenho ele aqui, me esperando em casa.

 Um tirou a roupa do outro e nós entramos da banheira, que estava com espuma, me encostei na borda e fechei os olhos por um longo minuto, e senti Damon me puxar pela mão, me sentei em seu colo, com uma perna  de cada lado de seu corpo, me encaixando em seu membro, dei um gemido alto e ele riu.

— A melhor parte do meu dia é estar com você – segurei seu rosto entre minhas mãos, e nós nos beijamos.

                                                              *

 Finalmente a sexta-feira, eu já havia chego da faculdade, fiquei deitada no sofá com Lord deitado em minha barriga, Damon estava no bar, e só voltaria de madrugada, o que honestamente pra mim é um porre, resolvi ligar para Dani.

— Alô – disse ela com uma voz baixa.

— Oi Dani, você ta bem?

— Sim Lena, só um pouco enjoada, e você?

— Eu estou bem, e sozinha, o que você acha de vir para cá? A gente pede uma pizza e fica conversando, e você pode passar a noite.

— Espera ai – eu ouvia duas vozes ao fundo, revirei os olhos, e continuei na linha esperando, cinco minutos depois ela voltou – vou sim Lena, já chego ai.

— Ok, vem logo.

 Liguei na pizzaria e pedi uma pizza que eu sabia que era a favorita dela, abri uma garrafa de vinho do Damon que estava em seu novo bar do escritório, e deixei tudo arrumado, mais ou menos vinte minutos depois ela chegou.

— A pizza já deve estar chegando  - disse pendurando seu casaco, e nós fomos até a sala. – Você contou ao Rick?

— Sim. – achei que ela iria continuar, mas não falou nada.

— E?

— Ele não ficou muito feliz, disse que fomos muito imprudentes, e que agora já estava feito, e iria cuidar de mim e do bebê – ela disse desanimada.

— Ele não gostou?

— Não é questão de gostar, ele ficou em choque, assim como eu, não estávamos esperando por isso.

— Vocês vão conseguir passar por isso, e após a primeira ultra-som vão ficar igual dois idiotas babões.

— Acho que você tem razão – ela riu.

 A pizza chegou, nós colocamos nos pratos e fomos até o sofá, ficamos passando os canais quando achamos um bom filme.

— Senti falta de passar um tempo com você assim – ela sorriu.

— Eu também – dei um gole em minha taça de vinho.

— Você fez isso de proposito né?

— Claro que não – eu ri – desculpa, eu tinha me esquecido que você não pode beber, vou pegar um suco.

— Não, você pode beber, aproveita – ela disse dando de ombros.

 Nós ficamos até tarde ali, sentadas no sofá conversando, era bom ter ela ali, eu sentia falta de passar as madrugadas conversando sobre besteiras, dessa vez a conversa foi mais interessante, ficamos falando sobre nomes, ela dizia alguns que gostava, ou então discutíamos por um que uma gostou e a outra não.

— Chega – ela se levantou – estou gravida de um mês, não preciso pensar em nomes agora.

— Enquanto isso vou chama-lo de acidente ok? – eu ri e ela ficou séria, e após alguns segundos riu também.

— Engraçadinha, pode simplesmente chamar de bebê.

— Estou feliz por você, só quero que saiba.

— Obrigada, eu não sei o que teria feito sem você.

— Eu fiquei muito orgulhosa quando você decidiu não fazer o aborto.

— Eu não sei o que estava pensando, de verdade, eu fui tão estupida.

— Você estava com medo, isso é normal.

— É, mas é contra tudo que eu acredito, eu iria contra os meus princípios, por um capricho.

— O importante é que você mudou de ideia, e fez a coisa certa.

— Graças a você.

 Passamos o restante da noite como gostávamos, assistindo filmes, falando mal dos personagens, e rindo.